sexta-feira, março 08, 2024

Arlequim e o Velho Zeitgeist


Arlequim entrou na Caverna com sua Lamparina na mão para encontrar o Velho Zeitgeist. Nessas tantas cirandas da vida, nosso Arlequim havia adoecido, fraquinho pelas picadas do mundo, quase tinha morrido, coisas da juventude e de unir um exército de anti-corpos para proteger seu veículo, mas que havia lhe abatido um cadinho, suficiente para lhe causar um medinho de morte, perder toda aquela chance de vivenciar tudo isso, daí, seu Anjo o guiou até o Velho Zeitgeist que vivia na Pedra do Sapo, naquela Caverna do Alto da Montanha, para onde quem tinha Medo da Morte sempre ia para se isolar e lá foi nosso Andarilho...

Lá chegando, percebeu que a Caverna era uma espécie de bunker, abrigo anti-nuclear, herança da Guerra Fria, onde havia de tudo um pouco, menos cheiro de vida, um Lar Protegido, mas distorcido, onde um velhinho vivia com seu Cachimbo de Faz de Conta sendo aquecido por uma Fogueira de imagem refletida numa TV de tubo, preto-e-branco. 

Arlequim o saudou e falou, com aquele misto de quem precisa falar algo para parecer agradável socialmente:

- Sua casa é muito aconchegante - mas ele mentia, o cheiro de mofo era forte, e o velho acumulava tanta coisa em sua estante: pilhas de conhecimento nunca compartilhado, livros nunca emprestados, música nunca curtida com outras pessoas, filmes em vídeo e CD que o velho nunca tinha assistido com alguém que não ele mesmo.


* Você está mentindo - disse o velho - diga a verdade se quiser o meu carimbo.


* Carimbo? - perguntou nosso Palhaço Abatido

* Sim, para continuar a sua viagem, você precisa do meu carimbo te dando permissão. 

Arlequim quis dizer que não precisava da permissão de ninguém para continuar sua trilha, mas em seu passaporte, havia um lugar, onde ele viu escrito "Carimbo/Visto do Zeitgeist". Como mesmo abatido, ele queria seguir viagem, se sentou numa poltrona cheia de poeira, Ácaro e cheiro de tudo aquilo que havia passado e nunca havia sido experimentado.

- Você está Medo de Morte?

- Não sei se é isso, mas tenho receio de prosseguir essa jornada e me machucar, me frustrar com o que sonho, ter meu coração partido por quem não me ama.

- Ahhh... disse o Velho... Mas você terá seu coração partido, terá sonhos frustrados, vai adoecer, vai sofrer e vai se dar muito mal nessa vida...

- Foi o que pensei...

- Mas quem disse que também o contrário não pode ocorrer, as mesmas chances de algo dar errado são as mesmas chances de algo dar certo. Você também será amado, terá sonhos realizados, vai viver em saúde plena e vai rir de alegria. Sua jornada na dimensão dual tem um, tem dois, tem branco, tem preto, e se você for esperto, também terá o 3, que é você no MEIO.

Arlequim não aceitou aquilo muito bem, todo aquele discurso era o tipo de fala de quem ensina tudo e não aprendeu nada, “faça o que digo, não faça o que eu faço” estilo e já que o velho queria que ele dissesse a verdade, o nosso Palhaço disse:

- Não me leve a mal, mas não acredito nesse discurso. Tenho dores inimagináveis, pensamentos que me açoitam, frustrações e desilusões suficiente para saber que o mundo é cruel e temos que sobreviver, e não brincar de viver apenas – ao dizer aquilo, nem o Arlequim acreditou no que falava, não parecia ser ele, parecia que eram as suas dores que falavam por ele.

- *RESPEITO!* – Gritou o velho enfurecido. Eu não fui até você, você veio a mim e já que veio até aqui, APRENDA! Tem professor que ensina bem o que nunca aprendeu e tem professor que ensina melhor aquilo que viveu. Qual professor você quer ser? Eu só ensino o que posso ensinar, e se você não quiser terminar os seus dias numa caverna com todo esse conforto de quem foge da vida, assuma: você não está com Medo da Morte, você tem MEDO DA VIDA!

- Eu...

- MEDO DE VIVER nos afasta das pessoas, do mundo, das experiências, de tudo – disse o velho – Muito fácil é se isolar numa caverna como eu fiz, juntar tudo aquilo que lhe dá segurança, regurgitar o seu saber acumulado se achando a pessoa mais sábia do mundo, difícil é dar colo, cultivar os frutos para compartilhar com o mundo, esse é o cultivo, essa é a Cultura do Servir a todos, ao povo, ao popular, entendendo a linguagem do mundo e contribuindo com as suas espadas para que seu conjunto de ideias se una com a tradição do mundo e sirva como tapete voador para quem precisa ter os pés no chão, pois se não fizer isso, não vai “sobreviver”. Não caia nas *Armadilhas da Matéria*, e não use a vehice, a doença, as duas dores, a falta de dinheiro, o seu suor e seu cansaço como desculpa - Quem tem o privilégio de ter acesso a espiritualidade e ao conhecimento, tem o dever de ser cultura para o mundo, mas tudo é uma escolha. Guarde tudo para si e termine sendo culto para as paredes; compartilhe e seu CULTIVO alimentará quem tem fome de conhecimento e saciará a sede de quem tem sede de sabedoria. Sabedoria é...

- Saber Doar!!!

- *Matnis!*

- Desculpe! O senhor está certo, não quis ...

- Ofender?

- Sim!

- Me ofendeu, mas estou o velho o suficiente e não sou mais afetado por ofensas, palavras desencontradas impermeadas de sentimentos mal resolvidos em copas imaturas. Estou vacinado contra essas picadas, você também será vacinado, desde que não se submeta as regras, rótulos, crenças limitantes e dogmas do mundo. Tudo é dual tanto para o bem quanto para o mal. Portanto, me dê o seu passaporte.

Arlequim entregou ao velho o documento, e recebeu dele, um carimbo com um símbolo. O velho então devolveu o passaporte ao nosso Palhaço, mas antes falou:

- Observe a Linguagem do Mundo, aprenda a Falar como o mundo fala, a escutar como o mundo ouve, Sinta o sentimento do mundo e espalhe as suas ideias de uma maneira que todos possam Sentir esse algo mais profundo e sagrado que você trás em seu sorriso, mas sempre sendo um palhaço do meio, nesse equilíbrio sutil entre as duas bandas. Vai viver, menino, vai brincar de viver... e isso é muito sério! 

