segunda-feira, 11 de abril de 2011

Do outro lado...

Visitei a minha avó, que está no Hospital São Vicente (eu e a minha irmã fomos como netas, não como doutoras).

Já estive em outro hospital depois de entrar para o Caminho da Alegria, mas ir ao São Vicente, sem  estar caracterizada é muito estranho...
Primeiro que a gente chega e não encontra as pessoas tão receptivas, elas não ficam sorrindo para a gente o tempo todo... rsrsr

Olharam para mim e ninguém pediu bala!  Até o cheiro do hospital é diferente...

Achei que não encontraria os palhacinhos por lá. Já estava quase indo embora quando eles chegaram.

A minha vó olhava para eles com um olhar que eu não consegui interpretar. Eles conversaram , porém ela observava tudo em silêncio, sem responder nada. Os doutores disseram que não queriam vê-la lá na próxima semana e que ela ficaria bem e voltaria para casa.
Ela disse:- "Se Deus quiser!"
 E eles responderam: -"E Ele quer!".
 Como sempre, deixaram uma lembrancinha  na cama, ao lado dela.
 Depois que foram embora percebi que ela estava querendo alguma coisa. Procurava com o olhar onde o Doutor havia colocado a lembrancinha.
 Eu peguei a lembrancinha e perguntei: "É isso que a senhora quer?”

Ela respondeu que sim e esticou a mão para pegar. Ficou um tempão segurando a lembrancinha pelo pauzinho como uma criança que segura um pirulito...
 Depois de um tempo guardamos o "Guarda chuvinha” (a lembrancinha era em forma de guarda chuva) nas coisas dela.
 Ao nos despedirmos, ela falou: "Aquele guarda-chuva... Guarda no guarda-roupa".
 Apesar de a cabeça dela não estar muito boa, ela estava o tempo todo preocupada com a lembrancinha.
 Durante a visita eu não tive certeza se ela estava, ou não, gostando, mas depois percebi o quanto aquilo foi importante pra ela, pois até o comportamento dela mudou, ela ficou mais calma...
Falo tudo isso, pois às vezes a gente entra no quarto e o paciente quase não esboça reação e pensamos que não conseguimos realizar o nosso objetivo, mas estando do outro lado, senti na pele a importância da visita para alguém que está nessa situação e tive a certeza que estamos no caminho certo.
Dra. Tatoca Patoca 

terça-feira, 5 de abril de 2011

CONVERSA DE MINEIRO


               CONVERSA DE MINEIRO


              Eu, a dra, Caracol e a dra. Tatoca estávamos na Clínica Feminina do Hospital São Vicente.
              Em um dos quartos havia uma paciente acompanhada de sua mãe. A jovem paciente não havia  passado bem a noite, com fortes dores e conseguentemente não dormiu.
              De manhã bem cedo a paciente pediu para sua mãe, ligar para as amigas que viriam de Minas  Gerais visitá-la e que não viessem, pois estava muito cansada e desanimada.
              Ela disse que até foi preciso aplicar morfina, pois a dor não passava.
              Quando elas disseram que vieram de Pouso Alegre ( Minas Gerais), eu falei:
             - Uaiiii sô, eu sô mineira também ( com totaL sotaque).
             A paciente se vira e fala: - É mesmo? De onde?
             Aí eu fui dizendo: - De Sacramento ( com muito sotaque...rs).
            As duas quiseram saber onde ficava Sacramento, se era longe de Pouso Alegre .
          - É bem lá no interiô, muito pra frente.
           E a dra. Caracol completou: - Ela pegou 2 ônibus, 1 trem, jegue para vir pra cá .
          Então disse que saía de lá, uma semana antes para chegar no sábado para visitar os pacientes.
               A sensação que eu tive é que, falar que era mineira naquela hora, deu um conforto a elas, como se já não estivessem mais sozinhas.
               Nesse momento a conversa ficou muito animada e era só risada. A paciente foi descontraindo e contando mais de Minas e de como se falava por lá....tipo Quidicarne (Kg de carne), quidiqueijo ( Kg de queijo)....kkkkk.....e eu falava : - É economia da gente, é assim memo lá em Sacramento. ( Cada vez mais empolgada com o sotaque...rs).
               No final da visita, saímos muito felizes por termos deixado alegria com elas, mesmo por um momento. E elas agradeceram muito a visita.
               Agora um detalhe: Eu sou de São Paulo ( capital), de mineira não tenho nada....hahaha....mas convenci até minhas amigas palhacinhas que era mineira.


