O custo-Avaí

À parte os enlevos e deslumbramentos emotivos-oportunistas pelos últimos bons desempenhos do Avaí, de alguns que até ontem reclamavam da falta de quibes e risoles nos camarotes, ou que mantém seus zuninômetros ligados, é bom dizer que a caminhada do Leão da Ilha para acesso à serie A é dura e árdua.

Bem ao estilo de nossa história. E ele precisa, agora, muito mais de sua torcida, do que quando decide um título. Tens noção disso? Pois eu não abro mão e bato sempre na mesma tecla, pois agora é com a torcida.

Se até cinco rodadas atrás, o grupo “mais qualificado” dos últimos anos aportado no Sul da Ilha e com possibilidade de ser campeão da série B transformava-se num depósito de arqueologia, ou não passava de cones com grife, agora já é classificado como bom time e não demora a ser chamado de time de guerreiros pelos batuqueiros de panela de ocasião. É assim o futebol, uma multipolaridade desgraçada, mas que foge à crítica. Ela se mobiliza como barco pela maré, de acordo com as necessidades do navegador.

Esta multipolaridade das arquibancadas, é bom que se saiba, não quer ficar de fora e sempre aposta em alguém que pague seu copo de cerveja, seja dentro ou fora do estádio, seja em espécie ou em ingressos. E é conduzida, como boi no pasto para o abate. Para alguns, falar mal de torcida é perder algumas  dessas benesses. Vai daí que…

Ser membro de manada, portanto, mesmo de cor diferente do trivial, não é ser crítico. A crítica só tem fundamento se desfaz o senso comum, quebra as normas vigentes da informação difundida ou desmonta as verdades absolutas. Não é sinônimo de “falar mal de algo ou alguma coisa”, mas observar, fazer análise e tomar conclusões. Não é seguir a opinião de quem aponta o que está ruim, mas interpretar o contexto. O contrário é ser membro de manada. Aliás, também tem que se dizer que a crítica não muda de bandeira conforme o exército que tome o país. Se há uma característica básica nisso é a coerência.

E milhares e milhares de desculpas furadas são dadas todos os dias para justificar a ausência do torcedor, mas nenhuma delas têm fundamento, uma vez que o argumento tem erro de origem. Nenhuma tem fundamento, repito! Porque o problema não está nas desculpas, mas na motivação. Há muita comodidade. O sujeito que se diz avaiano, bom de papo e bom de verbo e que falta aos jogos (exceto quando há um impedimento gravíssimo) não assume, mas ele é conduzido pelas desculpas que se levantam. E, além do mais, tem pouco compromisso com o clube.

Só para se ter uma ideia, quando eu ia para a Ressacada no jogo da última terça-feira, chovia, soprava um vento siberiano, havia trânsito truncado e um acidente que emperrou toda a cidade já travada. Mas a minha motivação era ir para a Ressacada assistir ao Avaí. Só que pela rádio que eu ia ouvindo no carro, até para saber como estavam as circunstâncias do trânsito, o comentarista de araque dizia ser uma pena, mas não haveria um bom público, pois fazia muito frio, chovia uma barbaridade e o torcedor não iria sair de casa para ver o ASA jogar contra o Avaí. Naquele momento xinguei e esbravejei sozinho dentro do carro para o infeliz, pois eu sabia que uma porção de gente daria volta e se mandaria para casa, metendo-se debaixo dos edredons. Outros nem sairiam de casa.

Preste atenção! Isso não é dito quando o jogo é lá no Estreito. Se o Avaí é oferecido ao público como clube arrombado e desorganizado, seus torcedores aceitam isso com naturalidade, sem nenhuma contestação, achando que isso é crítica. E se afastam do clube.

Aí eu pergunto: tu sabes quanto custa abrir o estádio para o Avaí poder jogar? Só para ter uma ideia, aquele valor de 29 mil reais arrecadado no jogo de terça-feira é o valor do borderô. É calculado entre sócios e ingressos vendidos . O verdadeiro valor em dinheiro que entrou no caixa do Avaí foi muitas vezes menor que isso. Não paga a conta dos refletores. Não paga o serviço de segurança. Não paga a permanência da ambulância no estádio. Sabias que isso tem um custo? Que a arbitragem, a polícia ali presente têm custos? O transporte, camarada, trazer a delegação do hotel até o estádio, isso custa, sabias disso?

E que não me venham com papinho de confidencialidade, esse mantra repetido por quem tem preguiça de pensar. Ou tu achas que o Avaí joga de graça e aí tu podes virar as costas para ele?

O clube só vai ficar forte quando tiver por volta de 20.000 sócios pagando sua mensalidade. Enquanto não tiver, vai precisar sempre de um presidente louco. Este mesmo que tu apedrejas e queres que uma moto passe por cima dele de novo. És crítico do presidente, mas tu mesmo forças que ele não deixe as portas do clube se fecharem.

Quando vais tirar a bunda da cadeira ou sair debaixo dos edredons?

4 pensamentos sobre “O custo-Avaí

  1. Baita texto.

    Infelizmente não tenho como estar presente por motivos mais fortes e assim será em toda série B, mas minha pequena “contribuição” está sendo dada ao nosso Leão.

  2. Não sei se as pessoas tem noção dos custos para abrir a Ressacada, ou pior, se acham que a cota da Globo é boa o suficiente para manter o elenco e funcionários.
    Qdo o clube fizer um time para representar os 3 mil, possivelmente vamos para a série C, D e depois para a fora de série.
    Não há mágica que faça o Avaí sobreviver sem um presidente colocando dinheiro. Depois ainda querem atirar pedras.

    Concordo com o Guilherme, excelente texto.

  3. http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2013/08/16/os-graus-de-envolvimento-dos-torcedores-com-o-futebol

    O grau de envolvimento do torcedor avaiano deve estar um pouco abaixo do gráfico apresentado, ou será que até mesmo os mais “apaixonados” abandonaram? É preciso detectar o problema e cada um fazer sua parte, principalmente os sócios, aproveitando o vínculo atual com o Avaí e se utilizando de vários argumentos para incentivar pessoas próximas a contribuírem também. Nada melhor do que aquela “carinha de choro” ou basta comentar as vantagens recentemente implantadas (para aqueles que não querem sair perdendo, sabe como é… rs) para converter num “verdadeiro avaiano”. Até porque divulgações em rádio, tv, twitter, etc, não são nada perto do cara a cara, não é verdade?
    Um grande abraço e que possamos ver no futuro um Avaí com muitos sócios, estádio lotado, grande estrutura e cada vez mais forte, principalmente dentro de campo.

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