Arlequim pegou seu passaporte e sentiu o Zeitgeist. E quando estava saindo da caverna, viu a sua própria foto na parede...

*MATNIS*
♠️❤️♣️♦️

Arlequim e o Anjo


Foi a Tia do Arlequim que o ensinou, quando ele era Curumin, que antes de dormir, ele podia rezar assim:

" Santo Anjo do Senhor
Meu Zeloso Guardador
Que a Deus a ti me confiou
Guarde minha alma com Amor"_

E nosso Palhaço Cósmico mesmo sem entender o que era Anjo, Arcanjo ou Querubim, passou a rezar toda noite antes de dormir de tal forma, que se fez gente grande e ainda orava, meio que automático, meio que condicionado, mas ele se sentia bem ao dormir, protegido, como se o seu Anjo da Guarda estivesse ao seu lado e esteve, durante todo o tempo em que ele rezou, mas um dia, lhe disseram que aquilo era bobagem, coisa de criança, Anjo nem existia, como podia ter asas? Que tudo aquilo era um pacote cristão que enfiaram em seu coração, e ele repetia como um papagaio e na natureza da sua imaturidade de uma fase em que todos parecem ter razão, e o direito de acabar com os encantamentos dos Contos de Fada, ele parou de rezar, e deixou de acreditar em Anjo e suas noites já não eram mais tão tranquilas e em paz assim, e as perturbações eram tamanha, que depois de um grande tempo sem rezar para o seu Anjo da Guarda, ele relembrou a oração que a Tia havia lhe ensinado e orou novamente. Vai que funcionasse...

_"Santo Anjo do Senhor_
_Sob a lei da Piedade Divina_
 _Que sempre nos Governa_
_Guarda, rege e ilumina_
_Proteja o meu corpo aqui na Terra"_

E ele sentiu tranquilidade novamente. Como se fosse mágica, e era, a oração o acalmou e depois de muito tempo, ele dormiu em paz e sonhou...

Sonhou que estava num deserto numa espécie de noite e de dia. Não havia um ser vivo, não havia barulho, até o vento era silencioso. Ao se mover no silêncio, nosso Arlequim se sentia um tanto estranho, mas a ausência de som, também ressoava uma ausência de pensamentos e sem pensamentos, não havia palavras, conceitos, preconceitos, ideias, traumas, lembranças ou expectativas, e nisso, o nosso Palhaço Cósmico intuía que ele estava prestes a vivenciar algo que mudaria a sua jornada, daí, ele percebeu que ao intuir isso, um pensamento surgiu, mas logo se desfez no silêncio e então, um raio de luz, luz pura, brilhante e viva caiu do céu ou saiu da terra e Arlequim sentiu que estava na presença do seu Anjo que sempre esteve com ele, desde a infância e se fez calor e afeto através do silêncio da sua devoção, das pausas das palavras da sua oração que sua tia ensinara, no calar da fé que é mágica e milagrosa quando não estamos imersos no barulho dos pensamentos duais que desviam, desafiam, duelam e duvidam.

O Anjo não tinha asas, não era branco, nem negro; o Anjo não falava, não repetia salmos, nem parecia ser cristão ou muçulmano, nem tinha harpa, nem tinha espada, nem gênero; o Anjo era o fogo vivo que parecia estar entre a noite e o dia, o bem e o mal, o masculino e o feminino, mas não era dual, não era duas coisas, o Anjo era, apenas era o Fogo Vivo, então, o Anjo falou:

♩♪♫♬♭♮♯🎵🎶

Arlequim Observou...

🎵🎶♩♪♫♬♭♮♯

Arlequim Sentiu...

♩♪♫♬♭♮♯ 🎵🎶♩♪♫♬♭♮♯

Arlequim *Matnis*

Arlequim e o Livro


Nosso Arlequim ganhou um livro misterioso, cuja capa grossa e escura, não dava pistas sobre qual aventura, qual conhecimento, Arlequim embarcaria ao abrir aquele livro, e com muita curiosidade, ele sentiu a textura da capa e o cheiro das páginas...ahhh... nosso Palhaço Cósmico amava ler e descobrir mil novas experiências que os livros traziam, muitas delas, inimagináveis para nosso Poeta da Flor. 

Quando um livro é lido com coração, a palavra é sentida, as letras ganham vida e a magia ocorre. Magia do poder que as palavras possuem de mudar nossos sentimentos, pensamentos que modificam a nossa realidade; e foi com tamanho amor e respeito que ele se preparou para aquele ritual sagrado da leitura e quando finalmente abriu o livro, o título o surpreendeu: 

*O Livro da Nossa Vida*.

Nosso Palhaço Cósmico, observou, sentiu e virou as páginas, sentindo no tato de seus dedos que as palavras estavam vivas, elas pulavam da página, o tocavam de volta e circulavam pelo seu olhar.

Que mágica era aquela? – ele se perguntou, mas decidiu se entregar a experiência e o Livro primeiramente leu nosso Arlequim e só depois se deixou ser lido.

“Você está me ouvindo com os seus olhos, Arlequim, está me sentindo? Eu sou o *Livro da Sua Vida* que se escreve por si, com cada experiência vivida que vira palavras assim e cada leitor das suas palavras que degusta desse banquete de palavras, bebe desse vinho de frases, se alimenta e também escreve seu livro dentro de si: O Livro das Nossas Vidas. Quem tem paixão pelas palavras, domina a arte da magia, que não é sobre elementos de alquimia, nem oferendas a deidades, a Magia é a palavra espada que tirada da pedra, se transforma em ferramenta e daí o salto que o iniciado pode dar."

"Escrever é se tornar aprendiz de mago, de bruxa, feita, feito em MATNIS, a realidade ao nosso redor se transforma. Se você penetrar surdamente no Reino das Palavras, você poderá ir além e ter as ferramentas de todos os reinos que a sua mente permite acessar e seu espírito pode sentir.”

