ÁFRICA: um conjunto de Estados e de Nações

África, a história da colonização encontra-se documentada desde que os fenícios começaram a estabelecer colônias na costa africana do Mediterrâneo, por volta do século X a.C. Seguiram-se os gregos a partir do século VIII a.C., os romanos no século II a.C., os vândalos, que tomaram algumas colônias romanas, no século V d.C., seguidos pelo império bizantino, no século seguinte, os árabes, no século VII d.C. e, finalmente, os estados modernos da Europa, a partir do século XIV da nossa era.

O continente africano está bipartido em dois conjuntos geopolíticos – o Norte da África e a África Subsaariana. Essa bipartição reflete heranças históricas e culturais divergentes, que se traduziram em processos diferentes de formação dos Estados contemporâneos. Sob a perspectiva do cenário internacional, o Norte da África e África Subsaariana configuram subsistemas nitidamente distintos, conforme o mapa ao lado.

Os árabes conquistaram todo o norte africano. O domínio árabe provocou, com o tempo, não só a propagação do islamismo como também a difusão da língua árabe na região. O resultado foi a “arabização” da porção setentrional do continente. Desde essa época, o Norte da África designa o conjunto civilizatório e cultural árabe e muçulmano. Veja o mapa a seguir:

Sob a influência dos árabes e dos europeus, o vasto conjunto da África não-árabe passou a ser designado como “África Negra”. A expressão quase nada elucida sobre as sociedades africanas ao sul do Saara, pois gera a falsa impressão de uma uniformidade cultural inexistente. “África Negra” é uma relíquia dos tempos do tráfico negreiro e das teorias racistas. Em seu lugar, para fazer referência ao conjunto heterogêneo de sociedades e culturas que se desenvolveram ao sul do Saara, utiliza-se a expressão África Subsaariana.

O tráfico de escravos africanos foi conduzido inicialmente pelos árabes, na orla semi-árida do Sahel, Normalmente, incluem-se no Sahel o Senegal, a Mauritânia, o Mali, o Burkina Faso, o Níger, a parte norte da Nigéria, o Chade, o Sudão, a Etiópia, a Eritreia, o Djibouti e a Somália. Por vezes, usa-se este termo para designar os países da África ocidental, para os quais existe um complexo sistema de estudo da precipitação. O termo foi cunhado para designar uma região fitogeográfica, dominada por vegetação de estepes, que recebe uma precipitação entre 150 mm e 500 mm por ano.

A partilha do continente africano

http://geografianovest.blogspot.com/2009/07/partilha-da-africa.html– 11/02/11 – 14:13

O negócio do tráfico desenvolveu tentáculos e ramificações entre as sociedades africanas, via de regra, os africanos eram capturados por outros africanos,  tornando-se uma fonte de rendas extraordinárias para chefias de reinos e clãs que se dedicavam à captura; este fato gerou diferenças históricas e ainda hoje não foram superadas.  O tráfico propiciou a configuração de reinos negreiros, que organizavam as expedições e o transporte dos cativos aos portos pois, os traficantes europeus ou árabes muito dificilmente se aventuravam à captura de negros no interior da África.

No século XIX a Coroa britânica deflagrou a repressão ao tráfico negreiro, o combate aos traficantes interessava, estrategicamente, à Coroa inglesa, pois propiciava os meios para consolidar o domínio britânico nos mares. Em 1807, o tráfico foi interditado a súditos britânicos. No Congresso de Viena, em 1815, Londres exigiu uma proibição geral e enfrentou a recusa das monarquias ibéricas e a resistência francesa. O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes potências europeias que teve lugar na capital austríaca, entre 2 de maio de 1814 e 9 de Junho de 1815, dentre as intenções estão: redesenhar o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica na primavera anterior, iniciar a colonização e etc.

Mas a pressão continuada da maior potência mundial da época surtiu efeito, provocando o rápido declínio do tráfico no Atlântico. A escravidão e o tráfico resistiram na África durante todo o século XIX e, nos casos de Moçambique e Angola, até os primeiros anos do século XX. Na verdade, a escravidão só foi suprimida no continente africano com o imperialismo e a conquista colonial européia.

A escravidão e o tráfico deixaram marcas profundas nas sociedades africanas e nos Estados contemporâneos. As fronteiras dos Estados, traça das pelas potências européias desde o final do século XIX, geraram territórios que englobam grupo étnicos diversos, muitas vezes separadas pela memória das guerras tribais ligadas à captura e comercialização de escravos. Em grande medida, esse é o motivo pelo qual os Estados africanos encontram dificuldades para constituir identidades nacionais até os dias de hoje.

Ao encerrar a Conferência de Berlim, em 26 de fevereiro de 1885, o chanceler alemão Otto von Bismarck inaugurou um novo momento na história das relações entre europeus e africanos. Menos de três décadas após o encontro, ingleses, franceses, alemães, belgas, italianos, espanhóis e portugueses já haviam conquistado e repartido entre si 90% da África, isto é, pouco mais de três vezes a área do Brasil. Essa apropriação provocou mudanças profundas não apenas no dia-a-dia, nos costumes, na língua e na religião dos vários grupos étnicos que viviam no continente. Também criou fronteiras que, ainda hoje, são responsáveis por tragédias militares e humanitárias já que não foram respeitadas as diferenças étnicas, históricas e geográfficas.

