UMA FESTA QUE VIROU TRADIÇÃO
O Festival do Piqui este ano (2022) completará
seus 21 anos de tradição e já nasceu como uma realização de grande porte,
mas nunca parou de crescer. Para 2022, o evento contará com diveras
apresentações artisticas, uma estrutura tecnológica ainda maior e uma
divulgação que superará todas as demais. Transmissão ao vivo para todo o
mundo, pelo nosso site oficial: www.talisma-to.com.br e pela Radio Talismã FM 87,9. Tudo isso pensando no conforto do público e nos
resultados para as instituições parceiras, dentre elas: Defesa Civil Estadual, 4ª Batalhão de Bombeiros Militar, Municipio de
Talismã, Faz Tamboril Agronégocios LDA , Supermercado Ribeiro, Talismã Eletromóveis, Agro - Talismã,
Fazenda Agopecuaria Guarani, Fazenda Santa Barbara, Fazenda Juriti, Fazenda Felicidade, Fazenda Sao Vicente, Fazenda São José da Boa Esperança.
Pequi
Caryocar brasiliense
Cambess.
Outros nomes regionais e locais são piqui, piquiá-bravo,
amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, pequiá, pequiá-pedra, pequerim, suari
e piquiá.
Família
Caryocaraceae
De como, no prazo duma hora só,
careci de ir me vendo escorando rifle (...) trepado em jatobá e
pequizeiro, deitado no azul duma lage
grande.
João Guimarães
Rosa em
Grande Sertão: Veredas.
|
Pequizeiro em
cerrado no Núcleo Rural Boa Esperança II, Distrito Federal, a
espécie é protegida pela legislação. Fotografia de F. Tatagiba em
20/12/2006. |
O pequizeiro
é uma árvore que habita cerrados, cerradões e matas secas
ao longo de todo o bioma Cerrado, sendo que queimadas recorrentes podem
manter o pequizeiro na forma de subarbusto, em campos sujos; possui
ramos (Fotos 2A e 2B) grossos normalmente tortuosos,
casca cinzenta com fissuras longitudinais e cristas descontínuas;
folhas são compostas, trifolioladas; opostas
(desenvolvem-se duas de cada nó do ramo); os folíolos podem medir até 20
cm de comprimento e são recobertos por densa pilosidade, assim como as
extremidades dos ramos; suas flores (Foto 3) de até 8 cm
de diâmetro, são hermafroditas, compostas por cinco pétalas
esbranquiçadas, livres entre si, com numerosos e vistosos estames
(masculinos). O pequizeiro floresce durante os meses de agosto a novembro,
com frutos (Foto 4A e 4B) madurando a partir de setembro (normalmente
novembro) até o início de fevereiro.
O pequizeiro
é uma árvore de múltiplos valores: ecológico, cultural, gastronômico,
medicinal, econômico...
A. Tronco e ramos tortuosos do
Pequizeiro; B. Casca com fissuras e cristas
descontínuas no tronco do pequizeiro. |
Em estudo
bibliográfico das espécies de plantas medicinais do Mato Grosso,
verificou-se um predomínio na utilização de espécies arbóreas (31%),
seguidas de ervas (24%), arbustos (17%), subarbustos (12%),
trepadeiras (9%), palmeiras (2%), epífitas (1,5%) e cactos (0,5%),
para 3% das espécies não foi informado o hábito. Este estudo
identificou dezenove artigos tratando do pequi como espécie
medicinal. Sua utilização medicinal se dá como afrodisíaco, no
tratamento de problemas respiratórios e suas folhas são
adstringentes, além de estimularem o funcionamento do fígado. É
utilizado para fins medicinais em toda sua área ocorrência. |
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Pequizeiro
florido. Tatagiba, setembro de 2006, município de Nova Roma-GO, Vão
do Rio Paranã. |
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A. Frutos imaturos de pequi, coloração de
vinho; B. Frutos de pequi de vez. Núcleo Rural Boa
Esperança II, Distrito Federal. |
Utilização medicinal do Pequi.
Indicações |
Parte
usada |
Preparo e dosagem |
a. na asma, bronquite, coqueluche
|
a. óleo da castanha |
a. extrai-se o óleo das sementes e
pinga-se 3-5 gotas na comida ( 2X ao dia). |
b. na asma, bronquite, coqueluche e
resfriados |
b. caroços
|
b. deixar ferventar 15-20 caroços de
pequi, escorrer a água até os caroços secarem. Colocar em um
frasco de vidro e completar com óleo vegetal previamente
esquentado. Utilizar o óleo 2x ao dia nas principais refeições
ou dissolver 1 colher de café do óleo de pequi em 1 colher de
café de mel e tomar 2x ao dia. |
c. afrodisíaco e tônico |
c. caroços |
c. deixar por vários dias 15-20
caroços de pequi em repouso na cachaça. Tomar 2 colheres de
sopa ao dia. |
Fonte:
Rodrigues e Carvalho 2001b |
A utilização terapêutica do pequi não está restrita à
medicina popular. Nas últimas décadas, tem sido observado um aumento
acentuado de infecções fúngicas, as quais contribuem para uma elevada taxa
de mortalidade em pacientes imunocomprometidos. A criptococose causada por Cryptococcus neoformans é considerada micose oportunista,
freqüentemente diagnosticada produzindo lesões principalmente no sistema
nervoso central em pacientes com AIDS. Em trabalho publicado na Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, foi descrita a atividade
antifúngica das folhas (extrato bruto etanólico, fração acetato de etila e
cera epicuticular), dos dois principais componentes presentes no óleo
essencial das sementes, além dos óleos fixos da amêndoa e da semente de
pequi sobre isolados de C. neoformans var. neoformans e
de C. neoformans var gattii. Foi verificado neste
trabalho que a parte mais ativa contra os fungos é a cera epicuticular da
folha, coletada no período da seca, inibindo o crescimento de 91,3% dos
isolados de fungos.
Na
mitologia xamãnica dos Wauja, povo que habita o Alto Xingu, Barcelos Neto
relata que o Jacaré e o Beija-flor são “donos” (wekeho) do pequi, o
primeiro em função dessa fruta ter se originado de seus testículos e o
segundo por ter uma predileção pela fruta e, em função disso, tersido um
dos primeiros Animais a cultivá-la. Wekeho é a dimensão
espiritual relacionada aos seres corpóreos, o “dono” concede (material ou
espiritualmente) ao mesmo tempo em que protege os recursos.
Estudo realizado com o povo Teréna, do Mato Grosso do Sul, revelou
que 67,2% coletam frutos silvestres. Dentre os frutos coletados foram
identificados a bocaiúva (Acrocomia aculeata), araticum
(Annona dioica), jatobá-do-cerrado (Hymenaea
stigonocarpa), jenipapo (Genipa americana), coroa
(Mouriri elliptica), buriti (Mauritia flexuosa), pequi
(Caryocar brasiliense), jurubeba (Solanum paniculatum)
ingá (Inga uruguensis), guariroba/gueroba (Syagrus
oleracea), araçá (Psidium guineense), urucum (Bixa
orellana) e caraguatá (Bromelia balansae). A captura de
animais e coleta de frutos silvestres é feita com dificuldades devido à
limitação da área na reserva.
"O
Garanço se regalava com os pequís, relando devegar nos dentes aquela
polpa amarela enjoada. Aceitei não, daquilo não provo: por demais
distraído que sou, sempre receei dar nos espinhos, craváveis em língua"
João Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas pg.
184.
O pequi
integra a base cultural do centroeste brasileiro, sendo um elemento
essencial na culinária regional do Cerrado. “Arroz com Pequi” é o prato
típico do Goiás, onde o fruto também é tradicionalmente preparado em
gordas e saborosas galinhadas. O emprego do pequi na dieta da população
cerratense já tem mérito terapêutico, uma vez que é excelente na prevenção
e combate à hipovitaminose A. Além do pequi, tucumã (Astrocaryum
aculeatum), a macaúba (Acrocomia aculeata), a pupunha
(Bactris gasipaes), o dendê (Elaeis guineensis) e,
especialmente o buriti (Mauritia flexuosa) são ainda outras importantes
fontes regionais de carotenóides no Brasil.
Percevejo
(Hemíptera), em estágio imaturo de desenvolvimento, parasitando o
pequizeiro, enquanto mantêm relação de mutualismo com a formiga
(Himenóptera), que se alimenta do líquido adocicado produzido pelo
seu “gadinho”. Alimentada pelo percevejo, a formiga o protege de
eventuais agressores, ambos se beneficiam.
Fotografia: F. Tatagiba, Núcleo Rural Boa Esperança
II, Distrito Federal,
20/12/2006. |
Na Central de
Abastecimento de Goiás (CEASA-GO) foram comercializadas 2.800 toneladas de
pequi in natura, no ano de 2002, com preço médio de R$460,00 a
tonelada. Atualmente podemos encontrar nos comércios urbanos pequi em
conserva, em pasta ou na forma de licor, sorvetes e picolés.
No município
de Japonvar, região norte de Minas Gerais, foram observadas quase 50
espécies de insetos herbívoros de vida livre associadas ao pequizeiro. São
dezenas de espécies de insetos que têm nos ramos, folhas e seiva do
pequizeiro essencial fonte de nutrientes.
Após
publicação da Portaria Federal 54, em março de 1987, do antigo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), hoje Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), é proibido o
corte e comercialização de madeira do pequizeiro em todo o território
nacional. A espécie possui madeira de excelente qualidade, estando entre
as menos susceptíveis ao ataque por cupins de madeira seca, tais como o
Cryptotermis brevi. O cupim de madeira seca é considerado como o
mais importante do ponto de vista econômico no Brasil.
Um decreto de
junho de 1993, entre outras medidas, torna imunes ao corte no Distrito
Federal, além do pequi, o buriti (Mauritia flexuosa), copaíba (Copaifera
langsdorffii), cagaita (Eugenia uniflora), sucupira-branca (Pterodon pubescens), todos os ipês
(Tabebuia spp.), entre outras espécies do Cerrado, consideradas
Patrimônio Ecológico.
No ano de
2001, em concurso realizado pelo Instituto Estadual de Florestas-MG, o
pequizeiro foi eleito “Árvore Símbolo do Estado de Minas Gerais”. Há
dezessete anos é realizada em Montes Claros, no norte do estado, a Festa
Nacional do Pequi, ocasião em que moradores da região festejam o Cerrado,
sob o signo desta importante espécie.
O Cerrado é
povoado por espécies como pequi, ipês, aroeira, gravatás e orquídeas
diversas, todas valiosas economicamente, fornecedoras de uma vasta gama de
produtos vegetais madeireiros e não madeireiros. Entretanto, o bioma
carece de uma política ampla, que integre as diversas iniciativas
produtivas e conservacionistas, com vistas a reverter o grave processo de
devastação pelo qual vem sofrendo. O modelo de ocupação e
“desenvolvimento” empregado para a região (semelhante a outros biomas
adjascentes), de maneira geral, está dizimando um manancial de recursos
energéticos, medicinais, madeireiros, ornamentais, alimentares e
culturais. Governantes da região, especialmente prefeitos, têm papel chave
nas mãos, com a possibilidade de implementar políticas públicas
conciliando utilização produtiva de espécies vegetais nativas do Cerrado
com conservação e desenvolvimento humano, em nível local. Tal como a
utilização de pequi, mangaba, buriti, baru, jatobá, araticum entre outras,
na merenda escolar ou em dietas hospitalares, aliado à uma política
adequada de desenvolvimento rural. A sociedade também pode contribuir,
optando por consumir produtos do Cerrado e utilizando espécies nativas em
seus jardins.
Estamos bem
distantes do ideal, mas já temos opções de produtos do Cerrado: a Embrapa
Cerrado, assim como diversos pequenos viveiros de mudas comercializam
espécies nativas; A Rede de Sementes do Cerrado, articula iniciativas para
o manejo de sementes no bioma; O catálogo do Programa de Pequenos Projetos
Ecossociais (PPP-ECOS), apresenta uma variedade de produtos baseados em
espécies nativas e elaborados por produtores do Cerrado de maneira
sustentável. Vale à pena conferir os produtos deste catálogo, bem como
outros que podemos encontrar nos mercados e na internet*.
É preciso que
a sociedade brasileira opte por comer o Cerrado, no bom sentido, é claro!
Ou como diria João Fernandes**, parafraseando Manoel Bandeira em uma de
suas belas camisetas: Pequi or not Pequi? Eis a questão.
*Para obter
contatos e endereços de produtores e comerciantes que trabalham com pequi
e outras espécies do Cerrado, veja a lista organizada pela EMBRAPA-CPAC,
no endereço (acessando “Produtos”): http://cmbbc.cpac.embrapa.br/
** João Fernandes é
proprietário do Santuário Raizama, na Chapada dos Veadeiros-GO, produz
camisetas com fotografias de espécies da flora e outras temáticas do
Cerrado, como rios, cachoeiras, serras e povos.
INDICE -A Lenda do Pequi -O Pequi e o
Pequizeiro -Culinária
Amarela -Receituário
Sertanejo -Festa
para o Fruto Dourado -O Mais Generoso Fruto do
Cerrado
Doce foi o encontro e, juntos e casados, a vida dos dois era bela
e alegre com o ipê florido. De madrugada, Maulá saía para a caça e para a
pesca, enquanto a esposa tecia os colares, as esteiras, moqueava o peixe,
preparando o calugi para ofertar ao amado, quando ele chegasse com o cesto
às costas, carregado de peixe e frutas, as mais viçosas, para
oferecer-lhe, O tempo foi passando, passando. No enlevo do amor,
eles não perceberam quantas vezes a lua viajou pela arcada azul do céu,
quantas vezes o sol veio e se escondeu na sua casa do horizonte. Floriram
os ipês. Caíram as flores. Amareleceram as folhas, que o vento levava em
loucas revoadas pelos campos. Os vermelhos cajus arcavam de fartura e
beleza os galhos dos cajueiros. As castanhas escondiam-se no seio da terra
boa. Rebentavam-se em brotos, e novos cajueiros despontavam. As cigarras
enchiam as matas com sua forte sinfonia e sua vida evolava-se, aos poucos,
em cada nota de seu canto. Nascimentos, mortes, transformações e os dias
andando, andando.
Após três anos de casamento, numa
noite bonita, em que o rio era um calmo dorso de prata à luz do luar e os
bichos noturnos cantavam fundas tristezas e medos, Maluá encostou a cabeça
no peito de Tainá-racan e apertou-a com ternura. No olhar de ambos, há
muito, havia uma sombra. Nenhum deles tinha a coragem de falar. Uma
palavra de mágoa, temiam, poderia quebrar o encanto de seu amor. A beleza
da noite estremecia o coração sensível de Tainá-racan. Ela ajuntou a alma
dos lábios e perguntou com voz trêmula, em
sussurro:
-Estás triste, amado meu? Nem é preciso que
respondas. Há tempo vejo uma sombra nos teus
olhos.
-Sim, respondeu o valente guerreiro. Tu sabes
que eu estou triste e tu também estás. A dor é a
mesma.
-Onde está nosso filho que Cananxiué não quer
mandar?
-Sim, onde está nosso
filho?...
Maluá alisou com carinho o ventre da formosa
esposa. "E o nosso filho não vem", murmurou. Dois pequeninos rios de
lágrimas deslizaram pelas faces coradas de Tainá-racan. Um vento forte
perpassou pela floresta. Uma nuvem escura cobriu a lua, que não mais
tornava de prata as águas mansas do rio. Trovões reboaram ao longe. Maluá
envolveu Tainá-racan nos braços e amou-a. "Nosso filho virá, sim. Cananxiué no-lo mandará".
Quando os
ipês voltaram a florir, no ano seguinte, numa madrugada alegre, nasceu
Uadi, o Arco-Íris. Era lindo, gordinho, tinha os olhos cor de noite
estrelada como os da mãe e era forte como o pai. Mas, havia nele algo
diferente, algo que espantou o pai, a mãe, a tribo inteira: Uadi tinha os
cabelos dourados como as flores do ipê. Maluá recebeu o nascimento do
filho como um presente de Cananxiué. Seu coração, contudo, estremeceu com
a singularidade dele. Começou a espalhar pelo tribo a lenda de que o
menino era filho de Cananxiué. O menino crescia cheio de encanto, alegria
e de uma inteligência incomum. Fascinava a mãe, o pai, a aldeia, a tribo
toda. Com rapidez incrível aprendeu o nome das coisas e dos bichos. Sabia
cantar as baladas tristes e alegres que a mãe ensinava. Era a alegria e a
festa da mãe, do pai, da tribo.
Um dia, Maluá, com
outros guerreiros, foi chamado para a luta. Os olhos pretos de Tainá-racan
encheram-se de lágrimas. O rostinho vivo de Uadi se ensombreceu. À
despedida, seus bracinhos agarram-se ao pescoço do pai e ele falou:
"Papai, vou-me embora para a noite, depois, chegarei à casa de
Tainá-racan, a mãe, lá no céu". E seu dedinho róseo apontou o horizonte. O
corpo de bronze do guerreiro se estremeceu. Seus lábios moveram-se, mas as
palavras teimavam em não sair. Ele apertou, com força, o menino nos braços
e, por fim, falou: "Que é isso, filhinho, tu não vais para lugar nenhum,
nenhum deus te arrancará de mim. A tua casa é a casa de tua mãe,
Tainá-racan, aqui na terra, e a de seu pai. Se for preciso, não partirei
para a guerra. Ficarei contigo".
Nesse momento,
Cananxuié, o senhor de todas as matas, de todos os animais, de todos os
montes, de todos os valores, de todas as águas e de todas as flores,
desceu do céu sob a forma de Andrerura, a arara vermelha, e gritou um
grito forte: "Vim buscar meu filho!" Agarrou-o e levou-o pelos ares.
Tainá-racan e Maluá caíram de joelhos. O guerreiro abriu os braços
gritando: "O filho é nosso, sua casa é a de sua mãe, Tainá-racan, aqui na
terra! Devolve meu filho, a Cananxiué! O grito de Maluá ecoou pela mata,
ferindo de dor o silêncio. O peito do guerreiro palpitava de sofrimento
como uma montanha ferida pelo terremoto. O velho chefe guerreiro
aproximou-se dele, bateu-lhe no ombro e bradou: "Teus companheiros já
partem. Maior que tua dor é tua honra de guerreiro e a glória de nossa
tribo! Vai, meu filho, Cananxiué buscou o que é dele. Muitos outros filhos
ele te dará. Tainá-racan é jovem. Tu és jovem. Vai, guerreiro, não deixa a
dor matar sua coragem!"
Maluá partiu. Tainá-racan
encostou a fronte na terra, onde pouco antes pisavam os pezinhos
encantados de Uadi. Chorou. Chorou. Chorou três dias e três noites. Então,
Cananxiué se apiedou dela. Baixou à terra e disse: "Das tuas lágrimas
nascerá uma planta que se transformará numa árvore copada. Ela dará flores
cheirosas que os veados, as capivaras e os lobos virão comer nas noites de
luar. Depois, nascerão frutos. Dentro da casca verde, os frutos serão
dourados como os cabelos de Uadi. Mas a semente será cheia de espinhos,
como os espinhos da dor de teu coração de mãe. Seu aroma será tão tentador
e inesquecível que aquele que provar do fruto e gostar, amá-lo-á para
jamais o esquecer. Como também amará a terra que o produziu. Todos os
anos, encherei, generosamente, sua copa de frutos, que os galhos se
curvarão com a fartura. Ele se espalhará pelos campos, irá para a mesa dos
pobres e dos ricos Quem estiver longe e não puder comê-lo sentirá uma
saudade doida de seu aroma. Nenhum sabor o substituirá. Ele há de dourar
todos os alimentos com que se misturar e, na mesa em que estiver, seu odor
predominará sobre todos. Ele há de dourar também os licores, para a
alegria da alma".
Tainá-racan ergue o olhar, aquele
olhar onde brilhou a primeira estrela da consolação. E perguntou ao
deus:
-Como se chamará, Cananxiué, esse fruto, cujo
coração são os espinhos de minha dor, cuja cor são os cabelos de ouro de
Uadi e cujo aroma é inesquecível como o cheiro dessa mata, onde brinquei
com meu filhinho?
-Chamar-se-á Tamauó, pequi, minha
filha. Quero ver-te alegre de novo, pois te darei muitos filhos, fortes e
sadios como Maluá. E teu marido voltará cheio de glória da batalha, pois
muitos séculos se passarão até que nasça um guerreiro tão destemido e tão
honrado! Ele comerá deste fruto e gostará dele por toda a vida!"
Tainá-racan sorriu. E o pequizeiro começou a
brotar.
PEQUI Nome popular:
pequiá-bravo Nome científico: Caryocar brasiliense
Camb Família botânica: Caryocaceae
Origem: Brasil - Regiões de
Cerrado Características da planta: Árvore de até 10 m
de altura com tronco tortuoso de casca áspera e rugosa. As folhas pilosas
são formadas por 3 folíolos com as bordas recortadas. Flores grandes
amarelas que surgem durante os meses de setembro a
dezembro. Fruto: A polpa de coloração amarelo-intensa
envolve um caroço duro formado por grande quantidade de pequenos espinhos.
Frutifica de laneiro a abril. Cultivo: O plantio por
sementes ocorre na estação chuvosa. Prefere climas quentes sendo ideais as
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Desenvolvimento das
mudas é lento. Cada planta fornece em média 6 mil frutos ao ano. Em
janeiro, o ar da região e das cozinhas do Cerrado recende ao perfume
desprendido por uma frutinha chamada pequi. Primeiro, são os animais
silvestres que se alvoroçam: abelhas e outros insetos; pássaros de todos
os tamanhos; pequenos e médios roedores e os mamíferos do Cerrado; pacas,
cotias, tatus, preás, veados... Depois os homens: famílias inteiras se
deslocam para iniciar a "apanha" do pequi, que se desprende facilmente dos
ramos das árvores nativas, espalhan-do-se pelos cerrados e matas do Brasil
Central. Logo mais, a fruta já pode ser encontrada por todo lado, nas
pequenas vilas ou nas ruas centrais de cidades grandes como Goiânia,
Brasília e até Belo Horizonte, onde ambulantes vendem o pequi
recém-colhido. O fruto, do tamanho de uma pequena laranja, está maduro
quando sua casca, que permanece sempre da mesma cor verde-amarelada,
amolece. Partida a casca, encontram-se, em cada fruto, uma, duas, três
ou quatro amêndoas tenras envoltas por uma polpa amarela, branca ou rósea,
o verdadeiro atrativo da planta. A única contra-indicação são os espinhos
finos, minúsculos e penetrantes existentes bem no núcleo do caroço, sendo
preciso muito cuidado ao mastigá-lo para chupar a polpa. O pequi é
muito apreciado nas regiões onde ocorre: o arroz, o frango e o feijão
cozidos com pequi são pratos fortes da culinária regional; o licor de
pequi tem fama nacional; e há, também, uma boa variedade de receitas de
doces aromatiza-dos com seu sabor. Apesar disso, não há unanimidade:
existem pessoas que não podem nem mesmo sentir o penetrante cheiro do
fruto maduro. Outras, no entanto, que o apreciam verdadeiramente, não
conseguem passar pela safra do pequi sem consumi-lo aos montes,
aproveitando o desejo contido durante o resto do ano.
Atualmente é possível encontrar a polpa do pequi ou a
própria fruta inteira congelada, mas os seus amantes dizem que não há nada
como o pequi apanhado e degustado na época da maturação. Altamente
calórico, além do sabor perfumado e único que faz com que seja usado como
ingrediente e condimento no preparo de vários pratos, a polpa do pequi
contém uma boa quantidade de óleo comestível (cerca de 60%) e é rico em
vitamina A e proteínas Assim, transforma-se, também, em importante
elemento na complementação alimentar e na nutrição de toda uma
população. A amêndoa do pequi, pela alta porcentagem de óleo que contém
e por suas caracterís-ticas químicas, pode ser também utilizada com
vantagem na indústria cosmética para a produção de sabonetes e
cremes. Infelizmente, para seu próprio azar, a madeira da árvore do
pequi produz, também, um excelente carvão vegetal, que tem sido largamente
explorado. Nos últimos anos, o fogo das caieiras e das queimadas tem sido
o maior responsável pela considerável diminuição dos exemplares nativos do
pequizeiro no Cerrado. E, assim, a árvore de frutos tão apreciados e
nutritivos já está correndo risco de extinção. Na tentativa de salvar o
pequizeiro e o pequi, os técnicos do Centro de Pesquisa Agropecuária do
Cerrado da EMBRAPA do Distrito Federal, da mesma forma como vêm fazendo
com outras plantas na-tivas da região, estão trabalhan-do na produção de
mudas, que já estão sendo distribuidas. Seu objetivo é iniciar uma
campanha pela exploração ra-cional do pequizeiro, utilizando-o
especialmente em áreas de reflorestamento. Além dos cientistas
preocupados com a preservação da espécie e de seus amantes nativos, o
perfume do pequi sempre despertou paixões. Patativa do Assaré, por
exemplo, poeta popular cearense associou o pequi ao verdadeiro fruto
proibido. Dizem até que o pequi teria propriedades afrodisíacas e que,
durante sua safra, as mulheres teriam mais facilidade para
engravidar. As frutas têm essa virtude: os sabores e os sentidos que
provocam fazem criar e recriar histórias míticas. O pequi, como é mais
conhecido e como foi tratado até aqui, é identificado no dicionário de Pio
Corrêa como piquiá-bravo. Qualquer que seja o nome que se lhe atribua,
trata-se do fruto que nasce em uma árvore de tamanho médio é que é própria
do Cerrado brasileiro. No mesmo livro de Pio Corrêa, aparece um outro
fruto, bastante semelhante ao anterior, que é denominado
piquiá-verdadeiro. A este, estamos simplesmente chamando de piquiá
(Caryocar villosum). Se o pequi floresce e frutifica no Cerrado, o
piquiá é típico das matas amazônicas de terras firmes. Assim como o
pequizeiro, 0 piquiazeiro tem muita importância para as populações
interioranas, que ainda preservam 0 hábito de cultivá- lo. E, no entanto,
raramente cultivado nas grandes cidades amazônicas, embora alguns
exemplares sejam encontrados ornamentando ruas e praças de
Manaus. Ambos os frutos, pequi e piquiá, têm as mesmas características:
a polpa do fruto do piquiazeiro, cozida ou crua, é também comestível,
constituindo-se em fonte de gordura e alimento. A grande e notável
diferença entre as duas espécies reside nas dimensões da planta como um
todo. Em oposição à árvore que dá o pequi, o piquiazeiro é muito alto,
alcançando até 40 metros de altura na mata fechada e apresentan-do, em sua
base arredondada, um diâmetro que pode chegar aos 5 metros de
extensão. Reside ai um dos grandes segredos da natureza: a capacidade
de adaptação das espécies aos ambientes em que se
desenvolvem. Pequizeiro está na relação das espécies com risco
de extinção Brasília, 20 (Agência Brasil - ABr) - Rico em
vitaminas A, B e C, cálcio, fósforo, ferro e cobre, o fruto do pequizeiro
(Caryocar brasiliense), árvore característica dos cerrados brasileiros é,
dentre as espécies dessas regiões, uma das mais importantes
economicamente, além de fazer parte da sua paisagem típica. Contudo,
apesar da sua importância nutricional e econômica, o pequi ainda não
recebeu a devida atenção dos ambientalistas, agricultores e pecuaristas.
Com a expansão acelerada da agricultura e da pecuária nas regiões de
cerrado, nos últimos vinte anos, os pequizeiro vêm sendo derrubados
sistematicamente correndo sério risco de extinção, principalmente na
região Centro-Oeste. A família do pequizeiro tem apenas dois gêneros:
Caryocar e Anthodiscus. O Caryocar abrange quinze espécies, destacando-se
o Caryocar brasiliense, o C, coreaceo, o pequi do norte da Bahia,
Tocantins, sul do Maranhão e Piauí, o C, villosum, ou pequiá, e o C.
glabrum, ou pequirana, que ocorrem no Amazonas; o C, nuciferum das
Guianas, e o C. amygdaliferum, da Colômbio e Peru. O Caryocar
brasiliense - ao contrário do C. villosum, árvore frondosa da Amazônia,
com até 50 metros de altura - tem porte mediano, embora seja uma das
árvores mais altas dos cerrados, podendo chegar até 10 metros; produz
frutos redondos, aproximadamente do tamanho de uma laranja, com casca
esverdeada e um caroço espinhoso e tenro, cuja amêndoa se come crua ou
assada. Cautela e um pouco de prática são recomendadas para consumir o
fruto do pequi, palavra indígena que significa "casca espinhenta", pois
quem não sabe consumi-lo pode ficar com a língua e a boca cheias de
espinhos. O seu caroço é revistido naturalmente de centenas de milhares de
minúsculos espinhos e, por esse motivo óbvio, não pode ser mordido,
principalmente pelos iniciantes. Contudo, depois de certa prática, não há
nenhum risco para os degustadores. O pequi é de fundamental importância
na alimentação das populações do interior de Goiás, Tocantins, Mato
Grosso, Distrito Federal e Minas Gerais, além de outros estados, onde o
consumo é menor. A massa que envolve as sementes é amarelada, pastosa,
farinácea, oleaginosa e rica também em proteínas. Além de fornecer óleo
comestível, o pequi é utilizado como condimento no preparo de arroz,
carne, feijão e outros pratos. A polpa é ainda empregada na fabricação de
licores e sabão caseiro. As amêndoas fornecem óleo para os mais diversos
fins, e a madeira - infelizmente, o que tem contribuído para acelerar a
devastação dessa espécie - é usada para a fabricação de móveis, caixas,
dormentes, mourões, postes etc. A entrecasca produz ainda uma tintura
castanho-escura de ótima qualidade, utilizada na produção de artigos de
artesanato.