Arlequim sentia cada palavra como se fosse sussurrada no seu ouvido. E você? Consegue também ouvir a minha voz lendo essas palavras no seu ouvido? Consegue sentir? Arlequim aprendeu com aquela ferramenta que quando se abre um livro, quando se lê um texto e quando se escreve uma palavra, sem obrigação, mas com coração e compromisso com a magia ofertada, as palavras criam vida e vida é matéria, manifestação, sua realidade, *NOSSA REALIDADE*.

- Como posso ensinar para meus amigos, minhas amigas sobre essa magia da palavra, dos livros?

Arlequim perguntou ao livro que o escutou e as palavras então foram respondendo pelo ar, letras saltando do livro, frases pedindo passagem...

“Não precisa explicar, não tente, quem já sentiu o MATNIS, pressente, entende, compreende e está sentindo que cada vez que eles estão engajados, comprometidos, envolvidos e participam dos estudos das suas aventuras, das perguntas, das leituras com coração e escrevem com carinho, porque querem e não por obrigação, suas palavras ganham vida e transformam suas realidades. Essa é a magia da egrégora proposta, da escola mágica. Não é e nunca foi o poder que você tem com as palavras apenas, mas a criação conjunta. Um livro nunca é sobre apenas uma pessoa, uma estória nunca é sobre apenas uma vida. Eu sou o Livro da Nossa Vida, das NOSSAS VIDAS, e conto no encanto a estória de cada um de vocês. Esse Livro é SOBRE VOCÊ; e essas são as suas lições de feitiçaria, pois para um Bom Feiticeiro, uma Boa Bruxa, bastam as palavras do Livro de Suas Vidas.”

*Matnis*

terça-feira, março 05, 2024

Arlequim e o Aprender

Havia dois caminhos à sua frente, um levava a um palácio brilhante e outro à floresta. Nosso Palhaço buscava aprender, pois sentia que sua missão era ensinar, daí, ponderou e decidiu pegar o caminho que levava ao palácio...quem sabe ali não era a escola.

Nosso Arlequim viu aquele palácio tão bonito e na porta estava escrito: Sabedoria. 

- Eu sabia que aqui era o local certo! – ele pensou, enquanto entrava e via um belo salão dourado. Ele entrou, pisando macio com respeito, pois já sabia que não caminhava mais à esmo, cada parte da jornada, ele recebia uma ferramenta e cada ferramenta o ajudava a caminhar melhor, e assim, não estava mais equivocado e mesmo que estivesse (e ele não tinha medo de errar), são tantos os bons frutos, que mesmo se amanhã, ele descobrisse que estava errado, o aprendizado foi digerido; a lição espalhada em palavras – Errar sempre leva ao Aprender - Ele não sabia o que lhe aguardava ou se teria êxito, mais percebia na sutileza do que sentia, no perfume que cheirava, que não precisava acreditar para saber que sempre houve algo, sempre havia um porquê, sempre houve, há e haverá um Criador, um Arquiteto Divino que planejou, olham – vejam só - aquele salão dourado revelado e que lhe aguardava.

O mais curioso é que Arlequim já tinha estado ali antes...

E foi permitido que ele voltasse para esse salão dourado, depois de um bom tempo exilado por suas próprias desconfianças e se conto o que eu conto é que nosso Arlequim me deixou contar o que ele sentiu, pois preciso lembrar aos meus irmãos que estamos todos destinados a ocupar o nosso lugar ao lado do Pai, da Mãe e do Irmão. Somos todos filhos desse Reinado.

No Salão do Reino Dourado, ele viu centenas de pessoas que falavam línguas distintas, mas que se comunicavam pelo Sentir – MATNIS - todos os credos falavam sobre uma única fé; tanto faz se você segue Krishna, Jesus ou Maomé: SOMOS TODOS UM SÓ.

Quem entra no Salão, jamais esquece que ninguém e todos tem toda a razão e ao respeitar as mais diferentes formas de manifestação da fé, compreendemos que não há nada mais sagrado do que a união de todos os credos e linhas. Isso resulta em conhecimento que são ferramentas, mas são as ações que levam a sabedoria.

E a sabedoria, é a ciência de SABER DOAR.

Foi por buscar o saber doar, que Arlequim entrou naquele Palácio da Sabedoria e encontrou com o Rei Salomão.

- Finalmente, cheguei em seu salão, meu Grande Rei da Sabedoria. Gostaria que o senhor me ensinasse a ser sábio.

O Rei Salomão olhou o nosso Palhaço Cósmico, sorriu, com os olhos brilhantes, respondeu:

- Você aqui de novo? 

- Eu? Já estive aqui? Acho que sim, mas não me lembro direito...

- Sim, já tivemos essa conversa diversas vezes, meu caro Palhaço, e se esqueceu porque sempre pegou o atalho, o caminho mais percorrido, mais fácil.

- Como assim...

- Já te expliquei e explicarei de novo e quantas vezes for preciso, mas te recomendo, só uma sugestão: ao invés de pensar a respeito, observe e sinta o meu conselho. 

“Não se aprende a ser sábio num palácio, se aprende a sabedoria, lá fora, naquele outro caminho mais extenso que você deixou de fora. Retorne, volte e dessa vez, escolha o caminho menos percorrido - Volte para mata, peça licença a Jurema quando pisar na floresta, e entre no Reino das Folhas, as Cidades encantadas das princesas, e dos príncipes do vegetal – Sobonirê Mafá - e reconheça os ensinamentos das folhas de Osanha e peça para o Grande Professor, Senhor Oxossi, lhe ensinar a acertar 3 dragões com uma flecha só, depois que você vivenciar tudo isso e aprender direito a como colocar isso em prática na sua vida, só depois – retorne aqui e aprenda o que é sabedoria.

Arlequim, ainda meio confuso, agradeceu e respeitosamente seguiu as instruções do Rei Salomão e voltou ao ponto inicial, e trilhou pelo outro caminho menos percorrido, que o levava a mata, que o faria entrar na floresta...

*Okê Arô!*

segunda-feira, março 04, 2024

Arlequim e o Pai Criador

Nosso Arlequim, Palhaço Cósmico estava em busca do Pai, e mergulhou em suas viagens pelo Reino de Copas para se preparar para estar flexível o suficiente para essa jornada e assim, ele buscou, andou, caminhou, caminhou, aí como ele caminhou, e foi até que encontrou uma flor. Não entendeu, não compreendeu e daí, ele observou e sentiu – *Matnis* – estava diante do Criador em sua criação.

