A Palavra que não volta vazia
4° Dom Após Pentecostes
Leituras: Sl 65.(1-8)9-13; Is 55.10-13; Rm 8.12-17(22-27); Mt 13.1-9,18-23
Régis Duarte Müller
Para muitas pessoas os alimentos dão em saquinhos plásticos ou caixinhas. Ao chegarmos ao supermercado encontramos todos os alimentos que precisamos como o arroz, feijão, massa, farinha, tudo empacotado e pronto para o consumo. Para isso pagamos um preço que às vezes é mais baixo e outras, mais alto. Tudo depende da safra, colheita do ano. O que muitas pessoas não percebem é que os alimentos não dão em saquinhos, mas dependem de vários fatores para chegarem até nossas mesas.
Sugiro que neste momento nos comparemos a trabalhadores rurais. Vamos pensar no plantio e cuidado necessário até que tenhamos os produtos alimentícios em nossas mesas. Então, perguntamos: mas como funciona o trabalho da lavoura? Como o alimento é produzido para chegar até nós?
Para fazer o nosso tradicional arroz e feijão, vamos precisar da lida do trabalhador rural. Ele planta as sementes na terra preparada e espera acima de tudo as bênçãos de Deus que envia as chuvas, a neve (em menor proporção ao nosso país) e sereno que molham as sementes, fazendo-as brotarem.
Essas plantações também precisam ser cuidadas contra as ervas daninhas, formigas e todas as forças que tentam destruir a lavoura e podem sufocar as plantas tirando a força do crescimento e até matar as mudas. Para isso é preciso cuidado. Para arrancar as ervas daninha usa-se a capinadeira ou remédios. Essa é a lida do campo até chegar à colheita e tirar os frutos do trabalho.
A plantação pode ser um grande exemplo para crescimento da fé cristã. Sabemos que ninguém crê em Deus por vontade própria, dependemos da ação de vários fatores. Primeiro a semente da Palavra de Deus precisa ser semeada. Logo, depende da ação do Espírito Santo e de Deus que envia as chuvas e faz a semente germinar e crescer. Em seguida essa semente vai crescer forte e produzir muitos frutos. As chuvas que regam a fé poderiam ser entendidas como o uso freqüente da leitura bíblica, da participação aos cultos e sacramentos.
Durante a trajetória dessa semente podemos encontrar dois caminhos: o primeiro se encontra em lugares inadequados, onde as sementes muitas vezes não nascem ou durante seu crescimento vão perdendo as forças até morrer. O outro caminho é encontrar terra fértil, onde a semente vai germinar e crescer com as bênçãos de chuva que Deus manda.
Usando a analogia para entender um pouco nossa fé vamos pegar o v. de Isaías 55.10: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come”.
– O que chama a atenção nesse versículo é o trabalho da chuva e da neve. Elas caem do céu e ao tocar a semente que está na terra acontece um fenômeno. A semente germina; a chuva da vida às plantas e faz com que os campos fiquem mais verdes e principalmente, faz com que as plantações produzam frutos. É importante chamarmos atenção ainda para a função da chuva e da neve que é regar a terra. Elas não voltam aos céus sem que antes seu trabalho esteja completo.
“Esta é uma comparação bonita, o ponto do qual dá garantia de que (a chuva e a neve) não voltarão a Deus sem frutos”, sem ter realizado seu propósito. O céu é concebido como o ponto de partida, de onde a chuva e a neve caem, umedecem a terra e fazem a terra dar frutos, então evapora ou flui para o mar onde elas se tornam vapor e retornam novamente para o lugar de origem.
Aqui podemos entender até que a função da chuva e da neve tem um caráter infalível, impossível de dar errado. Traz a idéia de dar à luz; gerar; produzir; procriar, e sem ter realizado essa sua tarefa ela não retorna.