O pequi tem ainda emprego medicinal, como a Emulsão do
Pequi e o Pequiodeo, aplicado no tratamento de todas as doenças do
aparelho respiratório e definhamento orgânico, além de restaurador das
energias e tônico, mesmo puro, ingerido na dose de uma colher de café,
duas ou três vezes ao dia, durante as principais refeições, com base no
senso comum das populações interioranas. O pequizeiro floresce
geralmente entre setembro e novembro e frutifica de dezembro a abril. Em
cerrados, normalmente roçados para facilitar a pastagem do gado,
encontram-se exemplares pequenos, com 1 metro de altura, carregados de
flores em épocas fora do tempo normal de floração, quando há veranicos, no
período de janeiro. Sua produção não é estável. Em anos de muita chuva,
produz pouco; ao contrário, nos de seca a produção é maior. Tanto que nas
regiões interioranas existe um adágio popular muito conhecido: "ano de
pequi, ano de crise". A chuva derruba as flores antes da fecundação, o que
reduz a produção. Os frutos geralmente têm uma semente, mas podem vir com
até quatro. Quando maduros caem e estão prontos para o consumo. Se
colhidos verdes não têm o seu sabor característico. Um pequizeiro pode
produzir até 6000 frutos numa
estação. GOURMET Pequi: bom demais da
conta Pequi, fruta típica do cerrado brasileiro, de cheiro
forte e adocicado, é umas das muitas utilizadas na culinária da região
central do Brasil, rendendo boas combinações à mesa – principalmente entre
goianos e mineiros – quando misturados ao arroz, frango, feijão ou farofa.
Também pode ser saboreado sozinho, depois de fervido em água por 10
minutos. A fruta integral, de casca verde-escuro, tem várias camadas
internas. Primeiro vem uma polpa verde-claro com a consistência de um
abacate, que não é aproveitada pelas receitas. Dentro dessa polpa está a
melhor parte: uma semente amarela cuja consistência, cor e até mesmo o
cheiro lembram a manga. É justamente essa parte do pequi que vai para a
panela. Mas, cuidado ao saboreá-lo. Esse caroço, bem macio, não deve ser
mordido, mas sim raspado com os dentes, pois dentro dele há vários
espinhos que podem ferir. Montes Claros, Minas Gerais, realiza, no
final de janeiro, uma tradicional Festa do Pequi, com barracas que vendem
de tudo que se pode fazer com a fruta, desde mudas da planta a comidas e
licores. Importante para a economia da região, o pequi está ameaçado de
extinção, devido ao desmatamento indiscriminado para exploração do solo. O
pequi gera milhares de empregos diretos durante a temporada de colheita,
entre dezembro e março. Seus frutos, colhidos no chão, são distribuídos
para várias partes do país. Quem dá mais informações sobre o pequi são
os médicos Mauro Fisberg e Jamal Wehba que, junto com a nutricionista
Silvia Cozzolino, escreveram o livro “Um, dois, feijão com arroz”, uma
viagem pelos pratos do dia-a-dia mais consumidos de Norte a Sul do Brasil.
Em 432 páginas, os autores apresentam um amplo estudo que reúne inúmeras
informações relacionadas aos pratos. Do aperitivo à sobremesa, apresentam
receitas autênticas, tabelas com valor nutricional, origem, curiosidades,
citações populares, poesias, costumes e crendices sobre a alimentação
brasileira O objetivo dessa publicação é enfocar a cultura alimentar de
nossa terra. Substituir essa riqueza será perdê-la para sempre e não
cultivar os nossos valores será como perder a identidade”, registram os
autores na introdução do livro. Muitas informações desta matéria saíram do
livro, inclusive a receita de arroz com pequi que apresentamos. Segundo o
livro, o nutriente que se destaca nesse prato é o retinol (vitamina A),
fornecendo ainda cálcio, ferro e fósforo. Entre as crendices populares o
pequi aparece como afrodisíaco. A odisséia do
pequi Dona Eduvirgem Batista dos Anjos é uma das beneficiadas
pela comercialização do pequi, levando-o de Montes Claros à Capital
paulista para abastecer restaurantes regionais, vendedores ambulantes de
algumas esquinas da cidade e barracas do Mercado Municipal. Com o dinheiro
que ganha nesse período, consegue sustentar a família e, “dependendo das
vendas”, ficar por até cinco meses sem trabalhar após o fim da temporada.
Ela compra pequi no Mercado Municipal de Montes Claros, freta um caminhão
por mil reais, carrega “até onde der” e vem para o Mercado São Jorge
(vizinho ao Mercado Municipal), no Largo do Pari s/n. Junto a vendedores
de outros produtos, fica de um a três dias, dormindo em redes estendidas
na marquise no próprio mercado, “até vender tudo que tem no
caminhão”. Depois de esvaziar a carga, Eduvirgem volta a Montes Claros,
de ônibus, enquanto o motorista do caminhão arranja novo frete que “quase
nunca” coincide com o destino de Eduvirgem. Ela inicia nova jornada
idêntica até o final de fevereiro, quando então começa a trazer outra
fruta do cerrado até São Paulo, o araticum. Eduvirgem ensina: “pequi tem
que cozinhar o caroço por uns 10 ou 15 minutos e comer igual coelho,
dentando devagarinho prá não morder o espinho. É bom
demais!” Crendices, tabus e citações populares
O que faz mal: • Pequi com bebida alcoólica em dia de sol:
dor de barriga. • Manga com leite: provoca vômito, azeda no estômago,
dá dor de barriga, envenena o corpo e leva à morte. • Banana com
pepino: empedra no estômago. • Ovo frito à noite faz mal. O que
faz bem: • Leite: bom para as unhas • Banhar a criança em água
fervida na panela de angu: contra brotoeja Pequi... o viagra do
sertão Foi por causa do pequi, que muito “bucho” cresceu.
A mulher “roi” e engorda, Foi o fruto que comeu. Pequi é fruto
quente, endoidece muita gente, até quem nunca roeu .... (...)
Pequi vem do cerrado, é remédio e alimento Serve para dar e
vender e do pobre é o sustento. Prezervai o pequizeiro, cuide
dele o ano inteiro ... (...) Nosso rico pequizeiro, condenado à
extinção. Culpa do desmatamento, cá em nossa região. Infeliz
realidade, parem de fazer maldade com nossa
alimentação... Receitas e Milagres, Josecé Alves dos
Santos) Fonte: “Um dois, feijão com arroz”, editora
Atheneu Arroz com
Pequi Ingredientes • 1 xícara de chá de arroz •
12 pequis • 1/2 colher de sobremesa de tempero • 1 cebola média •
2 colheres de sopa de óleo
Preparo Refogar o arroz no
óleo, tempero e cebola. Colocar a água e os pequis. Deixar cozinhar e
servir quente. Nutrientes 220g. arroz 80g de cebola 5g de
tempero completo 15g de óleo de soja 480g de
pequi Rendimento: quatro porções Cada porção fornece:
286 calorias 10g de proteínas 56,5g de glicídios 4,47g de
lipídios 3,84g de fibras 10.000ug de retinol 25mg de
cálcio 2,27mg de ferro Quando
comprar: a temporada do pequi vai de dezembro a março.
Onde comprar: nesse período é possível encontrá-lo no
Box 30 do Mercado Municipal ou nos caminhões ambulantes do Mercado São
Jorge. Os dois mercados estão próximos
A REPRODUÇÃO DO PEQUIZEIRO
Tecnologia garante perpetuação da espécie
Um dos símbolos do cerrado, o pequi esteve bem perto da
extinção até há alguns anos, devido ao extrativismo indiscriminado e ao
desmatamento de áreas de vegetação nativa. Esse risco, felizmente, foi
definitivamente afastado graças às técnicas de propagação desenvolvida por
pesquisadores brasileiros. Do plantio a frutificação vão de quatro a oito
anos. Os frutos proporcionam diferentes formas de processamento e
aproveitamento na culinária. No Estado de Goiás é o elemento principal de
seu prato mais característico e exótico, a galinhada com pequi. A
propagação da árvore do pequi é feita com os frutos maduros, usados como
semente logo que ao chão. A quebra da dormência, entre outras maneiras,
pode ser feita com a movimentação das sementes sem casca em um recipiente
durante 15 a 20 minutos, de modo a provocar pequenos choques, ou deixá-los
por 24 horas em uma solução de água com ácidos específicos. Estão
depositadas no pequi, juntamente com outros frutos do cerrado, como o
baru, mangaba, caju, araticum, guapeva e o palmito da guariroba,
esperanças de exploração sustentada do bioma, a partir do adensamento das
plantas e da diversificação de espécies de reconhecida ou potencial
importância econômica, num consórcio com a própria natureza, isto é, com
outras plantas nativas. Como a pesquisa ainda não tem todas as respostas
para seu cultivo, o caminho para salvar o pequi tem sido a reprodução das
condições oferecidas pelo ambiente natural da planta, uma experiência
original como o próprio pequi. Banhos de ácido e choques térmicos eram os
recursos mais utilizados para estimular a germinação, mas essas e outras
técnicas vem sendo substituídas em alguns viveiros. O pesquisador Roberto
de Almeida Torres, coordenador do viveiro de mudas do CNPq/ Funape/UFG,
explica que processo de reprodução do pequi começa com a seleção das
matrizes. São escolhidas aquelas com frutos de melhor qualidade,
destacando-se a espessura da polpa, a conformação e a sanidade da árvore.
Os frutos caídos são colhidos e amontoados no chão, à sombra, até que
ocorra a fermentação. Em seguida são despolpados. As primeiras e ácidas
chuvas da estação induzem a semente à germinação, o que ocorre a partir
dos 28 dias. Em 60 dias, 80% do material já está germinado. Cavadas com as
medidas 40X40X40, as covas devem receber de cinco a 10 litros de esterco
de curral curtido e 150 gramas de superfosfato simples. A aplicação de
cupinicida é necessária, mas por se tratar de um produto muito tóxico é
aconselhável buscar a orientação der um engenheiro agrônomo.O perímetro da
cova deve ser mantido sempre limpo, livre de invasoras. Também não se deve
descuidar do controle das formigas. Ocasionalmente pode ocorrer o ataque
de fungos, que podem se combatidos com produtos específicos.O ideal é que
as mudas sejam plantadas no início do período chuvoso. Depois de adaptado
ao local onde foi plantado, o pequi resiste bem ao estresse hídrico,
embora a irrigação seja um recurso importante para acelerar o crescimento
e aumentar as chances de sobrevivência das plantas.É aconselhável guardar
de 30 a 40 metros quadrados para cada planta, embora não haja nenhum
trabalho conclusivo sobre o espaçamento mais adequado, ressalta Roberto
Torres. "Na natureza, mesmo nos locais onde há muitas árvores elas estão
bem espaçadas". Quanto à produção de frutas é certo que ela pode começar
bem antes do que se imaginava até algum tempo, embora seja pouco
expressiva no início da vida produtiva, já que é proporcional às dimensões
da copa da planta. Em regiões mais quentes, onde o pequi encontra melhores
condições de desenvolvimento, a exemplo do Vale do Rio Araguaia,
observou-se à produção em um cultivo aos 3,5 anos.
PEQUI: FESTA PARA O
FRUTO DOURADO Mais do que as flores, ele é a
marca registrada da primavera no cerrado. O início da
primavera nos Cerrados significa a volta das chuvas e, com elas, a
transformação do bioma em uma mistura de jardim e pomar. Entre as centenas
frutos que se espalham por seus campos e matas, um encanta mais que todos:
o pequi. Estrela da culinária regional, esse fruto dourado é motivo de
festa e fartura entre sertanejos, indígenas e brancos. Em Goiânia, por
exemplo, nesta época ele pode ser encontrado em todas as esquinas, em um
verdadeiro festival. Conheça mais sobre esse brasileiríssimo fruto nas
matérias abaixo. CULINÁRIA
AMARELA ARROZ COM PEQUI Ingredientes: Dois copos
(tipo americano) de arroz, de oito a quinze pequis, sal, óleo e
alho. Modo de fazer: Refogar os pequis, o arroz e os temperos. Cobrir
com água e cozinhar. Servir quente.
LAGARTO COM
PEQUI Ingredientes:Um quilo e meio de lagarto; duas colheres (sopa) de
vinho tinto; duas colheres (sopa) de vinagre; sal e pimenta-do-reino; e
oito pequis. Modo de fazer: Tempere a carne com alho, sal,
pimenta-do-reino, o vinho e o vinagre e deixe-a descansando por cerca de
uma hora. Coloque-a em uma panela de pressão e acrescente o restante do
tempero, os pequis e cubra com água. Deixe cozinhar por duas horas e
pronto. Para acompanhar, arroz branco e uma salada verde.
FRANGO
COM PEQUI Ingredientes: Um quilo de frango, cebolinha picada e doze
pequis. Modo de fazer: corte o frango em pedaços, tempere com alho e
sal e refogue. Deixe grelhar um pouco e, a seguir, acrescente os pequis e
a cebolinha, cubra com água e cozinhe por cerca de 20 minutos. Sirva
quente. Para acompanhar, arroz branco.
MILHO VERDE COM
PEQUI Ingredientes: Seis espigas de milho verde e de dez a quinze
pequis. Modo de fazer: rale as espigas e refogue em óleo com alho e
sal. A seguir, acrescente os pequis e cubra com água. Deixe cozinhar por
20 minutos. Servir quente. Acompanhamento: arroz
branco. OBSERVAÇÃO: QUEM NÃO CONHECE O PEQUI
DEVE TER CUIDADO NO PREPARO E NA HORA DE COMER. O FRUTO TEM UMA CASTANHA
NO CENTRO QUE É CHEIA DE PEQUENOS ESPINHOS POR DENTRO, POR ISSO, NUNCA SE
DEVE MORDÊ-LO NEM CORTÁ-LO, MAS RASPÁ-LO DE LEVE COM OS DENTES OU UM
TALHER. RECEITUÁRIO SERTANEJO Da culinária
ao fabrico de sabão. Preparado de
raspas Retire com uma colher a polpa do pequi cru.
Espalhe-a sobre uma esteira de buriti para secar ao sol. Depois de seca,
utiliza-se no preparo de alimentos (mistura com arroz ou feijão). Também é
utilizada no fabrico de sabão.
Rosário de
Castanhas Depois de cozido, deixe o pequi sem a polpa,
secar ao sol ou no forno. Logo após, parta o invólucro ao meio e retire a
castanha, que já sai dividida. Pegue as castanhas e, com o auxílio de uma
agulha, junte-as em uma linha de algodão, formando um rosário. Utiliza-se
para o consumo direto.
Óleo de Polpa Cozinhe
com água o pequi durante muito tempo.Retire o óleo da água pelo processo
de decantação e coloque-o em outra vasilha. Leve ao fogo para secar o
restante da água até ficar só o óleo. Esse óleo é aproveitado para fins
medicinais: bronquite e tosse. É usado também na alimentação, substituindo
a manteiga principalmente no cuscuz de milho.
Paçoca de
Castanha
Retire a castanha do invólucro e, depois,
a membrama que o encobre e soque-as em um pilão. Coloque farinha de
mandioca, açúcar e soque novamente. Para uma xícara de castanha,
utiliza-se uma xícara de farinha e meia xícara de açúcar.
Arroz com
Pequi Refogue o pequi juntamente com o arroz e os
temperos. Coloque em seguida uma quantidade de água que dê para cozinhar.
.
Carne
com Pequi
Tempere a carne de gado ou frango a seu
gosto. Depois de quase cozida, acrescente alguns pequis. Sirva ainda
quente.
Pequi em Conserva Cozinhe os pequis, raspe-os com uma
colher. Coloque em um vidro esterelizado, acrescente óleo, cebola e
pimenta. É usado para temperar
alimentos.
Cuscuz com Castanha Retire a castanha do
invólucro e a membrana que a encobre. Moa-as e misture-as com os
ingredientes do cuscuz.
Pequi ao Molho Refogue o pequi com alho,
sal, cebola, pimenta, extrato de tomate e cheiro verde. Depois de
refogado, coloque um pouco de água e deixe cozinhar por alguns
minutos.
Feijão com Pequi Refogue os pequis nos temperos, junte
o feijão já cozido em seguida e coloque uma quantidade de água suficiente
para cozinhar os pequis. Sirva ainda quente.
Beiju com Castanha de
Pequi Rale a mandioca e esprema para retirar o polvilho. Para uma
porção de massa, coloque a metade da mesma medida de castanha socada num
pilão. Junte açúcar aos dois ingredientes com uma pitada de sal. Espalhe a
massa numa folha de bananeira e cubra com outra folha. Leve ao forno
próprio para fazer farinha e asse por alguns minutos.
Pequi com
Açúcar Cozinhe o pequi e jogue o açúcar por cima.
Sabão de
Pequi Ponha três litros de raspa de pequi na água e deixe. No dia
seguinte, acrescente três quilos de sebo e meio quilo de soda. Deixe
cozinhar até dissolver todos os ingredientes. Arroz tropeiro
com pequi Igrdientes: 1/2 kg de carne de sol em
cubos; 03 xícaras de arroz; 12 pequis; - cebola,
pimentão, tomate, alho; - pimenta do reino, açafrão, sal (a
gosto); 01 fio de óleo ou manteiga de garrafa; - Água
fervente. Modo de fazer:
Refogue os temperos, a
carne, o arroz e os pequis no óleo, depois cubra com água fervente.
Cozinhe e sirva bem quente. 2770 resultados
encontrados no Brasil Palavra chave: tudo sobre o
pequi
.
Introdução O Brasil possui cerca de trinta por
cento das espécies de plantas e de animais conhecidas no mundo, que estão
distribuídas em seus diferentes ecossistemas. É o país detentor da maior
diversidade biológica do planeta. A região dos cerrados, com seus 204
milhões de hectares – aproximadamente 25% do território nacional –
apresenta grande diversificação faunística e florística em suas diferentes
fisionomias vegetais (Avidos e Ferreira, 2003). A área core está
localizada essencialmente no Planalto Central onde se encontra o divisor
de águas das três grandes bacias hidrográficas do Brasil, a Amazônica, a
do Paraná e a do São Francisco (Chaves, 2003). Até meados deste
século, essa região, que abrange principalmente os Estados de Minas
Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Maranhão, Piauí e
Distrito Federal, era considerada secundária para a produção agrícola.
Naquele período, em que o mundo inteiro voltava a atenção para a Amazônia,
preocupado com a devastação do que se costumava chamar de “o pulmão do
mundo”, os cerrados apareciam assim como uma espécie de “patinho feio”,
região de solos pobres e pouco férteis, que não despertavam muito
interesse nos agricultores e nos órgãos de defesa ambiental. A partir
dos anos 60, com a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para
Brasília, localizada no coração dos cerrados, com a construção de estradas
e com a adoção da política de interiorização e de integração nacional,
essa região foi inserida no contexto da produção de alimentos e de
energia. Dessa maneira, de pequena atividade agrícola de subsistência e
criação extensiva de gado, a região passou a contribuir com grande parte
da produção de grãos e a abrigar expressivo número do rebanho bovino do
país. Hoje, graças ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que
viabilizaram a sua utilização em bases econômicas, a região dos cerrados é
um dos mais importantes pólos de produção de alimentos do país,
contribuindo com mais de 25% da produção nacional de grãos alimentícios,
além de abrigar mais de 40% do rebanho bovino do país (Avidos e Ferreira,
2003). Estima-se que 127 milhões de hectares são constituídos de
terras aráveis potencialmente aptas para as atividades agropecuárias,
sendo que 61 milhões de hectares atualmente são ocupados com pastagens,
culturas anuais, perenes e florestais, e 66 milhões de hectares são
apontados como a mais importante fronteira agrícola do Brasil. Devido a
limitações na capacidade de uso do solo, 77 milhões de hectares são
reservados estrategicamente como áreas de preservação ambiental (Tabela
1). Tabela 1 – Ocupação agrícola atual e potencial
das terras da Região do Cerrado.
Ocupação |
Área |
Absoluta (milhões de ha)(1) |
|
Relativa (%) |
Terras aráveis |
127 |
|
62 |
Área ocupada atualmente |
61 |
|
30 |
Pastagens cultivadas |
49 |
|
24 |
Culturas anuais |
10 |
|
5 |
Culturas perenes e florestais |
2 |
|
1 |
Áreas de preservação |
77 |
|
38 |
Fronteira agrícola |
66 |
|
32 |
Área total |
204 |
|
100 |
(1) Um hectare (ha) = 10.000
m2 Fonte: Embrapa..., 1999. Todavia, o desconhecimento do potencial
de uso dos recursos naturais, o desrespeito às leis de proteção ambiental,
as queimadas e a intensidade de exploração agrícola têm provocado
prejuízos irreparáveis ao solo, à fauna, à flora e aos recursos hídricos,
comprometendo a sustentabilidade desse ecossistema e colocando muitas
espécies animais e vegetais em risco de extinção, principalmente as
fruteiras nativas. O clima da região é caracterizado como tropical
estacional, com chuvas da ordem 1.500 mm anuais, com distribuição
concentrada na primavera e no verão, podendo ser distinguido, nitidamente,
um período chuvoso e outro seco. A duração da época seca, definida
como déficit hídrico, varia de 4 a 7 meses, em 87% da superfície e se
concentra durante o outono e o inverno. As temperaturas médias anuais
situam-se em torno de 22ºC ao Sul e 27ºC ao Norte. As diferenças entre
as temperaturas máximas e mínimas no conjunto da região oscilam entre 4º a
5ºC, diminuindo progressivamente, à medida que se aproxima da Região
Amazônica (Silva et. al., 2001). Os solos sob cerrado apresentam
grande variação em suas características morfológicas e físicas. Possuem,
no entanto, algumas características químicas comuns tais como: elevada
acidez, toxidez de alumínio, alta deficiência de nutrientes, alta
capacidade de fixação de fósforo e baixa capacidade de troca de cátions
(Lopes, 1985 apud Chaves, 2003). A classe de solos mais extensiva na
região é a dos latossolos que ocorre em cerca de 54% da área e está
associada às menores declividades. Em terrenos mais declivosos prevalecem
os cambissolos distróficos (Haridasan, 1993 apud Chaves, 2003). O conteúdo
de argila varia de menos de 5% a mais de 90% (Eiten, 1993 apud Chaves,
2003). O relevo plano e suavemente ondulado predomina em 70% da
superfície. As boas condições de drenagem – em 89% dos solos da região –
favorecem o uso de mecanização agrícola, permitindo o cultivo em grandes
áreas (Adamoli et al., 1986 apud Silva et al., 2001). Fisionomicamente
o cerrado se caracteriza pela existência de um extrato herbáceo formado
basicamente por gramíneas e um extrato arbóreo/arbustivo de caráter
lenhoso. A predominância de um ou outro extrato caracteriza as diferentes
formações do cerrado desde o campo limpo, onde predomina o extrato
herbáceo, até o cerrado, em que predomina o extrato arbóreo. Estas
diferentes formações se alternam dentro da região, na dependência,
principalmente, da fertilidade do solo, declividade e presença ou ausência
de concreções. A formação mais comum é o chamado cerrado stricto
sensu, uma formação do tipo savana, onde convivem gramíneas com
espécies lenhosos. Esta formação é a mais rica em espécies nativas
frutíferas com interesse para aproveitamento alimentar. Estimativas da
biodiversidade vegetal do cerrado, como um todo, apontam para um número de
espécies vasculares de 5.000 a 7.000 espécies. Com esta enorme
biodiversidade criou-se, na região do cerrado, uma tradição de usos, em
diferentes formas, dos recursos vegetais. Destacam-se pela importância na
região, as espécies alimentícias, medicinais, madeireiras, tintoriais,
ornamentais, além de outros usos. Das espécies com potencial de utilização
agrícola, na região do cerrado, destacam-se as
frutíferas. São algumas dezenas de espécies de diferentes
famílias que produzem frutos comestíveis, com formas variadas, cores
atrativas e sabor característico. Estes frutos são consumidos em
diferentes formas pelas populações locais e constituem, ainda, uma
importante fonte de alimentos para animais silvestres (pássaros, roedores,
tatus, canídeos, etc.) e mesmo para o gado. Os animais silvestres
funcionam como dispersores naturais de sementes, podendo-se admitir que o
caráter atrativo e alimentício dos frutos resulta de um processo de
co-evolução entre plantas e animais, por um longo período de tempo
(Chaves, 2003). As fruteiras nativas ocupam lugar de destaque no
ecossistema do cerrado e seus frutos já são comercializados em feiras e
com grande aceitação popular. Esses frutos apresentam sabores sui
generis e elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais
minerais e podem ser consumidos in natura ou na forma de sucos,
licores, sorvetes, geléias etc. Hoje, existem mais de 58 espécies de
frutas nativas dos cerrados conhecidas e utilizadas pela população (Avidos
e Ferreira, 2003). Os frutos nativos do Cerrado – base de sustentação
da vida silvestre e fonte de alimento para as populações rurais – possuem
enorme valor nutritivo. Cem gramas de sementes de Baru fornecem 617
calorias e 26% de proteína. Em 100 g de polpa de Pequi, encontramos 20 mil
microgramas de vitamina A e 100 g de polpa de Buriti contêm 158 mg de
cálcio (Silva et al., 1994 apud Silva et al., 2001). O consumo das
frutas nativas dos cerrados, há milênios consagrado pelos índios, foi de
suma importância para a sobrevivência dos primeiros desbravadores e
colonizadores da região. Através da adaptação e do desenvolvimento de
técnicas de beneficiamento dessas frutas, o homem elaborou verdadeiros
tesouros culinários regionais, tais como licores, doces, geléias, mingaus,
bolos, sucos, sorvetes e aperitivos. O interesse por essas frutas tem
atingido diversos segmentos da sociedade, entre os quais destacam-se
agricultores, industriais, donas-de-casa, comerciantes, instituições de
pesquisa e assistência técnica, cooperativas, universidades, órgãos de
saúde e de alimentação, entre outros. O interesse industrial pelas
frutas nativas dos cerrados foi intensificado após os anos 40. A mangaba,
por exemplo, foi intensivamente explorada durante a Segunda Guerra
Mundial, para exploração de látex. O babaçu e a macaúba foram bastante
estudados na década de 70, em decorrência da crise de petróleo, e
mostraram grandes possibilidades para utilização em motores de combustão,
em substituição ao óleo diesel. O pequi já foi industrializado, sendo o
seu óleo enlatado e comercializado. A polpa e o óleo da macaúba são
utilizados na fabricação de sabão de coco. O palmito da gariroba, de sabor
amargo, começou a ser comercializado em conserva recentemente, à
semelhança do palmito doce. Os sorvetes de cagaita, araticum, pequi e
mangaba continuam fazendo sucesso nas sorveterias do Distrito Federal e de
Belo Horizonte (Avidos e Ferreira, 2003). Em 1975, o IBGE registrou a
produção de 33 toneladas de resina de Jatobá e 2.199 toneladas de amêndoas
de Macaúba; em 1991, registrou 992 toneladas de fibra de Buriti e 2.201
toneladas de Pequi para a extração de óleo. A composição química e o valor
energético de algumas frutas nativas do Cerrado são apresentados nas
Tabelas 2 e 3 (Silva, et al., 2001). Tabela 2
–
Composição química e valor energético de algumas frutas nativas do
Cerrado, obtidos de 100 g de polpa.
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Ananas |
56,5 |
13,50 |
0,40 |
0,10 |
21 |
10 |
0,40 |
5 |
80 |
40 |
61,0 |
0,200 |
Araçá |
37,8 |
8,00 |
1,00 |
0,20 |
14 |
30 |
1,05 |
48 |
60 |
40 |
326,0 |
1,300 |
Araticum |
52,0 |
10,30 |
0,40 |
1,60 |
52 |
24 |
2,30 |
--- |
453 |
100 |
--- |
2,675 |
Babaçu (amêndoa) |
313,0 |
13,30 |
3,90 |
29,50 |
30 |
40 |
1,00 |
--- |
320 |
250 |
--- |
1,500 |
Baru (amêndoa)(1) |
616,7 |
25,46 |
26,29 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Buriti |
114,9 |
2,16 |
2,95 |
10,50 |
158 |
44 |
5,00 |
6,000 |
30 |
230 |
20,8 |
0,700 |
Cagaita(2) |
--- |
5,04 |
0,50 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
421 |
72,0 |
0,370 |
Caju |
36,5 |
8,40 |
0,80 |
0,20 |
50 |
18 |
1,00 |
124 |
15 |
46 |
219,7 |
0,539 |
Caju (castanha) |
556 |
37,92 |
17,89 |
37,00 |
24 |
580 |
1,80 |
--- |
850 |
320 |
5,0 |
2,100 |
Continua
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Coco-Guariroba (palmito)(3) |
--- |
--- |
5,56 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Fruto-de-Tatu(4) |
--- |
81,84 |
11,80 |
--- |
0,04 |
0,19 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Gabiroba |
64,0 |
13,90 |
1,60 |
1,00 |
38 |
30 |
3,20 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Gravata |
51,0 |
13,50 |
0,60 |
0,10 |
18 |
16 |
2,60 |
30 |
40 |
40 |
50,0 |
0,500 |
Ingá |
97,7 |
21,60 |
2,62 |
0,10 |
28 |
13 |
0,80 |
47 |
148 |
95 |
19,6 |
1,121 |
Jatobá |
115,0 |
29,40 |
1,00 |
0,70 |
31 |
24 |
0,80 |
30 |
40 |
40 |
31,1 |
0,500 |
Jenipapo |
81,7 |
18,27 |
1,18 |
0,44 |
33 |
29 |
3,40 |
30 |
24 |
275 |
6,8 |
0,560 |
Lobeira(5) |
345,0 |
85,99 |
9,48 |
--- |
96,2 |
105 |
30 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Macaúba (castanha) |
243,0 |
27,90 |
4,40 |
27,90 |
199 |
57 |
0,20 |
23 |
140 |
90 |
28,0 |
1,000 |
Mama-Cadela(6) |
--- |
5,04 |
1,99 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Mangaba |
47,5 |
10,50 |
0,70 |
0,30 |
41 |
18 |
2,80 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Murici |
60,5 |
11,70 |
1,37 |
1,16 |
19 |
18 |
2,04 |
7 |
20 |
40 |
84,0 |
0,400 |
Pêra-do-Cerrado(7) |
--- |
--- |
4,87 |
--- |
0,08 |
0,04 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (amêndoa) |
89,0 |
21,60 |
1,20 |
0,90 |
14 |
10 |
1,20 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (endocarpo)(8) |
--- |
6,76 |
1,02 |
10,00 |
0,049 |
0,208 |
1,39 |
20.000 |
30 |
463 |
12,0 |
0,387 |
Pitanga |
46,7 |
6,40 |
1,02 |
1,90 |
9 |
11 |
0,20 |
210 |
30 |
60 |
14,0 |
0,300 |
Pitomba |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
30 |
40 |
40 |
54,0 |
0,500 |
Fonte: Frango, 1992. Exceto: 1, 2 e 6 – Almeida et al.,
1997; 3 – Almeida e Silva, 1994; 4 e 5 – Embrapa, 1997. --- Dados
Desconhecidos Tabela 3
– Composição em ácidos
graxos (%) do óleo de algumas frutas nativas do Cerrado.