Não era o espaço infinito, nem era um prédio de mil andares, não era um sol dando luz, calor e vida para uma galáxia inteira, era uma Flor... 🌸

E de todas as possibilidades possíveis, *O Criador criou a Flor*.

Que perfeição, que beleza em cada pétala havia detalhes quânticos; no caule a sustentação do mundo todo de uma flor e no perfume, a fragrância do Primeiro Amor. 

Perfeita.
Perfeito!

Como conseguiu se concentrar?

Como conseguiu formar a flor, tendo à disposição milhares de outras ideias?
Como conseguiu dedicar tanto carinho e perfeição para a flor, e também para aquela estrela, que Ele acabou de fazer nascer?

Ele é o cara!
Porque entre a criação de uma estrela e a formação da flor, Ele ainda olha e sorri para nosso Palhaço Cósmico.
O Rei da concentração e da criação.

Entre tudo aquilo que Ele tem para fazer, ainda arruma tempo para falar com nosso andarilho.
Não diz nada e fala tudo.
Sorriso! Existe comunicação mais exata?

Se o sorriso fosse um número, seria infinito...

Nosso Arlequim queria ter escrito algo quando O viu, mas, naquele momento em que mais precisou, não havia caneta nem papel com ele. Precisava?

Por que será que, nos momentos mais belos das nossas vidas, não carregamos com a gente uma máquina fotográfica, um gravador ou uma caneta? Piada divina! Nosso Palhaço riu sozinho, se dando conta que o *Pai realmente é o cara!*

E, quem era nosso Arlequim?

De todas as possibilidades, ele escolheu criar quem ele era.
Como conseguiu se concentrar?
Como conseguiu formar seu caráter, tendo à disposição milhares de outros personagens?
Da mesma forma que Deus criou a flor: *Foco*!

Contudo, entre trancos, vidas e barrancos - todos sabem - é difícil manter o foco.

Impossível se concentrar. 

Será?

Temos todas as possibilidades de nos tornarmos quem quisermos...

Ou fazer se tornar realidade todos os sonhos possíveis.
Mas por que demoramos tanto?

Ou por que, às vezes, temos a impressão de que nunca chegaremos lá?

Ora, porque Falta de foco!

Por isso não somos o cara!

Não dedicamos carinho aos nossos projetos. 
Falta amor e dedicação.
Por isso nossas vidas são imperfeitas.
Não estamos trabalhando com aquilo com que viemos aqui para fazer, pois perdemos o foco.
E se, em lugar de todo aquele tempo gasto com picuinhas, tivéssemos nos dedicado totalmente ao grande projeto das nossas vidas?
Onde estaríamos agora?
Será que já não teríamos criado a nossa Flor?

Arlequim havia encontrado o Pai e com muito respeito, carinho e gratidão, O saudou e se despediu, mas antes, fazendo suas arlequices, decidiu fazer uma pergunta e pediu permissão com o olhar, O Pai respondeu com um “Jóinha”! 👍🏽

Nosso Palhaço Cósmico, então, perguntou:

- Pai, quem veio antes? O Senhor ou Mamãe?

E O Pai respondeu:

“Não existe Pai sem a Mãe, Arlequim
Muitas são as danças sexuais entre a multidiversidade dos gêneros em todas as Casas da Manifestação da Consciência, porém, o princípio Criador é único: *Feminino*.
Antes do Big Bang, havia o Útero Divino da Mãe cujo líquido derramou amor por todo o vazio manjedouro, cujo alimento é a experiência de cada ser vivo. A experiência de cada um de vocês é o que mantém o universo real para todos – O Filho. Esse é o poder da Tríade Sagrada. Meu trabalho é esculpir a matéria prima da Mãe e as experiências dos Filhos e lhes entregar essa Flor”

E foi assim que nosso Arlequim, se tornou o Poeta da Flor.

 
*MATNIS*

Pedido de Intercessão


Se vê um velhinho no caminho, toma abençoa 
Toma a benção 
Adorei as Almas Benditas
Oh Pai Curador 
Atotô Obaluaê 
Atotô Meu Pai

Eu tomo a benção 
E na bem dição 
Benzendo vou com as minhas palavras 
Espadas 
♠️
Todas as direções 
Em nome desse Pai Curador 
Que nos envolve com seu véu de amor ❤️ e nos ajuda a construir ♣️ nossa proteção.
Que o meu servir, o meu ouro ♦️ essa noite, Atotô seja para pedir acalento 
Cura
E proteção a todos os nossos irmãos brasileiros 
Que enfrentam essa chaga
Trazida por esse bichinho 
Que também é Natureza, meu Pai
Eu sei
Eu sinto
Matnis
Mas se eu puder, Papai 
Com a ajuda da Mãe Divina
Senhora Oxum e Vovó Nanã 
Com a benção de Yemanja 
Odoyá 
Auxilia Oyá a espalhar pelos quatro cantos desse nosso país 
Os Ventos da Proteção 
Pai
Afastai de nossas crianças 
De nossos idosos 
De nós
Essa doença 
E traga para aqueles que a enfrentam toda a firmeza das rochas do Pai Xangô 
E que as ervas 
A Medicina de Pai Oxossi e de Ossanha possa levar a cura para seus lares.
🎋🌻🪷🪶

Nessa Egrégora da Flor 
Do nosso Poeta Arlequim 
Portal aberto Para seu Jardim de Flores, Pai
Eu Decreto aqui
*Pedido de Intercessão* 
Em nome das famílias que sofrem com essa doença 
Que elas possam receber todo o amor, carinho e firmeza para passarem por essa nuvem e respirarem a paz de Oxalá, trazendo harmonia e saúde para seus lares. 

Peço, Pai
Na permissão dada a mim
Como Professô de Matnis
E contador de casos do nosso Arlequim
Intercessão em nome de tudo que é mais sagrado
Com a sua permissão, Pai Obaluaê
Atotô
Pedido a sua bênção 
Meu Bom Velhinho
Atotô
Atotô
Assim é, assim foi e assim será 
Amém 
🙏🏽

sexta-feira, março 01, 2024

O Arlequim e a Vó

Vou compartilhar com você um segredo, mas é preciso que você me prometa que ele só vai ficar entre a gente, pois tem pessoa, nesse mundo, que se assusta fácil e se não escutar ou ler sobre esse segredo direito, pode até achar que a visão que eu tive é obra do "coisa-ruim"; e por mais medo que eu tive, e tive muito medo, tudo do que eu me recordo é o que eu vou lhe contar agora: Eu vi a "Mãe Velha"!