              Uaiiiiii sô, isso é bão dimais!!!!

              Dra. Kika Xassa

sexta-feira, 25 de março de 2011

RECEPÇÃO FESTIVA

Eu, Dra. Bibélula, Dr. Tuto, Dra. Roxinha e Dra Margarida Matraca entramos em uma das salas do pronto socorro, uma que tem uma porta de correr...
A Dra. Bibélula começou a conversar com os vários pacientes que estavam na sala perguntando se podia entrar e eu comecei a fechar a porta bem próxima ao rosto dela enquanto ela ia falando...
Ao fechar a porta escutamos as risadas que vinham de dentro da sala...
Então, eu abri a porta novamente falando assim: "Olha gente, nós gostamos de ser bem recebidos. Então vou fechar a porta novamente e quando abrir queremos um EEEEEEEEEEE. Ok?"
Todos acenaram que sim.

Foi quando fechamos a porta e abrimos e ouvimos todos, sem exceção, festejar nossa entrada na sala.

Agradecemos a recepção e continuamos nossa visita aos pacientes daquele local com muita alegria e entusiasmo.
Ao finalizar, dissemos que  queríamos um EEEEEEEEE também na nossa saída.

Assim, fechamos a porta e contamos até 3, para nossa surpresa o EEEEEEEEEEEEEEEEE foi ainda mais vibrante e cheio de risadas, tanto que, quando nos viramos para ir embora tinham vários enfermeiros e funcionários sorrindo na porta, pois foram contagiados pela alegria daqueles pacientes...

Adoramossssssssssssssss, fomos embora dali com uma sensação maravilhosa no coração...
Dra. Vita Mina


SORRISO ESPECIAL

Eu e Drª Bibélula chegamos ao Pronto Socorro e encontramos um homem muito machucado, com a boca quase imóvel de tantos ferimentos.

Depois de nos apresentar, falamos que estávamos assumindo o plantão naquele momento e continuamos conversando...
Tentado fazer com que ele esquecesse ao menos naquele momento, onde estava e pelo que passava...
Foi então que após várias tentativas de entretê-lo, eu falei que não agüentava mais a Dra. Bibélula, porque ela falava muito, não parava quieta, e que tinha que agüentá-la no plantão o dia todo...
Então propus uma troca (como ele não tinha nem uma mochila, nada por perto), eu disse que trocaria a Dra.Bibélula pelo soro dele. 
Foi quando o momento mágico aconteceu, ele acenou com a cabeça dizendo que trocava, e eu fazendo uma cara de espanto falei: "Você aceita? Não acredito! Ai que bom! Sabe, eu tentei trocá-la por roupa suja, bolsa velha, mas ninguém aceitou!"
 E para nossa surpresa, ele sorriu, mesmo com todas as dificuldades para esboçar um sorriso, devido às escoriações sofridas, ele sorriu grandemente...

A Dra. Bibélula olhou para ele e disse: "Muito obrigada, por você me aceitar. Eu não sabia mais o que fazer, pois ninguém me queria!"
 Sentou-se numa cadeira ao lado dele, falando para mim: "Dra. Vita Mina pode levar o soro, que eu vou ficar com ele..."
Então, ele não se conteve e deu muita risada...

Saímos de lá com a certeza de que naquele momento mágico ele esqueceu, ainda que por alguns segundos, tudo o que estava acontecendo com ele.

Dra. Vita Mina

terça-feira, 22 de março de 2011

SERENATA NO CORREDOR DO HOSPITAL

Estávamos no corredor do Hospital São Vicente, quando fomos surpreendidos por uma senhora simpática e seu esposo que nos perguntou se não iríamos passar em seu quarto. Respondemos que em breve chegaríamos lá. Depois de sairmos de um dos quartos novamente encontramos o belo casal, então questionamos ao senhor: “Há quanto tempo não faz uma serenata para sua esposa?”,
Ele respondeu meio tímido: “Faz muito tempo!”
Então, ligamos nossa caixinha de música e colocamos uma canção que aquele senhor acompanhou cantando para sua amada:

Eu Te Amo!Eu Te Amo!Eu Te Amo!Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Eu não sei
Por quanto tempo eu
Tenho ainda que esperar.
Quantas vezes eu até chorei,
Pois não pude suportar.
Para mim não adianta
Tanta coisa sem você
E então me desespero.
Por favor, meu bem, eu quero
Sem demora lhe falar, EU TE AMO!!!

