22 de fev. de 2008

Anna Freud ou Melanie Klein? [por Thiago Mazucato]

Artigo Científico apresentado por Thiago Mazucato, para aprovação na disciplina "Psicanálise de Crianças", no curso de Formação em Psicanálise Clínica

Resumo:

Análise das principais diferenças teóricas e técnicas que opõem Anna Freud e Melanie Klein e de alguns pontos da análise de crianças, em especial da técnica psicanalítica do brincar, proposta pela última.

INTRODUÇÃO

Este artigo discorrerá sobre as principais diferenças teóricas e práticas entre Anna Freud e Melanie Klein no que diz respeito à análise das crianças.

Também serão abordados suscintamente os desdobramentos teóricos elaborados por Melanie Klein na teoria do desenvolvimento psicossexual, e suas inovações teóricas e técnicas quanto à idade da criança na fase do complexo de édipo e também quanto ao surgimento de um supereu arcaico, anterior a esta fase, já com aspectos de “exigências” e “proibições” que também podem ser consideradas arcaicas, mas fundamentais e determinantes para a fase do complexo de édipo que virá depois.


ANNA FREUD OU MELANIE KLEIN?

O título do artigo já sugere a cisão que ocorre na psicanálise quando se trata de psicanálise da criança, em que Anna Freud e Melanie Klein colocam-se em posições opostas tanto na teoria quanto na técnica psicanallítica.

A teoria psicanalítica sugerida por A. Freud para as crianças compreende estes pequenos pacientes como desprovidos da capacidade de realizar transferência, o que obriga o terapeuta a utilizar-se de recursos pedagógicos em seus atendimentos com o fim de orientar a criança. É totalmente oposta à idéia do “jogo infantil” como um instrumento técnico analítico.

Já Melanie Klein acredita que, apesar de muito semelhante, a técnica analítica com crianças tem suas diferenças com as técnicas analíticas de adultos, uma vez que no psiquismo das crianças ainda não existe a associação verbal plenamente estruturada, portanto, dificultando o processo de associações livres.

Por outro lado, não somente acredita que a criança seja capaz de realizar transferência, como também que a criança o faz espontaneamente, e que a mesma deve sim ser interpretada.

Sua solução se dá com o decorrer da sua experiência clínica com as crianças, e sugere a técnica analítica do brincar para analisar as mesmas, uma vez que na situação do brincar as crianças representam simbolicamente suas fantasias, seus desejos e suas experiências, o que verbalmente ainda não conseguem fazê-lo com tanta perfeição.

Durante a brincadeira, o paciente projeta tanto no analista quando nos brinquedos as suas tendências destrutivas e as tendências amorosas. M. Klein esforça-se para diferenciar a técnica psicanalítica do brincar de ludoterapia, uma vez que a intenção da técnica psicanalítica do brincar não é tão-somente a observação ou ainda o extravasamento de energias tensionantes.

A interpretação se dará, então, através da observação dos papéis que as crianças assumem nos jogos, durante as sessões, assim como a gradativa modificação da excessiva severidade do superego.

Através da análise tanto da transferência positiva quanto da transferência negativa, o analista deve esforçar-se para eliminar a “idealização” que a criança faz de sua figura, o que é dificultado pelo fato das análises infantis apresentarem resistências tanto quanto as análises de adultos.

Melanie Klein também observou que muitas crianças apresentam um estado “aparente” de adaptação ao ambiente e de superação da fase genital, mas, na clínica, a conclusão a que chegou foi que suas defesas escondiam diversas ansiedades e que, posteriormente, as mesmas deparavam-se com desafios maiores e suas estruturas psíquicas geralmente “desmoronavam-se” frente a estes desafios.

Uma outra distinção importante feita por Melanie Klein é um fato já observado por Freud, que foi ressaltado em sua teoria, consiste na diferenciação entre os campos da política, da educação e da psicanálise, não devendo o analista confundir seus objetivos e/ou meios com os das demais.

Outra diferença que também é marcante na teoria de M. Klein e de A. Freud está no início da fase edipiana. Para Klein, tal fase inicia-se já com o desmame, por volta dos seis meses de idade, e daí também surge um “supereu arcaico”, que desembocará na fase edipiana clássica sugerida por Sigmund Freud em torno dos 4 a 5 anos de idade.

Entre a fase de supereu arcaico e o complexo de édipo, a criança desenvolve mecanismos de introjeção e projeção, em que, dentre outras coisas, fragmenta o objeto de desejo em “bom” e “mau”, introjetando-o e posteriormente projetando-o no mundo exterior, fragmentação esta que também gera tensão. Surge então, na teoria de Klein, a fase “esquizo-paranóide” e a “posição depressiva”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABERASTURY, Arminda. Psicanálise da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

KLEIN, Melanie. A psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Imago, 1997.





4 comentários:

Anônimo disse...

Boa contribuição para quem está se deparando agora com a teoria psicanalítica.
Obrigada,
Estudante de psicologia.
vida_psicologia@hotmail.com

Anônimo disse...

Boa contribuição, mas incompleta...
Dá pra complementar as diferenças teóricas e práticas entre ambas...

Estudante de Psicologia
ally.meninalilas89@hotmail.com

Anônimo disse...

Ótima contribuição,obrigada!

Anônimo disse...

Muito bom o texto, contendo i informações pertinentes. Porém foi escrito somente sobre Melanie Klein. Como o objetivo de texto é diferenciá-la de Anna Freud, o artigo poderia conter as teorias e práticas da mesma.