Ela se revelou para mim e se eu ainda consigo lembrar disso, deve ser porque ela me deixou, ao menos, manter parte da lembrança e alguns presentes; se bem que essa memória pode ter sido distorcida por símbolos antigos inebriados pela minha fé em qualquer coisa; daí, já de início, fica o meu sincero pedido de desculpas, se por alguma aventura, você for conduzido a acreditar em algo do que eu acredito; a minha esperança é que você, leitor seletivo e inteligente, possa usar o seu discernimento para ir além dos meus escritos, ler nas entrelinhas o que se está sendo dito e os revista com os seus próprios símbolos, porém, peço que mantenha, ao menos, o respeito pela ideia original, o encontro com esse arquétipo da "Mãe Velha", a Vó, a Preta-Véia, Mata Kali Jai Mata, Nanâ Buroquê, seja qual for o nome que você dê...

Eu, talvez em voo, talvez em sonho, lembro ainda que a minha consciência escapuliu da minha mente e foi parar bem distante, no meio de uma floresta, dei de cara com uma cabana de madeira, donde uma fumaça saia da chaminé, e os cheiros das folhas da mata se misturavam com um cheiro de café. O cheiro de algo tão forte me deu conta que eu não estava pelado de corpo, e logo em seguida, o som das folhas sendo pisadas, denunciava que eu estava vestido com alguma espécie de corpo, que me permitia também ouvir o canto das cigarras, os grilos e o piado da "Mãe da Noite", um pássaro do cerrado brasileiro com fama de bruxa. Confesso que fiquei com medo, deu vontade de correr; mas ao mesmo tempo, lembrei que tinha ido parar naquelas bandas por algum motivo; daí, criei coragem e bati na porta, e a porta rangente se abriu e vi, lá dentro, sentada, uma velhinha, cujos cabelos prateados se derramavam de sua cabeça e se espalhavam pelo chão, e ao chegarem no chão, os fios de cabelo se transformavam em raízes que entravam pelas frestas do assoalho de madeira. Sentada numa cadeira-de-balanço, ela balançava para aqui e paraculá, e a cadeira cantava, nhã iá-nhã iá sem parar, sustentando o peso dessa senhora que era do tamanho do mundo. 

Vestida num belo tecido cor de rosa brilhante, ela tinha nos cabelos, uma tiara de diamantes, mas seus pés estavam descalços e sujos de lama; e em suas mãos, ela tecia uma malha com duas agulhas de tricô, enquanto seus óculos caiam eternamente pelo seu nariz, porém, acima deles, havia um par de olhos brancos, cegos como um caminho coberto de névoa e neve.

- Olá! - ela disse, daí, senti vergonha de lhe estar olhando, mas ainda deu tempo de observar no seu rosto as rugas do tempo que pareciam contar a origem das estrelas e as experiências das Terras todas em uma só face.

- Oi! - respondi, sem saber o que dizer, nem como reagir, daí, notei que os seus olhos brancos tomaram cor, e em cada um deles, havia uma banda de uma lua que ficava cheia quando ela sorria, e ela sorria muito. E cada vez que ela piscava, um pássaro lá fora, gritava: Salubá! Salubá!

Eu quis logo me ajoelhar; ela acenou que não; ela disse que existe uma diferença entre respeito e submissão; que um viajante deve aprender a se ajoelhar com o coração, não com os joelhos, para poder pisar em todo lugar; daí, em algum ponto aonde corre a nascente da minha intuição e quem eu sou, eu ouvi ela me contando a história do mundo em que vivemos; e vi uma fila de espíritos esperando ela tecer a malha da matéria que eles usariam na Terra.

Ela me contou outras tantas coisas, mas disse que tudo aquilo só faria sentido lá naquela cabana, pois tão logo, eu saísse dali, toda aquela conversa viraria pó de lembrança como o corpo que se desfaz ao fim da nossa existência no mundo da matéria. Sal da Terra. 

Perguntei se poderia guardar, pelo menos, a recordação de tê-la visitado; ela riu e sua gargalhada tinha o som de uma queda d'água batendo nas pedras do rio, e disse:

- Você não veio me visitar, eu é que estou te visitando! Você vai esquecer boa parte daquilo que estamos conversando, mas à medida que você for trilhando o seu caminho, o que eu te disse, vai intuir em você, como chuva caindo...eu vim te visitar para te entregar dois presentes que você pode levar: esse bocadinho de sal e um cadinho de canela. Receba e guarde com carinho no seu alforje para que esse sal e essa canela também voltem com a sua consciência na vigília. Junto com ele, te dou também um cadinho de canela, sopre o sal e a canela, mas não é somente para você. Todo presente que a Vó te dá é para o mundo. O sal é para ajudar seus amigos e a canela é para que sua casa tenha sempre o axé dos Avós, mas antes de espalhar a canela pelos quatro cantos da sua casa, ofereça o Sal da Vó para aquela menina, filha de Oyá, que pegou a peste do mosquito, as outras duas com gente doente em sua família e que mesmo assim, honram seus compromissos; aquela outra com aquela dor que está sempre lá, a outra que não dorme; ainda tem aqueles dois, que precisam se firmar; aquela que precisa aprender o tempo de ensinar; a outra que está aprendendo a se expressar; uma outra que está aprendendo a reconhecer que a sua arte é como a cachoeira de Oxum, e a lista continua pelo seu grupo de amigos lindos que tanto aprendem com você, meu querido neto, meu lindo Arlequim.

- Obrigado, Vovó! Eu vou soprar seu sal para todas essas pessoas amigas e a canela em meu lar.

Daí, caí ou levantei do meu sono, lembrando que eu jamais poderia esquecer aquele encontro, afinal, eu trouxe comigo algo desse sonho: a malha da "Mãe Velha" nesse corpo que estou vestindo, a canela para fortalecer a minha casa e esse sal que eu vou soprar para cada um de vocês, sob a benção de Nanã. 

