Quando “Guerra ao terror” foi lançado diretamente em DVD no Brasil, ninguém poderia imaginar que dez meses depois o filme se tornaria o grande vencedor do Oscar 2010. Na verdade, nem mesmo os produtores do longa-metragem, que não esconderam a surpresa ao subir ao palco da premiação na noite de domingo (7), poderiam sonhar chegar tão longe com uma produção independente, de baixo orçamento, que teve dificuldades até para conseguir um contrato de distribuição.
O feito é ainda mais improvável se lembrarmos que seu principal concorrente era a superprodução “Avatar”, dirigida pelo já oscarizado James Cameron e recordista de bilheteria, com mais de R$ 2,5 bilhões acumulados em faturamento mundial.
Portanto “Guerra ao terror” poderia ser uma das
maiores zebras da história do Oscar, mas não é. Nas semanas que
antecederam a premiação da Academia, o filme ganhou prestígio,
faturou um prêmio após o outro e conseguiu transformar suas
próprias fragilidades em vantagens na corrida pelo Oscar.
Ao longo da temporada de prêmios de Hollywood, que
costuma servir de termômetro para o evento da Academia, o longa
conquistou nada menos que 16 troféus - incluindo seis
Baftas, o Producers Guild Award e diversas eleições de
associações de críticos, como o National Society of Film Critics
e o New York Film Critics Circle - , que já sugeriam seu favoritismo.
Equipe de 'Guerra ao terror' comemora o Oscar de melhor filme (Foto: AFP)
Olhar feminino sobre a Guerra do Iraque
Quem diria que um filme de guerra, gênero
predominantemente masculino, daria a uma mulher o primeiro Oscar
de melhor direção? Pois “Guerra ao terror” escreveu o nome da
americana Kathryn Bigelow na história, como a primeira diretora
a conquistar a estatueta da categoria e mais outras cinco
(melhor filme, roteiro original, montagem, edição e mixagem de som).
O fato é que o olhar feminino de Bigelow sobre um
tema já explorado por outras produções recentes fez com que
“Guerra ao terror” fosse descrito pelo "The New York
Times" como "o melhor filme americano já feito sobre a
guerra do Iraque".
A diretora consegue imprimir uma visão humana da
guerra sem cair em clichês, mostrando a rotina massacrante de um
sargento especializado em desativar bombas na zona de conflito.
Ele é um profissional da guerra, mas não um herói convencional,
já que troca facilmente medalhas pelo prazer de arriscar sua
própria vida.
A vitória de “Guerra ao terror”, na verdade,
reflete não apenas um favoritismo que já vinha se delineando
desde o início do ano, mas também uma tendência recente da
Academia de marcar uma certa independência em relação ao sobe e
desce das bilheterias e de, finalmente, dar espaço para
produções que abordam o conflito no Iraque, até então ignoradas
pelo Oscar.
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