Tudo isso para entendermos que o objetivo da chuva e da neve cair é dar resultados para a plantação e, sem alcançar esse objetivo não retorna aos céus. Por isso, pensando dessa maneira, que o autor (Isaías) faz a sua introdução, a sua reflexão em torno da chuva e da neve (que não voltam sem frutos aos céus), com a missão de Deus. Com a missão do anúncio da Palavra de Deus. E, quando o autor estava falando, ele estava direcionando seu ouvinte para onde ele queria chegar. Então, lemos o versículo 11: “Assim também a ordem que eu dou não volta sem ter feito o que eu quero; ela cumpre tudo o que eu mando”. Ou: “assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”.
Existem vários tipos de terrenos em que as sementes caem ao serem semeadas. Existem vários tipos de reações ao ouvir a mensagem da Palavra de Deus. A semente, ou a Palavra pode alcançar corações que se comparam a terrenos rochosos, beira de estradas, espinhosos ou de terra boa (Mt 13). A única vontade de Deus é integrar todas as pessoas a sua família. Mas acontece que elas têm uma escolha, não receber a Palavra de Deus, ou seja, não deixá-la crescer.
Os caminhos semeados são: à beira da estrada, as aves comem (v.19. Ouvem a palavra e não compreendem, o maligno arrebata o que foi semeado no coração; Solo rochoso tem pouca terra nasce com rapidez, mas faltam raízes para alimentar (v.20. Ouve a palavra e recebe logo, com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, ao chegarem a angustia e aflição ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza); Entre os espinhos, os quais a sufocaram (v.22. ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera); Portanto, algumas pessoas precisam de Deus, escutam a palavra e até se animam, mas estão presas pelas atrações deste mundo e por isso, assim como os espinhos sufocam e matam a semente, a fé também é sufocada. Essas sementes não cresceram como deveriam. Não estavam com o terreno preparado.
Dessa forma entendemos que rejeitar a Palavra de Deus é como uma semente que caiu em terra inadequada, a qual até pode crescer, mas seca e não produz frutos.
Vamos fazer uma reflexão pessoal. O que andamos semeando por aí? A nossa escolha pode ser de jogar a Semente do bem ou do mal. Plantar e colher frutos da carne ou do espírito. Uma semente trará a colheita do pecado e da maldade. A outra semente produz a vida eterna.
Sabemos que para a plantação trazer bons resultados o agricultor precisa cuidar bem da terra. Antes de tudo precisa escolher bem a semente, em seguida é necessário arar a terra, gradear para deixar o terreno plano, e colocar adubo. Assim também, quando a Semente da Palavra de Deus é lançada precisa receber um terreno bem preparado para crescer e produzir muitos frutos. Mas independente de tudo isso, o mais importante é lançar a semente.
A maioria de nós não conhece a função da agricultura, não sabe como preparar a terra ou mesmo plantar uma semente. Dessa forma, sem escolher o terreno, muitas pessoas poderão ser salvas, porque semear a Palavra de Deus é um fruto do Espírito Santo que proporciona a ação de Deus. Essa é nossa missão. Lançar a semente e esperar que o Bom Deus prepare bem o terreno que ela vai cair, a fim de que essa também produza muitos frutos.
Nossa semente também precisou ser muito cuidada. Foi preciso ser muito bem cuidada, bem adubada e talvez até mudada. Todos que escutam a Palavra de Deus e recebem seu Santo Sacramento estão alimentando a semente. São os meios graciosos que Deus deixa, é como a chuva e a neve que traz vida a plantação.
Semear é nossa missão, com amor, com gratidão. Assim faz o agricultor que cuida com carinho de sua plantação. Assim fazem os cristãos que amam a Deus em primeiro lugar e desejam que mais pessoas participem dessa alegria.
Enquanto isso nós continuamos recebendo as bênçãos de Deus, chuvas de Palavra, Comunhão e Sacramentos. Fazendo missão e semeando a Palavra, esperando pela promessa de Deus: “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Is 55.11). Amém.
PIEPER, August. Isaiah II. Na Exposition of Isaiah 40-66. P. 489.
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.
Bíblias NTLH e RA.
Bible Works 7, Texto Hebraico.
Manual Bíblico SBB.
Preciso Falar v.21.
http://pragentemiuda.blogspot.com/2011/04/imagens-coloridas-trabalhador-rural.html
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