Ácidos graxos |
Macaúba |
Baru(1) |
Babaçu |
Buriti |
Pequi(2) |
Jenipapo |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Polpa |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Polpa |
Amêndoa |
Caprílico |
--- |
--- |
6,2 |
--- |
6,8 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Cáprico |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
6,3 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Láurico |
--- |
--- |
43,6 |
--- |
41,0 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Mirístico |
--- |
--- |
8,5 |
--- |
16,2 |
--- |
--- |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
Palmítico |
24,6 |
18,7 |
5,3 |
5,7 |
9,4 |
16,3 |
34,0 |
34,4 |
32,0 |
37,2 |
10,3 |
Palmitoléico |
6,2 |
4,0 |
--- |
--- |
--- |
0,4 |
1,6 |
2,1 |
1,3 |
--- |
--- |
Esteárico |
5,1 |
2,8 |
2,4 |
5,5 |
3,4 |
1,3 |
3,7 |
1,8 |
2,1 |
5,4 |
9,7 |
Oléico |
51,5 |
53,4 |
25,5 |
14,2 |
14,2 |
79,2 |
54,3 |
57,4 |
56,3 |
25,7 |
19,5 |
Linoléico |
11,3 |
1737 |
3,3 |
32,4 |
2,5 |
1,4 |
4,2 |
2,8 |
7,2 |
--- |
60,5 |
Linolênico |
1,3 |
1,5 |
--- |
2,2 |
--- |
1,3 |
1,8 |
1,0 |
0,3 |
--- |
--- |
Saturados |
29,7 |
21,5 |
71,2 |
--- |
83,3 |
17,7 |
37,7 |
36,2 |
34,1 |
--- |
--- |
Insaturados |
70,3 |
78,5 |
28,8 |
--- |
16,7 |
82,3 |
62,3 |
63,8 |
65,9 |
--- |
--- |
Fonte: Brasil, 1985. Exceto (1) Embrapa, 1987; (2)
Figueiredo et al., 1986. --- Dados Desconhecidos
Atualmente, é possível encontrar grande quantidade de frutas nativas
do cerrado sendo comercializadas em feiras da região e nas margens das
rodovias a preços competitivos e alcançando grande aceitação popular.
Observa-se, hoje, a existência de mercado potencial e emergente para as
frutas nativas do cerrado, a ser melhor explorado pelos agricultores, pois
todo o aproveitamento desses frutos tem sido feito de forma extrativista e
predatória. Apesar da existência de leis de proteção à fauna, à flora
e ao uso do solo e água, elas são ignoradas pela maioria dos agricultores,
que utilizam esses recursos naturais erroneamente, na expectativa de
maximizarem seus lucros. Neste cenário, o ecossistema cerrado tem sido
agredido e depredado pela ação do fogo e dos tratores, colocando em risco
de extinção várias espécies de plantas, entre elas algumas fruteiras
nativas, antes mesmo de serem classificadas pelos pesquisadores (Avidos e
Ferreira, 2003). Devido ao processo acelerado de ocupação agrícola do
Cerrado e à exploração extrativista e predatória, tem-se observado quedas
anuais significativas nas safras desses produtos, tornando imprescindível
que seu cultivo seja iniciado. Segundo Abramovay (2000), é possível
explorar de maneira sustentável os recursos e o verdadeiro banco de
germoplasma hoje existentes nos Cerrados. As fruteiras nativas dos
Cerrados, tais como araticum, jatobá, piqui, mangaba, cagaita, buriti,
constituem fontes importantes de fibras, proteínas, vitaminas, minerais,
ácidos saturados e insaturados presentes em polpas e sementes; possuem
enraizamento profundo o que permite um aproveitamento mais eficiente da
água e dos minerais do solo comparativamente às lavouras de grãos. Ainda
segundo Abramovay (1999), não dependem de sistemas de manejo apoiados em
revolvimento intensivo do solo; oferecem proteção ao solo contra impactos
de gotas de chuva e contra formas aceleradas de erosão hídrica e eólica;
permitem consorciamento com outras culturas favorecendo o melhor
aproveitamento da terra; podem ser explotadas sem forte alteração da
biodiversidade.
Estes são apenas alguns exemplos de recursos que hoje a
pesquisa agropecuária já estuda e cuja exploração sustentável pode
propiciar retorno tanto mais interessante que não se restringem aos
mercados convencionais e já existentes. Uma boa solução para conter a
devastação da região do cerrado, como explica o pesquisador da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dijalma Barbosa da Silva, é utilizar
as áreas já abertas e abandonadas, para a produção, pois assim não seria
preciso devastar novas áreas. Além disso, a utilização dessas áreas
reduziria os custos para os produtores, visto que já estão preparados e
limpas para o plantio, exigindo apenas investimentos em corretivos,
adubações e práticas conservacionistas. Dentre as possibilidades
atuais de utilização das fruteiras do cerrado, destacam-se: o plantio em
áreas de proteção ambiental; o enriquecimento da flora das áreas mais
pobres; a recuperação de áreas desmatadas ou degradadas; a formação de
pomares domésticos e comerciais; e o plantio em áreas de reflorestamento,
parques e jardins, e em áreas acidentadas. Nesse sentido, muitos
agricultores e chacareiros já estão implantando pomares de frutas nativas
dos cerrados e os viveiristas estão intensificando a produção de
mudas (Avidos e Ferreira, 2003). Outro tipo de ambiente que pode
ser utilizado de forma complementar para fins de conservação de recursos
genéticos são as faixas de domínio de rodovias. Principalmente nas
chapadas, áreas contínuas e praticamente intocadas, ocorrem em grandes
extensões nas margens de rodovias, amostrando faixas de formações
originais de áreas já totalmente ocupadas por atividades agropecuárias.
Pelo menos para as espécies com parte da variabilidade genética das
populações originais, além de servir para conectar fragmentos. Nota-se, no
entanto, que estas faixas vêm sendo paulatinamente ocupadas por lavouras,
de forma irregular, o que poderia ser evitado com ações educativas e de
fiscalização (Chaves, 2003). Segundo Abramovay (1999), o
aproveitamento econômico destes recursos tão variados é bem mais complexo
que a ligação ao mercado por meio de produtos consagrados como a soja, o
milho e os suínos. Ainda segundo este autor, o importante é que esta
fantástica diversidade de espécies e usos retrata o desafio central que
consiste na criação de mercados capazes de representar uma agregação de
valor – em virtude da especificidade do produto – muito maior que na
produção de commodities. Há grande potencial para a exportação dessas
frutas, já que possuem um sabor sui generis e não são encontradas em
outros países. Hoje, o licor de pequi já é exportado para o Japão e a
amêndoa do baru é demandada pela Alemanha; mas existem ainda muitas
possibilidades de exportação de outras espécies nativas. É muito
importante investir no trabalho de domesticação das fruteiras nativas dos
cerrados para que possam ser cultivadas em lavouras comerciais. Dessa
forma, evita-se o extrativismo predatório, ao mesmo tempo em que se
conservam as espécies em seu habitat natural (Avidos e Ferreira, 2003).
As informações baseadas em pesquisa científica, acerca das espécies
frutíferas do cerrado são, ainda, escassas. Das observações e
resultados de pesquisa até agora obtidos pode-se considerar que algumas
das espécies enfocadas apresentam uma boa possibilidade de utilização em
plantios comerciais, em curto prazo. Merecem destaque, neste aspecto, o
araticum e a mangaba. Ambas as espécies são relativamente precoces, com
quatro a seis anos para início de produção, a partir do plantio de mudas.
Para o araticum, os principais pontos críticos a serem contornados são o
baixo poder germinativo e dormência das sementes, o que dificulta a
formação de mudas uniformes, além do ataque de insetos aos frutos
danificando-os. Já a mangabeira não apresenta problemas de formação de
mudas, desde que as sementes sejam plantadas imediatamente após serem
retiradas dos frutos (sementes recalcitrantes). Na fase de produção, o
déficit hídrico na fase anterior à frutificação, parece ser um fator
limitante. Algumas espécies de alto potencial econômico, principalmente o
pequizeiro, apresentam maiores problemas quanto à domesticação, devido ao
longo tempo necessário para início de produção. Neste caso, a reprodução
assexuada seria uma forma de promover uma maior precocidade. Mesmo com
alguns resultados de pesquisa que apontam a possibilidade de enxertia na
espécie, a técnica ainda não está totalmente dominada para ser empregada
em larga escala, merecendo estudos com acompanhamento das mudas
enxertadas, após o transplantio para o campo (Chaves, 2003).
2. Época de
Produção de Frutos A maioria dos frutos do Cerrado
amadurece no início da estação chuvosa, que vai de setembro a dezembro,
porém em menores quantidades há uma ocorrência de frutos praticamente o
ano todo. De uma forma geral, os frutos que amadurecem no início da
estação chuvosa (setembro, outubro) não apresentam dormência de sementes,
já que estas encontram condições propícias para germinação e
estabelecimento das plântulas, antes do período de estiagem. Como exemplo
de espécies que adotaram este tipo de estratégia, podem ser citados a
cagaita (Eugenia dysenterica DC) e o caju arbóreo (Anacardium
othonianum Rizz) que muita vezes frutificam antes mesmo das primeiras
chuvas da estação. Já as espécies que frutificam mais para o final da
estação chuvosa apresentam, em geral, sementes com diferentes graus de
dormência, o que as possibilitam atravessar a estação seca para germinar
no início da estação chuvosa seguinte. O araticum (annona crassiflora
Mart.) e o pequi (Cariocar brasiliense Camb.) são exemplos
de espécies que apresentam sementes com dormência (Chaves, 2003). A
época de frutificação e a vegetação de ocorrência – para coleta de frutos
e obtenção de sementes das principais espécies de fruteiras nativas do
Cerrado – são apresentadas na Tabela 4 (Silva et al., 2001).
Tabela 4 –
Época de frutificação e vegetação de ocorrência para a coleta de frutos e
sementes das principais espécies frutíferas nativas do Cerrado.
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Amora-Preta |
Bubus cf brasilliensis |
set. a fev. |
Mata de Galeria |
Ananás |
Annas ananassoides |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata de Geleria |
Araçá |
Psidium firmum |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum |
Annona crassiflora |
fev. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum-de-Casca-Lisa |
Annona coriacea |
dez. a mar. |
Cerrado, Cerradão, Campo Sujo e Campo Rupestre1 |
Araticum-Rasteiro |
Annona pygmaea |
dez. a mar. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Araticum-Tomentoso |
Annona cf. tomentosa |
dez. a mar. |
Cerrado e Campo Sujo |
Babaçu |
Orbygnia cf. phalerata |
out. a jan. |
Mata Seca2 |
Bacupari |
Salacia campestris |
set. a dez. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Banha-de-Galinha |
Swartzia langsdorfii |
ago. a out. |
Mata Seca, Mata de Galeria |
Baru |
Dypterix alata |
set. a out. |
Mata Seca, Cerradão e Cerrado |
Buriti |
Mauritia vinifera |
out. a mar. |
Mata de Galeria e Vereda |
Cagaita |
Eugenia dysenterica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Spondia cf. lutea L. |
dez. a fev. |
Mata de Galeria |
Caju-de-Árvore-do-Cerrado |
Anacardium othonianum |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Caju-Rasteiro |
Anacardium pumilum |
set. a out. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Anacardium humile |
set. a nov. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Chichá |
Sterculia striata |
ago. a out. |
Cerradão e Mata Seca |
Coquinho-do-Cerrado |
Syagrus flexuosa |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Croadinha |
Mouriri elliptica |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Curriola |
Pouteria ramiflora |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Fruto-do-Tatu |
Crhysophyllum soboliferum |
nov. a jan. |
Cerrado e Campo Sujo |
Gabiroba |
Campomanesia cambessedeana |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Gravatá |
Bromelia balansae |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Guapeva |
Pouteria cf. gardineriana |
nov. a fev. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Guariroba |
Syagrus oleraceae |
set. a jan. |
Mata Seca |
Ingá-do-Cerrado |
Inga laurina Willd.. |
nov. a jan. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Jaracatiá |
Jacaratia hiptaphylla |
jan. a mar. |
Mata Seca |
Jatobá-do-Cerrado |
Hymenaea stigonocarpa |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Jatobá-da-Mata |
Hymenaea stilbocarpa |
set. a nov. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Jenipapo |
Genipa ameriacana |
set. a dez. |
Mata Seca, Cerradão e Mata de Galeria |
Jerivá |
Syagrus romanzoffiana |
abr. a nov. |
Cerradão e Mata de Galeria |
Lobeira |
Solanum lycocarpum |
jul. a jan. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Macaúba |
Acrocomia aculeata |
mar. a jun. |
Mata Seca e Cerradão |
Mama-Cadela |
Brosimum gaudichaudii |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Mangaba3 |
Hancornia spp. |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-de-Cobra4 |
Passiflora coccinea |
set. a nov. |
Mata de Galeria e Cerradão |
Maracujá-do-Cerrado |
Passiflora cincinnata |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-Doce |
Passiflora alata |
fev. a abr. |
Mata de Galeria e Mata Seca |
Maracujá-Nativo5 |
Passiflora eichleriana |
out. a mar. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Maracujá-Roxo |
Passiflora edulis |
fev. a ago. |
Mata de Galeria |
Marmelada-de-Bezerro |
Alibertia edulis |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Continua
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Marmelada-de-Cachorro |
Alibertia sessillis |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Marmelada-de-Pinto |
Alibertia elliptica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Melancia-do-Cerrado |
Melancium campestre |
mai. a jul. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Murici |
Byrsonima verbascifolia |
nov. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Palmito-da-Mata |
Euterpe adulis |
abr. a out. |
Mata de Galeria |
Pequi |
Caryocar brasilliense |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata Seca |
Pequi-Anão6 |
Caryocar brasilliense subsp. Intermedium |
fev. a abr. |
Cerrado, Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Rupestre |
Pêra-do-Cerrado |
Eugenia klostzchiana |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Perinha |
Eugenia lutescens |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Pimenta-de-Macaco |
Xilopia aromatica |
set. a jan. |
Cerrado e Cerradão |
Pitanga-Vermelha |
Eugenia calycina |
set. a dez. |
Cerrado e Campo Sujo |
Pitomba-do-Cerrado |
Talisia esculenta |
out. a jan. |
Mata Seca e Cerradão |
Puçá |
Mouriri pusa |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Saputá |
Salacia elliptica |
out. a dez. |
Mata de Galeria |
Uva-Nativa-do-Cerrado |
|
|
|
Tucum-do-Cerrado |
Bactris spp. |
jan. a mar. |
Mata de Galeria |
FRUTEIRAS DO CERRADO
SILVA, A. P. P. MELO, B. FERNANDES, N.
SUMÁRIO
1.
Introdução 2.
Época de Produção de Frutos 3.
Obtenção de Sementes 4.Espécies
Frutíferas do Cerrado 4.1
Pequi 4.2
Mangaba 4.3
Baru 4.4
Cagaita 4.5
Araticum 4.7
Gabiroba 4.8
Jatobá 4.9
Jenipapo 4.10
Cajuzinho-do-Cerrado 5.
Referências Bibliográficas
1. Introdução
O Brasil possui cerca de trinta por cento das espécies de
plantas e de animais conhecidas no mundo, que estão distribuídas em seus
diferentes ecossistemas. É o país detentor da maior diversidade biológica
do planeta. A região dos cerrados, com seus 204 milhões de hectares –
aproximadamente 25% do território nacional – apresenta grande
diversificação faunística e florística em suas diferentes fisionomias
vegetais (Avidos e Ferreira, 2003). A área core está localizada
essencialmente no Planalto Central onde se encontra o divisor de águas das
três grandes bacias hidrográficas do Brasil, a Amazônica, a do Paraná e a
do São Francisco (Chaves, 2003). Até meados deste século, essa região,
que abrange principalmente os Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso
do Sul, Tocantins, Bahia, Maranhão, Piauí e Distrito Federal, era
considerada secundária para a produção agrícola. Naquele período, em que o
mundo inteiro voltava a atenção para a Amazônia, preocupado com a
devastação do que se costumava chamar de “o pulmão do mundo”, os cerrados
apareciam assim como uma espécie de “patinho feio”, região de solos pobres
e pouco férteis, que não despertavam muito interesse nos agricultores e
nos órgãos de defesa ambiental. A partir dos anos 60, com a
transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília,
localizada no coração dos cerrados, com a construção de estradas e com a
adoção da política de interiorização e de integração nacional, essa região
foi inserida no contexto da produção de alimentos e de energia. Dessa
maneira, de pequena atividade agrícola de subsistência e criação extensiva
de gado, a região passou a contribuir com grande parte da produção de
grãos e a abrigar expressivo número do rebanho bovino do país. Hoje,
graças ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que viabilizaram a
sua utilização em bases econômicas, a região dos cerrados é um dos mais
importantes pólos de produção de alimentos do país, contribuindo com mais
de 25% da produção nacional de grãos alimentícios, além de abrigar mais de
40% do rebanho bovino do país (Avidos e Ferreira, 2003). Estima-se que
127 milhões de hectares são constituídos de terras aráveis potencialmente
aptas para as atividades agropecuárias, sendo que 61 milhões de hectares
atualmente são ocupados com pastagens, culturas anuais, perenes e
florestais, e 66 milhões de hectares são apontados como a mais importante
fronteira agrícola do Brasil. Devido a limitações na capacidade de uso do
solo, 77 milhões de hectares são reservados estrategicamente como áreas de
preservação ambiental (Tabela 1). Tabela 1 –
Ocupação agrícola atual e potencial das terras da Região do Cerrado.
Ocupação |
Área |
Absoluta (milhões de ha)(1) |
|
Relativa (%) |
Terras aráveis |
127 |
|
62 |
Área ocupada atualmente |
61 |
|
30 |
Pastagens cultivadas |
49 |
|
24 |
Culturas anuais |
10 |
|
5 |
Culturas perenes e florestais |
2 |
|
1 |
Áreas de preservação |
77 |
|
38 |
Fronteira agrícola |
66 |
|
32 |
Área total |
204 |
|
100 |
(1) Um hectare (ha) = 10.000
m2 Fonte: Embrapa..., 1999. Todavia, o desconhecimento do potencial
de uso dos recursos naturais, o desrespeito às leis de proteção ambiental,
as queimadas e a intensidade de exploração agrícola têm provocado
prejuízos irreparáveis ao solo, à fauna, à flora e aos recursos hídricos,
comprometendo a sustentabilidade desse ecossistema e colocando muitas
espécies animais e vegetais em risco de extinção, principalmente as
fruteiras nativas. O clima da região é caracterizado como tropical
estacional, com chuvas da ordem 1.500 mm anuais, com distribuição
concentrada na primavera e no verão, podendo ser distinguido, nitidamente,
um período chuvoso e outro seco. A duração da época seca, definida
como déficit hídrico, varia de 4 a 7 meses, em 87% da superfície e se
concentra durante o outono e o inverno. As temperaturas médias anuais
situam-se em torno de 22ºC ao Sul e 27ºC ao Norte. As diferenças entre
as temperaturas máximas e mínimas no conjunto da região oscilam entre 4º a
5ºC, diminuindo progressivamente, à medida que se aproxima da Região
Amazônica (Silva et. al., 2001). Os solos sob cerrado apresentam
grande variação em suas características morfológicas e físicas. Possuem,
no entanto, algumas características químicas comuns tais como: elevada
acidez, toxidez de alumínio, alta deficiência de nutrientes, alta
capacidade de fixação de fósforo e baixa capacidade de troca de cátions
(Lopes, 1985 apud Chaves, 2003). A classe de solos mais extensiva na
região é a dos latossolos que ocorre em cerca de 54% da área e está
associada às menores declividades. Em terrenos mais declivosos prevalecem
os cambissolos distróficos (Haridasan, 1993 apud Chaves, 2003). O conteúdo
de argila varia de menos de 5% a mais de 90% (Eiten, 1993 apud Chaves,
2003). O relevo plano e suavemente ondulado predomina em 70% da
superfície. As boas condições de drenagem – em 89% dos solos da região –
favorecem o uso de mecanização agrícola, permitindo o cultivo em grandes
áreas (Adamoli et al., 1986 apud Silva et al., 2001). Fisionomicamente
o cerrado se caracteriza pela existência de um extrato herbáceo formado
basicamente por gramíneas e um extrato arbóreo/arbustivo de caráter
lenhoso. A predominância de um ou outro extrato caracteriza as diferentes
formações do cerrado desde o campo limpo, onde predomina o extrato
herbáceo, até o cerrado, em que predomina o extrato arbóreo. Estas
diferentes formações se alternam dentro da região, na dependência,
principalmente, da fertilidade do solo, declividade e presença ou ausência
de concreções. A formação mais comum é o chamado cerrado stricto
sensu, uma formação do tipo savana, onde convivem gramíneas com
espécies lenhosos. Esta formação é a mais rica em espécies nativas
frutíferas com interesse para aproveitamento alimentar. Estimativas da
biodiversidade vegetal do cerrado, como um todo, apontam para um número de
espécies vasculares de 5.000 a 7.000 espécies. Com esta enorme
biodiversidade criou-se, na região do cerrado, uma tradição de usos, em
diferentes formas, dos recursos vegetais. Destacam-se pela importância na
região, as espécies alimentícias, medicinais, madeireiras, tintoriais,
ornamentais, além de outros usos. Das espécies com potencial de utilização
agrícola, na região do cerrado, destacam-se as
frutíferas. São algumas dezenas de espécies de diferentes
famílias que produzem frutos comestíveis, com formas variadas, cores
atrativas e sabor característico. Estes frutos são consumidos em
diferentes formas pelas populações locais e constituem, ainda, uma
importante fonte de alimentos para animais silvestres (pássaros, roedores,
tatus, canídeos, etc.) e mesmo para o gado. Os animais silvestres
funcionam como dispersores naturais de sementes, podendo-se admitir que o
caráter atrativo e alimentício dos frutos resulta de um processo de
co-evolução entre plantas e animais, por um longo período de tempo
(Chaves, 2003). As fruteiras nativas ocupam lugar de destaque no
ecossistema do cerrado e seus frutos já são comercializados em feiras e
com grande aceitação popular. Esses frutos apresentam sabores sui
generis e elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais
minerais e podem ser consumidos in natura ou na forma de sucos,
licores, sorvetes, geléias etc. Hoje, existem mais de 58 espécies de
frutas nativas dos cerrados conhecidas e utilizadas pela população (Avidos
e Ferreira, 2003). Os frutos nativos do Cerrado – base de sustentação
da vida silvestre e fonte de alimento para as populações rurais – possuem
enorme valor nutritivo. Cem gramas de sementes de Baru fornecem 617
calorias e 26% de proteína. Em 100 g de polpa de Pequi, encontramos 20 mil
microgramas de vitamina A e 100 g de polpa de Buriti contêm 158 mg de
cálcio (Silva et al., 1994 apud Silva et al., 2001). O consumo das
frutas nativas dos cerrados, há milênios consagrado pelos índios, foi de
suma importância para a sobrevivência dos primeiros desbravadores e
colonizadores da região. Através da adaptação e do desenvolvimento de
técnicas de beneficiamento dessas frutas, o homem elaborou verdadeiros
tesouros culinários regionais, tais como licores, doces, geléias, mingaus,
bolos, sucos, sorvetes e aperitivos. O interesse por essas frutas tem
atingido diversos segmentos da sociedade, entre os quais destacam-se
agricultores, industriais, donas-de-casa, comerciantes, instituições de
pesquisa e assistência técnica, cooperativas, universidades, órgãos de
saúde e de alimentação, entre outros. O interesse industrial pelas
frutas nativas dos cerrados foi intensificado após os anos 40. A mangaba,
por exemplo, foi intensivamente explorada durante a Segunda Guerra
Mundial, para exploração de látex. O babaçu e a macaúba foram bastante
estudados na década de 70, em decorrência da crise de petróleo, e
mostraram grandes possibilidades para utilização em motores de combustão,
em substituição ao óleo diesel. O pequi já foi industrializado, sendo o
seu óleo enlatado e comercializado. A polpa e o óleo da macaúba são
utilizados na fabricação de sabão de coco. O palmito da gariroba, de sabor
amargo, começou a ser comercializado em conserva recentemente, à
semelhança do palmito doce. Os sorvetes de cagaita, araticum, pequi e
mangaba continuam fazendo sucesso nas sorveterias do Distrito Federal e de
Belo Horizonte (Avidos e Ferreira, 2003). Em 1975, o IBGE registrou a
produção de 33 toneladas de resina de Jatobá e 2.199 toneladas de amêndoas
de Macaúba; em 1991, registrou 992 toneladas de fibra de Buriti e 2.201
toneladas de Pequi para a extração de óleo. A composição química e o valor
energético de algumas frutas nativas do Cerrado são apresentados nas
Tabelas 2 e 3 (Silva, et al., 2001). Tabela 2
–
Composição química e valor energético de algumas frutas nativas do
Cerrado, obtidos de 100 g de polpa.
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Ananas |
56,5 |
13,50 |
0,40 |
0,10 |
21 |
10 |
0,40 |
5 |
80 |
40 |
61,0 |
0,200 |
Araçá |
37,8 |
8,00 |
1,00 |
0,20 |
14 |
30 |
1,05 |
48 |
60 |
40 |
326,0 |
1,300 |
Araticum |
52,0 |
10,30 |
0,40 |
1,60 |
52 |
24 |
2,30 |
--- |
453 |
100 |
--- |
2,675 |
Babaçu (amêndoa) |
313,0 |
13,30 |
3,90 |
29,50 |
30 |
40 |
1,00 |
--- |
320 |
250 |
--- |
1,500 |
Baru (amêndoa)(1) |
616,7 |
25,46 |
26,29 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Buriti |
114,9 |
2,16 |
2,95 |
10,50 |
158 |
44 |
5,00 |
6,000 |
30 |
230 |
20,8 |
0,700 |
Cagaita(2) |
--- |
5,04 |
0,50 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
421 |
72,0 |
0,370 |
Caju |
36,5 |
8,40 |
0,80 |
0,20 |
50 |
18 |
1,00 |
124 |
15 |
46 |
219,7 |
0,539 |
Caju (castanha) |
556 |
37,92 |
17,89 |
37,00 |
24 |
580 |
1,80 |
--- |
850 |
320 |
5,0 |
2,100 |
Continua
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Coco-Guariroba (palmito)(3) |
--- |
--- |
5,56 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Fruto-de-Tatu(4) |
--- |
81,84 |
11,80 |
--- |
0,04 |
0,19 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Gabiroba |
64,0 |
13,90 |
1,60 |
1,00 |
38 |
30 |
3,20 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Gravata |
51,0 |
13,50 |
0,60 |
0,10 |
18 |
16 |
2,60 |
30 |
40 |
40 |
50,0 |
0,500 |
Ingá |
97,7 |
21,60 |
2,62 |
0,10 |
28 |
13 |
0,80 |
47 |
148 |
95 |
19,6 |
1,121 |
Jatobá |
115,0 |
29,40 |
1,00 |
0,70 |
31 |
24 |
0,80 |
30 |
40 |
40 |
31,1 |
0,500 |
Jenipapo |
81,7 |
18,27 |
1,18 |
0,44 |
33 |
29 |
3,40 |
30 |
24 |
275 |
6,8 |
0,560 |
Lobeira(5) |
345,0 |
85,99 |
9,48 |
--- |
96,2 |
105 |
30 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Macaúba (castanha) |
243,0 |
27,90 |
4,40 |
27,90 |
199 |
57 |
0,20 |
23 |
140 |
90 |
28,0 |
1,000 |
Mama-Cadela(6) |
--- |
5,04 |
1,99 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Mangaba |
47,5 |
10,50 |
0,70 |
0,30 |
41 |
18 |
2,80 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Murici |
60,5 |
11,70 |
1,37 |
1,16 |
19 |
18 |
2,04 |
7 |
20 |
40 |
84,0 |
0,400 |
Pêra-do-Cerrado(7) |
--- |
--- |
4,87 |
--- |
0,08 |
0,04 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (amêndoa) |
89,0 |
21,60 |
1,20 |
0,90 |
14 |
10 |
1,20 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (endocarpo)(8) |
--- |
6,76 |
1,02 |
10,00 |
0,049 |
0,208 |
1,39 |
20.000 |
30 |
463 |
12,0 |
0,387 |
Pitanga |
46,7 |
6,40 |
1,02 |
1,90 |
9 |
11 |
0,20 |
210 |
30 |
60 |
14,0 |
0,300 |
Pitomba |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
30 |
40 |
40 |
54,0 |
0,500 |
Fonte: Frango, 1992. Exceto: 1, 2 e 6 – Almeida et al.,
1997; 3 – Almeida e Silva, 1994; 4 e 5 – Embrapa, 1997. --- Dados
Desconhecidos Tabela 3
– Composição em ácidos
graxos (%) do óleo de algumas frutas nativas do Cerrado.
Ácidos graxos |
Macaúba |
Baru(1) |
Babaçu |
Buriti |
Pequi(2) |
Jenipapo |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Polpa |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Polpa |
Amêndoa |
Caprílico |
--- |
--- |
6,2 |
--- |
6,8 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Cáprico |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
6,3 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Láurico |
--- |
--- |
43,6 |
--- |
41,0 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Mirístico |
--- |
--- |
8,5 |
--- |
16,2 |
--- |
--- |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
Palmítico |
24,6 |
18,7 |
5,3 |
5,7 |
9,4 |
16,3 |
34,0 |
34,4 |
32,0 |
37,2 |
10,3 |
Palmitoléico |
6,2 |
4,0 |
--- |
--- |
--- |
0,4 |
1,6 |
2,1 |
1,3 |
--- |
--- |
Esteárico |
5,1 |
2,8 |
2,4 |
5,5 |
3,4 |
1,3 |
3,7 |
1,8 |
2,1 |
5,4 |
9,7 |
Oléico |
51,5 |
53,4 |
25,5 |
14,2 |
14,2 |
79,2 |
54,3 |
57,4 |
56,3 |
25,7 |
19,5 |
Linoléico |
11,3 |
1737 |
3,3 |
32,4 |
2,5 |
1,4 |
4,2 |
2,8 |
7,2 |
--- |
60,5 |
Linolênico |
1,3 |
1,5 |
--- |
2,2 |
--- |
1,3 |
1,8 |
1,0 |
0,3 |
--- |
--- |
Saturados |
29,7 |
21,5 |
71,2 |
--- |
83,3 |
17,7 |
37,7 |
36,2 |
34,1 |
--- |
--- |
Insaturados |
70,3 |
78,5 |
28,8 |
--- |
16,7 |
82,3 |
62,3 |
63,8 |
65,9 |
--- |
--- |
Fonte: Brasil, 1985. Exceto (1) Embrapa, 1987; (2)
Figueiredo et al., 1986. --- Dados Desconhecidos
Atualmente, é possível encontrar grande quantidade de frutas nativas
do cerrado sendo comercializadas em feiras da região e nas margens das
rodovias a preços competitivos e alcançando grande aceitação popular.
