Motivados pelo tema "Amarás o Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10, 27)" escolhido para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristã 2024, muitos grupos da Igreja no Brasil realizam de 12 a 19 de maio ações para motivar a unidade entre Igrejas. "A oração é a alma do movimento ecumênico", segundo dom Teodoro
"Fomos informados através da Nunciatura Apostólica de que o Santo Padre destinou um valor substancial, através da Esmolaria Apostólica, para auxílio dos desabrigados. Este valor foi em torno de 100 mil euros e será repassado para o Regional Sul 3 da CNBB, o regional que abrange todo o Rio Grande do Sul, para ajudar no que for possível", disse dom Jaime.

ARTIGOS DOS BISPOS

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal

Na Mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado neste domingo, 12 de maio, o Papa Francisco discute os impactos e os desafios éticos trazidos pela inteligência artificial na comunicação e na sociedade e nos convoca a ponderar sobre seu papel e influência em nossa compreensão do mundo e na forma como nos comunicamos. Ele enfatiza a necessidade de uma “sabedoria do coração” para guiar o uso ético e humano dessas tecnologias, destacando os riscos associados, como desinformação e manipulação, e a importância de regulamentações éticas e transparência.

A denominação “inteligência artificial” (IA) é considerada por muitos, incluindo o Papa Francisco, como falaciosa. A IA, apesar de sua capacidade avançada de processar e analisar grandes quantidades de dados rapidamente, carece de consciência, emoção e moralidade—atributos essenciais da verdadeira inteligência humana. Segundo o Papa Francisco, o termo “aprendizado de máquina” (machine learning) é tecnicamente mais preciso, pois descreve melhor a capacidade dos sistemas de IA de melhorar seu desempenho sem programação explícita. A inteligência humana é caracterizada por qualidades que as máquinas não possuem, como a capacidade de sentir, amar, e experimentar o mundo de maneira subjetiva e moral.

A IA, como qualquer tecnologia, apresenta dois lados: pode ser uma força para o bem ou para o mal, dependendo de como é usada. Esta dualidade reflete o ensino católico sobre a natureza ambivalente da tecnologia. Ferramentas técnicas podem ser usadas para promover o bem-estar humano ou podem ser abusadas de maneiras que desumanizam e controlam. Como o Papa Francisco aponta, o coração humano—o centro moral e espiritual da pessoa—determina a utilização de tais ferramentas.

Um dos maiores perigos apresentados pela IA é sua capacidade de distorcer a realidade, criando “poluição cognitiva”. Isto se manifesta na forma de desinformação e “fake news”, onde narrações falsas são apresentadas de forma convincente como verdadeiras, influenciando indevidamente a opinião pública. Tecnologias como “deep fake” exacerbam esse problema, criando representações falsas que podem ser indistinguíveis da realidade. Esta capacidade de distorcer a verdade apresenta desafios significativos para a comunicação e a sociedade, exigindo um rigoroso escrutínio e regulamentação ética.

O Papa Francisco salienta a necessidade de uma regulação ética da IA. Sem uma governança adequada, a IA pode aprofundar desigualdades sociais, invadir privacidades e potencializar abusos de poder. As regulamentações devem garantir que a IA seja usada de forma justa e ética para que proteja a dignidade humana e promova o bem comum.

Apesar dos riscos, a IA também pode oferecer contribuições significativas para a comunicação. Ao apoiar o jornalismo, melhorar a precisão e a relevância da informação, e permitir uma comunicação mais eficaz, a IA pode enriquecer a sociedade. “A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação.” (Papa Francisco). No entanto, para que esses benefícios sejam realizados, a IA deve ser usada de maneira que respeite e promova a dignidade humana e a liberdade, sem substituir o papel crítico do discernimento humano.

A mensagem do Papa Francisco nos convida a refletir sobre a maneira como a IA está moldando nosso mundo e nossas interações. Enquanto exploramos as capacidades desta tecnologia, devemos também considerar suas implicações morais e éticas, garantindo que ela sirva ao bem comum e enriqueça, ao invés de diminuir, nossa humanidade. A “sabedoria do coração”, como propõe o Papa, deve orientar a utilização dessas tecnologias de maneira que priorize a integridade humana, a compaixão e a verdade, em vez de se deixar levar apenas pela eficiência tecnológica ou pela maximização de lucros.

 

Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP)

 

Versículo iluminador: “ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho à toda criatura”. Mc.16,15.

1. Hoje, celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor. Ele volta ao Pai, depois de cumprida, integralmente, sua missão. Começam, então, o tempo e a missão da Igreja. É, também, o 58º Dia Mundial das Comunicações, cujo tema é “inteligência artificial e sabedoria do coração, por uma comunicação plenamente humana “. “Ir e evangelizar o mundo todo” … é ordem de Jesus. É, também, necessidade de nossos tempos, aliás, de todos os tempos. Até, que ponto, isso acontece?

2. Papa Francisco procura conscientizar a Igreja, para que assuma sua missão: leigos (as), religiosos (as) e presbíteros. Esta missão decorre do batismo-crisma e não do sacerdócio. Este aprofunda, atualiza e personaliza a missão. Não haverá Igreja sinodal, sem missionariedade e evangelização integrais.

3. É, também, o Dia Mundial das Comunicações: “Ide” é ordem para todos: significa levar a verdade, a fraternidade e a solidariedade. Por isso, o tema do 58º dia mundial é: “Inteligência artificial e sabedoria do coração” e não dominação artificial, como nova forma de escravização. É muito oportuna e importante tal temática. Surge então, normalmente, a pergunta “qual é o uso que faz a sociedade da inteligência artificial?”