Foi um momento muito belo e vimos nos olhos apaixonados daquele casal que passou um filme de suas vidas, enquanto cantávamos aquela canção...

Drº Guile Bugiganga ,Drª Tantan e Drª Rosinha

VARGEM ENORME???

Estávamos eu (Dra. Bibélula), Dra. Coração, Dr. Formiga e Dra. Tantan e ao entrarmos na sala de cuidados paliativos nos deparamos com uma paciente jovem, linda, esperando a gente com sorriso no rosto...

Dr. Formiga falou: “Estamos aqui para fazer uma visita para você!”

Foi quando perguntamos qual era o seu  nome? E ela respondeu com um sorriso.

Dra Bibébula disse: “Viemos de tão longe, pegamos ônibus, trem, metro, avião, andamos de jegue e a pé... mas chegamos!”
Ela nos questionou: “Nossa, mas de onde vieram?
A Dra. Coração falou: ”De Vargem Grande!”

A Dra. Tantam corrigiu: “Não viemos de Vargem Enorme...”

E nós concordamos: “É Vargem Enorme!!!!!”

Como o sorriso vinha fácil nos lábios dela, ela riu muito! Quando ela nos surpreendeu dizendo: “Mas vocês vieram de tão longe para me visitar e eu não tenho nada para oferecer para vocês?”

Nós respondemos: “Como não? Você tem muito a nos oferecer, esse sorriso, sua companhia, seu olhar, sua amizade, sua ternura, seu amor...”
 E ela nos olhou com um olhar de surpresa e muito penetrante de felicidade...

Vimos que na sua frente tinha um quadro com a foto de sua família e perguntamos quem era cada um e ela foi dizendo com um olhar de saudade e ternura... 

Então falamos: “É sempre bom estarmos com as pessoas que gostamos por perto, que bom que tem essas fotos aqui!”

Ela nos disse com muita emoção: “É mesmo, a família e os amigos são muito importantes quando estamos aqui... (deu uma pausa na sua fala e completou) e também os anjos que aparecem para nos alegrar como vocês!”

Falamos que estávamos torcendo pela sua recuperação e saímos felizes, emocionados e com a certeza que fizemos a diferença ao menos naquele momento na vida dela!

Dra. Bibélula

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Iaiá,cadê o jarro? O jarro que plantei a flor?...

A impressão é que entramos no túnel do tempo e voltamos ao passado, na verdade um passado que não vivemos, mas sabíamos que existiu...
Entramos no salão e as marchinhas de Carnaval não pararam mais, colombinas e pierrôs dançavam alegremente, os olhares nos davam a certeza que eles também entraram no túnel do tempo e voltaram ao passado, só que um passado que conheciam bem e que tinham muitas histórias para contar.
Os corpos aparentavam seus 70, 80 anos ou talvez um pouquinho mais, mas a animação era tanta que demonstravam ter no máximo uns 20 anos.
Chegamos a achar que não daríamos conta de acompanhar aqueles jovens, mas conseguíamos e dançamos até a banda do Refogado do Sândi tocar a última musica.
Que venha outro Carnaval da Cidade Vicentina!!
Dra. Beija-flor
PS: A marchinha abaixo não sai da minha cabeça....
Iaiá, cadê o jarro?O jarro que plantei a flor?
Eu vou te contar um caso, eu quebrei o jarro e matei a flor...
Que maldade, que maldade, você bem sabia que no vaso de jarro eu plantei a saudade...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

As Teresas

Estávamos em uma junta de “besteirólogos”, quando entramos em um quarto e encontramos duas senhoras muito simpáticas, ambas com o nome de Teresa.
Resolvemos colocar uma canção na caixinha de música que nos auxilia nas visitas. A música escolhida foi em o clássico sertanejo "Telefone Mudo" que traz em uma de suas estrofes a frase "Cansei de ser o seu Palhaço" rsrs...
 Surpreendemos-nos ao ver “As Teresas” cantarem junto conosco com muita empolgação e animação aquela canção. Cantamos, dançamos e gesticulamos muito, foi um momento muito divertido e de muita descontração!
Na despedida nos pediram que ficássemos com elas o restante da tarde, falamos que não era possível, mas que iríamos contratá-las, pois elas deram um verdadeiro show...