Observa-se, hoje, a existência de mercado potencial e emergente para as
frutas nativas do cerrado, a ser melhor explorado pelos agricultores, pois
todo o aproveitamento desses frutos tem sido feito de forma extrativista e
predatória. Apesar da existência de leis de proteção à fauna, à flora
e ao uso do solo e água, elas são ignoradas pela maioria dos agricultores,
que utilizam esses recursos naturais erroneamente, na expectativa de
maximizarem seus lucros. Neste cenário, o ecossistema cerrado tem sido
agredido e depredado pela ação do fogo e dos tratores, colocando em risco
de extinção várias espécies de plantas, entre elas algumas fruteiras
nativas, antes mesmo de serem classificadas pelos pesquisadores (Avidos e
Ferreira, 2003). Devido ao processo acelerado de ocupação agrícola do
Cerrado e à exploração extrativista e predatória, tem-se observado quedas
anuais significativas nas safras desses produtos, tornando imprescindível
que seu cultivo seja iniciado. Segundo Abramovay (2000), é possível
explorar de maneira sustentável os recursos e o verdadeiro banco de
germoplasma hoje existentes nos Cerrados. As fruteiras nativas dos
Cerrados, tais como araticum, jatobá, piqui, mangaba, cagaita, buriti,
constituem fontes importantes de fibras, proteínas, vitaminas, minerais,
ácidos saturados e insaturados presentes em polpas e sementes; possuem
enraizamento profundo o que permite um aproveitamento mais eficiente da
água e dos minerais do solo comparativamente às lavouras de grãos. Ainda
segundo Abramovay (1999), não dependem de sistemas de manejo apoiados em
revolvimento intensivo do solo; oferecem proteção ao solo contra impactos
de gotas de chuva e contra formas aceleradas de erosão hídrica e eólica;
permitem consorciamento com outras culturas favorecendo o melhor
aproveitamento da terra; podem ser explotadas sem forte alteração da
biodiversidade. Estes são apenas alguns exemplos de recursos que hoje
a pesquisa agropecuária já estuda e cuja exploração sustentável pode
propiciar retorno tanto mais interessante que não se restringem aos
mercados convencionais e já existentes. Uma boa solução para conter a
devastação da região do cerrado, como explica o pesquisador da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dijalma Barbosa da Silva, é utilizar
as áreas já abertas e abandonadas, para a produção, pois assim não seria
preciso devastar novas áreas. Além disso, a utilização dessas áreas
reduziria os custos para os produtores, visto que já estão preparados e
limpas para o plantio, exigindo apenas investimentos em corretivos,
adubações e práticas conservacionistas. Dentre as possibilidades
atuais de utilização das fruteiras do cerrado, destacam-se: o plantio em
áreas de proteção ambiental; o enriquecimento da flora das áreas mais
pobres; a recuperação de áreas desmatadas ou degradadas; a formação de
pomares domésticos e comerciais; e o plantio em áreas de reflorestamento,
parques e jardins, e em áreas acidentadas. Nesse sentido, muitos
agricultores e chacareiros já estão implantando pomares de frutas nativas
dos cerrados e os viveiristas estão intensificando a produção de
mudas (Avidos e Ferreira, 2003). Outro tipo de ambiente que pode
ser utilizado de forma complementar para fins de conservação de recursos
genéticos são as faixas de domínio de rodovias. Principalmente nas
chapadas, áreas contínuas e praticamente intocadas, ocorrem em grandes
extensões nas margens de rodovias, amostrando faixas de formações
originais de áreas já totalmente ocupadas por atividades agropecuárias.
Pelo menos para as espécies com parte da variabilidade genética das
populações originais, além de servir para conectar fragmentos. Nota-se, no
entanto, que estas faixas vêm sendo paulatinamente ocupadas por lavouras,
de forma irregular, o que poderia ser evitado com ações educativas e de
fiscalização (Chaves, 2003). Segundo Abramovay (1999), o
aproveitamento econômico destes recursos tão variados é bem mais complexo
que a ligação ao mercado por meio de produtos consagrados como a soja, o
milho e os suínos. Ainda segundo este autor, o importante é que esta
fantástica diversidade de espécies e usos retrata o desafio central que
consiste na criação de mercados capazes de representar uma agregação de
valor – em virtude da especificidade do produto – muito maior que na
produção de commodities. Há grande potencial para a exportação dessas
frutas, já que possuem um sabor sui generis e não são encontradas em
outros países. Hoje, o licor de pequi já é exportado para o Japão e a
amêndoa do baru é demandada pela Alemanha; mas existem ainda muitas
possibilidades de exportação de outras espécies nativas. É muito
importante investir no trabalho de domesticação das fruteiras nativas dos
cerrados para que possam ser cultivadas em lavouras comerciais. Dessa
forma, evita-se o extrativismo predatório, ao mesmo tempo em que se
conservam as espécies em seu habitat natural (Avidos e Ferreira, 2003).
As informações baseadas em pesquisa científica, acerca das espécies
frutíferas do cerrado são, ainda, escassas. Das observações e
resultados de pesquisa até agora obtidos pode-se considerar que algumas
das espécies enfocadas apresentam uma boa possibilidade de utilização em
plantios comerciais, em curto prazo. Merecem destaque, neste aspecto, o
araticum e a mangaba. Ambas as espécies são relativamente precoces, com
quatro a seis anos para início de produção, a partir do plantio de mudas.
Para o araticum, os principais pontos críticos a serem contornados são o
baixo poder germinativo e dormência das sementes, o que dificulta a
formação de mudas uniformes, além do ataque de insetos aos frutos
danificando-os. Já a mangabeira não apresenta problemas de formação de
mudas, desde que as sementes sejam plantadas imediatamente após serem
retiradas dos frutos (sementes recalcitrantes). Na fase de produção, o
déficit hídrico na fase anterior à frutificação, parece ser um fator
limitante. Algumas espécies de alto potencial econômico, principalmente o
pequizeiro, apresentam maiores problemas quanto à domesticação, devido ao
longo tempo necessário para início de produção. Neste caso, a reprodução
assexuada seria uma forma de promover uma maior precocidade. Mesmo com
alguns resultados de pesquisa que apontam a possibilidade de enxertia na
espécie, a técnica ainda não está totalmente dominada para ser empregada
em larga escala, merecendo estudos com acompanhamento das mudas
enxertadas, após o transplantio para o campo (Chaves, 2003).
2. Época de
Produção de Frutos A maioria dos frutos do Cerrado
amadurece no início da estação chuvosa, que vai de setembro a dezembro,
porém em menores quantidades há uma ocorrência de frutos praticamente o
ano todo. De uma forma geral, os frutos que amadurecem no início da
estação chuvosa (setembro, outubro) não apresentam dormência de sementes,
já que estas encontram condições propícias para germinação e
estabelecimento das plântulas, antes do período de estiagem. Como exemplo
de espécies que adotaram este tipo de estratégia, podem ser citados a
cagaita (Eugenia dysenterica DC) e o caju arbóreo (Anacardium
othonianum Rizz) que muita vezes frutificam antes mesmo das primeiras
chuvas da estação. Já as espécies que frutificam mais para o final da
estação chuvosa apresentam, em geral, sementes com diferentes graus de
dormência, o que as possibilitam atravessar a estação seca para germinar
no início da estação chuvosa seguinte. O araticum (annona crassiflora
Mart.) e o pequi (Cariocar brasiliense Camb.) são exemplos
de espécies que apresentam sementes com dormência (Chaves, 2003). A
época de frutificação e a vegetação de ocorrência – para coleta de frutos
e obtenção de sementes das principais espécies de fruteiras nativas do
Cerrado – são apresentadas na Tabela 4 (Silva et al., 2001).
Tabela 4 –
Época de frutificação e vegetação de ocorrência para a coleta de frutos e
sementes das principais espécies frutíferas nativas do Cerrado.
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Amora-Preta |
Bubus cf brasilliensis |
set. a fev. |
Mata de Galeria |
Ananás |
Annas ananassoides |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata de Geleria |
Araçá |
Psidium firmum |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum |
Annona crassiflora |
fev. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum-de-Casca-Lisa |
Annona coriacea |
dez. a mar. |
Cerrado, Cerradão, Campo Sujo e Campo Rupestre1 |
Araticum-Rasteiro |
Annona pygmaea |
dez. a mar. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Araticum-Tomentoso |
Annona cf. tomentosa |
dez. a mar. |
Cerrado e Campo Sujo |
Babaçu |
Orbygnia cf. phalerata |
out. a jan. |
Mata Seca2 |
Bacupari |
Salacia campestris |
set. a dez. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Banha-de-Galinha |
Swartzia langsdorfii |
ago. a out. |
Mata Seca, Mata de Galeria |
Baru |
Dypterix alata |
set. a out. |
Mata Seca, Cerradão e Cerrado |
Buriti |
Mauritia vinifera |
out. a mar. |
Mata de Galeria e Vereda |
Cagaita |
Eugenia dysenterica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Spondia cf. lutea L. |
dez. a fev. |
Mata de Galeria |
Caju-de-Árvore-do-Cerrado |
Anacardium othonianum |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Caju-Rasteiro |
Anacardium pumilum |
set. a out. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Anacardium humile |
set. a nov. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Chichá |
Sterculia striata |
ago. a out. |
Cerradão e Mata Seca |
Coquinho-do-Cerrado |
Syagrus flexuosa |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Croadinha |
Mouriri elliptica |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Curriola |
Pouteria ramiflora |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Fruto-do-Tatu |
Crhysophyllum soboliferum |
nov. a jan. |
Cerrado e Campo Sujo |
Gabiroba |
Campomanesia cambessedeana |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Gravatá |
Bromelia balansae |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Guapeva |
Pouteria cf. gardineriana |
nov. a fev. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Guariroba |
Syagrus oleraceae |
set. a jan. |
Mata Seca |
Ingá-do-Cerrado |
Inga laurina Willd.. |
nov. a jan. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Jaracatiá |
Jacaratia hiptaphylla |
jan. a mar. |
Mata Seca |
Jatobá-do-Cerrado |
Hymenaea stigonocarpa |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Jatobá-da-Mata |
Hymenaea stilbocarpa |
set. a nov. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Jenipapo |
Genipa ameriacana |
set. a dez. |
Mata Seca, Cerradão e Mata de Galeria |
Jerivá |
Syagrus romanzoffiana |
abr. a nov. |
Cerradão e Mata de Galeria |
Lobeira |
Solanum lycocarpum |
jul. a jan. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Macaúba |
Acrocomia aculeata |
mar. a jun. |
Mata Seca e Cerradão |
Mama-Cadela |
Brosimum gaudichaudii |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Mangaba3 |
Hancornia spp. |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-de-Cobra4 |
Passiflora coccinea |
set. a nov. |
Mata de Galeria e Cerradão |
Maracujá-do-Cerrado |
Passiflora cincinnata |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-Doce |
Passiflora alata |
fev. a abr. |
Mata de Galeria e Mata Seca |
Maracujá-Nativo5 |
Passiflora eichleriana |
out. a mar. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Maracujá-Roxo |
Passiflora edulis |
fev. a ago. |
Mata de Galeria |
Marmelada-de-Bezerro |
Alibertia edulis |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Continua
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Marmelada-de-Cachorro |
Alibertia sessillis |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Marmelada-de-Pinto |
Alibertia elliptica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Melancia-do-Cerrado |
Melancium campestre |
mai. a jul. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Murici |
Byrsonima verbascifolia |
nov. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Palmito-da-Mata |
Euterpe adulis |
abr. a out. |
Mata de Galeria |
Pequi |
Caryocar brasilliense |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata Seca |
Pequi-Anão6 |
Caryocar brasilliense subsp. Intermedium |
fev. a abr. |
Cerrado, Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Rupestre |
Pêra-do-Cerrado |
Eugenia klostzchiana |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Perinha |
Eugenia lutescens |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Pimenta-de-Macaco |
Xilopia aromatica |
set. a jan. |
Cerrado e Cerradão |
Pitanga-Vermelha |
Eugenia calycina |
set. a dez. |
Cerrado e Campo Sujo |
Pitomba-do-Cerrado |
Talisia esculenta |
out. a jan. |
Mata Seca e Cerradão |
Puçá |
Mouriri pusa |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Saputá |
Salacia elliptica |
out. a dez. |
Mata de Galeria |
Tucum-do-Cerrado |
Bactris spp. |
jan. a mar. |
Mata de Galeria |
Uva-Nativa-do-Cerrado |
Vitis spp. |
jan. a mar. |
Mata Seca e Calcária |
(1) Campo Rupestre: tipo fisionômico
predominantemente herbáceo e arbustivo, com presença eventual de pequenas
árvores. Ocorrem em solos rasos com afloramento de rocha, em altitudes
superiores a 900 m. (2) Mata Seca: formações florestais
caracterizadas por diversos níveis de caducifolia durante a estação seca.
(3) Ocorrência predominante em áreas de solos pedregosos,
morros e serras. (4) Ocorrência restrita aos vales dos
rios Araguaia e Paraguai. (5) Ocorrência restrita aos
vales do Médio e Baixo São Francisco. (6) Ocorrência
restrita ao sul de Minas Gerais. Foi observado, em plantio
não-experimental da Embrapa Cerrados, que plantas oriundas de mudas
produzidas por sementes de algumas espécies frutíferas nativas e de porte
herbáceo-arbustivo, como gabiroba, pêra-do-cerrado, marmelada, caju,
dentre outras, iniciaram a fase de frutificação a partir de dois anos após
o plantio. Espécies arbóreas como araticum, pequi, baru, cagaita e
mangaba, tiveram sua fase de frutificação iniciada 4 a 5 anos após o
plantio. A Figura 01 mostra uma planta de Araticum com aproximadamente 4
anos de idade. Devido à grande variabilidade genética encontrada nas
espécies de fruteiras nativas, em condições naturais, os plantios oriundos
de sementes ou propagação sexuada apresentam plantas desuniformes, com
florescimento e frutificação irregulares. A propagação vegetativa ou
assexuada através de enxertia, estaquia ou cultura de tecidos permite a
clonagem de plantas-matrizes de alta produtividade e boa qualidade de
frutos, a padronização das plantas e a uniformidade na produção, além de
antecipar o início da frutificação.
3. Obtenção de Sementes
Dos frutos pode-se obter polpa para consumo in
natura ou industrialização e sementes. O procedimento desde a
coleta dos frutos até o armazenamento das sementes é o seguinte:
· Os frutos podem ser
coletados maduros nas plantas ou logo após caírem no chão, eliminado os
frutos deteriorados e mal formados;
· Após a coleta, extrair a
polpa dos frutos. A extração da polpa de frutos carnosos e de casca mole
pode ser feita amassando-se os frutos sobre uma peneira. Frutos de casca
dura deverão ser quebrados e a polpa retirada com o uso de faca;
· Após extrair a polpa,
separar as sementes; · As
sementes devem ser lavadas em água corrente e colocadas para secar à
sombra, em local ventilado;
· Selecionar as sementes
(tamanho, cor e forma). Eliminar as sementes chochas, deformadas ou que
apresentem sinais de ataques de pragas ou doenças.
· As sementes para fins
comerciais devem ser coletadas próximas às regiões de demanda;
· No armazenamento, as
sementes de frutos carnosos são acondicionadas em sacos plásticos e
colocadas na geladeira por um período de 15 dias; após este período, o
poder germinativo começa a cair. Sementes de frutos secos podem ser
armazenadas em sacos de papel, em ambiente seco e ventilado, por um
período de 60 dias, após o qual a percentagem de germinação começa a cair.
Em algumas espécies as sementes perdem rapidamente sua viabilidade, como é
o caso da Mangaba e do Ingá, devendo ser semeadas logo após a retirada dos
frutos. 4. Espécies Frutíferas do Cerrado
4.1- Pequi
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Guttiferales
Família:
Caryocaraceae Nome
Científico: Caryocar
brasiliense Camb. Nomes
Populares: Pequi (MG, SP); Piqui
(MT); Piquiá-bravo; Amêndoa-de-espinho, Grão-pequiá; Pequiá-pedra;
Pequerim; Suari; Piquiá.
Ocorrência:
Cerradão Distrófico e Mesotrófico, Cerrado Denso, Cerrado, Cerrado Ralo e
Mata Seca. Distribuição:
Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins.
Em Minas Gerais, o fruto é encontrado em maiores
quantidades na região de Montes Claros, no norte do Estado
(revista.fapemig.br/11/pequi). No Estado de Goiás a espécie é protegida
por lei (Código Florestal do Estado de Goiás), mas vem sendo dizimada,
principalmente, nas áreas de expansão agrícola. O pequizeiro (Caryocar
brasilliense Camb.) é uma árvore típica do cerrado brasileiro e, com
certeza, uma das com maior valor econômico na região, ou seja, com um alto
grau de aproveitamento, não só pelos seus frutos, mas pela árvore, como um
todo. O fruto é chamado de pequi que, em língua indígena da região,
significa “casca espinhenta”. A família à qual pertence o pequizeiro
tem dois gêneros e mais de uma dezena de variedades, que podem ser
encontradas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A variedade mais
comum no cerrado do Centro-Oeste pode chegar a 10m de altura e, por esta
razão, é uma das maiores árvores do cerrado brasileiro, que apresenta uma
vegetação predominantemente rasteira. Entretanto, é comum encontrarmos,
nessa região, pequizeiros de pouco mais de 1 m de altura. Na região
Norte, entretanto, podemos encontrar variedades muito maiores, com árvores
de mais de 20 m de altura e um diâmetro que pode chegar até 5 m
(www.ruralnews.com.br/agricultura/frutas/pequi). Segundo Almeida et
al., (1998), a floração ocorre de agosto a novembro (chuvas) com pico em
setembro, mas ocasionalmente em outras épocas após as chuvas ou roçados. A
frutificação ocorre de novembro a fevereiro. Em cerrados, normalmente
roçados para facilitar a pastagem do gado, encontram-se exemplares
pequenos, com 1 metro de altura, carregados de flores em épocas fora do
tempo normal de floração, quando há veranicos, no período de janeiro
(www.radiobras.gov.br). A planta possui porte arbório, podendo chegar
a 10 m de altura e de 6 a 8 m de diâmetro de copa, com tronco tortuoso de
casca áspera e rugosa de 30 – 40 cm de diâmetro. As folhas pilosas são
formadas por 3 folíolos com as bordas recortadas, longo-pecioladas e
opostas (Figura 01).
Tabela 2
–
Composição química e valor energético de algumas frutas nativas do
Cerrado, obtidos de 100 g de polpa.
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Ananas |
56,5 |
13,50 |
0,40 |
0,10 |
21 |
10 |
0,40 |
5 |
80 |
40 |
61,0 |
0,200 |
Araçá |
37,8 |
8,00 |
1,00 |
0,20 |
14 |
30 |
1,05 |
48 |
60 |
40 |
326,0 |
1,300 |
Araticum |
52,0 |
10,30 |
0,40 |
1,60 |
52 |
24 |
2,30 |
--- |
453 |
100 |
--- |
2,675 |
Babaçu (amêndoa) |
313,0 |
13,30 |
3,90 |
29,50 |
30 |
40 |
1,00 |
--- |
320 |
250 |
--- |
1,500 |
Baru (amêndoa)(1) |
616,7 |
25,46 |
26,29 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Buriti |
114,9 |
2,16 |
2,95 |
10,50 |
158 |
44 |
5,00 |
6,000 |
30 |
230 |
20,8 |
0,700 |
Cagaita(2) |
--- |
5,04 |
0,50 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
421 |
72,0 |
0,370 |
Caju |
36,5 |
8,40 |
0,80 |
0,20 |
50 |
18 |
1,00 |
124 |
15 |
46 |
219,7 |
0,539 |
Caju (castanha) |
556 |
37,92 |
17,89 |
37,00 |
24 |
580 |
1,80 |
--- |
850 |
320 |
5,0 |
2,100 |
Continua
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Coco-Guariroba (palmito)(3) |
--- |
--- |
5,56 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Fruto-de-Tatu(4) |
--- |
81,84 |
11,80 |
--- |
0,04 |
0,19 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Gabiroba |
64,0 |
13,90 |
1,60 |
1,00 |
38 |
30 |
3,20 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Gravata |
51,0 |
13,50 |
0,60 |
0,10 |
18 |
16 |
2,60 |
30 |
40 |
40 |
50,0 |
0,500 |
Ingá |
97,7 |
21,60 |
2,62 |
0,10 |
28 |
13 |
0,80 |
47 |
148 |
95 |
19,6 |
1,121 |
Jatobá |
115,0 |
29,40 |
1,00 |
0,70 |
31 |
24 |
0,80 |
30 |
40 |
40 |
31,1 |
0,500 |
Jenipapo |
81,7 |
18,27 |
1,18 |
0,44 |
33 |
29 |
3,40 |
30 |
24 |
275 |
6,8 |
0,560 |
Lobeira(5) |
345,0 |
85,99 |
9,48 |
--- |
96,2 |
105 |
30 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Macaúba (castanha) |
243,0 |
27,90 |
4,40 |
27,90 |
199 |
57 |
0,20 |
23 |
140 |
90 |
28,0 |
1,000 |
Mama-Cadela(6) |
--- |
5,04 |
1,99 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Mangaba |
47,5 |
10,50 |
0,70 |
0,30 |
41 |
18 |
2,80 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Murici |
60,5 |
11,70 |
1,37 |
1,16 |
19 |
18 |
2,04 |
7 |
20 |
40 |
84,0 |
0,400 |
Pêra-do-Cerrado(7) |
--- |
--- |
4,87 |
--- |
0,08 |
0,04 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (amêndoa) |
89,0 |
21,60 |
1,20 |
0,90 |
14 |
10 |
1,20 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (endocarpo)(8) |
--- |
6,76 |
1,02 |
10,00 |
0,049 |
0,208 |
1,39 |
20.000 |
30 |
463 |
12,0 |
0,387 |
Pitanga |
46,7 |
6,40 |
1,02 |
1,90 |
9 |
11 |
0,20 |
210 |
30 |
60 |
14,0 |
0,300 |
Pitomba |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
30 |
40 |
40 |
54,0 |
0,500 |
Fonte: Frango, 1992. Exceto: 1, 2 e 6 – Almeida et al.,
1997; 3 – Almeida e Silva, 1994; 4 e 5 – Embrapa, 1997. --- Dados
Desconhecidos Tabela 3
– Composição em ácidos
graxos (%) do óleo de algumas frutas nativas do Cerrado.
Ácidos graxos |
Macaúba |
Baru(1) |
Babaçu |
Buriti |
Pequi(2) |
Jenipapo |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Polpa |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Polpa |
Amêndoa |
Caprílico |
--- |
--- |
6,2 |
--- |
6,8 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Cáprico |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
6,3 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Láurico |
--- |
--- |
43,6 |
--- |
41,0 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Mirístico |
--- |
--- |
8,5 |
--- |
16,2 |
--- |
--- |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
Palmítico |
24,6 |
18,7 |
5,3 |
5,7 |
9,4 |
16,3 |
34,0 |
34,4 |
32,0 |
37,2 |
10,3 |
Palmitoléico |
6,2 |
4,0 |
--- |
--- |
--- |
0,4 |
1,6 |
2,1 |
1,3 |
--- |
--- |
Esteárico |
5,1 |
2,8 |
2,4 |
5,5 |
3,4 |
1,3 |
3,7 |
1,8 |
2,1 |
5,4 |
9,7 |
Oléico |
51,5 |
53,4 |
25,5 |
14,2 |
14,2 |
79,2 |
54,3 |
57,4 |
56,3 |
25,7 |
19,5 |
Linoléico |
11,3 |
1737 |
3,3 |
32,4 |
2,5 |
1,4 |
4,2 |
2,8 |
7,2 |
--- |
60,5 |
Linolênico |
1,3 |
1,5 |
--- |
2,2 |
--- |
1,3 |
1,8 |
1,0 |
0,3 |
--- |
--- |
Saturados |
29,7 |
21,5 |
71,2 |
--- |
83,3 |
17,7 |
37,7 |
36,2 |
34,1 |
--- |
--- |
Insaturados |
70,3 |
78,5 |
28,8 |
--- |
16,7 |
82,3 |
62,3 |
63,8 |
65,9 |
--- |
--- |
Fonte: Frango, 1992. Exceto: 1, 2 e 6 – Almeida et
al., 1997; 3 – Almeida e Silva, 1994; 4 e 5 – Embrapa, 1997. --- Dados
Desconhecidos Tabela 3
– Composição em ácidos
graxos (%) do óleo de algumas frutas nativas do Cerrado.
Ácidos graxos |
Macaúba |
Baru(1) |
Babaçu |
Buriti |
Pequi(2) |
Jenipapo |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Polpa |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Polpa |
Amêndoa |
Caprílico |
--- |
--- |
6,2 |
--- |
6,8 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Cáprico |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
6,3 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Láurico |
--- |
--- |
43,6 |
--- |
41,0 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Mirístico |
--- |
--- |
8,5 |
--- |
16,2 |
--- |
--- |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
Palmítico |
24,6 |
18,7 |
5,3 |
5,7 |
9,4 |
16,3 |
34,0 |
34,4 |
32,0 |
37,2 |
10,3 |
Palmitoléico |
6,2 |
4,0 |
--- |
--- |
--- |
0,4 |
1,6 |
2,1 |
1,3 |
--- |
--- |
Esteárico |
5,1 |
2,8 |
2,4 |
5,5 |
3,4 |
1,3 |
3,7 |
1,8 |
2,1 |
5,4 |
9,7 |
Oléico |
51,5 |
53,4 |
25,5 |
14,2 |
14,2 |
79,2 |
54,3 |
57,4 |
56,3 |
25,7 |
19,5 |
Linoléico |
11,3 |
1737 |
3,3 |
32,4 |
2,5 |
1,4 |
4,2 |
2,8 |
7,2 |
--- |
60,5 |
Linolênico |
1,3 |
1,5 |
--- |
2,2 |
--- |
1,3 |
1,8 |
1,0 |
0,3 |
--- |
--- |
Saturados |
29,7 |
21,5 |
71,2 |
--- |
83,3 |
17,7 |
37,7 |
36,2 |
34,1 |
--- |
--- |
Insaturados |
70,3 |
78,5 |
28,8 |
--- |
16,7 |
82,3 |
62,3 |
63,8 |
65,9 |
--- |
--- |
Fonte: Brasil, 1985. Exceto (1) Embrapa, 1987; (2)
Figueiredo et al., 1986. --- Dados Desconhecidos
Atualmente, é possível encontrar grande quantidade de frutas nativas
do cerrado sendo comercializadas em feiras da região e nas margens das
rodovias a preços competitivos e alcançando grande aceitação popular.
Observa-se, hoje, a existência de mercado potencial e emergente para as
frutas nativas do cerrado, a ser melhor explorado pelos agricultores, pois
todo o aproveitamento desses frutos tem sido feito de forma extrativista e
predatória. Apesar da existência de leis de proteção à fauna, à flora
e ao uso do solo e água, elas são ignoradas pela maioria dos agricultores,
que utilizam esses recursos naturais erroneamente, na expectativa de
maximizarem seus lucros. Neste cenário, o ecossistema cerrado tem sido
agredido e depredado pela ação do fogo e dos tratores, colocando em risco
de extinção várias espécies de plantas, entre elas algumas fruteiras
nativas, antes mesmo de serem classificadas pelos pesquisadores (Avidos e
Ferreira, 2003). Devido ao processo acelerado de ocupação agrícola do
Cerrado e à exploração extrativista e predatória, tem-se observado quedas
anuais significativas nas safras desses produtos, tornando imprescindível
que seu cultivo seja iniciado. Segundo Abramovay (2000), é possível
explorar de maneira sustentável os recursos e o verdadeiro banco de
germoplasma hoje existentes nos Cerrados. As fruteiras nativas dos
Cerrados, tais como araticum, jatobá, piqui, mangaba, cagaita, buriti,
constituem fontes importantes de fibras, proteínas, vitaminas, minerais,
ácidos saturados e insaturados presentes em polpas e sementes; possuem
enraizamento profundo o que permite um aproveitamento mais eficiente da
água e dos minerais do solo comparativamente às lavouras de grãos. Ainda
segundo Abramovay (1999), não dependem de sistemas de manejo apoiados em
revolvimento intensivo do solo; oferecem proteção ao solo contra impactos
de gotas de chuva e contra formas aceleradas de erosão hídrica e eólica;
permitem consorciamento com outras culturas favorecendo o melhor
aproveitamento da terra; podem ser explotadas sem forte alteração da
biodiversidade.
Estes são apenas alguns exemplos de recursos que hoje a
pesquisa agropecuária já estuda e cuja exploração sustentável pode
propiciar retorno tanto mais interessante que não se restringem aos
mercados convencionais e já existentes. Uma boa solução para conter a
devastação da região do cerrado, como explica o pesquisador da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dijalma Barbosa da Silva, é utilizar
as áreas já abertas e abandonadas, para a produção, pois assim não seria
preciso devastar novas áreas. Além disso, a utilização dessas áreas
reduziria os custos para os produtores, visto que já estão preparados e
limpas para o plantio, exigindo apenas investimentos em corretivos,
adubações e práticas conservacionistas. Dentre as possibilidades
atuais de utilização das fruteiras do cerrado, destacam-se: o plantio em
áreas de proteção ambiental; o enriquecimento da flora das áreas mais
pobres; a recuperação de áreas desmatadas ou degradadas; a formação de
pomares domésticos e comerciais; e o plantio em áreas de reflorestamento,
parques e jardins, e em áreas acidentadas. Nesse sentido, muitos
agricultores e chacareiros já estão implantando pomares de frutas nativas
dos cerrados e os viveiristas estão intensificando a produção de
mudas (Avidos e Ferreira, 2003). Outro tipo de ambiente que pode
ser utilizado de forma complementar para fins de conservação de recursos
genéticos são as faixas de domínio de rodovias. Principalmente nas
chapadas, áreas contínuas e praticamente intocadas, ocorrem em grandes
extensões nas margens de rodovias, amostrando faixas de formações
originais de áreas já totalmente ocupadas por atividades agropecuárias.