Saluba 
Matnis

quinta-feira, fevereiro 29, 2024

O Arlequim e A Mulambo

Nosso Arlequim, andarilho da vida, continuava descobrindo tudo aquilo que a jornada lhe trazia. Algumas frutas doces, outras verduras amargas, mas só bem lhe fazia, pois ele sentia que quando menos atrapalhava o processo da experiência com expectativas, mas ele se surpreendia com os presentes do Jardim da Mãe Divina. 

Na idade, das explorações do Sentir, foi convidado por seu melhor amigo Pierrot, um sujeito triste e meio melancólico, mas sincero e leal, para conhecer as delícias do Carnaval e os mistérios das luzes vermelhas. 

Respeitoso diante do poder que sentia percorrer o seu corpo pelas belas mulheres, Arlequim era um tanto receoso, mas sentia enorme atração para aprender mais sobre aquele ministério de deixar fluir a energia que parecia serpentear seu corpo, em momentos inusitados, em instantes sedutores. 

Já havia provado um tanto disso com Colombina e se frustrado, agora, em plena folia das ruas, estava naquela casa onde mulheres das mais diversas formas e perfumes, exalavam seu charme para aqueles homens com moedas em seus alforjes, mas que não passavam de meninos, diante do poder feminino. 

Pierrot afirmava que aquele lugar daria a Arlequim, a mais profunda iniciação ao Prazer, e Arlequim confiava no amigo para tal sugestão, mas sentia que embora não houvesse preconceito com a mais antiga das profissões, não era assim, que ele desejava ser iniciado e descobrir as chaves daquela ferramenta. 

- Agradeço ao seu convite, caro amigo, mas prefiro não prosseguir – disse Arlequim que recebeu de Pierrot nenhuma objeção. 

Pierrot era amigo, sabia que quando um amigo dizia não para ele, treinava o sim para si mesmo.

Talvez, Arlequim tenha sido o primeiro menino a entrar naquela casa vermelha sem ter provado dos sabores que a casa oferecia, mas com certeza, foi o primeiro homem a sair dela, confiante que não seria ali, que ele teria contato com a magia do toque e a expansão do cume do gozo.

Caminhando nas ruas, Arlequim se juntou aos cortejos de Carnaval, dançou com os foliões, cantou os mais divertidos refrões, e se uniu as marchinhas, confetes e purpurina pelo ar, naquela festa do povo que libertava aquela gente da pressão do coletivo e rompia o status quo. 

Foi ao passar por uma encruzilhada, em meio aos tambores e cornetas, que ele sentiu uma doce fragrância de lavanda encantar o seu olfato. 

Perfume que o envolveu e o fez dançar na encruzilhada, fazendo-o lembrar de um certo encontro de outrora, mas a lembrança se desfez, quando ele percebeu surgir na penumbra, fios de tecidos que pareciam trapos, que dançaram juntos com ele, como se tivesse vida própria, ou era apenas o vento, mas naquele exato instante, dentro daquele tempo, Arlequim sentiu um leve toque, talvez fosse novamente o vento, mas Arlequim se deixou levar por aquele quase carinho, percorrendo a sua pele. Carinho que acordava todos os seus pelos, fazendo vibrar cada molécula, fazendo cócegas em cada átomo. Os toques continuavam em lugares diferentes do seu corpo, cada lugar que era acordado por aqueles dedos do vento, despertando novamente memórias de outrora, liberando medos, curando dores, até que nosso Arlequim viu aquela Mulher vestida de vermelho e negro se aproximando, com farrapos cobrindo as curvas de seu corpo, os mesmos farrapos que ele havia visto, e que pareciam ser tecidos rasgados, mas ao mesmo tempo, lembrava as sedas mais deslumbrantes que ele já havia visto. 

- *Boa noite, Palhaço do Sentir, bem-vindo a minha corte. Eu sou a Nossa Senhora da Rua, a encruzilhada é o meu Reino.*

Arlequim saudou a moça bonita, que trazia no chapéu branco, uma rosa vermelha, bem parecida com a rosa que ele carregava em seu peito, e na mão direita uma taça de champagne, cujo líquido dourado parecia ser feito de estrelas e brilho da lua crescente. Ela lhe ofereceu sua bebida e avisou:

- *Tome da minha bebida. Sinta em sua boca, receba em sua língua, o doce sabor das copas, mas saboreie com calma, deixe que seu corpo sinta com leveza o prazer dessas gotas se derramando, se juntando com cada parte do ser. Esse é o meu beijo.*

Arlequim sentiu a taça em seus lábios explodindo em mil desejos ainda não saciados. A bebida parecia ser a própria vida que lhe adentrava, borbulhante, gelada em substância e quente em sensações.

Aquela bebida era o Santo Graal da sua criatividade, trazendo mil ideias, mil projetos pedindo passagem, estórias sendo contatas, pétalas de lótus se abrindo.

- *Dance comigo, meu Arlequim, mas sem me tocar, apenas sinta meu movimento, como se você sentisse os raios da manhã tocando a sua pele. Esse é o meu toque. Essa é a minha oferenda.*

Arlequim dançou com a Senhora da Noite como se aquela fosse a Dança do Dia que nasce, despertando a sua vontade de viajar pelos quatro cantos da Terra, manifestar realidades, construir mundos, servir a humanidade com a sua arte. 

Cada movimento em compasso com a Mulher dos Mistérios, era uma Gira da Realidade, onde tudo poderia ser possível, sob o poder da liberdade.

Naquele momento, ele aprendia uma nova alquimia, a magia do receber, e por um momento, ele quis retribuir, entregar a rosa vermelha que ele também carregava em seu peito e entregar para a Senhora da Sedução em gratidão, mas ela disse: 

- *Não!*

E ele entendeu, SENTIU, que a Dança do Prazer que recebia era uma oferenda e como tal, a sua única atitude era receber com respeito, gratidão e reverência. E assim o fez, nosso Arlequim, sorriu de agradecimento e ajoelhado recitou uma poesia...

