UOL Carros

13/05/2009 - 22h27

Chevrolet Classic VHCE faz barulho com preço baixo e motor ecológico

EUGÊNIO AUGUSTO BRITO
Da Redação
No início do ano, a Chevrolet rebatizou seus motores 1.0, que equipam o hatch Celta e os sedãs Classic e Prisma, passando a chamá-los de VHCE. O principal foco da mudança foi a redução dos níveis de poluentes emitidos, obrigatória desde janeiro, mas de quebra o novo mapeamento deu aos blocos maior potência, que saltou de 70/72 cavalos com gasolina/álcool para 77/78 cv, respectivamente. O torque seguiu o mesmo caminho, passando de 8,8/9,0 kgfm para 9,5/9,7 kgfm. A fabricante alardeou ainda melhoria no consumo dos novos motores e, com um aumento do volume do tanque de combustível, maior autonomia dos modelos.

  • Eugênio Augusto Brito/UOL

    Sedã de entrada da Chevrolet, veterano Classic tem novo motor 1.0 VHCE, apontado como
    mais econômico e ecológico, mas aposta em receita popular: conteúdo básico e preço baixo

Em tempos bicudos, com a crise estampada em quase todo tipo de notícia, o binômio potência maior/consumo menor é um ótimo chamariz e ganha ainda mais força quando o preço promete ser baixo. E esta é a premissa do sedã Chevrolet Classic 1.0 VHCE. No site da montadora, o preço do modelo começa em R$ 25.379, com frete incluso. Rodando pelas concessionárias, porém, um exemplar do três-volumes de entrada da marca pode ser encontrado por R$ 23.990 (preço válido para a cidade de São Paulo), já com o benefício do IPI reduzido. É um carro de receita popular e acabamento simples, básico, cuja lista de "diferenciais" tem de se valer de itens como imobilizador do motor, para-choques na cor do veículo, painel com conta-giros, preparação para som, vidros verdes e desembaçador do vidro traseiro -- itens que de tão básicos sequer seriam citados em outros modelos.

A versão Super, testada por UOL Carros no final de abril e que pode ser vista nas fotos, tem preço mais salgado: pode chegar aos R$ 30.945 por incluir capa dos retrovisores externos na cor da carroceria, chapa de proteção do motor, ar-condicionado/quente, direção hidráulica, rádio com CD player, tapetes de borracha (do Corsa sedã) e um extra de R$ 753 pela pintura metálica (a cor do exemplar das imagens é bege Artio). Num segmento em que a compra é definida na ponta do lápis, esta diferença (quase R$ 7 mil) não era bem aceita e a Chevrolet decidiu retirá-la do catálogo no começo de maio. Com a faxina na linha Classic (que abre espaço também para uma futura re-estruturação de todo o catálogo da marca no país) restou apenas a versão Life, a mais barata, com os preços listados anteriormente. A decisão parece ter sido referendada pelo mercado: no ano, foram vendidas 39.287 unidades do "bem-bolado" Classic/Corsa sedã (a Fenabrave mescla a venda dos dois sedãs), mas o mês de Abril marcou um período de queda, com apenas 9.187 emplacadas contra 10.474 do mês anterior e 10.836 de janeiro (superior apenas a fevereiro, que teve 8.790 unidades registradas). Isso, porém, não invalida a avaliação, uma vez que o motor VHCE segue sendo o mesmo e os opcionais podem ser incluídos à parte, com a compra de um kit.

RECEITA POPULAR

  • Eugênio Augusto Brito/UOL

    Motor 1.0 recalibrado ganha sigla VHCE e passa dos originais 70/72 cv (gasolina/álcool) a 77/78 cv de potência máxima, com 9,5/9,7 kgfm de torque; emissão de poluentes, no entanto, foi reduzida

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    A letra "E" foi incorporada à tradicional sigla VHC (de 'Very High Compression') nas unidades fabricadas a partir de 2009 e, segundo a fábrica, indica mudança energética (maior potência), econômica (menor consumo) e ecológica (menor emissão de poluentes)

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    Por dentro, simplicidade é regra e Classic entrega o necessário para uma boa condução; mas faltou um indicador de consumo, seja instantâneo ou médio

CLASSIC RACIONAL
Há uma frase corrente no meio automotivo, dita em tom de brincadeira, que classifica a compra racional: "se o consumidor pudesse, levaria o automóvel com apenas três rodas para pagar menos". Mas ela ganha seu fundo de verdade em casos como o do Classic, que desempenha no segmento dos sedãs o papel que o Fiat Mille (leia a avaliação da versão Economy no lançamento e no dia-a-dia) tem entre os hatches. Se quisesse um visual mais moderno (o Classic atual mudou pouco em relação ao modelo lançado em 1995 como primeira geração do Corsa sedã), a outra opção dentro da marca seria o Prisma com o mesmo motor 1.0 VHCE, mas com porta-malas maior (de 439 litros, contra os 390 l do Classic, sem rebatimento do banco traseiro), a partir de R$ 27.686. Optando por mais espaço e potência, a saída seria o Corsa sedã atual (segunda geração), disponível apenas na motorização 1.4 Econopower, com preço inicial em R$ 33.427. Mas o comprador do Classic sabe que está levando o que seu bolso pode pagar.