Pelo menos para as espécies com parte da variabilidade genética das
populações originais, além de servir para conectar fragmentos. Nota-se, no
entanto, que estas faixas vêm sendo paulatinamente ocupadas por lavouras,
de forma irregular, o que poderia ser evitado com ações educativas e de
fiscalização (Chaves, 2003). Segundo Abramovay (1999), o
aproveitamento econômico destes recursos tão variados é bem mais complexo
que a ligação ao mercado por meio de produtos consagrados como a soja, o
milho e os suínos. Ainda segundo este autor, o importante é que esta
fantástica diversidade de espécies e usos retrata o desafio central que
consiste na criação de mercados capazes de representar uma agregação de
valor – em virtude da especificidade do produto – muito maior que na
produção de commodities. Há grande potencial para a exportação dessas
frutas, já que possuem um sabor sui generis e não são encontradas em
outros países. Hoje, o licor de pequi já é exportado para o Japão e a
amêndoa do baru é demandada pela Alemanha; mas existem ainda muitas
possibilidades de exportação de outras espécies nativas. É muito
importante investir no trabalho de domesticação das fruteiras nativas dos
cerrados para que possam ser cultivadas em lavouras comerciais. Dessa
forma, evita-se o extrativismo predatório, ao mesmo tempo em que se
conservam as espécies em seu habitat natural (Avidos e Ferreira, 2003).
As informações baseadas em pesquisa científica, acerca das espécies
frutíferas do cerrado são, ainda, escassas. Das observações e
resultados de pesquisa até agora obtidos pode-se considerar que algumas
das espécies enfocadas apresentam uma boa possibilidade de utilização em
plantios comerciais, em curto prazo. Merecem destaque, neste aspecto, o
araticum e a mangaba. Ambas as espécies são relativamente precoces, com
quatro a seis anos para início de produção, a partir do plantio de mudas.
Para o araticum, os principais pontos críticos a serem contornados são o
baixo poder germinativo e dormência das sementes, o que dificulta a
formação de mudas uniformes, além do ataque de insetos aos frutos
danificando-os. Já a mangabeira não apresenta problemas de formação de
mudas, desde que as sementes sejam plantadas imediatamente após serem
retiradas dos frutos (sementes recalcitrantes). Na fase de produção, o
déficit hídrico na fase anterior à frutificação, parece ser um fator
limitante. Algumas espécies de alto potencial econômico, principalmente o
pequizeiro, apresentam maiores problemas quanto à domesticação, devido ao
longo tempo necessário para início de produção. Neste caso, a reprodução
assexuada seria uma forma de promover uma maior precocidade. Mesmo com
alguns resultados de pesquisa que apontam a possibilidade de enxertia na
espécie, a técnica ainda não está totalmente dominada para ser empregada
em larga escala, merecendo estudos com acompanhamento das mudas
enxertadas, após o transplantio para o campo (Chaves, 2003).
2.
Época de Produção de Frutos A maioria dos frutos
do Cerrado amadurece no início da estação chuvosa, que vai de setembro a
dezembro, porém em menores quantidades há uma ocorrência de frutos
praticamente o ano todo. De uma forma geral, os frutos que amadurecem no
início da estação chuvosa (setembro, outubro) não apresentam dormência de
sementes, já que estas encontram condições propícias para germinação e
estabelecimento das plântulas, antes do período de estiagem. Como exemplo
de espécies que adotaram este tipo de estratégia, podem ser citados a
cagaita (Eugenia dysenterica DC) e o caju arbóreo (Anacardium
othonianum Rizz) que muita vezes frutificam antes mesmo das primeiras
chuvas da estação. Já as espécies que frutificam mais para o final da
estação chuvosa apresentam, em geral, sementes com diferentes graus de
dormência, o que as possibilitam atravessar a estação seca para germinar
no início da estação chuvosa seguinte. O araticum (annona crassiflora
Mart.) e o pequi (Cariocar brasiliense Camb.) são exemplos
de espécies que apresentam sementes com dormência (Chaves, 2003). A
época de frutificação e a vegetação de ocorrência – para coleta de frutos
e obtenção de sementes das principais espécies de fruteiras nativas do
Cerrado – são apresentadas na Tabela 4 (Silva et al., 2001).
Tabela 4 –
Época de frutificação e vegetação de ocorrência para a coleta de frutos e
sementes das principais espécies frutíferas nativas do Cerrado.
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Amora-Preta |
Bubus cf brasilliensis |
set. a fev. |
Mata de Galeria |
Ananás |
Annas ananassoides |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata de Geleria |
Araçá |
Psidium firmum |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum |
Annona crassiflora |
fev. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum-de-Casca-Lisa |
Annona coriacea |
dez. a mar. |
Cerrado, Cerradão, Campo Sujo e Campo Rupestre1 |
Araticum-Rasteiro |
Annona pygmaea |
dez. a mar. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Araticum-Tomentoso |
Annona cf. tomentosa |
dez. a mar. |
Cerrado e Campo Sujo |
Babaçu |
Orbygnia cf. phalerata |
out. a jan. |
Mata Seca2 |
Bacupari |
Salacia campestris |
set. a dez. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Banha-de-Galinha |
Swartzia langsdorfii |
ago. a out. |
Mata Seca, Mata de Galeria |
Baru |
Dypterix alata |
set. a out. |
Mata Seca, Cerradão e Cerrado |
Buriti |
Mauritia vinifera |
out. a mar. |
Mata de Galeria e Vereda |
Cagaita |
Eugenia dysenterica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Spondia cf. lutea L. |
dez. a fev. |
Mata de Galeria |
Caju-de-Árvore-do-Cerrado |
Anacardium othonianum |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Caju-Rasteiro |
Anacardium pumilum |
set. a out. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Anacardium humile |
set. a nov. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Chichá |
Sterculia striata |
ago. a out. |
Cerradão e Mata Seca |
Coquinho-do-Cerrado |
Syagrus flexuosa |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Croadinha |
Mouriri elliptica |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Curriola |
Pouteria ramiflora |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Fruto-do-Tatu |
Crhysophyllum soboliferum |
nov. a jan. |
Cerrado e Campo Sujo |
Gabiroba |
Campomanesia cambessedeana |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Gravatá |
Bromelia balansae |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Guapeva |
Pouteria cf. gardineriana |
nov. a fev. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Guariroba |
Syagrus oleraceae |
set. a jan. |
Mata Seca |
Ingá-do-Cerrado |
Inga laurina Willd.. |
nov. a jan. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Jaracatiá |
Jacaratia hiptaphylla |
jan. a mar. |
Mata Seca |
Jatobá-do-Cerrado |
Hymenaea stigonocarpa |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Jatobá-da-Mata |
Hymenaea stilbocarpa |
set. a nov. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Jenipapo |
Genipa ameriacana |
set. a dez. |
Mata Seca, Cerradão e Mata de Galeria |
Jerivá |
Syagrus romanzoffiana |
abr. a nov. |
Cerradão e Mata de Galeria |
Lobeira |
Solanum lycocarpum |
jul. a jan. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Macaúba |
Acrocomia aculeata |
mar. a jun. |
Mata Seca e Cerradão |
Mama-Cadela |
Brosimum gaudichaudii |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Mangaba3 |
Hancornia spp. |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-de-Cobra4 |
Passiflora coccinea |
set. a nov. |
Mata de Galeria e Cerradão |
Maracujá-do-Cerrado |
Passiflora cincinnata |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-Doce |
Passiflora alata |
fev. a abr. |
Mata de Galeria e Mata Seca |
Maracujá-Nativo5 |
Passiflora eichleriana |
out. a mar. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Maracujá-Roxo |
Passiflora edulis |
fev. a ago. |
Mata de Galeria |
Marmelada-de-Bezerro |
Alibertia edulis |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Continua
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Marmelada-de-Cachorro |
Alibertia sessillis |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Marmelada-de-Pinto |
Alibertia elliptica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Melancia-do-Cerrado |
Melancium campestre |
mai. a jul. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Murici |
Byrsonima verbascifolia |
nov. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Palmito-da-Mata |
Euterpe adulis |
abr. a out. |
Mata de Galeria |
Pequi |
Caryocar brasilliense |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata Seca |
Pequi-Anão6 |
Caryocar brasilliense subsp. Intermedium |
fev. a abr. |
Cerrado, Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Rupestre |
Pêra-do-Cerrado |
Eugenia klostzchiana |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Perinha |
Eugenia lutescens |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Pimenta-de-Macaco |
Xilopia aromatica |
set. a jan. |
Cerrado e Cerradão |
Pitanga-Vermelha |
Eugenia calycina |
set. a dez. |
Cerrado e Campo Sujo |
Pitomba-do-Cerrado |
Talisia esculenta |
out. a jan. |
Mata Seca e Cerradão |
Puçá |
Mouriri pusa |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Saputá |
Salacia elliptica |
out. a dez. |
Mata de Galeria |
Uva-Nativa-do-Cerrado |
|
|
|
Tucum-do-Cerrado |
Bactris spp. |
jan. a mar. |
Mata de Galeria |
FRUTEIRAS DO CERRADO
SILVA, A. P. P. MELO, B. FERNANDES, N.
SUMÁRIO
1.
Introdução 2.
Época de Produção de Frutos 3.
Obtenção de Sementes 4.Espécies
Frutíferas do Cerrado 4.1
Pequi 4.2
Mangaba 4.3
Baru 4.4
Cagaita 4.5
Araticum 4.7
Gabiroba 4.8
Jatobá 4.9
Jenipapo 4.10
Cajuzinho-do-Cerrado 5.
Referências Bibliográficas
1. Introdução
O Brasil possui cerca de trinta por cento das espécies de
plantas e de animais conhecidas no mundo, que estão distribuídas em seus
diferentes ecossistemas. É o país detentor da maior diversidade biológica
do planeta. A região dos cerrados, com seus 204 milhões de hectares –
aproximadamente 25% do território nacional – apresenta grande
diversificação faunística e florística em suas diferentes fisionomias
vegetais (Avidos e Ferreira, 2003). A área core está localizada
essencialmente no Planalto Central onde se encontra o divisor de águas das
três grandes bacias hidrográficas do Brasil, a Amazônica, a do Paraná e a
do São Francisco (Chaves, 2003). Até meados deste século, essa região,
que abrange principalmente os Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso
do Sul, Tocantins, Bahia, Maranhão, Piauí e Distrito Federal, era
considerada secundária para a produção agrícola. Naquele período, em que o
mundo inteiro voltava a atenção para a Amazônia, preocupado com a
devastação do que se costumava chamar de “o pulmão do mundo”, os cerrados
apareciam assim como uma espécie de “patinho feio”, região de solos pobres
e pouco férteis, que não despertavam muito interesse nos agricultores e
nos órgãos de defesa ambiental. A partir dos anos 60, com a
transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília,
localizada no coração dos cerrados, com a construção de estradas e com a
adoção da política de interiorização e de integração nacional, essa região
foi inserida no contexto da produção de alimentos e de energia. Dessa
maneira, de pequena atividade agrícola de subsistência e criação extensiva
de gado, a região passou a contribuir com grande parte da produção de
grãos e a abrigar expressivo número do rebanho bovino do país. Hoje,
graças ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que viabilizaram a
sua utilização em bases econômicas, a região dos cerrados é um dos mais
importantes pólos de produção de alimentos do país, contribuindo com mais
de 25% da produção nacional de grãos alimentícios, além de abrigar mais de
40% do rebanho bovino do país (Avidos e Ferreira, 2003). Estima-se que
127 milhões de hectares são constituídos de terras aráveis potencialmente
aptas para as atividades agropecuárias, sendo que 61 milhões de hectares
atualmente são ocupados com pastagens, culturas anuais, perenes e
florestais, e 66 milhões de hectares são apontados como a mais importante
fronteira agrícola do Brasil. Devido a limitações na capacidade de uso do
solo, 77 milhões de hectares são reservados estrategicamente como áreas de
preservação ambiental (Tabela 1). Tabela 1 –
Ocupação agrícola atual e potencial das terras da Região do Cerrado.
Ocupação |
Área |
Absoluta (milhões de ha)(1) |
|
Relativa (%) |
Terras aráveis |
127 |
|
62 |
Área ocupada atualmente |
61 |
|
30 |
Pastagens cultivadas |
49 |
|
24 |
Culturas anuais |
10 |
|
5 |
Culturas perenes e florestais |
2 |
|
1 |
Áreas de preservação |
77 |
|
38 |
Fronteira agrícola |
66 |
|
32 |
Área total |
204 |
|
100 |
(1) Um hectare (ha) = 10.000
m2 Fonte: Embrapa..., 1999. Todavia, o desconhecimento do potencial
de uso dos recursos naturais, o desrespeito às leis de proteção ambiental,
as queimadas e a intensidade de exploração agrícola têm provocado
prejuízos irreparáveis ao solo, à fauna, à flora e aos recursos hídricos,
comprometendo a sustentabilidade desse ecossistema e colocando muitas
espécies animais e vegetais em risco de extinção, principalmente as
fruteiras nativas. O clima da região é caracterizado como tropical
estacional, com chuvas da ordem 1.500 mm anuais, com distribuição
concentrada na primavera e no verão, podendo ser distinguido, nitidamente,
um período chuvoso e outro seco. A duração da época seca, definida
como déficit hídrico, varia de 4 a 7 meses, em 87% da superfície e se
concentra durante o outono e o inverno. As temperaturas médias anuais
situam-se em torno de 22ºC ao Sul e 27ºC ao Norte. As diferenças entre
as temperaturas máximas e mínimas no conjunto da região oscilam entre 4º a
5ºC, diminuindo progressivamente, à medida que se aproxima da Região
Amazônica (Silva et. al., 2001). Os solos sob cerrado apresentam
grande variação em suas características morfológicas e físicas. Possuem,
no entanto, algumas características químicas comuns tais como: elevada
acidez, toxidez de alumínio, alta deficiência de nutrientes, alta
capacidade de fixação de fósforo e baixa capacidade de troca de cátions
(Lopes, 1985 apud Chaves, 2003). A classe de solos mais extensiva na
região é a dos latossolos que ocorre em cerca de 54% da área e está
associada às menores declividades. Em terrenos mais declivosos prevalecem
os cambissolos distróficos (Haridasan, 1993 apud Chaves, 2003). O conteúdo
de argila varia de menos de 5% a mais de 90% (Eiten, 1993 apud Chaves,
2003). O relevo plano e suavemente ondulado predomina em 70% da
superfície. As boas condições de drenagem – em 89% dos solos da região –
favorecem o uso de mecanização agrícola, permitindo o cultivo em grandes
áreas (Adamoli et al., 1986 apud Silva et al., 2001). Fisionomicamente
o cerrado se caracteriza pela existência de um extrato herbáceo formado
basicamente por gramíneas e um extrato arbóreo/arbustivo de caráter
lenhoso. A predominância de um ou outro extrato caracteriza as diferentes
formações do cerrado desde o campo limpo, onde predomina o extrato
herbáceo, até o cerrado, em que predomina o extrato arbóreo. Estas
diferentes formações se alternam dentro da região, na dependência,
principalmente, da fertilidade do solo, declividade e presença ou ausência
de concreções. A formação mais comum é o chamado cerrado stricto
sensu, uma formação do tipo savana, onde convivem gramíneas com
espécies lenhosos. Esta formação é a mais rica em espécies nativas
frutíferas com interesse para aproveitamento alimentar. Estimativas da
biodiversidade vegetal do cerrado, como um todo, apontam para um número de
espécies vasculares de 5.000 a 7.000 espécies. Com esta enorme
biodiversidade criou-se, na região do cerrado, uma tradição de usos, em
diferentes formas, dos recursos vegetais. Destacam-se pela importância na
região, as espécies alimentícias, medicinais, madeireiras, tintoriais,
ornamentais, além de outros usos. Das espécies com potencial de utilização
agrícola, na região do cerrado, destacam-se as
frutíferas. São algumas dezenas de espécies de diferentes
famílias que produzem frutos comestíveis, com formas variadas, cores
atrativas e sabor característico. Estes frutos são consumidos em
diferentes formas pelas populações locais e constituem, ainda, uma
importante fonte de alimentos para animais silvestres (pássaros, roedores,
tatus, canídeos, etc.) e mesmo para o gado. Os animais silvestres
funcionam como dispersores naturais de sementes, podendo-se admitir que o
caráter atrativo e alimentício dos frutos resulta de um processo de
co-evolução entre plantas e animais, por um longo período de tempo
(Chaves, 2003). As fruteiras nativas ocupam lugar de destaque no
ecossistema do cerrado e seus frutos já são comercializados em feiras e
com grande aceitação popular. Esses frutos apresentam sabores sui
generis e elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais
minerais e podem ser consumidos in natura ou na forma de sucos,
licores, sorvetes, geléias etc. Hoje, existem mais de 58 espécies de
frutas nativas dos cerrados conhecidas e utilizadas pela população (Avidos
e Ferreira, 2003). Os frutos nativos do Cerrado – base de sustentação
da vida silvestre e fonte de alimento para as populações rurais – possuem
enorme valor nutritivo. Cem gramas de sementes de Baru fornecem 617
calorias e 26% de proteína. Em 100 g de polpa de Pequi, encontramos 20 mil
microgramas de vitamina A e 100 g de polpa de Buriti contêm 158 mg de
cálcio (Silva et al., 1994 apud Silva et al., 2001). O consumo das
frutas nativas dos cerrados, há milênios consagrado pelos índios, foi de
suma importância para a sobrevivência dos primeiros desbravadores e
colonizadores da região. Através da adaptação e do desenvolvimento de
técnicas de beneficiamento dessas frutas, o homem elaborou verdadeiros
tesouros culinários regionais, tais como licores, doces, geléias, mingaus,
bolos, sucos, sorvetes e aperitivos. O interesse por essas frutas tem
atingido diversos segmentos da sociedade, entre os quais destacam-se
agricultores, industriais, donas-de-casa, comerciantes, instituições de
pesquisa e assistência técnica, cooperativas, universidades, órgãos de
saúde e de alimentação, entre outros. O interesse industrial pelas
frutas nativas dos cerrados foi intensificado após os anos 40. A mangaba,
por exemplo, foi intensivamente explorada durante a Segunda Guerra
Mundial, para exploração de látex. O babaçu e a macaúba foram bastante
estudados na década de 70, em decorrência da crise de petróleo, e
mostraram grandes possibilidades para utilização em motores de combustão,
em substituição ao óleo diesel. O pequi já foi industrializado, sendo o
seu óleo enlatado e comercializado. A polpa e o óleo da macaúba são
utilizados na fabricação de sabão de coco. O palmito da gariroba, de sabor
amargo, começou a ser comercializado em conserva recentemente, à
semelhança do palmito doce. Os sorvetes de cagaita, araticum, pequi e
mangaba continuam fazendo sucesso nas sorveterias do Distrito Federal e de
Belo Horizonte (Avidos e Ferreira, 2003). Em 1975, o IBGE registrou a
produção de 33 toneladas de resina de Jatobá e 2.199 toneladas de amêndoas
de Macaúba; em 1991, registrou 992 toneladas de fibra de Buriti e 2.201
toneladas de Pequi para a extração de óleo. A composição química e o valor
energético de algumas frutas nativas do Cerrado são apresentados nas
Tabelas 2 e 3 (Silva, et al., 2001). Tabela 2
–
Composição química e valor energético de algumas frutas nativas do
Cerrado, obtidos de 100 g de polpa.
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Ananas |
56,5 |
13,50 |
0,40 |
0,10 |
21 |
10 |
0,40 |
5 |
80 |
40 |
61,0 |
0,200 |
Araçá |
37,8 |
8,00 |
1,00 |
0,20 |
14 |
30 |
1,05 |
48 |
60 |
40 |
326,0 |
1,300 |
Araticum |
52,0 |
10,30 |
0,40 |
1,60 |
52 |
24 |
2,30 |
--- |
453 |
100 |
--- |
2,675 |
Babaçu (amêndoa) |
313,0 |
13,30 |
3,90 |
29,50 |
30 |
40 |
1,00 |
--- |
320 |
250 |
--- |
1,500 |
Baru (amêndoa)(1) |
616,7 |
25,46 |
26,29 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Buriti |
114,9 |
2,16 |
2,95 |
10,50 |
158 |
44 |
5,00 |
6,000 |
30 |
230 |
20,8 |
0,700 |
Cagaita(2) |
--- |
5,04 |
0,50 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
421 |
72,0 |
0,370 |
Caju |
36,5 |
8,40 |
0,80 |
0,20 |
50 |
18 |
1,00 |
124 |
15 |
46 |
219,7 |
0,539 |
Caju (castanha) |
556 |
37,92 |
17,89 |
37,00 |
24 |
580 |
1,80 |
--- |
850 |
320 |
5,0 |
2,100 |
Continua
|
|
|
|
|
|
|
|
Vitaminas |
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Ca |
P |
Fe |
|
|
|
|
|
Frutas |
Calorias |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
A |
B1 |
B2 |
C |
Njacina |
|
|
|
|
|
|
|
|
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
(mcg) |
Coco-Guariroba (palmito)(3) |
--- |
--- |
5,56 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Fruto-de-Tatu(4) |
--- |
81,84 |
11,80 |
--- |
0,04 |
0,19 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Gabiroba |
64,0 |
13,90 |
1,60 |
1,00 |
38 |
30 |
3,20 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Gravata |
51,0 |
13,50 |
0,60 |
0,10 |
18 |
16 |
2,60 |
30 |
40 |
40 |
50,0 |
0,500 |
Ingá |
97,7 |
21,60 |
2,62 |
0,10 |
28 |
13 |
0,80 |
47 |
148 |
95 |
19,6 |
1,121 |
Jatobá |
115,0 |
29,40 |
1,00 |
0,70 |
31 |
24 |
0,80 |
30 |
40 |
40 |
31,1 |
0,500 |
Jenipapo |
81,7 |
18,27 |
1,18 |
0,44 |
33 |
29 |
3,40 |
30 |
24 |
275 |
6,8 |
0,560 |
Lobeira(5) |
345,0 |
85,99 |
9,48 |
--- |
96,2 |
105 |
30 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Macaúba (castanha) |
243,0 |
27,90 |
4,40 |
27,90 |
199 |
57 |
0,20 |
23 |
140 |
90 |
28,0 |
1,000 |
Mama-Cadela(6) |
--- |
5,04 |
1,99 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Mangaba |
47,5 |
10,50 |
0,70 |
0,30 |
41 |
18 |
2,80 |
30 |
40 |
40 |
33,0 |
0,500 |
Murici |
60,5 |
11,70 |
1,37 |
1,16 |
19 |
18 |
2,04 |
7 |
20 |
40 |
84,0 |
0,400 |
Pêra-do-Cerrado(7) |
--- |
--- |
4,87 |
--- |
0,08 |
0,04 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (amêndoa) |
89,0 |
21,60 |
1,20 |
0,90 |
14 |
10 |
1,20 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Pequi (endocarpo)(8) |
--- |
6,76 |
1,02 |
10,00 |
0,049 |
0,208 |
1,39 |
20.000 |
30 |
463 |
12,0 |
0,387 |
Pitanga |
46,7 |
6,40 |
1,02 |
1,90 |
9 |
11 |
0,20 |
210 |
30 |
60 |
14,0 |
0,300 |
Pitomba |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
30 |
40 |
40 |
54,0 |
0,500 |
Fonte: Frango, 1992. Exceto: 1, 2 e 6 – Almeida et al.,
1997; 3 – Almeida e Silva, 1994; 4 e 5 – Embrapa, 1997. --- Dados
Desconhecidos Tabela 3
– Composição em ácidos
graxos (%) do óleo de algumas frutas nativas do Cerrado.
Ácidos graxos |
Macaúba |
Baru(1) |
Babaçu |
Buriti |
Pequi(2) |
Jenipapo |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Amêndoa |
Polpa |
Casca |
Polpa |
Amêndoa |
Polpa |
Amêndoa |
Caprílico |
--- |
--- |
6,2 |
--- |
6,8 |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
--- |
Cáprico |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
6,3 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Láurico |
--- |
--- |
43,6 |
--- |
41,0 |
--- |
--- |
--- |
--- |
2,3 |
--- |
Mirístico |
--- |
--- |
8,5 |
--- |
16,2 |
--- |
--- |
--- |
--- |
5,3 |
--- |
Palmítico |
24,6 |
18,7 |
5,3 |
5,7 |
9,4 |
16,3 |
34,0 |
34,4 |
32,0 |
37,2 |
10,3 |
Palmitoléico |
6,2 |
4,0 |
--- |
--- |
--- |
0,4 |
1,6 |
2,1 |
1,3 |
--- |
--- |
Esteárico |
5,1 |
2,8 |
2,4 |
5,5 |
3,4 |
1,3 |
3,7 |
1,8 |
2,1 |
5,4 |
9,7 |
Oléico |
51,5 |
53,4 |
25,5 |
14,2 |
14,2 |
79,2 |
54,3 |
57,4 |
56,3 |
25,7 |
19,5 |
Linoléico |
11,3 |
1737 |
3,3 |
32,4 |
2,5 |
1,4 |
4,2 |
2,8 |
7,2 |
--- |
60,5 |
Linolênico |
1,3 |
1,5 |
--- |
2,2 |
--- |
1,3 |
1,8 |
1,0 |
0,3 |
--- |
--- |
Saturados |
29,7 |
21,5 |
71,2 |
--- |
83,3 |
17,7 |
37,7 |
36,2 |
34,1 |
--- |
--- |
Insaturados |
70,3 |
78,5 |
28,8 |
--- |
16,7 |
82,3 |
62,3 |
63,8 |
65,9 |
--- |
--- |
Fonte: Brasil, 1985. Exceto (1) Embrapa, 1987; (2)
Figueiredo et al., 1986. --- Dados Desconhecidos
Atualmente, é possível encontrar grande quantidade de frutas nativas
do cerrado sendo comercializadas em feiras da região e nas margens das
rodovias a preços competitivos e alcançando grande aceitação popular.
Observa-se, hoje, a existência de mercado potencial e emergente para as
frutas nativas do cerrado, a ser melhor explorado pelos agricultores, pois
todo o aproveitamento desses frutos tem sido feito de forma extrativista e
predatória. Apesar da existência de leis de proteção à fauna, à flora
e ao uso do solo e água, elas são ignoradas pela maioria dos agricultores,
que utilizam esses recursos naturais erroneamente, na expectativa de
maximizarem seus lucros. Neste cenário, o ecossistema cerrado tem sido
agredido e depredado pela ação do fogo e dos tratores, colocando em risco
de extinção várias espécies de plantas, entre elas algumas fruteiras
nativas, antes mesmo de serem classificadas pelos pesquisadores (Avidos e
Ferreira, 2003). Devido ao processo acelerado de ocupação agrícola do
Cerrado e à exploração extrativista e predatória, tem-se observado quedas
anuais significativas nas safras desses produtos, tornando imprescindível
que seu cultivo seja iniciado. Segundo Abramovay (2000), é possível
explorar de maneira sustentável os recursos e o verdadeiro banco de
germoplasma hoje existentes nos Cerrados. As fruteiras nativas dos
Cerrados, tais como araticum, jatobá, piqui, mangaba, cagaita, buriti,
constituem fontes importantes de fibras, proteínas, vitaminas, minerais,
ácidos saturados e insaturados presentes em polpas e sementes; possuem
enraizamento profundo o que permite um aproveitamento mais eficiente da
água e dos minerais do solo comparativamente às lavouras de grãos. Ainda
segundo Abramovay (1999), não dependem de sistemas de manejo apoiados em
revolvimento intensivo do solo; oferecem proteção ao solo contra impactos
de gotas de chuva e contra formas aceleradas de erosão hídrica e eólica;
permitem consorciamento com outras culturas favorecendo o melhor
aproveitamento da terra; podem ser explotadas sem forte alteração da
biodiversidade. Estes são apenas alguns exemplos de recursos que hoje
a pesquisa agropecuária já estuda e cuja exploração sustentável pode
propiciar retorno tanto mais interessante que não se restringem aos
mercados convencionais e já existentes. Uma boa solução para conter a
devastação da região do cerrado, como explica o pesquisador da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dijalma Barbosa da Silva, é utilizar
as áreas já abertas e abandonadas, para a produção, pois assim não seria
preciso devastar novas áreas. Além disso, a utilização dessas áreas
reduziria os custos para os produtores, visto que já estão preparados e
limpas para o plantio, exigindo apenas investimentos em corretivos,
adubações e práticas conservacionistas. Dentre as possibilidades
atuais de utilização das fruteiras do cerrado, destacam-se: o plantio em
áreas de proteção ambiental; o enriquecimento da flora das áreas mais
pobres; a recuperação de áreas desmatadas ou degradadas; a formação de
pomares domésticos e comerciais; e o plantio em áreas de reflorestamento,
parques e jardins, e em áreas acidentadas. Nesse sentido, muitos
agricultores e chacareiros já estão implantando pomares de frutas nativas
dos cerrados e os viveiristas estão intensificando a produção de
mudas (Avidos e Ferreira, 2003). Outro tipo de ambiente que pode
ser utilizado de forma complementar para fins de conservação de recursos
genéticos são as faixas de domínio de rodovias. Principalmente nas
chapadas, áreas contínuas e praticamente intocadas, ocorrem em grandes
extensões nas margens de rodovias, amostrando faixas de formações
originais de áreas já totalmente ocupadas por atividades agropecuárias.
Pelo menos para as espécies com parte da variabilidade genética das
populações originais, além de servir para conectar fragmentos. Nota-se, no
entanto, que estas faixas vêm sendo paulatinamente ocupadas por lavouras,
de forma irregular, o que poderia ser evitado com ações educativas e de
fiscalização (Chaves, 2003). Segundo Abramovay (1999), o
aproveitamento econômico destes recursos tão variados é bem mais complexo
que a ligação ao mercado por meio de produtos consagrados como a soja, o
milho e os suínos. Ainda segundo este autor, o importante é que esta
fantástica diversidade de espécies e usos retrata o desafio central que
consiste na criação de mercados capazes de representar uma agregação de
valor – em virtude da especificidade do produto – muito maior que na
produção de commodities. Há grande potencial para a exportação dessas
frutas, já que possuem um sabor sui generis e não são encontradas em
outros países. Hoje, o licor de pequi já é exportado para o Japão e a
amêndoa do baru é demandada pela Alemanha; mas existem ainda muitas
possibilidades de exportação de outras espécies nativas. É muito
importante investir no trabalho de domesticação das fruteiras nativas dos
cerrados para que possam ser cultivadas em lavouras comerciais. Dessa
forma, evita-se o extrativismo predatório, ao mesmo tempo em que se
conservam as espécies em seu habitat natural (Avidos e Ferreira, 2003).
