Banda Sal da Terra

Efésios 1.3-4

Vimos, na última pregação, o autor, o tema e a data da carta aos efésios, além de um pouco do contexto histórico da cidade de Éfeso.

Temos aqui em Efésios 1-3-14, Paulo exultante, louvando a Deus por tão grandes bençãos que Ele tem derramado sobre seu povo. Por isso ele começa:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”.

Paulo estava grato a Deus e deseja incitar o coração dos efésios à gratidão, deixá-los inflamados, e assim, enchê-los, até transbordarem, com essa idéia. Calvino, em seu comentário de Efésios, encontra quatro significados para BENDITO:

  1. Dizemos que abençoamos a Deus quando o louvamos por sua bondade.
  2. Dizemos que Deus nos abençoa quando ele torna as nossas atividades bem sucedidas, e em sua benevolência nos concede felicidade e prosperidade; as razões de nossos deleites dependem inteiramente de seu beneplácito (consentimento).
  3. Os homens abençoam uns aos outros através da oração.
  4. A benção sacerdotal é mais que uma mera oração, visto ser ela um testemunho e garantia da benção divina, porquanto os sacerdotes receberam a incumbência de abençoar no nome do Senhor. Portanto, Paulo aqui abençoa (bendiz) a Deus, porque este nos abençoou, ou seja, nos enriqueceu com toda sorte de benção e graça. (CALVINO, João, Efésios. São José dos Campos: Ed. Fiel, 2007)

Outro comentarista, Francis Foulkes diz:

“D’Ele vem um contínuo jorrar de bênçãos, e isto não deve ser entendido principalmente em termos de dons materiais, dos quais lembramos mais prontamente, mas em termos de dons espirituais que transcendem, mas também incluem os materiais, pois a verdadeira apreciação das coisas que vemos depende de nosso gozo das coisas do Espírito”

(FOULKES, Francis, Efésios: Introdução e Comentário. São Paulo: Ed. Vida Nova, reimp. 2008)

Nas regiões celestiais… indica que estas bênçãos espirituais são celestiais em sua origem, e que do céu vieram para os santos e crentes que se acham aqui na terra.

Ef.4.8: Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens.

Tais bênçãos são baseadas em Cristo, se fundamentam n’Ele, são por causa d’Ele, acontecem em nossas vidas por causa d’Ele, e não por nossos esforços ou méritos puramente humanos.

Verso 4ss:

  • Escolheu-nos nele antes da fundação do mundo.
  • Sermos santos e irrepreensíveis perante ele.
  • Em amor nos predestinou para ele.
  • No adotou como filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
  • Ele nos concedeu gratuitamente no Amado.
  • Temos n’Ele a redenção.
  • Pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,
  • Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,
  • Desvendou o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,
  • Fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
  • Fomos feitos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo;
  • Fomos selados com o Santo Espírito da promessa.

Quanta bênção Deus operou em nós por causa de Cristo! Quão grandes são tais bênçãos que Paulo ora mais adiante para que os éfesos entendam tais mistérios. É o relato de Efésios 1.15-19:

“Por isso, também eu, tendo ouvido da fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder”.

Paulo relata verdades sobre a nossa eleição. Tais verdades são:

1. O autor da eleição é Deus.

“Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”(v.3)

Confissão de Fé de Westminster:

“Desde toda a eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece…”

(CFW, Cap. III, 1)

“Segundo o seu eterno e imutável propósito, e segundo o santo conselho e beneplácito de sua vontade, antes que o mundo fosse criado, Deus escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens que são predestinados para a vida; para o louvor de sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa”.

(CFW, Cap. III, 5)

Por que Deus nos chamou a participar do Evangelho? Por que, diariamente, nos concede bênçãos em grande medida? Por que sempre nos acolhe em sua bondade e misericórdia? Por que nos suporta, mesmo quando nos encontramos em grande trevas, sendo enganados pelas ilusões deste mundo?

Voltemos a este princípio:

DEUS NOS ELEGEU NELE, ANTES DA FUNDAÇÃO DO MUNDO

2. O tempo da eleição

“Antes da fundação do mundo”.

Antes da fundação do mundo…

  • Afirma que a eleição foi gratuita.
  • Afirma que a eleição e ato soberano, livre e gracioso.
  • Rompe com a idéia de que somos (fomos) eleitos por algum tipo de mérito nosso.
  • Rompe com a idéia de que somos (fomos) eleitos por que Deus viu que teríamos fé n’Ele.

O Senhor disse a Jó:

Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular,  quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus? (Jó 38.4-7).

João Calvino afirma:

“Paulo não só ensina que todos e quaisquer benefícios que Deus confere para a vida espiritual procedem desta única fonte, da qual Deus elegeu aqueles aos quais quis, mas também, antes que nascessem, lhes teve reservada, individualmente, a graça de que lhes queria comunicar” (Institutas, Livro III, Cap. XXII, 2)

Quão maravilhoso sabermos que fomos chamados (eleitos) por Deus, em Cristo, não tendo nós quaisquer méritos para que o soberano Senhor se inclinasse em nosso favor.

É nesses termos que Paulo diz:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”.

Romanos 11.33-36, pensando sobre nossa eleição, Paulo exclama:

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”

3. Qual o fundamento de nossa eleição?

A plena salvação e conseqüente eleição da igreja estão baseadas em Cristo.

Verso 3: “regiões celestiais em Cristo…”

Verso 4: Assim como nos escolhe n’Ele”

Verso 5: “nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo”

Verso 6: “que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”

Verso 7: “no qual temos a redenção, pelo seu sangue”

Verso 9: “segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo”.

