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17/07/09 - 22h14 - Atualizado em 17/07/09 - 23h17

Banhos em São Paulo ajudam a tratar problemas de pele

Interior paulita possui uma reserva com capacidade de fornecer água potável para o mundo por 200 anos. Mas, em Ibirá, o valor destas fontes vai além.

BEATRIZ THIELMANN Ibirá, SP

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O que se vê nas fontes de Ibirá, uma pequena cidade no interior paulista, era hábito na vida dos gregos e dos romanos, antes mesmo do nascimento de Cristo. O uso de águas termais para curar os males do corpo faz parte dos registros da história do homem.

Nestes nossos tempos, todos os dias, as cenas se repetem em Ibirá. A cidade recebe multidões. Muita gente vem de longe e viaja horas de carro até chegar às fontes de águas minerais. As pessoas levam garrafas, garrafões, e carregam o quanto podem das fontes de Ibirá.

“Eu venho buscar essa água, porque dizem que é muito bom para o estômago e que faz muito bem para a gente”, comenta um rapaz.

“A água é diurética, é boa para o colesterol, para diabetes. E é relaxante também nos banhos de imersão”, diz uma senhora.

Durante os três dias em que o Globo Repórter ficou em Ibirá, todas as pessoas que a equipe de reportagem encontrou diziam que a água dessa pequena cidade no interior paulista tem poderes milagrosos.

“Eu lavo o rosto com essa água, porque ela é boa para a pele, para tudo”, aposta uma senhora.

Os primeiros foram os índios. Depois, chegaram os tropeiros. Mais de 200 anos já se passaram, e o segredo continua se espalhando. As águas de Ibirá, no interior de São Paulo, guardam um mistério. Deixam a pele mais bela, aumentam o vigor físico. Para muitos frequentadores, na cidade existe um santo remédio.

“Essa água é um milagre. Muitas pessoas têm até esperança de curar até certos tumores”, conta um rapaz.

Com nascentes privilegiadas, as águas de Ibirá estão na segunda maior reserva de água doce do mundo: o Aquífero Guarani, uma riqueza brasileira. Ao todo, 70% de toda a sua água estão no Brasil, presentes no subsolo de oito estados. É uma reserva que tem capacidade de fornecer água potável ao mundo por 200 anos. Mas, na pequena Ibirá, o valor destas fontes vai além.

Beber vários copos de água fresca muitas vezes ao dia ou se banhar a uma temperatura de 36ºC ou 37ºC é a receita infalível de muita gente, inclusive da dona de casa Marilene Tomé Martins. Fazer o tratamento ficou mais fácil para ela que é moradora de Ibirá. Toda a água que usa para cozinhar vem das fontes naturais.

“Ao tomar, a água não tem gosto de nada. Só na fonte mesmo é que tem gosto forte. ela também cheira a ovo”, comenta a dona de casa.

O cheiro não é mesmo dos melhores, por causa do sulfato. Mas Marilene insiste e continua o tratamento. Há 20 anos, ela sofre de psoríase, uma irritação na pele que pode se espalhar por todo o corpo e virar feridas.

Há oito anos, a dona de casa vive em Ibirá. “Quando eu vim para cá, eu não podia nem sentar. Se sentasse, não levantava, eu me sentia mal, por causa das feridas da psoríase, nos pés, nas mãos, na orelha, em parte do corpo e da cabeça”, conta.

Marilene também toma medicamentos para reumatismo e diabetes. “Acho que é o conjunto dos remédios que tomo com a água que faz efeito. É uma melhora de 80%”, aposta.

São fontes que jorram saúde ou crença? O Globo Repórter pesquisou as substâncias que formam a água. Bicarbonato e sulfato ou enxofre podem fazer bem à saúde, mas quem faz a fama no caso das fontes de Ibirá é o vanádio, descoberto por acaso em 1801, na França.

Um fabricante de cosméticos usou a água da cidade de Vichy para fazer compressas em ferimentos e se curou depressa. Então, ele passou a usar a água da fonte nos cremes que fabricava. Vinte anos mais tarde, outro francês batizou a substância de vanádio, em homenagem à Vanadis, deusa da beleza na Escandinávia.

A ciência não reconhece o efeito do vanádio no tratamento de doenças, mas o professor João Roberto Antônio, da Faculdade Medicina São José do Rio Preto (SP), que é da Sociedade Brasileira de Dermatologia, acredita nos poderes do vanádio.

“Os banhos de imersão levam a um ressecamento da pele e a uma posterior descamação”, destaca o professor.

Ele fez uma pesquisa com 50 pacientes, 28 deles com psoríase. Durante 21 dias, eles beberam e se banharam com a água de Ibirá. “Associado a isso, essas pessoas ficaram longe do seu ambiente de estresse”, ressalta João Roberto Antônio.

O professor alerta que os tratamento com águas termais podem auxiliar no combate a certas doenças, mas não substituem os remédios.

“As doenças que nós encaminhamos para cá têm mais controle do que promessas de cura, como no caso da psoríase, por exemplo. Mas as águas ajudam demais”, reconhece o professor João Roberto Antônio, da Faculdade Medicina São José do Rio Preto (SP).

As águas estão ajudando Marina, de 5 anos. Só há menos de dois anos, a família soube do diagnóstico de psoríase, por motivo de fundo emocional.

“Quando ele me entregou a receita, ele mandou que ela tomasse banho nas termas de Ibirá”, conta Marlene Bernardi, tia da menina.

A tia é rigorosa: cada banho dura 40 minutos e são pelo menos três imersões por semana.

“Antes, coçava muito. Conforme ela coçava, sangrava e passava para outros lugares, porque é uma doença que não transmite, só pra ela mesma”, diz Marlene. “Na semana em que ela toma banho com essas águas, parece que ela não tem mais nada”, revela Marlene Bernardi.

“O Brasil é um país riquíssimo em águas medicamentosas”, afirma Marcos Untura Filho, da Comissão Federal de Recursos Hídricos.

O doutor Marcos Untura Filho estuda as águas termais há 27 anos. Reumatologista, ele já cuidou de muitos doentes que melhoraram com o tratamento. Hoje, ele faz parte da comissão federal que cuida dos recursos hídricos.

“Nós estamos atrasados praticamente 40 anos em pesquisa”, ressalta Marcos Untura Filho, da Comissão Federal de Recursos Hídricos.

“Nós temos um tesouro que não é usado. Nós temos ouro em água que não é usado”, diz a médica Maria Celina de Mattos, do SUS.

Desde maio de 2006, uma portaria do Ministério da Saúde autoriza os tratamentos termais na medicina complementar. Mas, sem pesquisas que comprovem a eficácia das águas termais, os médicos nem sempre receitam o tratamento para os pacientes.

“Não há como receitar, porque não existe gente qualificada para isso. Somos poucos”, Marcos Untura Filho, da Comissão Federal de Recursos Hídricos.

“O primeiro dia em que eu vim eu saí daqui ótima”, conta a aposentada Maria Dora dos Santos.

Maria Dora dos Santos sofre de artrose e artrite faz muito tempo. As dores fortes nas articulações já estavam insuportáveis. Mas, depois do primeiro banho, ela se sentiu melhor e agora está encantada com o resultado.

“Há uma disposição maior, uma leveza, uma disposição para andar e o raciocínio. Tudo muda. É muito bom”, diz a aposentada. “Quando estou na banheira, penso em quem criou essa água, no Criador”.

 

 

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