As informações baseadas em pesquisa científica, acerca das espécies
frutíferas do cerrado são, ainda, escassas. Das observações e
resultados de pesquisa até agora obtidos pode-se considerar que algumas
das espécies enfocadas apresentam uma boa possibilidade de utilização em
plantios comerciais, em curto prazo. Merecem destaque, neste aspecto, o
araticum e a mangaba. Ambas as espécies são relativamente precoces, com
quatro a seis anos para início de produção, a partir do plantio de mudas.
Para o araticum, os principais pontos críticos a serem contornados são o
baixo poder germinativo e dormência das sementes, o que dificulta a
formação de mudas uniformes, além do ataque de insetos aos frutos
danificando-os. Já a mangabeira não apresenta problemas de formação de
mudas, desde que as sementes sejam plantadas imediatamente após serem
retiradas dos frutos (sementes recalcitrantes). Na fase de produção, o
déficit hídrico na fase anterior à frutificação, parece ser um fator
limitante. Algumas espécies de alto potencial econômico, principalmente o
pequizeiro, apresentam maiores problemas quanto à domesticação, devido ao
longo tempo necessário para início de produção. Neste caso, a reprodução
assexuada seria uma forma de promover uma maior precocidade. Mesmo com
alguns resultados de pesquisa que apontam a possibilidade de enxertia na
espécie, a técnica ainda não está totalmente dominada para ser empregada
em larga escala, merecendo estudos com acompanhamento das mudas
enxertadas, após o transplantio para o campo (Chaves, 2003).
2. Época de
Produção de Frutos A maioria dos frutos do Cerrado
amadurece no início da estação chuvosa, que vai de setembro a dezembro,
porém em menores quantidades há uma ocorrência de frutos praticamente o
ano todo. De uma forma geral, os frutos que amadurecem no início da
estação chuvosa (setembro, outubro) não apresentam dormência de sementes,
já que estas encontram condições propícias para germinação e
estabelecimento das plântulas, antes do período de estiagem. Como exemplo
de espécies que adotaram este tipo de estratégia, podem ser citados a
cagaita (Eugenia dysenterica DC) e o caju arbóreo (Anacardium
othonianum Rizz) que muita vezes frutificam antes mesmo das primeiras
chuvas da estação. Já as espécies que frutificam mais para o final da
estação chuvosa apresentam, em geral, sementes com diferentes graus de
dormência, o que as possibilitam atravessar a estação seca para germinar
no início da estação chuvosa seguinte. O araticum (annona crassiflora
Mart.) e o pequi (Cariocar brasiliense Camb.) são exemplos
de espécies que apresentam sementes com dormência (Chaves, 2003). A
época de frutificação e a vegetação de ocorrência – para coleta de frutos
e obtenção de sementes das principais espécies de fruteiras nativas do
Cerrado – são apresentadas na Tabela 4 (Silva et al., 2001).
Tabela 4 –
Época de frutificação e vegetação de ocorrência para a coleta de frutos e
sementes das principais espécies frutíferas nativas do Cerrado.
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Amora-Preta |
Bubus cf brasilliensis |
set. a fev. |
Mata de Galeria |
Ananás |
Annas ananassoides |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata de Geleria |
Araçá |
Psidium firmum |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum |
Annona crassiflora |
fev. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Araticum-de-Casca-Lisa |
Annona coriacea |
dez. a mar. |
Cerrado, Cerradão, Campo Sujo e Campo Rupestre1 |
Araticum-Rasteiro |
Annona pygmaea |
dez. a mar. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Araticum-Tomentoso |
Annona cf. tomentosa |
dez. a mar. |
Cerrado e Campo Sujo |
Babaçu |
Orbygnia cf. phalerata |
out. a jan. |
Mata Seca2 |
Bacupari |
Salacia campestris |
set. a dez. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Banha-de-Galinha |
Swartzia langsdorfii |
ago. a out. |
Mata Seca, Mata de Galeria |
Baru |
Dypterix alata |
set. a out. |
Mata Seca, Cerradão e Cerrado |
Buriti |
Mauritia vinifera |
out. a mar. |
Mata de Galeria e Vereda |
Cagaita |
Eugenia dysenterica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Spondia cf. lutea L. |
dez. a fev. |
Mata de Galeria |
Caju-de-Árvore-do-Cerrado |
Anacardium othonianum |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Caju-Rasteiro |
Anacardium pumilum |
set. a out. |
Campo Sujo e Campo Limpo |
Cajuzinho-do-Cerrado |
Anacardium humile |
set. a nov. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Chichá |
Sterculia striata |
ago. a out. |
Cerradão e Mata Seca |
Coquinho-do-Cerrado |
Syagrus flexuosa |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Croadinha |
Mouriri elliptica |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Curriola |
Pouteria ramiflora |
set. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Fruto-do-Tatu |
Crhysophyllum soboliferum |
nov. a jan. |
Cerrado e Campo Sujo |
Gabiroba |
Campomanesia cambessedeana |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Gravatá |
Bromelia balansae |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Guapeva |
Pouteria cf. gardineriana |
nov. a fev. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Guariroba |
Syagrus oleraceae |
set. a jan. |
Mata Seca |
Ingá-do-Cerrado |
Inga laurina Willd.. |
nov. a jan. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Jaracatiá |
Jacaratia hiptaphylla |
jan. a mar. |
Mata Seca |
Jatobá-do-Cerrado |
Hymenaea stigonocarpa |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Jatobá-da-Mata |
Hymenaea stilbocarpa |
set. a nov. |
Cerradão, Mata Seca e Mata de Galeria |
Jenipapo |
Genipa ameriacana |
set. a dez. |
Mata Seca, Cerradão e Mata de Galeria |
Jerivá |
Syagrus romanzoffiana |
abr. a nov. |
Cerradão e Mata de Galeria |
Lobeira |
Solanum lycocarpum |
jul. a jan. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Macaúba |
Acrocomia aculeata |
mar. a jun. |
Mata Seca e Cerradão |
Mama-Cadela |
Brosimum gaudichaudii |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Mangaba3 |
Hancornia spp. |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-de-Cobra4 |
Passiflora coccinea |
set. a nov. |
Mata de Galeria e Cerradão |
Maracujá-do-Cerrado |
Passiflora cincinnata |
out. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Maracujá-Doce |
Passiflora alata |
fev. a abr. |
Mata de Galeria e Mata Seca |
Maracujá-Nativo5 |
Passiflora eichleriana |
out. a mar. |
Mata de Galeria, Cerradão e Mata Seca |
Maracujá-Roxo |
Passiflora edulis |
fev. a ago. |
Mata de Galeria |
Marmelada-de-Bezerro |
Alibertia edulis |
set. a nov. |
Cerrado e Cerradão |
Continua
Nome comum |
Nome científico |
Frutificação |
Vegetação de ocorrência |
Marmelada-de-Cachorro |
Alibertia sessillis |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Marmelada-de-Pinto |
Alibertia elliptica |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Melancia-do-Cerrado |
Melancium campestre |
mai. a jul. |
Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo |
Murici |
Byrsonima verbascifolia |
nov. a mar. |
Cerrado e Cerradão |
Palmito-da-Mata |
Euterpe adulis |
abr. a out. |
Mata de Galeria |
Pequi |
Caryocar brasilliense |
out. a mar. |
Cerrado, Cerradão e Mata Seca |
Pequi-Anão6 |
Caryocar brasilliense subsp. Intermedium |
fev. a abr. |
Cerrado, Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Rupestre |
Pêra-do-Cerrado |
Eugenia klostzchiana |
out. a dez. |
Cerrado e Cerradão |
Perinha |
Eugenia lutescens |
set. a nov. |
Cerrado, Cerradão e Campo Sujo |
Pimenta-de-Macaco |
Xilopia aromatica |
set. a jan. |
Cerrado e Cerradão |
Pitanga-Vermelha |
Eugenia calycina |
set. a dez. |
Cerrado e Campo Sujo |
Pitomba-do-Cerrado |
Talisia esculenta |
out. a jan. |
Mata Seca e Cerradão |
Puçá |
Mouriri pusa |
set. a out. |
Cerrado e Cerradão |
Saputá |
Salacia elliptica |
out. a dez. |
Mata de Galeria |
Tucum-do-Cerrado |
Bactris spp. |
jan. a mar. |
Mata de Galeria |
Uva-Nativa-do-Cerrado |
Vitis spp. |
jan. a mar. |
Mata Seca e Calcária |
(1) Campo Rupestre: tipo fisionômico
predominantemente herbáceo e arbustivo, com presença eventual de pequenas
árvores. Ocorrem em solos rasos com afloramento de rocha, em altitudes
superiores a 900 m. (2) Mata Seca: formações florestais
caracterizadas por diversos níveis de caducifolia durante a estação seca.
(3) Ocorrência predominante em áreas de solos pedregosos,
morros e serras. (4) Ocorrência restrita aos vales dos
rios Araguaia e Paraguai. (5) Ocorrência restrita aos
vales do Médio e Baixo São Francisco. (6) Ocorrência
restrita ao sul de Minas Gerais. Foi observado, em plantio
não-experimental da Embrapa Cerrados, que plantas oriundas de mudas
produzidas por sementes de algumas espécies frutíferas nativas e de porte
herbáceo-arbustivo, como gabiroba, pêra-do-cerrado, marmelada, caju,
dentre outras, iniciaram a fase de frutificação a partir de dois anos após
o plantio. Espécies arbóreas como araticum, pequi, baru, cagaita e
mangaba, tiveram sua fase de frutificação iniciada 4 a 5 anos após o
plantio. A Figura 01 mostra uma planta de Araticum com aproximadamente 4
anos de idade. Devido à grande variabilidade genética encontrada nas
espécies de fruteiras nativas, em condições naturais, os plantios oriundos
de sementes ou propagação sexuada apresentam plantas desuniformes, com
florescimento e frutificação irregulares. A propagação vegetativa ou
assexuada através de enxertia, estaquia ou cultura de tecidos permite a
clonagem de plantas-matrizes de alta produtividade e boa qualidade de
frutos, a padronização das plantas e a uniformidade na produção, além de
antecipar o início da frutificação.
3. Obtenção de Sementes
Dos frutos pode-se obter polpa para consumo in
natura ou industrialização e sementes. O procedimento desde a
coleta dos frutos até o armazenamento das sementes é o seguinte:
· Os frutos podem ser
coletados maduros nas plantas ou logo após caírem no chão, eliminado os
frutos deteriorados e mal formados;
· Após a coleta, extrair a
polpa dos frutos. A extração da polpa de frutos carnosos e de casca mole
pode ser feita amassando-se os frutos sobre uma peneira. Frutos de casca
dura deverão ser quebrados e a polpa retirada com o uso de faca;
· Após extrair a polpa,
separar as sementes; · As
sementes devem ser lavadas em água corrente e colocadas para secar à
sombra, em local ventilado;
· Selecionar as sementes
(tamanho, cor e forma). Eliminar as sementes chochas, deformadas ou que
apresentem sinais de ataques de pragas ou doenças.
· As sementes para fins
comerciais devem ser coletadas próximas às regiões de demanda;
· No armazenamento, as
sementes de frutos carnosos são acondicionadas em sacos plásticos e
colocadas na geladeira por um período de 15 dias; após este período, o
poder germinativo começa a cair. Sementes de frutos secos podem ser
armazenadas em sacos de papel, em ambiente seco e ventilado, por um
período de 60 dias, após o qual a percentagem de germinação começa a cair.
Em algumas espécies as sementes perdem rapidamente sua viabilidade, como é
o caso da Mangaba e do Ingá, devendo ser semeadas logo após a retirada dos
frutos. 4. Espécies Frutíferas do Cerrado
4.1- Pequi
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Guttiferales
Família:
Caryocaraceae Nome
Científico: Caryocar
brasiliense Camb. Nomes
Populares: Pequi (MG, SP); Piqui
(MT); Piquiá-bravo; Amêndoa-de-espinho, Grão-pequiá; Pequiá-pedra;
Pequerim; Suari; Piquiá.
Ocorrência:
Cerradão Distrófico e Mesotrófico, Cerrado Denso, Cerrado, Cerrado Ralo e
Mata Seca. Distribuição:
Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins.
Em Minas Gerais, o fruto é encontrado em maiores quantidades na
região de Montes Claros, no norte do Estado (revista.fapemig.br/11/pequi).
No Estado de Goiás a espécie é protegida por lei (Código Florestal do
Estado de Goiás), mas vem sendo dizimada, principalmente, nas áreas de
expansão agrícola. O pequizeiro (Caryocar brasilliense Camb.) é uma
árvore típica do cerrado brasileiro e, com certeza, uma das com maior
valor econômico na região, ou seja, com um alto grau de aproveitamento,
não só pelos seus frutos, mas pela árvore, como um todo. O fruto é chamado
de pequi que, em língua indígena da região, significa “casca espinhenta”.
A família à qual pertence o pequizeiro tem dois gêneros e mais de uma
dezena de variedades, que podem ser encontradas nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste. A variedade mais comum no cerrado do Centro-Oeste
pode chegar a 10m de altura e, por esta razão, é uma das maiores árvores
do cerrado brasileiro, que apresenta uma vegetação predominantemente
rasteira. Entretanto, é comum encontrarmos, nessa região, pequizeiros de
pouco mais de 1 m de altura. Na região Norte, entretanto, podemos
encontrar variedades muito maiores, com árvores de mais de 20 m de altura
e um diâmetro que pode chegar até 5 m
(www.ruralnews.com.br/agricultura/frutas/pequi). Segundo Almeida et
al., (1998), a floração ocorre de agosto a novembro (chuvas) com pico em
setembro, mas ocasionalmente em outras épocas após as chuvas ou roçados. A
frutificação ocorre de novembro a fevereiro. Em cerrados, normalmente
roçados para facilitar a pastagem do gado, encontram-se exemplares
pequenos, com 1 metro de altura, carregados de flores em épocas fora do
tempo normal de floração, quando há veranicos, no período de janeiro
(www.radiobras.gov.br). A planta possui porte arbório, podendo chegar
a 10 m de altura e de 6 a 8 m de diâmetro de copa, com tronco tortuoso de
casca áspera e rugosa de 30 – 40 cm de diâmetro. As folhas pilosas são
formadas por 3 folíolos com as bordas recortadas, longo-pecioladas e
opostas (Figura 01).
FIGURA 01 – Árvore, folhas e flores Fonte: Clube da Semente, 2003
A árvore é hermafrodita. Inflorescêcia racemo
terminal curta com10 a 30 flores. As flores são grandes e amarelas.
Oliveira (1998) apud Chaves (2003), encontrou taxas de cruzamento que
caracterizam a espécie como alógama. Estudos realizados com marcadores
izoenzimáticos e morfológicos têm mostrado uma grande variabilidade
genética dentro de sub-populações com valores bem próximos de zero para a
variabilidade genética entre sub-populações (Oliveira et al., 1997;
Oliveira, 1998; Trindade et al., 1998), o que é característico de
populações alógamas sem restrições ao fluxo gênico. É planta semidecídua,
cuja floração ocorre logo após a emissão de folhas novas. Apresenta
redução parcial da folhagem durante a estação seca (Ribeiro et al., 1981
apud Almeida et al., 1998). Várias características identificam a
polinização dessa espécie com a síndrome de quiropterofilia, tais como:
estames com abundante quantidade de pólen pulverulento, volume médio de
néctar produzido por flor (0,33 ml), concentração de açúcar no néctar
(13,6%), liberação de forte cheiro pela flor, especialmente no período de
antese, ao redor de 19 a 20 horas. Ocorre autopolinização, podendo cerca
da metade dos botões florais desenvolver-se para frutos (Barradas, 1972
apud Almeida el. Al., 1998). Os frutos alcançam a maturidade entre
três e quatro meses após a floração. A dispersão dos frutos é realizada
por dois vetores, um marsupial (Didelphis albiventris) e um corvídeo
(Cyanocorax cristatellus) (Gabriel, 1986 apud Almeida et al., 1998). O
fruto, do tamanho de uma pequena laranja, está maduro quando sua casca,
que permanece sempre da mesma cor verde-amarelada, amolece. Partida a
casca, encontram-se, em cada fruto, uma, duas, três ou quatro amêndoas
tenras envoltas por uma polpa amarela, branca ou rósea, o verdadeiro
atrativo da planta. A única contra-indicação são os espinhos finos,
minúsculos e penetrantes existentes bem no núcleo do caroço, sendo preciso
muito cuidado ao mastigá-lo para chupar a polpa. (Figura 02)
(www.bibvirt.futuro.usp.br).
A coleta de frutos implica a exportação de nutrientes, e
para cada tonelada de fruto fresco seguem 4,3 kg de potássio, 1,8 kg de
nitrogênio e 0,1 kg de fósforo (Miranda et al., 1987 apud Almeida et al.,
1998). O peso médio do fruto foi de 120 g, sendo que a casca
representa 82% do fruto, o endocarpo 4,6%, a polpa 7% e a amêndoa cerca de
1% (Almeida & Silva, 1994 apud Almeida et al., 1998). O peso unitário
dos frutos variou de 50 a 250 g, a casca de 20 a 117 g, a amêndoa de 2 a 4
g, com valor médio de 8,14 g de polpa (Miranda & Oliveira Filho, 1990
apud Almeida et al., 1998). Segundo Franco (1982) apud Almeida et al.,
(1998), 100 g de polpa de pequi contém:
Vitamina A |
20.000 mg |
Vitamina C |
12 mg |
Tiamina |
30 mg |
Riboflavina |
463 mg |
Niacina |
387 mg |
Quanto aos sais minerais, a polpa do piqui (coletado no
Mato Grosso) apresentou Na (20,9 mg/g), Fe (15,57 mg/g), Mn (5,69 mg/g),
Zn (5,32 mg/g), Cu (4 mg/g), Mg (0,05 mg/g), P (0,06 mg/g) e K (0,18
mg/g), sendo que a amêndoa apresentou Na (2,96 mg/g), Fe (26,82 mg/g), Mn
(14,37 mg/g), Zn (53,63 mg/g) e Cu (15,93 mg/g) (Hiane et al., 1992 apud
Almeida et al., 1998). O valor energético, em cada 100 g é de 89 calorias
(www.ruralnews.com.br). O pequi é considerado a “carne” do Cerrado.
Além das proteínas, poliglicerídeos e carboidratos necessários ao
organismo, contém alto teor de pró-vitamina “A” em sua polpa
(revista.fapemig.br/11/pequi). O pequizeiro é uma planta muito
versátil, no que diz respeito às suas utilidades, pois dela se aproveita
praticamente tudo. O pequi é muito apreciado nas regiões onde ocorre:
o arroz, o frango e o feijão cozidos com pequi são pratos fortes da
culinária regional; o licor de pequi tem fama nacional; e há, também, uma
boa variedade de receitas de doces aromatizados com seu sabor
(www.bibvirt.futuro.ups.br). Como medicinal o óleo da polpa tem efeito
tonificante, sendo usado contra bronquites, gripes e resfriados e no
controle de tumores. É comum o óleo ser misturado ao mel de abelha ou
banha de capivara, em partes iguais, e a mistura resultante ser usada como
expectorante. O chá das folhas é tido como regulador do fluxo menstrual.
Na indústria cosmética, fabricam-se cremes para a pele tendo o piqui como
componente. O potencial forrageiro foi evidenciado quando fragmentos de
folha foram encontrados em fístula esofágica de bovino (Macedo et al.,
1978 apud Almeida et al., 1998). Os frutos também são ingeridos pelos
bovinos, mas em função do endocarpo espinhoso, podem ocorrer acidentes. As
flores são importantes para alimentação de animais silvestres como: paca,
veado-campeiro e mateiro, e as árvores floridas são utilizadas como pontos
de espera da caça. Da casca e das folhas extraem-se corantes amarelos de
ótima qualidade, empregados pelos tecelões em tinturaria caseira (Silva
Filho, 1992 apud Almeida et al., 1998). A madeira é própria para
xilografia, construção civil e naval, construção de esteios de curral,
mourões e dormentes. Também é usada na fabricação de móveis, além de ser
fonte de carvão para siderurgias. A planta é melífera e ornamental.
Cada planta adulta poderá produzir, em média, até dois mil frutos por
safra. O preço do litro de caroços de pequi, com aproximadamente 17
unidades, tem sido comercializado no varejo, em feiras livres e Ceasa-DF,
ao preço que varia entre R$1,50 a R$3,00. A frutificação ocorre
normalmente aos cinco anos após o plantio (Avidos e Ferreira, 2003).
Segundo Moura e Rolim (2003), a forma de obtenção desses frutos é o
extrativismo que envolvem catadores, principalmente de Pequi, que são
famílias de baixa renda e moradores de regiões carentes. Na tarefa de
catar pequi é envolvida toda a família, inclusive as crianças que, após o
dia de trabalho vão para as beiras de estradas oferecer o produto da
catação aos transeuntes, ou vendem a atravessadores que recolhem a
produção da região e levam para comercialização nos centros consumidores,
como Goiânia ou Montes Claros em Minas Gerais. Os valores pagos aos
catadores são muito baixos, pouco auxiliando para a melhoria de vida
daquela população, uma vez que a produção é sazonal e na entressafra essas
pessoas têm que buscar outras atividades para garantir a sobrevivência.
A comercialização do fruto “in natura” é destinada ao consumo na
culinária típica. Ainda pode ser destinada a pequenos fabricantes de
conservas vegetais, que processam sem o conhecimento técnico necessário,
colocando em risco a saúde do consumidor e juntamente a isso a
credibilidade do produto a base de fruto do cerrado. Outra forma que
essas famílias utilizam para aumentar a renda com a catação do Pequi é a
extração do óleo, que é feita às vezes com o fruto que foi catado e não
vendido in natura. O processo utilizado para a extração é muito rudimentar
e com baixa produção, produtividade e qualidade. O óleo obtido é vendido
nos centros de comercialização, CEASA,e mercados municipais também a
preços baixos, além da venda a atravessadores que revendem o produto com
nova embalagem e a preços significativamente maiores. Há também um mercado
para a indústria cosmética que exige determinadas características para o
óleo que, no processo utilizado de extração não atende, e quando atende o
extrativista não tem acesso direto à empresa e sim ao atravessador.
Preocupada em preservar e possibilitar a exploração comercial do
pequi, a Embrapa está pesquisando seu cultivo em lavouras, utilizando
técnica de irrigação e fertilidade. Os trabalhos têm resultado em pomares
precoces, de produção dois anos após o plantio (www.embrapa.br).
Devido à sua origem no cerrado, o pequizeiro é melhor adaptado a
regiões com pouca chuva ou pouca irrigação. Sua produção é sempre maior em
período mais secos e, por esta razão, a variedade do cerrado também pode
ser cultivada em algumas regiões mais secas do Nordeste. No entanto,
durante o período de germinação, é necessário que façamos uma irrigação,
caso não haja um volume adequado de chuvas (www.ruralnews.com.br). Sua
produção não é estável. Em anos de muita chuva, produz pouco; ao
contrário, nos de seca a produção é maior. Tanto que nas regiões
interioranas existe um adágio popular muito conhecido: “ano de pequi, ano
de crise”. A chuva derruba as flores antes da fecundação, o que reduz a
produção (www.radiobras.gov.br). Os frutos de Pequi caem naturalmente
quando estão maduros. Por isso, devem ser apanhados preferencialmente no
chão. Frutos coletados diretamente na planta podem não apresentar sementes
completamente desenvolvidas, reduzindo a taxa de germinação (Silva et al.,
2001). A propagação da árvore do pequi é feita com os frutos maduros,
usados como semente logo que caem ao chão. A quebra da dormência, entre
outras maneiras, pode ser feita com a movimentação das sementes sem casca
em um recipiente durante 15 a 20 minutos, de modo a provocar pequenos
choques, ou deixá-los por 24 horas em uma solução de água com ácidos
específicos (www.altiplano.com.br/Pequi7).
Na produção de mudas, a maior dificuldade está na demora para a
germinação, que só ocorre entre 120 e 360 dias após a semeadura. Para
acelerar o processo, submetem-se os caroços a um tratamento antes de
semeá-los. A Embrapa recomenda a imersão em uma solução com ácido
giberélico, encontrado nas lojas de materiais agrícolas com o nome de
Progib. A proporção da solução é de 1,5 litro de água para 1 grama de
ácido giberélico. Um envelope contém 10 gramas de produto, mas somente 1
grama do ácido (princípio ativo). Os caroços de pequi, obtidos à partir de
frutos maduros, são colocados na solução após despolpados e secos à sombra
em local ventilado. O período de imersão é de 36 horas. Com isso, reduz-se
o tempo de germinação para cada de 40 dias. No livro Árvores
Brasileiras, Lorenzi, o tratamento recomendado consiste em deixar os
caroços em água por 48 horas, sendo trocada a cada 12 horas. Logo depois,
os caroços são postos para germinar em canteiros ou diretamente em
saquinhos individuais. O desenvolvimento das mudas é lento
(globorural.globo.com). Banhos de ácido e choques térmicos eram os
recursos mais utilizados para estimular a germinação, mas essas e outras
técnicas vem sendo substituídas em alguns viveiros. O pesquisador Roberto
de Almeida Torres, coordenador do viveiro de mudas do CNPq/Funape/UFG,
explica que processo de reprodução do pequi começa com a seleção das
matrizes. São escolhidas aquelas com frutos de melhor qualidade,
destacando-se a espessura da polpa, a conformação e a sanidade da árvore.
Os frutos caídos são colhidos e amontoados no chão, à sombra, até que
ocorra a fermentação. Em seguida são despolpados. As primeiras e ácidas
chuvas da estação induzem a semente à germinação, o que ocorre à partir
dos 28 dias. Em 60 dias, 80% do material já está germinado
(www.altiplano.com.br/Pequi7). Tem-se realizado pesquisas com a
formação de mudas por propagação vegetativa, através de técnicas como
estaquia, enxertia, alporquia e cultura in vitro do embrião, com o intuito
de reduzir o tempo inicial de produção de frutos. O pequizeiro pode
ser atacado por algumas doenças, dentre elas, Silva et al., (2001)
destaca: · Podridão de raízes de mudas –
É uma doença causada pelo fungo. Cylindrocladium clavatum, que ataca as
raízes das mudas, apodrecendo-as e causando-lhes a morte ou retardando
consideravelmente seu desenvolvimento. Devem-se evitar regas em excesso e
sombreamento das mudas. · Mal-do-Cipó –
Causada pelos fungos Cerotelium giacomettii e Phomopsis sp. Até o momento,
é a mais grave doença do pequizeiro. Os sintomas em mudas são inicialmente
caracterizados por um estiolamento ou alongamento das mudas, deformações e
lesões nos ramos tenros e nas folhas mais novas. Posteriormente, as mudas
secam ou param de crescer. Em pequizeiros adultos, inicialmente ocorre um
alongamento dos internódios (entrenós do caule) e estiolamento dos ramos
mais novos, fazendo com que estes se tornem muito flexíveis, retorcido e
adquirindo aspecto de cipó. As folhas mais novas tornam-se encarquilhadas,
com tamanho reduzido e, apresentam numerosas lesões escuras com até 3 mm
de diâmetro que podem coalescer (aderir por crescimento), provocando o
escurecimento total ou parcial da folha. Com o tempo, inicia-se o
secamento que pode atingir a planta inteira, provocando a morte. Como
medidas de prevenção, recomenda-se evitar a coleta de sementes ou garfos
(pontas de galhos para enxertia) de pequizeiros com essa doença. Caso a
doença apareça no viveiro, eliminar as mudas com sintomas e, no caso de
plantas adultas, recomenda-se podar e queimar todos os galhos afetados
pela doença. Nos ferimentos provocados pela poda, deve-se pincelar uma
pasta composta por 4 kg de cal hidratada e 1 kg de sulfato de cobre,
diluídos em 6 litros de água. · Morte
descendente – Causada pelo fungo Botryodiplodia theobromae. Os sintomas
iniciam pelo secamento dos ramos mais novos, nos quais as folhas
permanecem secas e retidas por até 3 meses. Posteriormente, a doença
atinge os galhos, culminando com a morte da planta. Nos galhos e ramos
mais novos, podem ser observadas rachaduras profundas e lesões escuras.
Sob a casca de ramos, galhos ou troncos afetados pode ser observado um
tecido escuro e necrosado (em decomposição), que progride no sentido da
copa para a base da planta. Como medida de controle, recomenda-se cortar e
queimar os galhos secos e, sobre os cortes ou ferimentos, aplicar uma
pasta bordalesa. 4.2-Mangaba
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Gentianales
Família:
Apocynaceae Nome
Científico:
Hancornia speciosa Nomes
Populares: Mangaba, mangabeira,
mangabiba, mangaíba, mangaiba-uva, mangabeira-de-minas.
Ocorrência:
Cerrado e caatinga, tabuleiros arenosos e chapadas. Distribuição:
Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás,
Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, São Paulo, Tocantins (Almeida et al., 1998).
A mangabeira é abundante em todos os tabuleiros e nas baixadas
litorâneas da região Nordeste, onde se obtém – de forma extrativista – a
quase totalidade dos frutos colhidos (www.seagri.ba.gov.br/mangaba).
Acha-se as frutas também nos cerrados do Centro-oeste, no norte de Minas e
em parte da Amazônia. Floração: de agosto a novembro com pico em
outubro. Frutificação: pode ocorrer em qualquer época do ano mas
principalmente de julho a outubro ou de janeiro a abril (Almeida et al.,
1998). Árvore hermafrodita de porte médio (entre 4 a 7 metros de
altura), dotada de copa arredondada (4 a 6 metros de diâmetro); tronco
tortuoso, bastante ramificado, áspero; ramos lisos, avermelhados; látex
branco abundante. Folhas opostas, lanceoladas, simples, pecioladas,
glabras nas duas faces, brilhantes, coriáceas, de 7 – 10 cm de comprimento
por 3 – 4 cm de largura, coloração avermelhada quando novas e ao caírem.
Inflorescência com cerca de 1 a 7 flores perfumadas de cor branca. Fruto
baga globosa, glabra, com polpa carnosa e comestível, contendo muitas
sementes; pode pesar de 30 a 260 g (Figuras 03 e 04). Conhecendo o
fruto e fazendo dele uso, os indígenas chamavam-no de mangaba – “coisa boa
de comer”. O fruto tem forma de pêra, muito viscoso quando verde, contém
suco leitoso que quase embriaga e pode matar; a polpa é branca, fibrosa e
recobre sementes circulares. Maduro, o fruto tem casca amarelada com
manchas vermelhas, é aromático, delicado, tem ótimo sabor mesmo sendo
ainda um pouco viscoso (www.seagri.ba.gov.br./mangaba). A mangaba só
deve ser consumida quando madura pois, antes disso, pode até mesmo causar
problemas de saúde para quem a consumir. Os frutos não devem ser retirados
da árvore, mesmo que, aparentemente estejam maduros. Devemos aguardar que,
após amadurecerem, caiam no chão para que possam ser colhidos. Para que
possamos consumí-los, entretanto, devemos aguardar 24 horas. Nesta fase, a
fruta está amarelada e apresenta manchas vermelhas
(www.ruralnews.com.br/agricultura/frutas/mangaba).