_“Nossa Senhor da Rua,_ 
_Mulher de Todas as vidas,_
_Feminino Sagrado;_
_Agradeço por essa ferramenta recebida, pela lição aprendida, por todo esse carinho, por esse agrado.”_

O vento então trouxe a névoa que cobriu a Divina Mulher em brumas e quando o mesmo vento se dissipou, nosso Palhaço Andarilho viu apenas os tecidos que pareciam trapos no meio da encruzilhada e se lembrou...se lembrou... que ruínas já foram castelos; os mulambos, os farrapos, os trapos eram tudo aquilo que pode ser esquecido pele tecido do tempo, mas sempre será lembrado: *respeito pelo que se recebe na carne, na pele, no coração, na mente e na vida.*

_O respeito é o prazer de ser grato pelo carinho que nos foi e é oferecido._

*Matnis*

Arlequim e a Casa das Mil Personas

Arlequim bateu na porta da Casa das Mil Personas, foi atendido por ele mesmo, a *Persona Servidora*.

Depois de bem alocado, sentado no sofá e olhando os quadros na parede que pareciam ser fotos suas de outras épocas, notou o vai e vem de muitos outros Eles, mas permaneceu aguardando, afinal, ele estava aprendendo, quando as coisas mais estranhas aparecem, é preciso observar, sentir e aprender. Não demorou muito, e nosso Palhaço Cósmico viu uma versão dele, vestido de terno e gravata, descendo pela escada, e vindo na direção dele.

- Seja bem-vindo – disse aquele outro Arlequim, que não parecia mais novo, nem mais velho que ele, mas tinha um olhar de autoridade e uma pose de que ele só poderia ser a *Persona Gerente*, aquele que organizava e administrava aquela Casa das Mil Personas. – Vou te apresentar nossa casa.
-
E Arlequim foi seguindo o Gerente por aquela casa tão bela e tão estranha, casa que parecia ser desconhecida e um tanto familiar. 

- Recebemos a todos, nessa Casa das Mil Personas, não temos preconceitos com as novas Personas que vão chegando, nem excluímos as Personas que já não atuam mais – disse o Gerente – Veja, aqui é o quarto das Personas da Infância, são muitas, mas a principal é a *Persona da Criança Faladora*, foi ela que ancorou nossa primeira comunicação com o mundo e conseguiu juntar tudo o que aprendeu ouvindo, com tudo que aprendeu testando e fortaleceu a nossa consciência quando disse nosso primeiro *“não”*. Logo ali, no outro quarto, tem as *Personas Manipuladoras, as Personas Violentas, as Personas Choronas* e outras tantas que preciso manter um olhar mais vigilante, pois elas podem te atrapalhar com as coisas lá de fora. 

E nosso Arlequim foi seguindo pela casa, vendo milhares faces dele, as tantas mil Personas que ele sabia, sentia, já havia tomado conta dele, ainda tomava, entidades do astral interno que o incorporava sem que ele soubesse.
A Casa era gigante e os quartos pareciam infinitos, e ao perceber isso, nosso Arlequim perguntou ao Gerente:

- Cabe tudo isso dentro de mim?

- Cabe muito mais, essa é a apenas a Casa das Mil Personas; quando você estiver preparado, poderá conhecer as casas vizinhas e descobrirá que somos mais que um bairro, muito além de uma cidade, tudo dentro.

- E como o senhor administra tudo isso?

- Essa é a função do Gerente, quando fui criado por você e pelo mundo, aprendi a desempenhar a minha função. Então, gerencio qual Persona toma de conta de acordo com a ocasião e com a ajuda das *Personas Vigias*, mantemos a ordem e não deixamos nenhuma Persona tomar o controle. Algumas Personas tentam tomar o poder e ficar mais tempo do que poderiam; algumas até tentaram controlar tudo. E temos que colocá-las no lugar delas, em seus quartos. Mas sem punição, deixamos que elas acreditem que possam ter o seu poder. Temos nossos meios de gerencia-las. 

- Mas... o controle lá fora é meu, certo? – perguntou o Arlequim.

O Gerente sorriu... e respondeu:
...

terça-feira, fevereiro 27, 2024

O Arlequim e a Senhora dos Ventos


O menino Arlequim já não é biologicamente tão menino assim, está mais para homem, mas as dores da infância ainda estão latentes e apesar do dente de leite já ter desleitado, um novo dente, dente-pedra-casadosavós - precisa nascer e ocupar seu devido lugar no Sorriso de nosso Palhaço Cósmico. 

Adolescentar é SENTIR na matéria todos os fluídos e mudanças do Reino de Copas sem a inocência da infância e ainda sem a maturidade de ser adulto. Tudo é confuso, porque dentro é uma confusão.

Nosso Arlequim adolescente não poderia ser diferente, mesmo conectado e tendo flashes de lembranças, volta e meia, meia e volta, lá estava ele, sendo jogado pelas ondas químicas que refletiam as ondas experiências fora e qual onda é a mais arrebatadora para o nosso Adolescente do Riso --- a mesma que foi para cada um de vocês nessa fase: a paixão!

Quando Colombina apareceu pela primeira vez, ela tinha a forma de uma linda morena, esperta, inteligente que olhava qualquer OUTRO adolescente que fosse diferente de nosso Arlequim que era um teen bem diferente, daqueles que não cabem nos grupos dessa fase, aqueles que só aceitam quem se veste e age como tribo, Arlequim não conseguia se passar por qualquer outra coisa se não por si mesmo. Gostava das músicas porque as canções eram belas e ele as amava e não porque todos escutavam. Se vestia da forma como se sentia bem e não porque era moda ou mais aceita. Então, nosso Arlequim sofreu MUITO porque embora a fase pedisse sua integração a um certo grupo de mesmos gostos e mesmos interesses, Arlequim parecia não pertencer a nenhum deles, e Colombina era COMPLETAMENTE DIFERENTE - a mais popular, ela era a mais bonita, mais aceita, mas desejada, porém, o que fez Arlequim se apaixonar por Colombina era porque ela era uma artista. 

Certo dia, Arlequim foi ajudar Colombina a estudar para uma prova e ao entrar na casa dela, nosso Palhaço Cósmico SE ENCANTOU porque viu toda a arte que ela produzia, desenhos lindos, esculturas maravilhosas e todas aquelas formas feitas pelas mãos daquela menina - isso tudo despertou em nosso Palhaço, um grande fascínio que foi seguido por uma grande atração – PAIXÃO - mas também decepção quando ele ouviu de Colombina que não era para contar para ninguém sobre a arte que ela fazia.

