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Síndrome da impostora: o início de um sonho/deu tudo certo

por   /  15/08/2020  /  15:00

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O início de um sonho/deu tudo certo.

O que vocês sentem quando pensam na síndrome da impostora? As respostas: autosabotagem / culpa / desgaste / bloqueio / medo / apreensão / incerteza / silêncio / ansiedade / insegurança / pânico / desafio / coração acelerado / invisibilidade / impotência / julgamento / cobrança / não lugar.
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Quais palavras emergem depois de duas horas? Conexão / acolhimento / identificação / força coletiva / alívio / sinto muito / potência / compreensão / inspiração / possibilidade / em expansão / vontade fazer um trilhão de coisas / energia / lágrimas / privilégio / gratidão / “me sinto pronta” / coragem.
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Que força tem uma roda de mulheres! Muito obrigada pela entrega, queridas, já me sinto outra depois dos nossos encontros 💕
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#falaqueeunãoteescutoimpostora #escrevescreve #chegadesíndromedaimpostora #sindromedaimpostora

Parece que não é mais permitido sofrer

por   /  12/08/2020  /  9:04

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Cada um tá fazendo o melhor que pode, eu sei. Sobreviver já é a vitória que conquistamos em 2020. Ainda assim, tem dia em que eu choro aquele esguicho de lágrimas porque tá pesado demais. Sofro por mim, por você, pelo mundo inteiro. Por essa suspensão, esse não saber, por quem perdeu pessoas amadas, por quem nem pode sofrer por tudo isso. E logo penso: tem que dar conta, precisa ganhar dinheiro, é bom comer bem, fazer exercício, trabalhar, ir na análise, fazer a ronda dos amigos, passear com o cachorro. É preciso prever o futuro, ouvir gente que precisa cravar que o novo normal vai ser assim, que o futuro já não é como era antigamente. Looping de angústia com incerteza.
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Ainda assim, parece que não é mais permitido sofrer. Se compartilho uma angústia, logo ouço: vai ficar tudo bem. Se estou mal, leio: tá tudo bem não estar bem. Se vivo um momento difícil de qualquer ordem, recebo um: vai passar, você vai ver.
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Parece que a gente perdeu uma capacidade de sustentar a dor. Parece que a solidão que eu tô sentindo não é só sobre tudo isso (e também sobre a gente não se ver), é uma solidão de não poder sofrer. Escrevo, então, pra me autorizar a sentir.

Talvez seja mecanismo de defesa. Afinal chegamos aos 100.000 mortos, e a vida voltou ao “normal” pra tanta gente, em tantos lugares. Vida que segue, apesar das que nunca mais voltam. Explosão em Beirute? Mais uma dor que sai no jornal. 

Endosso o discurso do vai passar tantas vezes. Principalmente se alguém vem dividir um problema. Já quero arranjar solução, nem parece que li “Comunicação não violenta”. Me policio pra acolher mais do que dar conselho. Falho várias vezes.

Voltando à angústia. Tem dias que me sinto só. Apesar de tanta conexão, grupos de Whatsapp, comunicação que nunca termina… Tão conectados e tão sozinhos, lembro da Sherry Turkle.

Às vezes tenho a impressão de que mais vale discorrer sobre o cancelamento do dia, ler o texto que originou o cancelamento, a réplica, as trocentas tréplicas em formato de thread no Twitter, o pedido de desculpas, o descancelamento. Duas horas de leitura de treta aí. A gente gasta um tempo criando opiniões sobre o que quer que seja, mas passa tão menos tempo perguntando como o outro está de verdade pra além do tudo bem, como foi o fim de semana?

Pra sobreviver ao presente, a gente projeta o futuro e fica com saudade do passado. Na velocidade dos dias a gente faz caber tanta coisa. Menos nosso mal estar, nossas dúvidas, nossas angústias. Penso que quem viveu guerras ou outros momentos históricos talvez sofresse mais coletivamente (a gente sempre acha que o outro viveu de uma forma diferente, né?), talvez porque na manchete do jornal havia informação que todos liam e pensavam: é isso o que está acontecendo. Hoje tem quem discuta terra plana, ou pergunta o que farão os anti-vacina quando a da Covid chegar. A gente perdeu o chão em comum (em 2018, mais exatamente). Cada um acredita na realidade que quer. Ou é uma gripezinha, ou são 100.000 mortos. As duas coisas não dá.

