O TERRITORIO A PRODUÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO DOS ALIMENTOS NA AGRICULTURA FAMILIAR
SUNDERHUS; Adolfo Brás[1]
INTRODUÇÃO
A ocupação geográfica das terras, a ocupação agrária produz os seus territórios. O território antes de qualquer definição acadêmica ou cientifica e um local onde se estabelecem relações sociais de forma conflituosa e no espaço geográfico. Por território e a expressão do espaço apropriado, conquistado, produzido. E um espaço sócio produtivo formado por pessoas que são os seus protagonistas e o redefinem constantemente de acordo com suas necessidades e interesses num campo de forças nas mais variadas intensidades e ritmos.
E natural que neste processo exista o acirramento da conflitualidade entre o agronegócio e a produção de alimentos da agricultura familiar e a transformação dos alimentos através da agroindústria artesanal e familiar fez emergir, como forma de resistência e mesmo de valorização a este segmento velhas formas de sociabilidade dotadas de novos significados e atributos.
A produção e a transformação artesanal de produtos alimentares no interior da unidade de produção familiar e uma prática, um domínio histórico e cultural cujas origens estão alicerçadas a partir de centenas de anos com a chegada dos imigrantes italianos, alemães, poloneses, negros e a própria identidade primeira dos povos indígenas no Estado.
Esta mistura cultura e riqueza de conhecimentos e saberes nos proporciona comunidades, municípios e um estado talhado esculpido e bordado com muito trabalho, determinação, crença e fé. Assim e o nosso Espírito Santo.
Estes povos reproduziram em seus territórios suas praticas culturais sociais e produtivas através do trabalho familiar e artesanal adotando a policultura do minifúndio que foram as bases de ocupação agrária do estado e que predominantemente se configura em sua conformação territorial.
A TRANSFORMAÇÃO DA PRODUÇÃO E SUA SUSTENTABILIDADE
A transformação de produtos e alimentos no interior das unidades de produção familiar vem sendo realizada de forma artesanal tendo como base o trabalho familiar patrimônio e identidade cultura social e produtiva dos imigrantes e herdados por seus descendentes.
O elemento central deste processo esta no saber fazer produtivo que se territorializou e ganha ao longo do tempo uma roupagem nova e especializada, mas sem perder as suas raízes identidade e pertencimento. Assim diversas novas atividades produtivas, erroneamente denominadas de não agrícolas, passam a se incorporar no modo produtivo e de gestão das unidades de produção familiares sedimentando-se como importante segmento para geração de trabalho e renda alem de proporcionar emprego ao meio rural. Esta arte de transformação encontra-se fortemente alicerçada nas seguintes matérias primas: leite, carnes, mel, ovos, farinha de trigo, milho, mandioca, frutas, hortaliças, tubérculos, cana-de-açúcar e muitos outros que se transformam em produtos finais como queijos, iogurtes, manteiga, requeijão, cachaça, vinhos, grapas, vinagres, açúcar mascavo, melado, derivados do mel, defumados e embutidos, massas, biscoitos, bolachas, pães, alimentos minimamente processados entre outros. Enfim esta cultura e saber promoveram adensamento e multiplicação das atividades produtivas rurais ampliando oferta de alimentos com qualidade e segurança alimentar.
Esta riqueza de produção e transformação dos alimentos impôs ao poder público o estabelecimento de normas e procedimentos que proporcionasse incentivo e fomento estabelecendo um importante normativo público através da instituição do selo de inspeção municipal e legislações pertinentes e adequadas a este segmento social produtivo economico e político local e territorial.
Estas conquistas promoveram o acirramento do embate entre o grande capital e as atividades produtivas da agricultura familiar e das agroindústrias familiares artesanais rurais urbanas e periurbanas pois fizeram com que estas ganhassem importância economica e conquistassem uma grande e importante fatia do mercado dominado pelo grande capital explorador social e economico da sociedade. Estas conquistas permitiram a agregação de valor aos produtos do mundo rural transformando-os e os comercializando no mercado local.
A partir desta conquista estabeleceu-se um novo desafio o de se buscar maior autonomia de gestão desta produção e comercialização no âmbito local e do território e mais uma vez a base do enfrentamento entre o agronegócio e essas famílias esta no trabalho familiar, em suas formas de organização social e em seu saber. Desta forma o acumulo de conhecimentos e a qualificação profissional permitiu um melhor entendimento sobre o sistema de produção e de transformação dos alimentos nas unidades de produção garantindo segurança alimentar aos consumidores. Os procedimentos de circulação e comercialização desta produção ganha em qualidade e objetividade e são realizadas pela própria família ou por suas organizações sociais garantindo um grau mais elevado de autonomia e independência produtiva e financeira da unidade de produção familiar, mesmo com todas as suas limitações de natureza geográfica e de ensino.