Ainda olhando pelo aspecto racional, o Classic entrega um pacote sincero: é enxuto, mas na medida para uma boa condução. O padrão de acabamento, embora simples, se mostrou bem feito no geral: plásticos sem rebarbas e tecido dos bancos agradável aos olhos e ao tato. Deve-se, porém, ressaltar que as hastes que ficam atrás do volante -- para os comandos de seta/farol alto e do limpador de para-brisas -- nos pareceram um tanto frágeis demais, prejudicando a utilização. No console central, a alavanca de câmbio ganhou detalhes na cor prata. No painel, o grafismo adotado desde o final de 2008 facilita a leitura dos instrumentos, mesmo sob menor luminosidade, mas faltou a inclusão de um indicador de consumo médio ou até mesmo instantâneo (como o "econômetro" do Mille) -- no mostrador digital, há apenas o hodômetro total/parcial que se alterna com o relógio; nos analógicos, temperatura do motor, nível do tanque de combustível, conta-giros e velocímetro.

COMO ANDA
Girando a chave e pisando no acelerador, o Classic equipado com motor VHCE mostra que o motorista tem de se adequar aos novos tempos. O 4-cilindros em linha pede uma condução mais suave, com menos pressão sobre o pedal da direita e maior uso do câmbio. O manual do veículo recomenda manter as rotações do motor entre 2.000 e 3.000 giros, como forma de aumentar a durabilidade dos componentes e obter bom nível de consumo, e é exatamente nesta faixa que o motor mostra seu melhor rendimento. Durante o teste, a quarta marcha foi sempre utilizada antes dos 60 km/h, com a quinta tendo de entrar em ação logo após os 70 km/h. Qualquer coisa diferente disso provocou "gritos" e sobressaltos do motor, amplamente sentidos na cabine -- este é outro lado do custo racional, que decididamente cobra seu preço no quesito conforto, com a ausência de um isolamento acústico de maior qualidade. Fora a terrível dor na consciência pela possibilidade de se estar consumindo tanto mais combustível quanto maior o ruído gerado. O consolo veio da suspensão, adequada ao asfalto brasileiro e, dessa forma, pronta para garantir um rodar macio, mesmo sobre pisos irregulares.

  • Eugênio Augusto Brito/UOL

    Na traseira arredondada do Classic, destaque para ressalto com ares de aerofólio, para a nova gravata da Chevrolet e para logotipia que indica a presença do motor VHCE, mais potente, econômico e ecológico; porta-malas comporta 390 litros de carga e nada mais

O Classic VHCE pode ser considerado um carro de embalo, não de arrancada, e mais voltado ao uso urbano. Assim, em trechos de estrada, esta característica mostrou que o melhor é se manter nas faixas centrais, deixando a esquerda livre para carros com maior disposição para retomadas. A velocidade "de cruzeiro" sustentada ficou em torno dos 110 km/h, com pouca bagagem e duas pessoas no interior do veículo. Com redução de marchas e maior esforço do motor foi possível rondar velocidades mais altas, mas com perda nítida no conforto acústico e no prazer de se dirigir -- trepidações excessivas e falta de precisão dos freios que seguram as rodas de 13 polegadas (disco sólido nas dianteiras e a tambor nas traseiras).

De qualquer forma, com o "novo modo" de direção seguido à risca, o comportamento do Classic foi bom e o carro se mostrou adequado para o cotidiano urbano, travado e congestionado. A Chevrolet informa que o modelo, com novo tanque de 54 litros (antes eram 47,8 l) faz 13,3 km/l na cidade e 17,8 km/l na estrada quando abastecido com gasolina (média de 15,3 km/l); com álcool, o rendimento seria de 9,5/12,8 km/l, respectivamente (média de 11 km/l). No nosso teste, porém, 3/4 de um tanque abastecido com álcool foram gastos para percorrer pouco mais de 350 km, o que em uma conta rápida nos deixa com a média de 8,6 km/l.

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