No meio tempo muitas vezes estancamos os incômodos, parece que ficar bem é imperativo. Tudo depende de você. Se você quiser, faz seu dia ser bom. Se você quiser, é dono do seu tempo. Se você quiser, aprende alguma coisa com a pandemia. Mas e se você não tiver conseguindo todo tempo? Pode? Por mais que a intenção seja a melhor, eu não quero ouvir “vai ficar tudo bem”. Quero sentir a dor, porque só sentindo a dor é que vou/vamos conseguir processar esse tanto.

“Solidão, que poeira leve.” Queria discutir menos celebridades, e mais a gente. Queria que tivéssemos passado da cultura do cancelamento e criado uma cultura de construção – estamos em obra e erramos e revemos e aprendemos e pedimos desculpas e tentamos de novo. Queria mais nuance e mais colo. Menos lacração e menos certeza. Mais afeto – mediado por telas mesmo. Menos cada um por si e mais a gente junto pra atravessar esse momento que nunca pensamos que iríamos viver. Estou triste, estamos tristes. Escrevo, então, pra ver se consigo sentir completamente, pra ver se conseguimos fazer isso juntos.

“A vida mentirosa dos adultos”, de Elena Ferrante

por   /  04/08/2020  /  9:00

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Gosto da Elena Ferrante porque ela faz a gente não querer largar um livro até saber tudo o que acontece. Gosto porque ela não tem pudor de tratar de temas mais espinhosos, como a rivalidade feminina velada. E antes que alguém fale “que nada, estamos vivendo o feminismo, bradando sobre sororidade”, eu digo: sim, tô com vocês, somando com mulheres. Ao mesmo tempo vivemos a humanidade, e a humanidade não é só filé com fritas não, aquela delícia. Também tem treta e emoção que às vezes a gente nem se autoriza a sentir, né? Agora deixa eu contar mais. Em “A vida mentirosa dos adultos”, a autora nos apresenta a Giovanna, uma menina que está se transformando em adolescente e começa a perder a inocência de quem acha que a mãe e o pai são o centro do universo. É um romance sobre conflitos familiares, sobre os momentos da vida em que parentes deixam de se falar e vão se enredando numa mágoa que dura décadas. Ao entreouvir do pai que está ficando feia como a tia Vittoria, a protagonista resolve se aproximar dessa tia, que vive em uma parte pobre de Nápoles, na Itália, enquanto ela é filha da parte mais abastada e intelectual da cidade. A menina parte para descobrir tudo: a história da família, o que originou tamanho rompimento, ao mesmo tempo em que vai começando a descobrir a sexualidade, a querer viver na pele o que lê nos romances. Ela vai entendendo que crescer é difícil – e dói. Ouve mentiras dos adultos, começa a mentir também, pequenas mentiras pra conseguir habitar os dois mundos, enquanto se maltrata e se afasta de quem a ama, enquanto quer o que a amiga tem, não necessariamente porque a amiga tem, mas só porque ainda não sabe direito qual é seu desejo genuíno. Ferrante sendo Ferrante, sempre um bom tratado sobre a confusão que é viver. O livro saiu em uma edição especial do clube da @intrinseca, em setembro tem o lançamento geral. #bibliotecadonttouch

Como você organiza seus livros?

por   /  25/07/2020  /  9:00

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Organizo meus livros por gênero e por ordem alfabética, tudo bem minucioso. Sempre sei onde está cada um, exceto aqueles que de repente somem. Olhei hoje pra estante e vi um monte de capa em diferentes tons de amarelo. Quis fazer uma foto deles juntos. Tentei colocá-los bem organizadinhos, como na segunda imagem, mas preferi a bagunça da primeira. E você? Como organiza seus livros? Amo ver as estantes alheias 😍 Ah, e hoje é dia do escritor, um viva pra essas mentes brilhantes que nos presenteiam com tantas histórias!