Atualmente, a sua exploração ainda é feita de modo
extrativista devido ao fato da cultura continuar sendo mantida no seu
habitat natural. A planta produz frutos aromáticos, saborosos e
nutritivos, com ampla aceitação de mercado, tanto para o consumo in natura
quanto para a indústria de doce, sorvete, suco, licor, vinho e vinagre
(www.dhnet.org.br).
O potencial para o aproveitamento da mangabeira inteira é
muito bom, apesar de que apenas os frutos apresentam um valor comercial
significativo. Do tronco, podemos extrair o látex, substituto do látex da
seringueira, mas com qualidade um pouco inferior
(www.ruralnews.com.br/agricultura/frutas/mangaba). A madeira é
empregada apenas para caixotaria e para lenha e carvão
(www.clubedasemente.org.br). Na medicina popular, o chá da folha é usado
para cólica menstrual (Rizzo et al., 1990 apud Almeida et al., 1998) e o
decocto da raiz é usado junto com o quiabinho (Manihot tripartita) para
tratar luxações e hipertensão (Hirschmann e Arias, 1990 apud Almeida et
al., 1998). A árvore é melífera e ornamental. A mangaba é uma fruta
rica em diversos elementos e em sua composição encontramos as vitaminas A,
B1, B2 e C, além de ferro, fósforo, cálcio e proteínas. O valor
energético, em cada 100g de fruta, é de 43 calorias
(www.ruralnews.com.br). No quadro abaixo as propriedades nutritivas da
mangaba (www.belaischia.com.br). Propriedades Nutritivas
por 100 gramas da fruta (polpa):
Vitamina A |
Vitamina B1 |
Vitamina B2 |
Vitamina C |
Niacina |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
(mg) |
30,00 |
40,00 |
40,00 |
33,00 |
0,50 |
|
|
|
|
|
Glicídios |
Proteínas |
Lipídios |
Cálcio |
Fósforo |
(g) |
(g) |
(g) |
(mg) |
(mg) |
10,50 |
0,70 |
0,30 |
41,00 |
18,00 |
Borges et al., (2000), desenvolveram um estudo de
caracterização dos frutos da mangabeira. Os resultados (Tabela 05)
mostraram que os altos conteúdos de sólidos solúveis totais associados com
a alta acidez, além do sabor exótico, conferem à mangaba um sabor muito
apreciado. A quantidade de açúcar em relação aos sólidos solúveis totais
corresponde a, aproximadamente, 77%, e a de açúcares redutores em relação
aos totais, 59%. O teor de compostos fenólicos, em média de 0,31%, é
comparável ao encontrado no pedúnculo do cajueiro-anão precoce, um fruto
bastante adstringente, se ingerido in natura. Uma característica de
fundamental importância para o consumo da mangaba é o elevado teor de
ácido ascórbico presente na polpa, que a coloca entre as frutas
consideradas como ricas fontes de vitamina C, mais que os cítricos,
citados como referência com relação a essa vitamina. Os conteúdos de
amido (0,52%) e de pectina total (0,54%) sugerem que o uso de enzimas pode
aumentar o rendimento na extração de suco dessa fruta.
Características* |
Médias |
Peso Total (g) |
19,82 |
Sementes (%) |
13,23 |
Casca + Polpa (%) |
86,54 |
Comprimento (mm) |
33,37 |
Diâmetro (mm) |
30,12 |
Sólidos Solúveis Totais (ºBrix) |
16,72 |
Acidez Total Titulável (%) |
1,77 |
Sólidos Solúveis/Acidez |
9,51 |
pH |
3,29 |
Açúcares Solúveis Totais (%) |
12,98 |
Açúcares Redutores (%) |
7,72 |
Amido (%) |
0,52 |
Pectina Total (%) |
0,54 |
Pectina Solúvel (%) |
0,24 |
Pectina Fracionada (% - em relação aos SAI) |
A.M. - 10,35 ï B.M.- 1,10 ï Prot. – 0,29 |
Pectinametilesterase (UAE) |
498,39 |
Poligalacturonase (UAE) |
17,33 |
Vitamina C Total (mg/100g) |
139,64 |
Fenólicos Solúveis em Água (%) |
0,29 |
Fenólicos Solúveis em Metanol (%) |
0,33 |
Fenólicos Solúveis em Metanol 50% (%) |
0,31 |
* SIA = sólidos insolúveis em álcool; A.M. = alta metoxilação; B.M. =
baixametoxilação; Prot.= protopectina; UAE = unidades de atividade
enzimática. A mangabeira é uma das mais importantes
produtoras de matéria-prima para a agroindústria de sucos e sorvetes do
Nordeste e Centro Oeste (www.todafruta.com.br). Hoje, o volume de
frutas que chega no mercado é menor que a procura. Nas regiões de maior
ocorrência, muitas pessoas ganham o sustento informalmente com a coleta
das mangabas e venda no mercado. Atualmente, já ocorre a
comercialização, em supermercados, de mangaba em bandejas de isopor
revestidas com filme de PVC com capacidade para 500 g (Lederman et al.,
2000 apud Borges et al., 2000). Alguns cultivos comerciais estão
começando a se estabelecer, mas as poucas informações sobre técnicas de
cultivo ainda limitam a expansão dos pomares comerciais. A mangabeira
é uma planta de clima tropical, vegeta bem em áreas com temperatura média
anual em torno de 25ºC e chuvas entre 750 mm a 1500 mm anuais bem
distribuídas. A planta tolera períodos secos e se desenvolve melhor em
períodos quentes. Apesar de ser encontrada vegetando em solos arenosos,
ácidos, pobres em nutrientes e em matéria orgânica, e de fácil drenagem, a
mangabeira apresenta melhor desenvolvimento em solos areno-argilosos
profundos e com bom teor de matéria orgânica. A mangabeira
multiplica-se por sementes; estas são obtidas de frutos somente maduros –
colhidos ainda “de vez”. Estes frutos devem ser sadios, com quantidade de
polpa de bom aspecto e colhidos de plantas precoces, vigorosas, isentas de
pragas e doenças, e produtivas. Imediatamente após retiradas dos frutos as
sementes devem ser lavadas para eliminação total da polpa e secadas à
sombra sobre jornal por 24 horas. Devem ser semeadas até o quarto dia após
a lavagem. O semeio pode ser feito em canteiros de terra ou em sacos de
polietileno preto com dimensões 14 cm x 16 cm ou 15 cm x 25 cm enchidos
com terra preta e areia lavada – proporção 1:1
(www.seagri.ba.gov.br/mangaba). O uso de calcário e o excesso de irrigação
e/ou matéria orgânica no substrato, para a formação de mudas, prejudica o
desenvolvimento delas, além de favorecer o ataque de doenças do sistema
radicular (Avidos e Ferreira, 2003). A germinação ocorre a partir de 21
dias após o semeio, estendendo-se por 30 dias. O plantio definitivo é
feito cerca de 120 dias após o semeio, no início das chuvas, quando as
mudas tiverem cerca de 20 centímetros de altura. O crescimento é lento. O
espaçamento recomendado em plantio solteiro é de 6 x 4 metros ou 6 x 5
metros. O plantio definitivo deve ser feito em terreno previamente adubado
(um mês antes), com esterco de curral. Adubação orgânica, em geral, é
muito bem aceita. As mudas devem ser colocadas em covas de 50 x 50 x 50
cm. A mangabeira costuma crescer pendida devido à ação do vento e
emitir grande quantidade de ramos laterais, muitos deles junto ao solo.
Portanto, é necessário escorar a planta no lado oposto à incidência dos
ventos, e realizar podas regulares, eliminando-se os ramos que crescem até
a altura de 30 ou 40 cm do solo quando a planta alcançar 80 cm de altura.
Galhos secos e doentes são podados ao longo da vida da planta.
Regularmente, efetuar capina em coroamento em torno da planta e manter o
resto da área roçada. A colheita inicia-se quando a mangabeira chega
aos 5 ou 6 anos de idade, embora já se tenha identificado plantas que
frutificam com 3 anos e meio de idade. Apresenta 2 safras de fruto/ano –
no início e meados do ano -. Quando a mangaba está no ponto máximo de
desenvolvimento, desprende-se da árvore e completa o amadurecimento no
chão, o que demora entre 12 e 24 horas. Quando maduros, os frutos
tornam-se muito perecíveis e devem ser consumidos rapidamente, o que é um
empecilho à comercialização. Por isso, a maior parte da colheita é feita
no pé, e o fruto fica pronto para o consumo em dois a quatro dias. Nesse
caso, deve-se ter experiência para saber a hora exata da colheita. Os
frutos colhidos no chão, chamados “de caída”, são mais valorizados. A
produção de frutos da mangabeira é estimada em quatro
toneladas/hectare/ano. As principais pragas que podem
atacar a mangabeira são: ·
Pulgão verde – ataca principalmente a parte terminal da planta notadamente
nos viveiros causando o enrolamento das folhas; o controle químico pode
ser feito por pulverizações quinzenais de produtos comerciais à base de
pirimicarb, acefato, malation, paratiom.
· Lagartas – ocasionalmente
atacam desfolhando totalmente a planta jovem; o controle pode ser efetuado
pela pulverização de produtos comerciais à base de bacillus thuringiensis,
triclofon, carbaryl (www.seagri.ba.gov.br).
Segundo Silva et al., (2001), podem ocorrer algumas
doenças, entre elas: ·
Podridão de raízes de mudas – Causada pelo fungo Cylindrocladium clavatum,
é a mais grave doença da mangabeira, podendo provocar até 100% de
moralidade das mudas em viveiro.
· Mancha-Foliar – Causada
pelo fungo Pseudocercospora sp., a Mancha-Foliar ataca folhas de mudas e
plantas adultas de mangabeira.
· Antracnose – Causada pelo
fungo Colletotrichum gloeosporioides, ataca as flores, provocando
secamento e abortamento dos frutos. Quando os frutos jovens são atacados,
ficam escuros, murcham e secam. 4.3-
Baru
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Rosales
Família:
Leguminosae Nome
Científico: Dypterix
alata Vog. Nomes Populares:
baru, barujó, castanha-de-ferro, coco-feijão, cumaru-da-folha-grande,
cumarurana, cumaru-verdadeiro, cumaru-roxo, cumbaru, cumbary,
emburena-brava, feijão-coco, meriparagé, pau-cumaru
Ocorrência:
Cerrado, Cerradão Mesotrófico, Mata Mesofítica. Distribuição:
Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo (Almeida et al., 198).
Floração:
de novembro a maio.
Frutificação:
de outubro a março. Árvore hermafrodita de até 15 m de
altura, com tronco podendo atingir 70 cm de diâmetro e copa medindo de 6 a
8 m de diâmetro, densa e arredondada. Folhas compostas por 6 a 12
folíolos, alternos ou subopostos, de coloração verde intensa.
Inflorescência panícula terminal e nas axilas das folhas superiores, com
cerca de 200 a 1000 flores, caducas antes da antese. Flores pequenas, de
coloração alva e esverdeada. Fruto tipo legume, com 5 a 7 cm de
comprimento por 3 a 5 cm de diâmetro, de cor marrom-claro com amêndoa e
polpa comestíveis. Semente única, marrom-claro e marrom-escuro, cerca de 2
a 2,5 cm de comprimento, elipsóide, brilhante (Figura 05).
FIGURA 05 – Ramos e frutos de Baru Fonte: Almeida et al., 1998.
O valor calórico da polpa é de 310 kcal/100 g, com alto teor de
carboidratos (63%); é rica em potássio (572mg/100 g), cobre (3,54 mg/100
g) e ferro (5,35 mg/100 g) (Vallilo et al., 1990 apud Almeida et al.,
1998). Destaca-se o elevado teor de fibra insolúvel (28,2%), de açúcar
(20,45%) e de taninos (3%) para frutos ainda na árvore (Togashi, 1993 apud
Almeida et al., 1998). A semente do baru é rica em cálcio, fósforo e
manganês, apresenta 560 kcal/100 g, com cerca de 42% de lipídios e 23% de
proteína. O óleo é rico em ácidos graxos insaturados (80%), sendo o
componente principal o ácido oléico (44,53%) seguido do linoléico (31,7%),
palmítico (7,16%), esteárico (5,33%) e outros, além da vitamina E (13,62
mg/100 g) (Togashi, 1993 apud Almeida et al., 1998). O óleo extraído do
fruto é volátil, incolor e espesso. A semente apresenta também alto teor
de macro e micronutrientes (mg/100 g): K (811), P (317), Mg (143), Mn
(9,14), Fe (5,35), Zn (1,04) e Cu (1,08) (Vallilo et al., 1990 apud
Almeida et al., 1998). Nas folhas a concentração de macronutrientes
apresentou valores médios de P(0,14%), Ca (0,68%), Mn (150 ppm) e Zn (40
ppm) (Araújo, 1984 apud Almeida et al., 1998). Estudando o
comportamento dessa espécie, em competição, Toledo Filho 1985 apud Almeida
et al., 1987), recomenda-a tanto para ornamentação de ruas e praças quanto
para o aproveitamento silvicultural. Planta ornamental, de copa larga,
com bonita folhagem e ramos que oferecem resistência ao vento. Fornece
madeira de cor clara, compacta, resistente às pragas, própria para
construção de estrutura externas como: estacas, postes, moirões, obras
hidráulicas, dormentes, bem como para construção civil e naval, para
vigas, caibros, batentes de porta, assoalhos e carrocerias (Corrêa, 1931;
Lorenzi, 1992 apud Almeida et al., 1998). O gosto da amêndoa do baru,
parecido com o do amendoim, leva a população da região a atribuir-lhe
propriedades afrodisíacas: diz-se que na época do baru, aumenta o número
de mulheres que engravidam. O que já se sabe é que o baru tem um alto
valor nutricional que, superando os 26% de teor de proteínas, é acima do
encontrado no coco-da-baía. A amêndoa do baru pode (Figura 06) ser
comida crua ou torrada e, nesse último caso, substitui com equivalência a
castanha-de-caju, servindo como ingrediente em receitas de pé-de-moleque,
rapadura e paçoquinha
(www.bibvirt.futuro.usp.br/especiais/frutasnobrasil/baru). FIGURA
06 – Detalhe da amêndoa do Baru Fonte: Biblioteca Virtual do Estudante
Brasileiro Para se obterem as amêndoas, tem-se primeiramente que
retirar a polpa com faca. Os frutos despolpados são quebrados com o
auxílio de uma morsa (torno fixo de oficina mecânica) ou martelo, processo
esse bastante rápido. Recomenda-se quebrar somente aqueles frutos cujas
amêndoas sacodem ao balançá-los, porque os outros não contêm amêndoas. A
vantagem de se usar a morsa é que as amêndoas não são danificadas, sendo,
por esse fato, usadas também para a formação de mudas (Almeida et al.,
1987). Ferreira (1980 apud Almeida et al., 1987) relata que as
sementes do baru fornecem um óleo de primeira qualidade, que tanto é
utilizado como aromatizante para o fumo como anti-reumático na medicina
popular. A polpa é bastante apreciada pelos bovinos, suínos e animais
silvestres, que a consomem quando os frutos caem no chão ou das raspas que
sobram da retirada da semente para consumo humano (Almeida et al., 1990
apud Almeida et al., 1998). Os frutos maduros são procurados por
morcegos e macacos. Os macacos chegam a atrapalhar a dispersão pois
conseguem quebrar o fruto com pedra e comer as amêndoas (Ferreira, 1980
apud Almeida et al., 1998). Embora tenha bom potencial econômico, o
fruto não é comercializado nas cidades. Pode ser apreciado apenas como
planta nativa nas fazendas do centro-oeste, onde alguns fazendeiros se
preparam para iniciar seu cultivo racional principalmente em meio a áreas
de pastagens (Avidos e Ferreira, 2003). Para se efetuar a colheita de
frutos de espécies arbóreas como Pequi, Jatobá, Cagaita e Baru deve-se
estender uma lona, forro de pano ou de plástico ao redor da planta,
balançar levemente os galhos e recolher os frutos sadios, sem vestígios de
ataques de pragas ou de doenças, e acondicioná-los em recipientes
adequados para o transporte (Silva et al., 2001). Para a formação das
mudas usam-se as sementes ou amêndoas. Quando se faz a semeadura com
sementes nuas, a germinação é mais rápida do que com o fruto inteiro.
Sobre esse aspecto, Filgueiras & Silva (1975) apud Almeida et al.,
(1987) citam que as sementes nuas levaram treze dias para germinar,
enquanto no fruto inteiro demoraram 42 dias. As mudas dessa espécie
devem ser mantidas a pleno sol, pois na sombra podem sofrer ataque de
fungos Cilindrocladium sp. e outras pragas. Nogueira & Vaz (1993) apud
Almeida et al., (1998), obtiveram mudas de 15 cm de altura após 40 dias da
semeadura. Foi observado ainda que o crescimento da parte subterrânea é
mais rápido que o da parte aérea. A frutificação inicia-se aos seis
anos (Carvalho, 1994 apud Almeida et al., 1998). 4.4-
Cagaita
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Myrtales
Família:
Myrtaceae Nome
Científico: Eugenia
dysenterica Dc. Nomes
Populares: cagaita, cagaiteira
Ocorrência:
Cerradão Mesotrófico e Distrófico, Cerrado sentido restrito
Distribuição:
Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Groso do Sul,
Minas Gerais, Pará, Piauí, São Paulo, Tocantins
Floração:
de agosto a setembro
Frutificação:
de setembro a novembro Árvore hermafrodita com 6 a 8 m de
altura por 6 a 8 m de diâmetro de copa, com ramos tortuosos, casca do
tronco suberosa, profundamente sulcada e gretada. Folhas verdes,
brilhantes e quando jovens verde-claras, chegando a ser ligeiramente
translúcidas (www.agro-fauna.com.br). São opostas, simples e caducas na
floração (Almeida et al., 1998). Inflorescência racêmulos umbeliformes
ou alongados pelo posterior desenvolvimento vegetativo da gema terminal,
simulando flores isoladas, axilares, geralmente com 4 flores, raramente 2
a 6 (Almeida et al., 1998). Flores brancas e aromáticas
(www.agro-fauna.com.br). Fruto globoso e achatado, de coloração
amarelo-pálido, com 1 a 3 sementes brancas envoltas em polpa de coloração
creme, de sabor acidulado (www.agro-fauna.com.br). O fruto mede de 3 a 4
cm de comprimento por 3 a 5 cm de diâmetro (Figura 07) e pesa de 14 a 20 g
(Silva et al., 2001).
FIGURA 07 –
Cagaita (Eugenia dysenterica DC.) Myrtaceae. A. ramo com frutos; B. fruto
inteiro e partido; C. polpa comestível; D. semente. Fonte: Almeida et
al., 1987. Parente da pitanga, do araçá e da
uvaia, a cagaita é uma frutinha arredondada de cor amarela suave. De fina
casca, tem um sabor ácido e é bastante suculenta, apresentando cerca de
90% de suco em seu interior (Figura 08). Apesar de seu sabor agradável
e de sua natureza refrescante, o povo da região dos cerrados sabe que, por
um capricho da natureza, a cagaita é uma fruta que deve ser saboreada com
moderação. Quem não quiser acreditar, ficará sabendo que os nomes
populares e científicos das frutas têm sua razão de ser. O fato é que,
consumida em excesso, a cagaita provoca uma fermentação, estimuladora do
funcionamento intestinal e causadora de uma espécie de mal-estar
semelhante à embriaguez. Por outro lado, a infusão da folha e da casca da
árvore tem efeito contrário, sendo muito utilizada pela medicina popular
como anti-diarréico. No Centro de Tecnologia Agroindustrial da
EMBRAPA, com sede no Rio de Janeiro, desenvolvem-se e testam-se novas
receitas de sucos, geléias e doces, com amostras de frutas do Cerrado.
Ali, juntamente com a amêndoa torrada do baru, o suco de cagaita constitui
um dos produtos da preferência dos visitantes e funcionários. Foi ali
também que se comprovou aquilo que o nativo já sabia há tempos; se a fruta
in natura provoca reações intestinais desagradáveis, a sua polpa,
utilizada como ingrediente de sucos, geléias, refrescos, sorvetes, doces,
geléias e licores, conserva apenas as suas características agradáveis de
sabor e perfume (www.bibvirt.fututo.usp.br). Árvore melífera (Brandão
& Ferreira, 1991 apud Almeida et al., 1998) é também ornamental.
Quando em floração oferece um bonito visual, uma vez que na época seca a
folhagem que cai é substituída pelas folhas novas avermelhadas, e pelas
flores alvas que são abundantes e perfumadas. Fornece madeira para
pequenas obras de construção civil, mourões, lenha e carvão. A casca serve
para indústria de curtume (Corrêa, 1926 apud Almeida et al., 1998). É uma
das corticeiras do Cerrado, com 1 a 2 cm de espessura (Macedo, 1991 apud
Almeida et al., 1998). Quanto ao uso medicinal, além do efeito purgativo
dos frutos, a garrafada das folhas produz efeito contrário, sendo
antidiarréico e também utilizada para combater problemas cardíacos
(Ferreira, 1980 apud Almeida et al., 1998). Quando submetida à
fermentação, produz vinagre e álcool (Corrêa, 1926 apud Almeida et al.,
1998). O fruto é também consumido pelo gado. Foram identificados
fragmentos de frutos, sementes e folhas em material de fístula esofágica
de bovinos entre os meses de julho a novembro, comprovando a sua
seletividade na época seca (Macedo et al., 1978 apud Almeida et al.,
1998).
FIGURA 08 – Detalhe dos frutos da Cagaiteira Fonte:
Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A
distribuição espacial da espécie varia entre regiões, dentro da grande
região do cerrado. Em algumas áreas ocorre de forma contínua em grandes
extensões, formando, portanto, grandes populações. Em outros casos, a
ocorrência se dá em agregados, com sub-populações geograficamente
descontínuas, mesmo quando existem áreas preservadas. Certamente, a
ocupação agrícola do cerrado tem favorecido rapidamente a fragmentação de
populações naturais, o que passa a ser uma preocupação em termos de
conservação genética. Em levantamento realizado em 50 áreas de cerrado
pouco antropizado do Estado de Goiás, de 1,0 hectare cada, Naves (1998)
apud Chaves (2003) encontrou a espécie ocorrendo em apenas 10 áreas. Em
uma delas foi registrada a ocorrência de 162 indivíduos, mostrando o
caráter de distribuição em agregados. Telles (2000) apud Chaves (2003),
avaliou a estrutura genética de 10 sub-populações do sudeste de Goiás,
utilizando marcadores izoenzimáticos. Os resultados mostraram a ocorrência
de uma grande variabilidade entre sub-populações (GST = 0,164) e uma taxa
aparente média de fecundação cruzada de 83,5%, caracterizando a espécie
como de sistema misto de fecundação . Pelos levantamentos
fitossociológicos, foi constatada a baixa densidade dessa espécie tanto em
Cerradão Distrófico como em Cerrado sentido restrito do Distrito Federal,
com cerca de 4 indivíduos/ha (Ribeiro et al., 1995 apud Almeida et al.,
1998), porém muito alta no Cerrado de Paraopeba, MG, com 110 indivíduos/ha
(Silva Júnior, 1984 apud Almeida et al., 1998). Essa espécie, portanto,
parece estar relacionada com solos de menor fertilidade, pois nesse
ambiente, atingiu o mais alto índice de valor de importância (IVI).
Provavelmente apresenta maior capacidade de competição em solos com menor
disponibilidade de água e com baixa fertilidade, podendo ser considerada
uma indicadora de tais tipos de solo (Silva Júnior, 1984; Silva Júnior et
al., 1987 apud Almeida et al., 1998). A espécie é polinizada por
abelhas, capaz de autopolinização e a percentagem de botões que se
transforma em frutos é da ordem de 6,8%; a floração é maciça, dura pouco e
cerca de dois a três semanas depois amadurecem os frutos, sendo portanto,
o ciclo reprodutivo muito curto (Proença & Gibbs, 1994 apud Almeida et
al., 1998). Em áreas naturais, as sementes devem germinar no início da
estação chuvosa uma vez que na seca perde seu poder germinativo. Não há,
portanto, impedimento ecológico para a germinação (Rizzini, 1971 apud
Almeida et al., 1998). Os frutos são coletados no chão ou “de vez”,
sacudindo-se levemente os ramos da árvore. Após a lavagem, colocam-se os
frutos maduros numa peneira, sobre um vasilhame de boca larga (bacia,
balde). Em seguida, com as mãos, espremem-se os frutos, pressionando-os
sobre a peneira, processo esse bastante rápido e de grande eficiência. Na
peneira ficam retidas as cascas e as sementes. Essas sementes, após a
secagem, podem ser usadas para produção de mudas (Almeida et al., 1987).
No viveiro e no campo, após o plantio, as mudas mostram um rápido
crescimento e aos quatro anos de idade já iniciam a frutificação (Avidos e
Ferreira, 2003). A cagaiteira produz de 500 a 2000 frutos (Silva et
al., 2001). A produção de frutos por árvore é excelente, mas irregular. Os
frutos são climatéricos, conservam-se por três dias a 28ºC e por 13 dias a
15ºC. São sensíveis no resfriamento a 4ºC, apresentando lesões no terceiro
dia de armazenamento (Calbo et al., 1990 apud Almeida et al., 1998).
4.5- Araticum
Divisão: Magnoliophyta
(Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Magnoliales
Família:
Annonaceae Nome
Científico: Annona
crassiflora Mart. Nomes
Populares: araticum, bruto,
cabeça-de-negro, marolo, pinha-do-cerrado, araticum-do-cerrado.
Ocorrência:
Cerradão, Cerrado, Cerrado Denso, Cerrado Ralo, Campo Rupestre.
Distribuição:
Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Pará, Piauí, São Paulo, Tocantins
Floração:
principalmente de setembro a novembro.
Frutificação:
de novembro a março. Árvore hermafrodita com 6 a 8 m de
altura por 2 a 4 m de diâmetro da copa. Apresenta caducifolia na época
seca. Folhas rígidas, dispostas caracteristicamente intercaladas na
posição horizontal ao longo dos ramos (Figura 09). Flores
freqüentemente carnosas, de coloração esverdeada ou branco-amarelada
(www.agrofauna.com.br). Fruto com até 15 cm de diâmetro e peso de 0,5
a 4,5 kg; oval a arredondado, externamente marrom-claro e internamente com
uma polpa creme amarelada, mole, aquosa, com numerosas sementes elípticas
e marrom-escuras. Casca lisa ou recoberta por escamas carnosas.
Gottsberger (1989) estudou a biologia da polinização dessa espécie. As
flores são hermafroditas, apresentam protoginia e termogênese. Em geral, o
início do aquecimento no interior da flor ocorre ao anoitecer, podendo
chegar até 10ºC acima da temperatura do ar, mas uma chuva ou mesmo uma
flutuação na temperatura do ar pode provocar queda de temperatura no
interior da flor. Com o aumento da temperatura da flor, exala forte odor
que atrai besouros. Os primeiros escarabídeos Cyclocephala atricapilla
penetram nas flores por volta das 19 horas, perfuram as pétalas internas,
e depois saem ou iniciam a cópula. Por volta de 22 e 24 horas, os estames
deiscentes caem no interior da câmara floral, e posteriormente as pétalas
separam-se do receptáculo floral, caindo no chão. Alguns besouros
permanecem no interior do anel de pétalas durante o dia, no chão, saindo
somente no início da noite, cobertos de pólen para visitar outras flores
recém-abertas. Outros visitantes foram observados mas parecem ser
acidentais (Gottsberger, 1989 apud Almeida et al., 1998). A árvore, de
maneira geral, apresenta baixa produção de frutos (Ribeiro et al., 1981
apud Almeida et al., 1997), mas, em compensação, um fruto pode pesar em
média até 2 kg, apresentando uma média de rendimento de polpa em torno de
50% (Figura 10). Os frutos verdes podem apresentar rachadura profunda de
cor escura, devido ao ataque de insetos (curculionídeos) (Almeida et al.,
1987).
FIGURA 09
– Araticum (Annona
crassiflora Mart.) Annonaceae. A . ramo florídeo; B. fruto inteiro e
partido; C. polpa comestível; D. semente.
Fonte: Almeida et al.,
(1987).
FIGURA 10
– Frutos de
Araticum Fonte: Almeida et al., 1998. Cada 100 g da
polpa contém: 52 calorias, 0,4 g de proteína, 52 mg de Ca, 24 mg de P, 2,3
mg de Fe, 21 mg de vitamina C, 50 mg de vitamina A, 0,04 mg de vitamina B1
e 0,07 mg de vitamina B2 (Almeida et al., 1990 apud Almeida et al., 1998).
Segundo Maria do Carmo C. Sanchotene, em língua guarani, araticum
significa “fruto mole”, que é como esses frutos de aparência áspera e rude
ficam ao amadurecer, desmanchando-se facilmente. Entre todas as frutas
conhecidas em nosso planeta, não há família mais complicada que a das
Anonáceas, do ponto de vista das muitas variedades existentes, das
semelhanças entre os frutos e das diferentes denominações populares que
lhe foram atribuídas ao longo do tempo, na história. O
araticum-do-cerrado (Annona crassiflora) é mais um deles. Com esse nome
ele é conhecido na região central do Brasil, nos cerrados que ele carrega
no nome. Como marolo, é conhecido por todo o sul de Minas Gerais, onde é
nativo e espontâneo nos enclaves de campos cerrados existentes na região.
Basicamente, com relação à qualidade da polpa, distingue-se dois tipos
de frutos assim denominados; o araticum de polpa rosada, mais doce e mais
macio, e o de polpa amarelada, não muito macio e um pouco ácido. Em ambos
os casos, o processo de obtenção de polpa, que pode ser congelada, é
semelhante, sendo lento, manual e de pouco rendimento. Entre as frutas
nativas brasileiras que não se transformaram em espécies cultivada, o
araticum-do-cerrado é uma das que apresenta o maior índice de
aproveitamento culinário. Além do consumo in natura, são inúmeras as
receitas de doces e bebidas que levam o sabor perfumado e forte de sua
polpa, acrescida, muitas vezes, pelos sabores de outras frutas: batidas,
licores, refrescos, bolachas, bolos, sorvetes, cremes, geléias, gelatinas,
compotas, quindim, docinhos, doces-de-coco, doces-de-leite, etc.