Neste víeis vemos e vivemos a construção de um novo paradigma no mundo agrícola e agrário do Estado. Estamos construindo um capital formado a partir das relações sociais dos agricultores familiares e de suas formas de organização, de sua cultura, dos seus valores, da sua identidade e a partir de sua crença e fé. Significa afirmar que e necessário que os agricultores familiares se identifiquem como os reais protagonistas destas transformações para se autoafirmarem como sujeitos sociais na transformação e no desenvolvimento do território onde a convivência de relações novas e mais tradicionais se intensificam no território da unidade de produção familiar que mesclam-se e apresentam-se como elementos possibilitadores de resistência e manutenção de uma prática de vida e de reprodução familiar.
VALORIZAÇÃO DOS PRODUTOS E DA PRODUÇÃO FAMILIAR ARTESANAL
A valorização de produtos com diferencial de sua qualidade e identidade geográfica e territorial e a base para a competitividade dos produtos da agricultura familiar e das agroindústrias familiares artesanais estabelecendo-se como um pólo de desenvolvimento que ultrapassa os limites do próprio município.
Pensando em planos e programas estratégicos de crescimento territorial deve-se propor projetos e ações que visa qualificar esta produção com diferencial de qualidade produzidos por agricultores e empreendedoras das agroindústrias familiares artesanais empenhados na reorganização da sua estrutura produtiva, oferecendo, possibilidades de inovar os processos e linhas de produção considerados tradicionais em novos modelos de desenvolvimento no território finalizando com o reequilíbrio do ambiente rural além de buscar alternativas que permitam e contribuam para a sustentabilidade da população local e do território, através da agregação de valor ao produto da integração da renda derivada da unidade de produção familiar, bem como na melhoria das condições de vida na melhor utilização do patrimônio rural natural, assim como na preservação do ambiente, na valorização dos produtos típicos que venham a promover as tradições e iniciativas culturais da diversidade e da pluralidade rural, desenvolvendo e incrementando as relações entre a cidade e o mundo dos agricultores.
Desta forma estaremos valorizando os produtos da agroindústria familiar artesanal rural local e do território, agregando valor as suas atividades, qualificando sempre mais as condições de trabalho dos que atuam diretamente na gestão de ações ligados a estas atividades produtivas no território, possibilitando alcançar metas que integrem a mão-de-obra das unidades de produção de economia familiar, oferecendo produtos caseiros, trabalhos artesanais de excelente qualidade a receberem turistas em suas casas e propriedades com a demonstração dos processo de produção, oferecendo o ambiente rural a melhor experiência humana a partir da cultura do saber e das curiosidades locais vivendo e adquirindo as experiências dos agricultores familiares, os melhores produtos além de saborear pratos tradicionais da culinária local e territorial.
CONCLUSÃO
Esta conquista social cultural produtiva economica e política associada as ações praticas representam o estimulo do desenvolvimento territorial para agricultura de base familiar na geração de empregos e receitas a partir da unidade de produção familiar impulsionando o desenvolvimento deste mundo rural a partir da integração de atividades e da transformação e agregação de valores a produtos que poderão ser industrializados e comercializados na própria unidade de produção ou em outros mercados territoriais.
Neste sentindo, a unidade de produção familiar presente nesta realidade vem experimentando e propondo de maneira muito apropriada uma nova visão do uso do solo compatível com as propostas de conservação do ambiente e da região sem penalizar o desenvolvimento econômico e social da população .
O fenômeno e os resultados econômicos sociais advindos desta nova realidade e integração de atividades na unidade de produção familiar confirma a intenção e a vontade dos agricultores familiares e das lideranças locais e territoriais a que com os exemplos de sucessos permite-nos alargar nosso horizonte de ações e nosso comprometimento com a unidade de produção familiar e seus processos de transformação e agregação de valor aos produtos, oferecendo novos desafios e novos paradigmas para que o desenvolvimento econômico do Espírito Santo passe obrigatoriamente pelos caminhos trilhados pelos agricultores familiares e suas organizações sociais mantendo vivas e presentes sua identidade social economica e produtiva, sua pluralidade e diversidade territorial de economias, de climas, de história e cultura, de ecossistema, capazes de potencializar as possibilidades de desenvolvimento no território possibilitando a incorporação de novas formas de valorização, de organização e de utilização do mundo rural, com ações de gestão capazes de assegurar o fortalecimento dos agricultores de base familiar para um mercado competitivo de cooperação-produção como forma de resgata e promover a sustentabilidade territorial a partir da produção e da transformação dos alimentos na agricultura familiar.
[1] Engenheiro agrônomo
CREA – ES 2146 D / 11ª Região
Graduação em Agronomia – UFES, Alegre – ES, Brasil
ÁREAS DE ATUAÇÃO
1- Organização Social e Redes Solidárias
2- Microfinanças sociais
3- Análise de Cadeias Produtivas
4- Custo de Produção dos Arranjos Produtivos Locais
5- Projetos Captação de Recursos – Agropecuária
6- Projetos de Recuperação Ambiental