#bibliotecadonttouch

Você já fez algo 191 vezes?

por   /  23/07/2020  /  9:00

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191 vezes. Cento e noventa e uma vezes. Cento-e-noventa-e-uma-vezes. Você já fez alguma coisa 191 vezes? Michaela Coel fez 191 versões do roteiro de “I may destroy”, série em que ela também atuou, co-dirigiu e fez a produção executiva. Esse número não sai da minha cabeça, assim como Michaela e o seriado não saem da minha cabeça. Essa é a mensagem que trago hoje: 191 vezes, galera.
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Não existe vida perfeita e sucesso de rede social, aqui a gente arranha só a casquinha. Tudo é jornada, é montanha russa, é crise, é treta, é tanta coisa, inclusive o arremate final que mostra o que dá certo. Ler essa entrevista da Michaela me deixou impressionada. Acabei lembrando também que a Beyoncé ensaiou oito meses pra uma apresentação no Coachella. Oito meses, conhecido como aproximadamente 240 dias.
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Nas velocidades em que a gente vive, a da internet e a do capitalismo, é fácil demais só ver o resultado final. Que bom que essas artistas fenomenais nos lembram que propósito, trabalho e excelência requerem muita bunda na cadeira e uma capacidade de se desapaixonar pelo que você criou, só pra criar algo ainda mais foda depois. Assistam a série (tô vendo na HBO, mas alerta de gatilho: aborda violência sexual), leiam entrevista, vejam vídeo da fala em que ela aponta os episódios de racismo que sofreu e os silenciamentos da indústria (tem também a parte em que ela recusa 1 milhão de dólares porque não abre mão de seus direitos autorais e de sua autonomia criativa).
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E bora fazer mais um combinado? Da próxima vez que a gente achar que tá demorando demais criando algo, vamos lembrar dessas mulheres? E quando a gente tiver achando que dá pra melhorar, vamos refazer até estar no ponto? Tudo leva tempo, não vamos esquecer, muito menos nos distrair com o que os outros estão fazendo (aproveito pra compartilhar a imagem da @contente.vc que combina bem com esse tópico). Bom dia!
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#escrevescreve #ainternetqueagentequer #imaydestroyyou #michaelacoel

cinema  ·  escreve escreve  ·  especial don't touch  ·  vida

“Observações sobre um planeta nervoso”, de Matt Haig

por   /  18/07/2020  /  9:00

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Um livro para mentes que quase não desligam. Em “Observações sobre um planeta nervoso” (@intrinseca), Matt Haig parte de sua experiência com depressão e crises de pânico para nos guiar por uma reflexão sobre a velocidade insana com a qual nos acostumamos a viver. O autor faz uma investigação sobre como viver num mundo louco sem enlouquecer, fala como as redes sociais são gatilhos pra nossa ansiedade, aborda como vivemos em um sistema que nos faz querer sempre mais (“Estão nos vendendo infelicidade, por que é onde o dinheiro está.”), tenta responder sobre como ter um celular e continuar funcionando como um ser humano, como trabalhar sem surtar. Ele nos convida a viver em uma escala humana e indica aquele combo que a gente conhece: dormir bem, aprender a curtir a própria companhia, não ser sugado pelas notícias, se conectar com a natureza, parar de correr: “Não seja apenas o dono do seu tempo, torne-se a prioridade dele”. Em resumo, Haig nos convida a nos olharmos com mais carinho, aceitando quem a gente é, onde estamos, a ter um olhar de mais apreciação sobre a vida. O legal é que ele faz isso a partir de um texto sucinto e cheio de boas referências. Você pode chamar de auto-ajuda (e é, só que bem escrita), eu chamo de livro que me faz tentar mudar alguma coisinha pra melhorar o dia a dia. Vontade até de ler de novo num parque, aumentando o pé direito da minha perspectiva.
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#bibliotecadonttouch #ainternetqueagentequer #matthaig

Saudade das pernas

por   /  12/07/2020  /  9:00

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Texto que escrevi a convite do Entretempos, blog da @cassianadh na @folhadespaulo, sobre artes visuais diluídas em diferentes suportes. Aqui o texto inteiro: https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/07/05/saudade-das-pernas-ensaio-palavra-imagem-com-daniela-arrais/

Gostei tanto desse convite: ela me pediu pra escolher algumas imagens e escrever a partir delas. Algumas fotos têm me chamado muito a atenção. São imagens de um mundo vivendo a pandemia e ainda assim querendo criar espaços para o encontro. Parece que hoje foi um dia de muita saudade.
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#escrevescreve #diáriodaquarentena

Carlos Álvarez/Getty Images

Carlos Álvarez/Getty Images

Viver uma pandemia não estava nos meus planos. Me falta repertório emocional para passar por um momento histórico. Até gostava de ver filme e série e de ler sobre futuros distópicos meio catastróficos, meio inevitáveis, mas ainda assim, distantes. No futuro, afinal. Agora, enquanto um vírus se espalha quase sem controle e ainda podemos ser atingidos por nuvens de gafanhotos e tempestade de areia do deserto, queria escapar para o futuro-futuro-onde-sim-vai-ficar-tudo-bem-tomara. Ou então voltar para o passado, quando podia encontrar quem quisesse no momento que estivesse a fim. Saudade das pernas de vocês, como disse um amigo querido.