(www.agro-fauna.com.br). Para uso alimentar, os frutos, com aroma
bastante forte, são muito apreciados pela sua polpa doce e amarelada
(Ferreira, 1973b; Rizzini & Mors, 1976 apud Almeida et al., 1998). Na
medicina popular, a infusão das folhas e das sementes pulverizadas servem
para combater a diarréia e induzir a menstruação (Guia, 1986; Ferreira,
1980a; Siqueira, 1981 apud Almeida et al., 1998). Foi detectado na
região de Doverlândia, Goiás, o uso das sementes contra afecções
parasitárias do couro cabeludo; depois de pulverizadas são misturadas com
óleo e faz-se massagem no cabelo (Almeida et al., 1998).
Os frutos maduros, com tamanho médio de 16 cm de altura x
52 cm de circunferência, podem ser coletados no chão. Nessa fase, são
altamente perecíveis, devendo, portanto, ser imediatamente utilizados. O
forte aroma característico que exala indica a certa distância a presença
de araticum maduro no local. Na árvore, também pode ser coletado “de vez”,
mas é necessário que haja pequenos sinais de abertura na casca. A vantagem
da coleta nessa fase de pré-maturação é que se obtêm frutos íntegros após
completarem a maturação, evitando contaminações e perda de material, uma
vez que a queda dos frutos das árvores provoca rachaduras dos mesmos e
facilita o ataque de insetos. Permite também melhor facilidade de
transporte e conseqüente comercialização (Almeida et al., 1998).
Observações realizadas em arboreto mostram que o araticunzeiro é uma
das espécies frutíferas nativas mais precoces o que representaria uma
vantagem no caso de plantios comerciais. Atualmente, o principal problema
técnico para estabelecimento da cultura é a baixa porcentagem e elevado
tempo de germinação de sementes. Estudos para quebra de dormência estão
sendo conduzidos com bons resultados iniciais. A campo, observa-se em
geral, um baixo índice de frutificação, na maioria das plantas, além da
ocorrência de alguns insetos que danificam o fruto (Chaves, 2003).
Estudos recentes indicam que apesar de a germinação de sementes ser
demorada, ela é significativa (Machado et al., 1986 apud Almeida et al.,
1998). Como a dispersão dos frutos ocorre no final da estação chuvosa, de
março a abril, é importante para a espécie uma estratégia que favoreça a
germinação tardia. Se a germinação fosse imediata, as plântulas não teriam
condições de formar um sistema radicular para resistir a todo o período
seco (Almeida et al., 1998). O araticunzeiro é uma espécie
relativamente comum no Cerrado (Ribeiro et al., 1997 apud Chaves, 2003).
No trabalho de Naves (1998) apud Chaves (2003), a espécie ocorreu em 37
áreas das 50 amostradas, com um máximo de 94 plantas em 1,0 hectare.
Chaves et al., (1994) mostraram a existência de grande variabilidade
genética entre progênies para os caracteres velocidade e percentagem de
emergência de plântulas, em uma população dispersa de dois municípios da
região sudeste do Estado de Goiás. Telles e Coelho (1998) apud Chaves
(2003), analisaram seis populações do mesmo estado, utilizando quatro
sistemas enzimáticos. Os resultados mostraram uma estrutura da
variabilidade genética caracterizada por uma grande divergência entre
populações (19% da variabilidade genética total). A taxa de fecundação
cruzada mostrou uma predominância de reprodução por alogamia, nas
populações estudadas. Segundo Silva et al., 2001, entre as doenças que
acometem o Araticum em estado nativo, destacam-se a Antracnose
(Colletotrichum gloeosporioides) e a Podridão-Parda (Rhizopus stolonifer).
A Antracnose ataca principalmente, as mudas em viveiro, provocando lesões
grandes, de até 4 cm de diâmetro e com coloração marrom-escura nas folhas,
podendo provocar a morte das mudas. Em plantas adultas, se houver chuvas
durante a floração e a formação de frutos, a Antracnose provoca morte e
queda de frutinhos e de botões florais. A Podridão-Parda aparece,
principalmente, nos frutos prestes ao amadurecimento. O fungo penetra pelo
pedúnculo ou por ferimentos provocados por brocas. Quando o fungo penetra
pelo pedúnculo, ocorrem rachaduras profundas, onde pode ser observado um
crescimento micelial branco, que posteriormente torna-se escuro. Pode
ocorrer intensa queda e o total apodrecimento de frutos tornando-os
impróprios para o consumo. Sob condições de cultivo, recomenda-se apanhar
os frutos doentes e queimá-los. 4.6-
Buriti
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Arecales
Família:
Palmae Nome
Científico: Mauritia
vinifera Mart. Nomes
Populares: buriti,
carandá-guaçu, carandaí-guaçu, miriti, muriti, palmeira-buriti,
palmeira-dos-brejos
Ocorrência:
Por onde passa um rio, riacho ou ribeirão, em suas margens, em meio aos
campos tropicais do cerrado e nos, assim chamados “lavrados” dos campos de
Boa Vista em Roraima – enclaves de vegetação semelhante a do Brasil
central em meio à floresta tropical – florescem as matas de galerias e,
nelas, os buritis. Um pouco além da mata, ladeando-as, as veredas bem
marcadas de areias claras e vegetação mais rasteira
(www.bibvirt.futuro.usp.br/especiais/frutasnobrasil/buriti,html).
Distribuição:
Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Pará, Piauí, São Paulo, Tocantins e sul da planície
Amazônica.
Floração:
de dezembro a abril.
Frutificação:
de dezembro a junho. Palmeira hermafrodita de porte
elegante, com 10 a 15 m de altura por 4 a 6 m de diâmetro de copa. O
tronco (estipe) é ereto, cilíndrico e robusto. Folhas de 5 a 30, grandes,
brilhantes, em forma de leque, aglomeradas no ápice do estipe (Figura 11).
FIGURA 11 – Palmeira
Buriti
Fonte: Silva et al., 2001
Flores em longos cachos de até 3 m de
comprimento, de coloração amarelada, surgem de dezembro a abril. Fruto
elipsóide, castanho-avermelhado, superfície coberta por escamas, com polpa
marcadamente amarela e rica em cálcio. Produz de 2000 a 6000
frutos/planta, medindo cada fruto 5 a 6 cm de comprimento por 4 a 5 cm de
diâmetro (Figura 12). Semente oval dura e amêndoa comestível.
FIGURA 12 – Coco de Buriti Fonte: Silva et al., 2001
Souza (1982) apud Almeida et al., (1998), avaliou a
composição química da polpa do buriti, durante o processo de
amadurecimento do fruto em três estágios: semi-maduro, fruto climatizado e
maduro ao natural. Os resultados em porcentagem foram respectivamente:
umidade: 60,27; 72,69; 74,19; proteína: 3,42; 2,27; 2,67; lipídios: 2,12;
2,60; 2,49; fibra: 7,90 6,21; 5,89; açúcares redutores: 2,89; 3,43; 4;37;
açúcares não redutores: 0,14; 0,77; 0,87; amido: 11,77; 4,65; 4,52;
glicídios totais: 14,80; 8,85; 9,76; cálcio (mg/100g): 159,07; 105,57;
121,60; ferro (mg/100g): 1,72; 1,02; 0,62; fósforo: (mg P2O5/100g): 20,62;
17,33; 15,65; pH: 3,70; 3,53; 3,55. A polpa, que corresponde a cerca
de 30% do peso do fruto seco, contém 23% de óleo com 0,885 de densidade. É
rica em pró-vitamina A (500.000 UI), com índice de 300 mg/100g no óleo,
que possui alto teor em ácido oléico e ácidos insaturados, muito superior
aos óleos de dendê e de piqui (Brasil, 1985 apud Almeida et al., 1998).
Nas regiões onde ocorre, o buriti é a planta mais importante entre
todas as outras, de onde o homem local, herdeiro da sabedoria dos
indígenas nativos, aprendeu a retirar parte essencial de seu sustento.
Os cachos carregados de frutos e as folhas de que necessita, são
apanhados lá no alto, cortados no talo com facão bem afiado para não
machucar a palmeira. Depois disso, o experiente sertanejo pula, usando as
largas folhas do buriti como se fossem pára-quedas, pousando suavemente na
água.
Dos frutos do buriti – um coquinho amarronzado que,
quando jovem, possui duras escamas que vão escurecendo conforme amadurecem
– aproveita-se a polpa amarelo-ouro. Para extraí-la é preciso, antes,
amolecer aquelas escamas por imersão em água morna ou abafamento em folhas
ou em sacos plásticos (www.bibvirt.futuro.usp.br). Da polpa do fruto
se faz um doce que movimenta o comércio de certos locais no interior de
Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso
(www.agrov.com/flores/buriti). É palmeira ornamental da folhagem ao
cacho dos frutos. Da parte vegetativa, extrai-se o palmito; do caule,
retira-se uma seiva adocicada que contém cerca de 93% de sacarose e da
qual fabrica-se vinho; da medula do tronco retira-se a ipurana, uma fécula
cuja qualidade e sabor assemelham-se ao sagu e farinha de mandioca
(Brasil, 1985 apud Almeida et al., 1998). A polpa amarelo-ouro, que
envolve o caroço do fruto, pode ser consumida ao natural ou mesmo usada
para fabricar doces, sorvetes, cremes e compotas, sendo também utilizada
na confecção de uma espécie de vinho caseiro (Almeida et al., 1998). Da
polpa de seus frutos é extraído um óleo comestível que possui altos teores
de vitamina A. Esse mesmo óleo também é utilizado contra queimaduras, por
possuir um efeito aliviador e cicatrizante
(portalamazonia.globo.com./frutas/buriti). Possui propriedades energéticas
e vermífugas (Penna,1946 apud Almeida et al., 1998). O óleo da polpa é
usado na cozinha como tempero ou para produzir sabão. A inflorescência
possui um líquido rosado, viscoso, com 50% de glicose, que foi muito
utilizado na alimentação por soldados brasileiros na Guerra do Paraguai.
As sementes são usadas no Ceará para alimentação de suínos. As folhas
maduras servem para cobertura de casas rústicas e as novas fornecem embira
bastante resistente muito utilizada no artesanato regional para confecção
de redes, chapéus e balaios. O pecíolo leve e poroso é um material macio e
fácil de trabalhar, sendo empregado em artesanato construindo-se gaiolas,
alçapões, brinquedos e móveis, além de balsas e remos. O tronco é
resistente permitindo sustentação de residências simples e quando oco é
utilizado para calhas. Recentemente, pesquisadores da Universidade
Federal do Pará descobriram que o óleo de buriti ao natural pode ser usado
como protetor solar, porque absorve completamente as radiações
eletromagnéticas de comprimento de onda entre 519 nm (cor verde) e 350 nm
(ultravioleta), as mais prejudiciais à pele humana (Almeida et al., 1998).
A polpa pode ser congelada e conservada por mais de ano, sendo
utilizada praticamente da mesma forma que a polpa fresca
(www.bibvirt.futuro.usp.br). No que diz respeito a produção de mudas
para cultivo, a germinação é lenta e irregular. No período de 60 dias
germinam cerca de 30% e mais 30% germinam aos 10 meses após a semeadura.
As mudas podem ser produzidas em laboratório através da cultura de
embriões. O crescimento da planta é lento. 4.7-
Gabiroba
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Mirtales
Família:
Myrtaceae Nome
Científico:
Compomanesia cambessedeana Berg. Nomes
Populares: Gabiroba, guabiroba,
guavira, guariba.
Ocorrência:
Campo Cerrado, Sujo, Cerrado. Distribuição:
Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, São Paulo, Tocantins.
Floração:
de agosto a novembro com pico em setembro, em alguns anos até fevereiro.
Frutificação:
de setembro a novembro, em alguns anos até fevereiro.
Arbusto hermafrodita com 60 a 80 cm de altura por 60 a 80 cm de
diâmetro de copa. Normalmente ocorrem em moitas. Folhas verde-claras.
Flores pequenas de coloração creme-esbranquiçada (Figura 13).
FIGURA 13 – Arbusto Fonte: Silva, et al., 2001
Frutos
arredondados de coloração verde-amarelada. Polpa amarelada, suculenta,
envolvendo numerosas sementes. Frutifica de setembro a dezembro (Avidos e
Ferreira, 2003). Produz de 30 a 100 frutos por planta, com dimensões de 1
a 3 cm de comprimento por 2 a 3 cm de diâmetro. Pesa de 1 a 3 g, com 6 a 8
sementes por fruto (Silva et al., 2001) (Figura 14). FIGURA 14 –
Frutos de Gabiroba Fonte: Silva, et al., 2001
Gabiroba, palavra
de origem guarani, de acordo com Maria do Carmo C. Sanchotene, quer dizer
“árvore de casca amarga”. Importante elemento de reconhecimento da
espécie, aliás, a casca do tronco da gabirobeira, como a da maioria das
Mirtáceas, vai se desprendendo em lascas e deixando grandes manchas mais
claras por toda a sua extensão, o que lhe confere um bonito aspecto.
Existem no Brasil, no entanto, muitas espécies e variedades de frutas
que levam esse mesmo nome de origem indígena. Algumas se desenvolvem em
formações arbustivas; outras têm o porte de grandes árvores e chegam a
alcançar entre 8 e 25 metros de altura. Na verdade, acredita-se que a
gabiroba seja nativa dos campos cerrados do Centro-Oeste e do Sudeste do
país, onde é, especialmente, abundante a ocorrência de suas variedades
arbustivas e silvestres. A gabirobeira é árvore rústica, pouco
exigente de cuidados, nascendo naturalmente mesmo em terrenos pobres
(www.bibvirt.futuro.usp.br/especiais/frutasnobrasil/gabiroba). Além do
consumo in natura, a gabiroba pode ser aproveitada na forma de sucos,
doces e sorvetes, bem como servir de matéria-prima para um saboroso licor
(Avidos e Ferreira, 2003). A madeira é empregada localmente para
produção de carvão vegetal e lenha. Madeira de alta densidade sujeita ao
rachamento na secagem e pouco durável. Os frutos são comestíveis e
muito apreciados pelas aves. A árvore pode ser aproveitada para
arborização em geral e recomendada para recuperação de áreas degradadas
(www.tree4life.com/guabi). À semelhança de mangaba, suas sementes
perdem rapidamente o poder germinativo. Por isso, devem ser semeadas logo
após a sua extração dos frutos (Avidos e Ferreira, 2003). Deve-se
colher os frutos diretamente da árvore quando iniciar a queda espontânea
ou recolhê-los no chão. Em seguida deixá-los amontoados em saco plástico
até iniciar o apodrecimento da polpa para facilitar a remoção das
sementes, o que pode ser obtido lavando-se as sementes em água corrente
dentro de uma peneira. Deixar as sementes secarem à sombra sem contudo
desidratá-las. Um quilo de sementes assim preparadas contém
aproximadamente 24.000 unidades. Colocar as sementes para germinação
imediatamente após a sua colheita e preparo em canteiros semi-sombreados.
A germinação das sementes ocorre em poucas semanas e a taxa da germinação
geralmente é baixa. Recomenda-se o plantio em céu aberto e em
capoeiras altas e baixas. Crescimento moderado (www.tree4life.com/guabi).
A gabirobeira começa a produzir frutos à partir de um a dois anos após
o plantio. 4.8- Jatobá
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Rosales
Família:
Leguminoseae Nome
Científico: Hymenaea
stigonocarpa Mart. Nomes
Populares: jataí-do-ampo,
jataí-de-piauí, jatobá, jatobá-capão, jatobá-de-caatinga,
jatobá-do-cerrado, jatobá-da-serra, jatobá-de-casca-fina, jatobeira,
jitaé, jutaé, jutaí, jutaicica.
Ocorrência:
Cerradão, Cerrado. Distribuição:
Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, São Paulo, Tocantins.
Floração:
de outubro a abril com pico de dezembro a março.
Frutificação:
de julho a novembro.
Árvore hermafrodita com 5 a 7 m de altura por
7 a 8 m de diâmetro de copa. Tronco de casca sulcada, dura, espessa e
acastanhada, ramos tortuosos, avermelhados e sem pêlos (Brandão et
al., 1992). Folhas alternas, compostas bifoliadas. Flores com cerca
de 2 a 3,5 cm, brancas (Figura 15).
FIGURA 15 –
Jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart.) Leguminoseae Caesalpinoideae. A. ramo
com fruto; B. polpa farinácea comestível; C. semente. Fonte: Silva, et
al., 2001 Fruto legume indeiscente com cerca de 6 a 18 cm
de comprimento por 3 a 6 cm de diâmetro; externamente castanho-avermelhado
ou preto; com polpa branca e amarelada, farinácea; peso de 20 a 60g;
poucas sementes (3 a 6); de cheiro acentuado(Figura 16).
FIGURA 16 – Detalhe Frutos de Jatobá Fonte: Silva, et
al., 2001 O jatobazeiro, leguminosa arbórea comum dos
Cerrados, além de fornecer frutos com polpa farinácea com emprego na
culinária regional, é também importante por outros aspectos. A madeira é
de boa qualidade, sendo empregada regionalmente em cercas, esteios, postes
(Siqueira 1981 apud Almeida et al., 1987). Da casca do tronco são
retiradas resinas, consideradas como alguns dos melhores copais (resinas
viscosas) utilizadas na indústria de vernizes (Tropical Legume, 1979 apud
Almeida et al., 1998). A casca ainda pode ser utilizada na confecção de
canoas (ubás). Pelo processo de cocção são extraídas da casca tintas de
cor avermelhada, utilizada na tintura de fios de algodão pelos tecelões
regionais (Mirandola Filho & Mirandola, 1991 apud Almeida et al.,
1998). Para uso alimentar, a polpa farinácea da fruta é muito apreciada
pela população rural que a ingere ao natural ou sob a forma de mingau. A
farinha pode ser obtida raspando-se as sementes com faca, uma operação
manual lenta. Para produção dos pães, bolos e biscoitos, a farinha precisa
ser triturada no pilão ou no liqüidificador e peneirada (Almeida et al.,
1990 apud Almeida et al., 1998). O aspecto medicinal relaciona-se ao
uso do líquido vinoso extraído do tronco que parece ter propriedades
reconstituintes e tônicas para o organismo (Rizzini & Mors, 1976 apud
Almeida et al., 1998), e é usado para tratamento de úlcera estomacal
(Hirschmann & Arias, 1990 apud Almeida et al., 1998). A resina sob
a forma de melado é usada como peitoral, tônica e em maiores doses como
vermífuga e a casca contra cistites e prostatites (Barros, 1982; Ferreira,
1980a apud Almeida et al., 1998). A seletividade das folhas durante o
período seco e chuvoso foi detectada através de material de fístula
esofágica de bovinos (Macedo et al., 1978 apud Almeida et al., 1998).
Os frutos maduros, com tamanho médio de 16 x 6 cm, devem ser coletados
no chão ou na árvore, de setembro a novembro. Para se obter a polpa,
primeiramente quebram-se os frutos com martelo, pedra, etc. Separando a
casca das sementes e envolvendo-as, encontra-se a polpa amarelada,
adocicada e de forte cheiro característico. Raspando-se as sementes com
uma faca, obtém-se a farinha, que, depois de moída no pilão ou
liqüidificador e peneirada, pode ser utilizada na feitura de bolos,
biscoitos, pães e licores ou conservada em sacos de plástico sob
refrigeração. A extração manual da polpa é demorada e de pouco rendimento.
Foi observado que, sob refrigeração, o material conservou a mesma
consistência e coloração pelo período de um ano, somente havendo alteração
no sabor, que, após esse período, se apresentou mais atenuado (Almeida et
al., 1987). O jatobá-do-cerrado tem sua disseminação dificultada pelo
ataque de coleópteros aos frutos e sementes durante o período de
amadurecimento, e as sementes que escampam são destruídas no solo pelos
cupins, quando começa o processo de germinação (Heringer & Ferreira,
1975 apud Almeida et al., 1998). A escarificação mecânica favorece a
germinação das sementes dessa espécie que ocorre dentro de 8 dias
(Carneiro et al., 1986 apud Almeida et al., 1998). Para verificar se as
sementes são viáveis, faz-se a escarificação e em seguida a imersão em
água. Aquelas que dentro de 24 horas aumentarem de peso ou de volume,
podem ser semeadas (Heringer & Ferreira, 1975 apud Almeida et al.,
1998). A sementeira pode ser feita em caixotes ou diretamente no campo. As
covas com as dimensões de 30 x 30 cm, devem ser abertas com 10 a 15 dias
de antecedência ao plantio, e transplantando-se as mudas com 8 cm de
altura. A distância entre as covas deve ser de 2,50 x 2,50 m (Guia, 1986
apud Almeida et al., 1998). O crescimento da planta é lento.
4.9- Jenipapo
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Rubiales
Família:
Rubiaceae Nome
Científico: Genipa
americana L. Nome
Popular:
Jenipapo.
Ocorrência:
Cerrado, Cerradão, Mata de Galeria e Mata Seca. Distribuição:
Planta originária da América Tropical; é encontrada em grande parte do
Brasil – desde o Pará até Minas Gerais/São Paulo. Fruteira indígena o
jenipapeiro tem importância ecológica para repovoamento de animais da
fauna brasileira (www.seagri.ba.gov.br/jenipapo).
Sua ocorrência está associada a solos úmidos e de boa
fertilidade podendo atingir até 3 metros em dois anos. Árvore ereta,
ramificada (a boa altura do solo), frondosa, com 6 a 8 m de altura por 4 a
6 m de diâmetro de copa (Figura 17).
FIGURA 17 – Planta Adulta Fonte: Silva et al., 2001
Flores
branca-amareladas. O fruto é uma baga ovóide, de cor amarronzada, com 6 a
10 cm de comprimento por 4 a 7 cm de diâmetro e peso de 90 a 180 g. Sua
polpa é amarronzada, sucosa, aromática, comestível, com 120 a 160 sementes
no centro. As sementes são pardas, chatas e polidas, com arilo colorido,
viáveis até 90 dias depois de retiradas do fruto (Figura 18).
FIGURA 18 – Ramo e Fruto Fonte: Silva et al., 2001
As variedades mais comuns de jenipapeiro são:
jenipapeiro-pequeno, médio e grande, jenipapeiro com caroço,jenipapeiro
sem caroço, jenipapeiro sempreflorens (produz frutos o ano todo),
jenipapeiro macho, jenipapeiro fêmea, outras. Usos do
Jenipapeiro: Em medicina caseira: chá de raízes (como purgativo),
sementes esmagadas (como vomitório), chá das folhas (como antidiarréico),
fruto verde ralado (para asmáticos), brotações grelos-(desobstruinte),
suco do fruto maduro (tônico para estômago, diurético e desobstruinte).
Em forrageamento de animais: folhas, frutos cortados em pedaços
pequenos para bovinos, caprinos e suínos. Em curtimento de couros:
casca do caule (cor cinza-claro) e fruto verde são ricos em tanino. Em
florestamento: reflorestamento, formação de cercas vivas e alamedas.
Na alimentação do homem: fruto comestível ao natural e empregado no
preparo de compota, doce cristalizado, refresco, suco, polpa, xarope,
licor, vinho, álcool, vinagre, aguardente. Na indústria de madeira: a
madeira de cor branca (marfim) é mole, elástica, flexível, racha com
facilidade, recebe bem o verniz e tem longa duração. É empregada em
construção naval e em construção civil, em marcenaria de luxo, em
tanoaria, em fundições (moldagem de peças), em xilogravura, entre outros
usos. Necessidades da Planta: Clima: tropical úmido,
temperaturas entre 23ºC e 28ºC, chuvas entre 1.300mm. e 1.500mm./ano bem
distribuídas. Solos: o jenipapeiro tem preferência por solos
permeáveis, profundos, bem-drenados, areno-argilosos, pH 6,0-6,5.
Adapta-se a tipos variados de solos (www.seagri.ba.gov.br/jenipapo).
As plantas oriundas de sementes atingirão a maturidade por
volta de oito a dez anos de idade, quando estarão aptas para frutificarem.
Isto ocorre em muitas espécies menos domesticadas, devido ao longo período
juvenil, no qual as plantas possuem um balanço hormonal desfavorável para
a reprodução. O jenipapeiro é propagado por sementes, por alporquia,
por enxertia entre outros métodos. O mais usado é o método da propagação
via sementes. As sementes sadias, íntegras e vigorosas devem vir de
plantas isentas de pragas e doenças, e de boa produção. As sementes são
colocadas na sementeira a 2 cm de profundidade e devem germinar em 25 a 30
dias; decorridos 3 – 4 meses pós-germinação, mudas com 12 cm de altura são
selecionadas (eleitas as mais vigorosas) e repicadas para sacos plásticos
(18 x 30 cm). Seis a doze meses pós-germinação com 20 cm de altura, a muda
estará pronta para plantio em definitivo. No viveiro e no campo, após o
plantio, as mudas mostram um rápido crescimento e aos cinco anos já
iniciam a frutificação. Segundo Silva et al., (2001), em estudos
preliminares realizados na Embrapa Cerrados, através de enxertia pelo
método de garfagem lateral ou garfagem inglesa simples, o Genipapo, o
Pequi, a Mangaba, o Araticum e a Cagaita apresentam índices de pegamento
de 100%, 90%, 80%, 70% e 60%, respectivamente, e início da produção de
frutos no período de 2 a 3 anos após o plantio. Além de antecipar o
início da frutificação, a enxertia reduz o porte das plantas, favorecendo
a colheita dos frutos e possibilitando o plantio de maior número de
plantas por unidade de área. O plantio das mudas é feito em covas de
50 x 50 x 50 cm, no início da estação chuvosa. Cada planta produz
entre 200 a 1000 frutos/ano. Os tratos culturais consistem em efetuar
capinas de “coroamento” em torno da cova e roçamento do mato nas ruas. É
feito poda anual de limpeza eliminando-se ramos doentes, secos e
mal-colocados.
4.10- Cajuzinho-do-Cerrado
Divisão:
Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe:
Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem:
Sapindales
Família:
Anacardiaceae Nome
Científico:
Anacardium humile St. Hil. Nome
Popular:
cajuzinho-do-cerrado, cajuí, caju, caju-do-campo.
Ocorrência:
Campo Sujo, Cerrado Distribuição:
Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, São Paulo.
Floração:
de junho a novembro com pico em agosto.
Frutificação:
normalmente de outubro a novembro, às vezes estendendo-se até janeiro.
Arbusto pequeno e lenhoso, com 0,60 a 0,80 m de altura por
0,40 a 0,60 m de diâmetro (Figura 19).
FIGURA 19 –
Arbusto
Fonte: Brandão et al., 1992
Folhas alternas, simples, coriáceas, sem pêlos ou com pêlos densos, curtos
e fracos. Nervura mediana, grossa, saliente na face inferior. Flores
pequenas, brancas, rosadas ou amarelo-brancacentas, com estrias arroxeadas
na base, dispostas em cachos (Brandão et al., 1992)(Figura 20).
FIGURA
20 – Flores
Fonte: Brandão et al., 1992
Fruto
verdadeiro noz com cerca de 1,5 a 2 x 1 cm, acinzentado, reniforme,
brilhante; semente única (Almeida et al., 1998). Pseudofruto carnoso
suculento, em forma de pêra, de coloração que varia do amarelo pálido ao
vermelho escuro(Brandão et al., 1992). Dimensões do pseudofruto de 3 a 4
cm de comprimento por 2 a 3 cm de diâmetro e peso de 4 a 10 g. Cor da
polpa branco-amarelada (Silva et al., 2001) (Figura 21).
FIGURA 21 –
Fruto
Fonte: Brandão et al., 1992
O caule subterrâneo tem a
particularidade de armazenar água necessária para que a planta resista às
secas prolongadas. Os ramos só crescem entre setembro de um ano e junho do
seguinte, ou seja, durante a estação chuvosa. Esta espécie depende
qualitativa ou quantitativamente da queimada para florescer, se esta
ocorrer no período da seca ou em dias mais curtos (Coutinho, 1976 apud
Almeida et al., 1998). Apresenta acima de 80 flores por inflorescência e
uma relação aproximada de 4:1 entre flores masculinas e hermafroditas,
sendo este um caráter de grande importância a ser considerado em
melhoramento genético. O desenvolvimento de plantas de caju que cresciam
em murundus mostrou que enquanto os ramos foram soterrados, outros novos
conseguiram aflorar à superfície reestabelecendo suas partes aéreas
(Coutinho, 1979 apud Almeida et al., 1998).
É uma planta melífera. O
uso medicinal popular do cajuí abrange praticamente toda as partes da
planta. O chá da raiz é purgativo; mas também é usado para tratar diabetes
e reumatismo quando macerado em vinho (Hirschmann & Arias, 1990 apud
Almeida et al., 1998). A casca é estimulante e usada também como gargarejo
para inflamação da garganta. As folhas e a casca são empregadas no combate
à diarréia e como expectorante (Ferreira, 1980b apud Almeida et al.,
1998). Como tintorial, a casca fornece tinta e ainda é usada em curtumes
devido à grande quantidade de tanino (Brandão, 1991 apud Almeida et al.,
1998). O pseudofruto tem a mesma utilização do cajueiro, sendo empregado
na confecção de sucos, sorvetes, geléias, doces ou podendo ser consumido
ao natural. Apresenta bons teores de vitamina C. A castanha produz óleo
cáustico e após torrada fornece amêndoa comestível, muito saborosa. As
folhas segregam líquido viscoso e perfumado (Brandão et al., 1992). Com a
fermentação da polpa, obtém-se uma espécie de vinho ou aguardente, muito
apreciado na região (Côrrea, 1931; Ribeiro et al., 1986; Ferreira, 1973a
apud Almeida et al., 1998).
A propagação é feita por sementes e raízes
germiníferas (Brandão et al., 1998), e a viabilidade da semente diminui em
cerca de um mês. Cada quilograma contém cerca de 770 sementes (Almeida et
al., 1998).
As doenças que podem limitar a produção de frutos são a
antracnose e o oídio, mas são controláveis através de fungicidas cúpricos
e enxofre molhável, respectivamente (Úrben & Matos, 1974 apud Almeida
et al., 1998).
5.Referências
Bibliográficas
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Disponível em:
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Cerrados: araticum, baru, cagaita e jatobá. Planaltina: EMBRAPA –
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