- Por que não? – perguntou Arlequim – É tudo muito lindo.
- Não! Não quero que ninguém saiba. A turma da escola vai me zoar e achar que sou alguma nerd, alguma maluca,... alguém como ...você... não! Não quero que ninguém saiba que eu faço isso.

Arlequim sentiu – MATNIS- nunca contou, mas seu coração queria gritar para Colombina que ele queria ser uma peça de arte nas mãos dela. Mil fantasias, desejos e anseios o levou a declarar a sua paixão, prematuramente descrita como amor e ela o rejeitou. 

Ahhh...dor!!!

As dores do primeiro coração partido o derrubaram mais que a separação dos seus pais... as mesmas ondas que o levaram a sonhar com aquela linda moça, destruíam seus castelos de desejo, seus sonhos a dois, seus anseios e Arlequim diante de tamanha dor, quanto dormia, entrava em regiões escuras que o afastavam das vibrações de Obá, quando acordava, ele só queria fugir, escapar daquelas emoções, sentimentos perversos que o jogavam para as lágrimas, que o derrubavam nos buracos mais escuros, e foi aí nesse momento, que alguns conhecidos, nunca amigos, o convidaram para uma festa, e nessa festa, havia bebidas, havia drogas, havia fugas mágicas da dor que lhe foram oferecidas e nosso Arlequim se viu num momento de escolha: a dor ou o alívio?

Hum...

Ah... Reino de Copas com suas águas que acalmam e com tempestades que tormentam. Nesse momento, ecos de Obá intercederam e Arlequim foi envolto pelo vento que num espiral de tempo e espaço, o levaram entre um segundo e outro para a presença de um redemoinho. Em meio ao vento, ele viu um Buffalo Negro se aproximando e o som que ele fazia, era como se mil tambores soassem e no céu, mil raios e trovões anunciavam a chegada de Oyá que surgiu que rompeu a imensidão para se manifestar mulher poderosa em frente ao nosso Palhaço Cósmico que a saudou, a Parte que Sabe silenciou em reverência. 

- Senhora do Vento, eu a saúdo!
"Palhaço do Amor, eu te abençoo e te alerto: não fuja da dor da rejeição, não escape da dor de não ter controle sobre o outro, você nunca terá, jamais! O Amor só ocorre na junção de dois querer, nunca no desejo de só um pertencer. Ninguém é rejeitado quando se sabe o valor que tem. Nenhum coração é partido quando alguém conhece a beleza de seu próprio coração. Não se confunda com a mente, ela é ferramenta,OBSERVE! Não se confunda com as emoções, elas são correntes dos fluídos do Reino de Copas, SINTA! Emoção não é sentimento, paixão não é amor. O Tempo vai te mostrar que quando sua Arlequina estiver pronta para te amar, você estará pronto também para a libertar da sua pressa, seu relógio, sua gaiola que quer o canto de um pássaro só para si. Sinta! Mas não escape, não fuja por caminhos que vão te afastar da sua PRESENÇA e da LEMBRANÇA de quem é.”

-Eparrei, Mamãe!

- Matnis, meu filho!!!

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

O Arlequim e o Reino de Copas

É noite serena de lua cheia e nosso Arlequim sai da cama com o seu barquinho astral. É madrugada de pescaria, por isso ele preparou os instrumentos, ajustou seu barco e saiu do Porto Beta, seguindo rumo ao Mar Alfa, navegando nas ondas cerebrais.

Nosso Arlequim ainda é criança, mas quando dorme, ele se lembra, lembra quem é, Obá Obá Obá! *Salve o Divino Lembrar - Viva a Parte que Sabe*

As águas estão agitadas e o seu barco parece estar furado, mas não é água que entra, é lucidez que sai. Ele ergue as velas da luz que ecoam Om, Om, Om e segue tapando os buracos da consciência que escapa. Está aprendendo ainda a ser marinheiro da experiência e é com muita paciência que vai cobrindo furo por furo e mantendo-se desperto nesse mar da inconsciência.

Com firmeza no leme, concentra a sua atenção nas ondas à frente, ignorando o que vê ao lado. Com o canto do olho esquerdo, vê sereias, terras prometidas, lindas donzelas e outros tantos tesouros escondidos. Com o canto do olho direito, vê monstros, peixes gigantes, dragões de sete cabeças e todo tipo de horror que o repulsa e atrai. Contudo, resiste a tentação de dialogar com essas seduções e segue fortalecendo o seu barquinho que avança cada vez mais pelas ondas desse mar de ilusões, oceano com seus significados dos mais variados, e à medida que prossegue, percebe que as visões que as ondas carregam se dissolvem nas mais intensas cores, e já não está navegando num mar bravio, barqueia por um mar colorido. 

Cada onda representa uma mensagem, formando um arco-íris marítimo das lições do Divino. Para navegar por esse arco-íris aprendeu faz pouco tempo, que é preciso usar a bússola do amor e o remo da força de vontade para trabalhar.

Pescador, oferece como isca a boa sintonia e o mar reage, oferecendo-lhe peixe-dourado, peixe-firmeza, peixe-espada, peixe-harmonia e peixe-palhaço, pois pescaria divina sem alegria é totalmente sem graça. Com o barco cheio, antes que retorne ao Porto da Vigília, agradece a Janaina, Rainha do Mar e das Ondas Mentais, por ter entrado em suas águas e não ter naufragado pescando o que parecia ser peixe, mas não passava de pneu furado. Odoyá sorri e canta uma melodia que diz algo assim:

“Volte para o seu mundo, meu Pescador do Amor, e compartilhe esses peixes dourados do mar do arco-íris com todos que tiverem olhos para te ler e discernimento para compreender que somente com o barco da sintonia fina e sutil, os marinheiros da projeção da flor conseguirão entrar no mar do primeiro voo com a Mãe Divina e perceber que esse mar do amor cada um carrega dentro de si, durante todos os dias, O Reino de Copas se faz presente em tudo aquilo que se sente. Tudo que está em cima, está também embaixo; tudo que se encontra dentro, também se apresenta fora. Observa, SENTE e manifesta a sua experiência”.

- Como me lembrar lá no corpo, Mamãe?

“Matnis, filho, Matnis!”

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