Porque na vida vivida pelas telas, alternando entre celular e computador, terminando o dia de frente para TV, vemos pedaços da gente. Estamos em uma observação constante sobre nós mesmos refletidos em lives, Zooms, videoconferências. Ainda bem que vivemos a pandemia em um momento que a internet dá conta de reproduzir múltiplos espaços da nossa vida, claro. Dá pra trabalhar, estudar, fazer doação, encontrar os amigos e a família, buscar entretenimento e informação (essa última, quanto mais moderação, melhor para sua saúde mental). É por ela que tentamos suprir a falta do outro com uma checagem emocional constante – agora a interlocução conta com minutos iniciais para conferir se tá dando pra atravessar o dia.

Kathy Willens/AP

Kathy Willens/AP

Ainda assim, que saudade de abraçar.

De ver, encostar, ocupar o mesmo espaço, ficar na rua, dançar, passear pela cidade, ir de uma exposição a um restaurante, emendar com a sobremesa, migrar para o quintal dos amigos, apertar as crianças que estamos deixando de ver na idade que elas têm agora – e me parte o coração não poder pegar no colo meu sobrinho de cinco meses ou brincar com um menino de três anos enquanto ele se diverte com um cachorro que é seu amigo também. Tem dias que sinto falta até da conversa de elevador, quando a gente conseguia falar sobre o tempo, e não sobre a pandemia vivida no pandemônio que se tornou o Brasil em 2020.

Noam Galai/Getty

Noam Galai/Getty

É aos sábados que essa saudade se intensifica. Quando a gente fazia tudo isso prolongando o dia para ficar junto, cada hora chegando mais um amigo, naquela aglomeração de afeto que era capaz de nos dar mais energia de vida. Conversando sobre todos diversos assuntos, lembrando do Carnaval que acabou de acontecer, dos planos, das viagens, reforçando nosso entendimento de que a gente vive bem quando vive junto. Ouvindo música, escutando o outro de corpo inteiro, experimentando até ficar em silêncio também. A conversa pela tela é focada, não deixa espaço para a pausa. E tantas vezes é no silêncio compartilhado que acontece uma conexão mais profunda.

Oli Scarff/AFP via Getty Images

Oli Scarff/AFP via Getty Images

Depois de 100 dias, começamos a experimentar a “fadiga da quarentena”. Nosso corpo faz um esforço para nos adaptar a situações como a que estamos vivendo. Quando precisamos fazer isso por muito tempo, esse mecanismo entra em falência. Começam as rusgas individuais por questões que são estruturais. O problema não é que sua amiga foi ao shopping quando considerou aquilo uma necessidade, e sim que vivemos um desgoverno, uma pandemia sem ministro da saúde, sem orientação – e sem subsídios para que ficar em casa deixe de ser uma questão de privilégio e se torne uma de saúde, de direito. Em vez de cobrarmos de quem têm poder, ficamos chateados com quem fura a quarentena.

Cecilia Fabiano/AP

Cecilia Fabiano/AP

A certa altura talvez muitos de nós vamos furar a quarentena, imagino. Porque a gente tem necessidade de afeto, de abraço, de toque, de ficar junto. E, sem previsão de quanto tempo vai durar a pandemia, vamos precisar desenhar alternativas para ver o outro com segurança, respeitando protocolos. Uma amiga me ajudou a levar o pensamento para um lugar menos rígido, falando de necessidade versus risco. “Comprar comida num supermercado é alto risco, mas grande necessidade, por isso vamos. No começo da pandemia a gente colocou os encontros como baixa necessidade. Três meses depois virou alta necessidade…”

Talvez a gente precise se envolver em plástico, como na cena abaixo, em um lar de idosos em Gravataí, no Rio Grande do Sul, que montou uma cortina plástica com espaços para abraços, para que eles pudessem entrar em contato com suas famílias. Ao olhar a imagem, primeiro senti angústia e quase um desespero. Para logo depois pensar que essa gambiarra pode se tornar possibilidade também. Se é disso que vamos precisar para viver momentaneamente o presente com um pouco mais de afeto, me vem à cabeça uma figurinha de Whatsapp: já tô com roupa de ir. Porque não vejo a hora da gente se encontrar de novo – e mais uma vez.

