Envolver pais e comunidade é estratégia de escolas para melhorar ensino

Posted on 29 de abril de 2010

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Duas escolas públicas, distantes milhares de quilômetros uma da outra, usaram estratégias bastante parecidas para melhorar a qualidade do ensino: mobilizaram os pais e a comunidade para que participassem da vida escolar dos alunos. As histórias da Escola Municipal Casa Meio Norte, de Teresina (PI), e do CEP n° 3 de Garupa (Província de Missiones), na Argentina, foram apresentadas ontem (28) durante um encontro internacional de comunicadores da América Latina, em Foz do Iguaçu (PR).

Os dois colégios se localizam em áreas pobres e periferias das cidades. No caso da escola argentina, a maior dificuldade era convencer os alunos a frequentar a escola. A região teve um crescimento populacional muito rápido e as sete escolas não foram suficientes para atender a toda a demanda. Pais e alunos tiveram que se unir para construir uma unidade. Hoje, já são 22 colégios.

“No começo, os alunos tinham que estudar em escolas distantes, mas não tinham dinheiro para a passagem, então não iam à escola. Quando conseguimos a escola na nossa comunidade, os jovens já tinham perdido o interesse pelos estudos. Achavam que a situação seria a mesma – se estudassem ou não”, contou a diretora Graciela Sommerfeld.

A escola criou diferentes oficinas – de teatro, patinação, atletismo, basquete – para que os alunos se sentissem “acolhidos”. “Isso tem muito a ver com o fato de tomar o aluno como um ser e não como um número. Isso gera um vínculo com o professor, com algum funcionário da escola, e faz com que sinta a necessidade de estar lá”, explicou Graciela.

Na Casa do Meio Norte, que se localiza na periferia de Teresina, os pais são chamados ao dever de assumir suas responsabilidades e cuidar da educação dos filhos. “Se uma mãe não matriculou o filho no início do ano, nós vamos à casa dela lembrá-la dessa obrigação. O mesmo acontece se um aluno falta, no mesmo dia vamos até a casa dele saber o que aconteceu”, exemplifica a diretora da escola, Ruthnéia Alves. “Somos conhecidas como as cangaceiras da educação. Um dia sem aula é um dia sem aprender”, afirmou.

Como o colégio se localiza em uma região muito pobre, a equipe da escola aposta no que chama da “pedagogia do amor”, para criar esse vínculo afetivo com os alunos. “A família quer ser incluída, mas é preciso apenas que a escola saiba dizer a ela que está aberta para a participação”, defendeu Ruthnéia.
Nas avaliações do Ministério da Educação, a escola piauíense, que atende 900 alunos, obteve resultados acima da média nacional. O foco do trabalho está na leitura.

Resultados de avaliações educacionais na AL nem sempre são divulgados

Foz do Iguaçu (PR)- Se no Brasil o resultado das principais avaliações educacionais, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), são amplamente divulgados, em outros países da América Latina a dinâmica é diferente. É o caso da Argentina, onde o governo de cada província decide se quer tornar públicos os resultados das suas avaliações.

“Os resultados não chegam às escolas por razões políticas. Na Argentina, a responsabilidade de divulgar os resultados é dos governos provinciais e não do Ministério da Educação. E muitos governadores tinham medo desses resultados”, explicou o coordenador de avaliação do Ministério da Educação argentino, Jorge Fasce.

Representantes dos ministérios de 12 países latino-americanos e jornalistas estão reunidos em Foz do Iguaçu (PR) para discutir a integração educacional na região. Segundo Fasce, as escolas que recebem os resultados das avaliações têm um efeito positivo imediato. “Só por conhecer seu resultado, já havia melhora porque se elas iam mal sabiam que tinham que fazer alguma coisa, trabalhavam com os professores as razões para aquele resultado”, explicou.

A secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda, acredita que a criação do Ideb em 2005 também teve impacto semelhante nas redes educacionais brasileiras. “Os prefeitos ficam ansiosos e nos perguntam quando o Ideb será divulgado. Essa expectativa é importante porque as pessoas começaram a se mobilizar”, acredita.

O Ideb é um indicador que avalia a aprendizagem dos alunos atribuindo uma nota para escolas, municípios e estados. Ele é calculado com base na nota da Prova Brasil e das taxas de aprovação. Para cada escola e rede de ensino foram estabelecidas metas que devem ser alcançadas a cada dois anos. O próximo Ideb, referente a 2009, deve ser divulgado em junho.

Pilar ressaltou que as avaliações não “têm sentido” se não alterar a prática em sala de aula. Mas, segundo ela, muitas escolas ainda não se apropriam dos resultados dos exames e indicadores apurados. Na maioria dos países latino-americanos, segundo relatos do encontro, não existe um sistema nacional organizado de avaliações educacionais como no Brasil. Tanto Fasce quanto Pilar e o ex-presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, que também participou do debate, criticaram a prática de classificação de escolas. Segundo eles, as escolas com baixos resultados acabam estigmatizadas, o que afeta a autoestima de alunos, professores e equipe.

Fonte: Agência Brasil

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