Verso 10: “de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra”.

Verso 11: “nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados”.

Verso 13: “Crendo nEle, somos selados com o Santo Espírito da promessa”.

Cristo, desde a eternidade, foi Representante e Fiador de todos aqueles que, em alguma ocasião, seriam recolhidos ao redil das ovelhas.

Aqui está o caráter substitutivo do sacrifício de Cristo – FIADOR

O que faz o fiador? Paga as contas caso o titular do contrato não cumpra suas obrigações. Deus santo, soberano, eterno, resolve, desde a eternidade (antes da fundação do mundo), escolher para si, seres humanos pecadores, completamente contrários a sua santidade, indignos. Seres humanos que seriam escravos do pecado, inimigos de Deus por natureza! Filhos da ira. Deus, em seu infinito amor e favor imerecido, aceita tais seres humanos indignos para que os mesmos façam parte de sua herança, porém exige que este povo cumpra cabalmente sua Lei. Como não podem cumprir tal exigência, Cristo se torna FIADOR, SUBSTITUTO. Em outras palavras, se coloca em meu lugar, suportando meu castigo; tornando-se maldição. Nisto diz o salmista acerca do Messias:

“Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei”. (Sl. 40.7-8)

Como diz o cântico de Adhemar de Campos:

Cristo é nossa vida

O motivo do nosso louvor

Em nosso novo coração

Pois morreu a nossa morte

Pra vivermos sua vida

Nos trouxe grande salvação.

Cristo, o fundamento de nossa eleição, exclui todos e quaisquer méritos. Destitui toda pretensão humana. Rompe com a idéia de boas obras para salvação.  Em Cristo, não há lugar para credenciais, ostentação de cargos, “carteirada”. Não há lugar para o orgulho e conquistas meramente humanas.

“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm. 11.36)

4. O propósito

“Para sermos santos e irrepreensíveis perante ele” (v.4)

Ser santo é o propósito imediato, porém não é principal. O propósito final de nossa eleição é a glória de Deus, a qual Paulo menciona posteriormente. E eleição não traz o homem somente à conversão, mas o leva a perfeição.

Veja o que diz um comentarista bíblico:

“Quando Deus executa este seu beneplácito nos eleitos, ou neles opera a verdadeira conversão, não só determina que o evangelho lhes seja previamente pregado, e que se lhes ilumine poderosamente suas mentes pelo Espírito Santo, a fim de que entendam e discirnam as coisas que são do Espírito Santo, mas também, pela eficácia do mesmo Espírito regenerador, permeia os recessos mais íntimos do homem, abre o coração que está fechado, quebranta o que está endurecido, circunda o que está incircunciso, infunde na vontade novas qualidades, e faz que a vontade outrora morta seja vivificada, a qual, em vez de má, é agora boa; que tinha má vontade, e que agora tem boa vontade; que era rebelde, mas que agora é obediente; ele agiliza e fortalece de tal maneira essa vontade para que seja capaz de ser arvore boa e produza frutos de boas obras.” (HENDRIKSEN, William, Comentário do Novo Testamento: Efésios e Filipenses, São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2005, pág. 94)

Nisso, encontramos consolo nas palavras do próprio apóstolo:

“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. (Fp. 2.13)

Alguém pode argumentar: Vivamos da maneira que quisermos, porque, se já somos eleitos, impossível que venhamos perder a eleição. Ou para que então me santificar?

a)      Paulo argumenta que nossa eleição tem justamente esse propósito imediato: Sermos santos.

b)      A eleição nos remete a humilhação, para que aprendamos a tremer o seu juízo e mirar-lhe a misericórdia.

c)      Romanos 6.1-2 afirma: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?  De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”.

Podemos concluir então:

  • Louvemos a Deus por sua infinita bondade – nos escolheu.
  • Não há nada em nós mesmos que impulsionou Deus a tal atitude.
  • Louvemos a Deus, por que antes de existirmos, ele havia traçado os dias de nossa vida.
  • Louvemos a Deus, pois não há nada que façamos que aumente ou diminua o seu amor por nós.
  • Louvemos a Deus que nos incentiva, trabalhando em nossos corações, para que pratiquemos boas obras.
  • Louvemos a Deus, pois em seu plano eterno, lembrou-se de um miserável pecador, morto em seus delitos e pecados.
  • Louvemos a Deus, pois Ele nos vivificou e nos deu vida abundante, em Cristo.
  • Louvemos a Jesus por ser nosso Fiador.
  • Louvemos a Jesus pelo seu sacrifício substitutivo – ele morreu em meu lugar!
  • Louvemos a Jesus, pois Ele é a garantia de nossa herança, em Deus.
  • Louvemos a Deus que nos santifica, nos regenera, age em nós.
  • Louvemos a Deus que nos perdoa quando erramos e nos conduz em seus caminhos.
  • Louvemos a Deus, pois Ele é quem transforma os desejos maus de nossos corações em desejos de paz, de boas obras.
  • Louvemos a Deus pela bendita segurança, como diz o hino 144:

Que segurança tenho em Jesus

Pois nele gozo paz, vida e luz!

Com Cristo herdeiro, Deus me aceitou.

Mediante o Filho que me salvou.

Paulo quis inflamar seus leitores com essa verdade: Deus nos escolheu em Cristo.

Espero que sejamos inflamados da mesma forma.

Romanos 14.8:

“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.”

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”.

A Ele toda a Glória!

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Informação

Publicado em 14/03/2010 por em Efésios.