Nelson Almeida/AFP

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“Falso espelho”, de Jia Tolentino

por   /  07/07/2020  /  9:00

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A internet maximiza nosso senso de oposição, nos faz supervalorizar nossas opiniões, degrada nossa noção de solidariedade, distorce nosso senso de identidade e destrói nossa noção de escala. Quem escreve esse vrá é Jia Tolentino em “Falso espelho” (@todavialivros), série de 9 ensaios sobre cultura contemporânea, alinhavando como a internet, que nos prometia tanta conexão, também é capaz de provocar alienação. Refletir sobre isso é pensar na #ainternetqueagentequer, como falamos na @contente.vc.
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“A loucura cotidiana perpetuada pela internet é a loucura dessa arquitetura que instala a identidade pessoal no centro do universo. É como se estivéssemos em um posto de observação olhando para o mundo inteiro com um binóculo que faz tudo se parecer com nosso próprio reflexo. Por meio das redes sociais, muitas pessoas passaram a ver qualquer nova informação como uma espécie de comentário sobre quem elas são”, escreve a autora.
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O livro também trata de temas como religião, drogas, heroínas da literatura, indústria da beleza, que agora conseguiu transformar o mito da beleza no mito de estilo de vida, em que a mulher usa a tecnologia disponível e gasta dinheiro para se tornar sua versão idealizada, entendendo isso como algo natural e até feminista. Aborda, ainda, o fenômeno girlboss, de mulheres empreendedoras, mostrando como um de seus maiores expoentes era só discurso – outra armadilha da internet. Entre o ser e o fazer, muito tempo é gasto com o mostrar, que pode ser muita performance, né?
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Jia é uma canadense descendente de filipinos que entrou na internet pela primeira vez aos 10 anos. Escreve para publicações como a New Yorker, sendo apontada como voz proeminente de sua geração. Sabe essa série de desconfortos que a gente sente ao viver no mundo em 2020? Ela nos ajuda a navegar por eles, explicando muito do que a gente pensa/sente, em um texto afiado e cheio de referências. Baita leitura!
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#bibliotecadonttouch #falsoespelho #jiatolentino

“Factfulness”, de Hans Rosling

por   /  30/06/2020  /  9:00

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Atenção, é possível curar seu vício em notícias! Aprenda 10 passos para fazer isso e resgate seu tempo – e de quebra sua sanidade também! Poderia continuar esse texto assim, pra fisgar você pela urgência, rs, mas será que tudo é tão urgente assim? Venho compartilhar uma leitura que me fez um bem enorme: “Factfulness: o hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos” (@editorarecord), de Hans Rosling, com Ola Rosling e Anna Rosling Rönnlund.
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O livro parte da ideia de que nossa visão de mundo está sistematicamente equivocada. A gente acha que o mundo nunca esteve tão horrível, quando na verdade nunca estivemos tão bem (sei que é difícil ler isso agora, mas ele mostra como evoluímos em praticamente todos os indicativos). Ele fala de 10 instintos que distorcem nossa perspectiva, como o de separação, que divide o mundo entre “nós” e eles”, e o de generalização, que faz com que “nós” pensemos que todos “eles” são iguais (exemplo: falar de “problemas da África”).
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Uma visão baseada em fatos traz mais conforto e menos estresse e desesperança. Ao contrário da visão de mundo dramática, que é negativa e aterrorizante. “Quando você ouve sobre algo terrível, acalme-se fazendo esta pergunta: se tivesse acontecido uma melhora igualmente grande, eu teria ouvido algo a respeito? (…) Tenha em mente que as mudanças positivas podem ser mais comuns, mas elas não chegam até você. Você precisa descobri-las. (E, se você olhar as estatísticas, elas estão em toda parte.) Esse lembrete lhe dará a proteção básica que permitirá a você, e a seus filhos, continuar assistindo ao noticiário sem serem arrastados diariamente para a distopia”, escreve.
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E termina falando pra atualizarmos constantemente visão e conhecimento e estarmos dispostos a mudar de opinião a partir de novos fatos. Adorei o livro, contribuiu pro meu detox. Continuo me informando (buscando mais contexto), mas deixei de achar que preciso saber de tudo o tempo todo agora.
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#bibliotecadonttouch #ainternetqueagentequer