Estefen Pucheu

O processo psicoterapêutico é um tratamento que se propõe a trabalhar a dor psíquica. Ele acontece através da relação paciente/terapeuta que ocupam papéis e lugares distintos, afetam-se mutuamente e são mobilizados por sentimentos muito fortes.

Aliviar a dor psíquica através do processo psicoterapêutico não é uma tarefa fácil. Exige entrega. O paciente precisa entrar em contato com seus sentimentos, olhar-se por dentro, escutar-se, tocar-se. Precisa explorar seu mundo interno, abrir e estabelecer intimidades, enfrentar suas próprias defesas, expressar-se, entender a trama de sua história familiar, principalmente sua relação com as figuras materna e paterna. É um processo que envolve comprometimento e dedicação até mesmo para suportar as angústias que surgem ao colocar-se a mostra, no centro do setting clínico, tudo na tentativa de compreender-se melhor, abrandando desta forma o seu sofrimento.

Para que o paciente persista e enfrente os obstáculos que estão em seu caminho é necessário que ele sinta-se seguro e bem vinculado à pessoa do terapeuta uma vez que todo o processo acontece nesta relação. A transformação e o alívio do sofrimento só acontecerão na existência de uma ligação afetiva verdadeira e cúmplice. Ao terapeuta cabe o oferecimento deste espaço de confiança, de cuidado e de acolhimento. Cabe a ele também oferecer seu saber teórico e sua corporalidade aberta aos pacientes. Nesta relação de troca, muita coisa acontece. O mergulho em si próprio e para dentro de uma relação começa a trazer alívio do sofrimento.

Nosso trabalho é oferecer o campo de um processo de autoconhecimento, de análise de si mesmo, uma volta aos fatos do passado principalmente da infância, uma “arqueologia da alma”, como dizia Freud. Uma arqueologia da alma feita na relação com o outro. Este outro sem o qual o eu não existe. Este outro, que na relação terapêutica é “outro-contorno” e “outro- suporte”, junto a quem o paciente se reconstrói. Esta reconstrução fortalece, alivia o sofrimento e faz os sintomas diminuírem ou mesmo desaparecerem.