Third Sector

Espaço onde apresento informações relativas aos temas do terceiro setor. Os temas preferidos são elaboração de projetos sociais, elaboração de propostas para levantamento de recursos para projetos sociais, gestão de organizações sem fins lucrativos, ferramentas computacionais para uso nas atividades do terceiro setor, projetos de conservação de energia para ajudar as organizações do terceiro setor a fazerem economia a partir da redução do consumo de energia.

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Engenheiro eletrônico aposentado. Trabalhei por mais de três décadas em uma empresa federal de geração de energia elétrica, onde comecei como estagiário e, posteriormente, desempenhei as funções de engenheiro de telecomunicações, gerente de conservação de energia e superintendente de negócios de telecomunicações. Atualmente me dedico à pesquisa genealógica.

Saturday, October 09, 2004

A Modernidade Brasileira

A Modernidade Brasileira
Ivo Ricardo Wanderley

O que motiva a discussão da modernidade brasileira é a constatação de que o projeto moderno não logrou concretizar as suas promessas.

A tese de que a modernidade aqui não se completou, e que o Brasil precisa se modernizar para deixar a periferia e ocupar o centro das nações desenvolvidas, é o mito que sustenta as concepções de que não temos originalidade e copiamos tudo. Esse mito prega a modernização mediante o crescimento econômico segundo os padrões do centro para superarmos a marginalidade e a dependência (Perez, 2001).

O apóstolo do mito é o intelectual brasileiro culto, alvo da seguinte crítica de Roland Corbisier: “colonizado mentalmente, o intelectual brasileiro assim como utilizava, sem transformá-los, os produtos acabados da indústria estrangeira, assim também pensava, sem transformá-las, com as idéias prontas que lhe vinham de fora. (...) Conhecia, por exemplo, toda a sociologia estrangeira, era capaz de escrever tratados e dar cursos sobre essa ciência, mas era incapaz de utilizá-la como instrumento que lhe permitisse fazer uma interpretação sociológica da vida, da realidade do próprio país (Corbisier, 1958, ap. Ferreira, 2001).” Essa crítica apontava diretamente para os intelectuais paulistas da época, mas revela-se atual quando projetada sobre o pensador contemporâneo daquela escola, Fernando Henrique Cardoso.

A fonte de frustrações em relação à modernidade brasileira reside na adoção cega da produção científica estrangeira por parte da nossa elite intelectual dirigente como paradigma e sem prévia reflexão crítica quanto à adequação à realidade local – superposição - (Medeiros, 2003). “(...) a ideologia do desenvolvimento só é legítima quando exprime a consciência coletiva, e revela os seus anseios em um projeto que não é imposto, mesmo de bom grado, às massas, mas provém delas (Pinto, 1959, ap. Medeiros 2003)”.

É preciso aprender “o que é o povo brasileiro, o único que destrói a cultura do 'fast-food' inventando a comida por peso e misturando tudo. Até feijão e sashimi. É antropófago, como definia Oswald de Andrade, na Semana de Arte Moderna, em 1922 (Lessa, 2000 ap. Elias, 2000).”

A criatividade do povo brasileiro emana de uma sociedade singular que tem “a sensualidade altamente desenvolvida, o exotismo do gosto, o exagero dos gestos e das falas, a religiosidade carnal, profana, o apelo constante à intimidade e a cumplicidade, etc. Um organismo social de abundância, de sedução (...). Uma sociedade toda feita de curvas, de viravoltas em todos os sentidos; jamais linear, jamais igual a si mesma (Perez, 2001)”, solo fértil que fez brotar “a Arquitetura Moderna [Brasileira, que], a despeito de suas premissas originais, (...) concretiz[ou] aquela noção de transculturação que compreende este processo como o toma-lá-dá-cá do contato entre culturas, no qual os indivíduos são transformados e transformam-se, a si mesmos e ao mundo circundante, por meio de práticas ambivalentes que envolvem, no caso do Brasil, a assimilação, a adaptação, o deslocamento, por certo também a rejeição e a perda, bem como o amolecimento e a fusão notados por Gilberto Freyre, desencadeando um processo complexo de ajuste e recriação – cultural, artística, literária, lingüística, pessoal – que tem permitido o nascimento de novas configurações culturais vitais a partir daquelas idéias e formas originais concorrentes no choque e na aproximação de culturas diferentes (Rego, 2001).”

A gênese da Arquitetura Moderna Brasileira contou com a contribuição fundamental de um dos mais importantes arquitetos de todos os tempos, o brasileiro Oscar Niemeyer, cujo “pensamento arquitetônico (...) tem marcados vínculos com a renovação modernista do século XX e com veios profundos da cultura brasileira. (...) A vocação de Oscar Niemeyer parece ser mesmo a de tirar do quase nada um mundo concreto de invenção: formas marcadas pela ânsia de vôo, pelo desafio à gravidade e ao previsível, ganhando irrefutável solidez. Essa afirmação da imaginação humana é, também, uma afirmação do gênio criador brasileiro, de nossa capacidade de sermos modernos sem recusarmos nossas tradições (Alcântara, 2002).”

E a sociedade brasileira, plena de sensualidade, sedução, e curvas, cintila na obra do genial arquiteto e neste “breve texto de tom lírico” onde Oscar Niemeyer registra “um irretorquível elogio à curva”: “Não é o ângulo reto que me atrai nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas de meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein (Niemeyer ap. Alcântara, 2002).”

Referências:
- Perez L. P., Por uma Poética do Sincretismo Tropical, Coluna Edição jun-jul 2001;
- Corbisier, R., Formação e Problema da Cultura Brasileira, Rio de Janeiro: ISEB, 1958, ap. Ferreira M. S., O Centro - Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (1956/1961);
- Medeiros R. L., Desenvolvimento: uma perspectiva brasileira, Revista Intellectus / Ano 02 Vol. II – 2003;
- Pinto, A. V., Ideologia e desenvolvimento nacional, Rio de Janeiro: ISEB, 1959 ap. Medeiros, 2003;
- Lessa C., Debate Relações de Poder no Brasil, São Paulo: 2000, Auditório da Folha, ap. Elias A., Economista diz que brasileiro é antropófago e defende nacionalismo, Folha Online 2000;
- Rego R. L., Paisagem Antrópica e Arquitetura Moderna no Brasil, Revista Assentamentos Humanos, Marília: 2001;
- Alcântara L., Discurso em Homenagem a Oscar Niemeyer no Senado Federal, Brasília: 2002.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Aprendi muito

November 19, 2009 9:01 PM  

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