O papel da conferência de Berlim era delinear as regras da ocupação. “A conferência não ‘dividiu’ a África em blocos coloniais, mas admitiu princípios básicos para administrar as atividades européias no continente, como o comércio livre nas bacias dos rios Congo e Níger, a luta contra a escravidão e o reconhecimento da soberania somente para quem ocupasse efetivamente o território reclamado”, afirma Guy Vanthemsche, professor de História da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, e do Centro de Estudos Africanos de Bruxelas.

A rapidez com que a divisão se deu foi conseqüência direta da principal decisão do encontro, justamente o princípio da “efetividade”: para garantir a propriedade de qualquer território no continente, as potências européias tinham de ocupar de fato a parte desejada. Isso provocou uma corrida maluca em que cada um queria garantir um pedaço de bolo maior que o do outro.

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O interesse europeu pela África vinha de muito tempo antes da conferência. No século 15, os portugueses já haviam chegado aos arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, iniciando sua ocupação do continente (que depois se estendeu a Angola e Moçambique). Os britânicos ocuparam partes da atual África do Sul, do Egito, do Sudão e da Somália no século 19. No mesmo período, os franceses se apoderaram de parte do Senegal e da Tunísia, enquanto os italianos marcavam presença na Eritréia desde 1870. Em 1902, França e Inglaterra já detinham mais de metade do continente.

DO COLONIALISMO AO NEOCOLONIALISMO NA ÁFRICA
As metrópoles européias produziram, durante o período colonial, divisões administrativas no interior dos seus territórios, geralmente com funções de controle militar. Desse modo, os europeus inventaram territórios que não tinham raízes nas experiências históricas africanas. Os Estados africanos independentes, que surgiram no pós-segunda guerra mundial, herdaram as linhas de limites traçadas pelas potências européias. O mapa a seguir ilustra mostrando os limites traçados pelas potências européias.

A idéia era se aproveitar da rivalidade entre grupos étnicos locais ou criá-la, se fosse inexistente e tomar partido de um deles. Com o apoio do escolhido, a quem davam armas e meios para subjugar os rivais, os europeus controlavam a população inteira. Podemos dizer que todas as potências conduziam a conquista da mesma forma: através da força bruta, dividindo para dominar e usando soldados, que eram principalmente africanos e não europeus.

O método usado pelos colonizadores provocou tensões que perduram até hoje, pois transformou, profundamente, as estruturas sociais tradicionais da África. As fronteiras africanas correspondem, quase sempre, aos limites coloniais e administrativos europeus. Elas pouco ou nada têm a ver com a distribuição das etnias e dialetos das sociedades africanas. Essas “fronteiras artificiais”, como muitas vezes são designadas, são fonte de problemas de legitimidade e estabilidade política nos Estados da África Subsaariana.

O alicerce dos novos Estados africanos foi constituído, quase sempre, pelo aparelho administrativo criado pela colonização européia. No momento das independências, o poder político e militar transferiu-se das antigas metrópoles para as elites nativas urbanas, que instalaram regimes autoritários. Na maior parte das vezes, essas elites representavam um grupo étnico particular, que se apossou do aparelho de Estado e o utilizou para subjugar ou marginalizar as etnias rivais

O Continente africano vem passando por inúmeras guerras civis que atrasam os esforços para o crescimento econômico da região e a ajuda internacional não tem se mostrado suficiente para a superação destas questões e os governos locais não têm se engajado de maneira eficiente em resolvê-las, ocasionando com isto verdadeiros genocídios, onde populações inteiras de alguns países estão morrendo a míngua.

http://www.ciadaescola.com.br/zoom/imprimir_materia.asp?materia=105 21/02/11 – 16:00

Outro elemento motivador de conflitos são os litígios territoriais, muito frequentes na África Ocidental. Disputas entre etnias e povos e nações que buscam uma maior autonomia diante a poderes centrais autoritários, exercidos grupos étnicos rivais majoritários, são muito comuns na África.

Fonte do texto: http://geografianovest.blogspot.com/2009/07/partilha-da-africa.html  com adaptações: por WashingtonCandido(14/02/2011)

Referências bibliográficas
– A África na Sala de Aula: Visita à História Contemporânea, Leila Leite Hernandez, Selo Negro, 2005 – A autora, professora da Universidade de São Paulo, analisa a história do ponto de vista dos países africanos.

– A Partilha da África Negra: 1880-1914, Henri Brunschwig, Perspectiva, 1974 – Bastante resumido, o livro tem como foco a Conferência de Berlim.

– Dividir para Dominar: a Partilha da África – 1880-1914, H.L. Wesseling, Revan, 1998 – Um dos livros mais completos sobre o tema, apresenta os principais atores da partilha da África.

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2 respostas para ÁFRICA: um conjunto de Estados e de Nações

  1. Poliana disse:

    Parabéns Professor,
    o blog é de muito bom gosto!

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