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

A catástrofe climática no Rio Grande do Sul, assustadoramente triste, tem força de alerta para a sociedade que, mais uma vez, está chocada. Os cenários são impactantes por sua extensão e proporções. As imagens se congelam no horizonte, tal o peso da catástrofe humanitária, motivando solidária reação nacional: um aceno para novas perguntas e oportunidade para nova postura cidadã, que exige um estilo de vida fruto de lições a serem aprendidas e, mais ainda, praticadas.

A solidariedade como mobilização, gerando atitudes de partilhas entre cidadãos, com forte incidência nas responsabilidades da esfera governamental, é a prática que faz sedimentar a aprendizagem destas novas e imprescindíveis lições. Oportuna, pois, é a pergunta sobre o que acontece na Casa Comum. Não é uma simples repetição de interrogações ou narrativas sobre o tema, ou de uma pressuposição que pode levar ao pensamento de que já se sabe o suficiente e, até mesmo, que no âmbito das impostações sobre o meio ambiente, já se esgotou tudo, não sendo mais necessário retornar a estes temas.

Fecundados pela rede de solidariedade é hora de avançar na aprendizagem de lições capazes de amparar o comprometimento cidadão. O que está acontecendo na Casa Comum é uma interrogação com propriedade para alavancar posturas éticas e sustentáveis. É hora de se estabelecer um adequado processo de conscientização, por exemplo, no entendimento sobre o aquecimento global, sua relação com catástrofes ambientais, apontando parâmetros para um novo estilo de vida.

Há de se avançar, ainda mais celeremente, numa crescente sensibilização e conhecimento a respeito das questões ambientais, tratadas conforme os largos e lúcidos parâmetros da ecologia integral. Há de crescer uma sincera sensibilidade sobre a situação do nosso planeta. O passivo das reparações, desenhando cenários de solidariedades, deve instigar o conjunto da sociedade para este compromisso, por meio de legislações e práticas corretivas.

Como afirma o Papa Francisco, no capítulo primeiro de sua Carta Encíclica Laudato Si’: “o objetivo não é recolher informações ou satisfazer a nossa curiosidade, mas tomar dolorosa consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece no mundo e, assim, reconhecer a contribuição de cada um.” No verso dos cenários catastróficos, há de se reencontrar a lição preciosa pelo reconhecimento da natureza como um livro esplêndido, ensinamento perene de São Francisco de Assis, por meio do qual Deus fala e transmite algo de sua beleza e bondade.

O mundo não é tão somente um problema a resolver, mas uma oportunidade constante de contemplação e de comprometimento com novas ações solidárias assumidas como estilo de vida, proporcionando a urgente conquista de equilíbrio ecológico. A lição da catástrofe do Rio Grande do Sul, sem perder a referência amarga de tantas outras, é um convite urgente a renovar o diálogo, com inteligência e boa vontade para efetivar propostas e compromissos a respeito do modo como se está construindo o futuro do planeta.

A iluminação que vem da solidariedade, da comoção nacional, somada à exigência de comprometida e efetiva ação governamental, célere e menos burocrática, técnica e exemplar, impulsione o debate que diz respeito ao conjunto da sociedade, porque o desafio ambiental e suas raízes humanas afetam a todos. Ainda, lamentavelmente, constata-se desinteresse cidadão pela temática, considerando-a como uma pauta simplesmente de esferas político-partidárias, distanciando o indivíduo comum de sua corresponsabilidade e urgência de fazer sua esta pertinente pauta ambiental.

As catástrofes e tragédias ambientais são um convite, doloroso, sobre o desafio de aprender e exercitar a proteção à Casa Comum, incluindo a busca pelo desenvolvimento sustentável e integral. Volta a ser forte o apelo para que todos se empenhem na colaboração da construção da Casa Comum, inspirados sempre pelo vigor e exemplaridade daqueles que lutam, cotidianamente, para reverter as consequências das dramáticas degradações ambientais, afetados e comprometidos, particularmente com a vida dos mais pobres.

Não se pode pensar o futuro sem enfrentar o sofrimento das pessoas e a atual grave crise do meio ambiente. Não se pode correr o risco de pensar que a pauta ecológica tenha se esgotado para cidadãos comuns e em muitas instâncias e segmentos, especialmente governamentais e educativos. O desinteresse pela pauta da ecologia integral fortalece a recusa dos poderosos na implantação de novas dinâmicas sustentáveis, incidindo sobre legislações e interpretações empobrecidas e incapazes de criar um novo cenário, facilitando possíveis novas tragédias e catástrofes, mesmo aquelas silenciosas, perpetuando cenários vergonhosos de pobreza, fazendo valer a lógica cega e perversa do mercado.

A solidariedade praticada e o exemplo de governanças, para além de interesses político-partidários, é um horizonte que deve impulsionar o interesse de todos por conhecimento técnico e científico, suficientes para fomentar novas posturas. A terra, Casa Comum de todos, tem se transformado em um grande depósito de lixo. Paisagens maravilhosas de outrora são cenários de degradações, que têm produzido efeitos irreversíveis na saúde das pessoas.

É urgente socializar o conhecimento sobre o funcionamento dos ecossistemas naturais, como caminho educativo na superação da biodegradação. Também, aprender e assumir posturas adequadas a respeito do clima como bem comum, essencial à vida humana. A prática da solidariedade na consideração de emergências e urgências, seja agora a convicção de um novo estilo de vida, como combate ao aquecimento climático. A dolorosa catástrofe no Rio Grande do Sul, assim como outras tragédias da história recente, a exemplo de Brumadinho e Mariana, fecundem pela solidariedade a aprendizagem de novas lições e práticas no horizonte do desenvolvimento integral e sustentável.

 

 

 

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