Dr.Guile Bugiganga,Dr.Esparadrapo,Dr.GB,Dr.ª Arco-Íris,Drª Borboleta

( texto editado)

A reconciliação

Quando eu , a dra. Num Sei , Dra. Uvinha e dr. Xico  chegamos na casa maior que há na Cidade Vicentina, encontramos uma senhora muito triste, reclamando que não queria mais ficar lá. Enquanto ela nos contava que havia brigado com outra idosa, esta apareceu na porta e as duas começaram a discutir num tom elevado. No início, ficamos sem reação, mas logo dr. Xico falou: “Agora a conversa é séria, estou tirando meu nariz pra gente conversar”. Então nós fizemos o gesto de retirada do nariz para conversar com elas.

Eu falei que não podia haver briga, que todas tinham que ser amigas, que a paz na casa era importante. Perguntei às duas se uma gostava da outra e ambas fizeram que sim com a cabeça. A dra. Num Sei começou a cantar, “vamos dar as mãos, vamos dar as mãos”, e as duas se deram as mãos e pararam de discutir, falando que uma gostava da outra. Essa reconciliação foi linda.

A primeira senhora nos acompanhou na visita à casa e me falou: “Eu sonhei que meu filho estava vendendo peixes na rua, maltrapilho… Ele tem um negócio, será que a empresa dele vai ficar mal? Todas aqui me disseram que não, mas eu queria saber de você… Será que meu filho vai falir?”. Como Deus está sempre conosco nas visitas, respondi: “Seu filho não vai falir, não. Pelo contrário, vai prosperar e ter fartura nos negócios dele. Jesus multiplicou os peixes, e isso significa muita fartura e prosperidade nos negócios do seu filho”. Ela me abraçou muito forte e mostrou uma alegria imensa ao saber que aquele sonho, que a atormentava há dias, tinha uma explicação.

Quando saíamos, ela me questionou: “Como faço para sorrir? Eu não sei sorrir”. Então eu lhe disse que, se ela rezava para todos, naquela semana iria rezar para conseguir sorrir. Ao nos despedirmos de todos que estavam sentados na varanda, ela me olhou e disse que ainda não conseguia sorrir, mas iria tentar. E, com um gesto, levou a mão na boca e me mandou um beijo muito intenso, gratificante e significativo, não só para mim, mas também para ela, que havia saído daquele estado de preocupação e tristeza em que estava.

Dra. Bibélola

Lá, lá, lá, lá, lá, lá… Rock’n’roll lullaby…

Numa visita, interagimos com os pacientes usando várias músicas. Estávamos eu  Dr.Guile Bugiganga, Dr. Patinho, Dr. Laranjinha e uma doutora que manda muito bem no inglês, o que contribuiu para nosso repertório, que está em constante aprimoramento. Um dos CDs é do Pato Fu e se chama “Músicas de brinquedo”, com clássicos musicais tocados com instrumentos de brinquedo, o que dá uma sonoridade especial e diferente.

Surgiu a ideia de entrar na maternidade do Hospital Universitário tocando “Rock’n’roll lullaby”, uma canção que embalou toda uma geração e que todo mundo conhece. As mães que estavam nanando os bebês agradeceram, pois a música, com seus instrumentos de brinquedo, levou uma harmonia especial ao ambiente e inclusive calou o choro de alguns bebês.

Uma descoberta que acabou virando motivo de piada naquele dia é que, se a estatística se mantiver igual à que verificamos no HU, o mundo vai acabar só com mulheres, pois havia muitos bebês do sexo feminino e eram raros os do sexo masculino. É isso aí… Lá, lá, lá, lá, lá, lá… Rock’n’roll lullaby…

Dr. Guile Bugiganga