você é grato à pessoa que abandonou o bicho que você adotou?
sempre que comento com alguém sobre meus 4 animais de estimação, mostro fotos e digo que todos foram resgatados da rua, vítimas do abandono. apesar de achar lindas algumas raças, eu sempre recorro aos abandonados porque a gratidão que eles sentem e demonstram pela adoção, todo santo dia, é linda de se receber. eles sabem bem o que é passar por situações terríveis e quando encontram um lar cheio de amor não desperdiçam essa oportunidade por nada.
vez ou outra durmo com eles numa cama de solteiro que reservei para a bicharada e a explosão de fofura acontece: beijos, abraços, carinhas de drama, cafuné e até conchinha pra pegar no sono. e sempre que estou no meio desse harém de pelos, começo a agradecer a deus por eles terem chegado até mim. consequentemente, preciso agradecer às pessoas que os abandonaram. maluco isso, né?
de forma alguma estou estimulando o abandono (por favor, né?), apenas aceitando que, sem essa atitude terrível, nenhum dos quatro peludinhos estaria morando comigo hoje. e me pego agradecendo aos algozes por terem sido enviados de deus às avessas. abandono é crime, sim! merece punição severa, sim! mas, sendo bem honesto, acredito que se encontrasse com cada malfeitor frente a frente hoje em dia, não ficaria bravo e até agradeceria.
a cena de abandono da minha última adoção, por exemplo, foi horrenda! eu estava comprando refrigerante numa vendinha da esquina quando passou um carro preto, com vidros escuros, abriu a porta do carona e soltou a cadelinha na rua, disparando em seguinda na maior velicidade. lembro da carinha dela até hoje, desesperada atrás do carro e, quando viu que de nada adiantaria o esforço, se escondeu na garagem de uma casa que estava com o portão aberto no momento. demorei pra conseguir tirá-la de lá e, com toda razão, ela estava arisca demais. foi preciso pegar uma focinheira com outra moradora até conseguir colocá-la no meu carro. mas quando ela sentiu que aquele estranho estava prestes a dar um lar pra ela e, principalmente, quando entrou no meu apartamento e encontrou uma turma toda querendo brincar, o semblante mudou completamente e me prometi nunca mais permitir que aquela carinha de tristeza aparecesse novamente. claro que ela fica triste quando eu dou bronca, mas a expressão é de drama, totalmente diferente da expressão traumática do dia em que foi abandonada.
quantos enviados às avessas deus coloca em nossas vidas pra nos alertar sobre questões que não quisemos aprender da forma menos dolorosa? só agora, no momento em que escrevo, consigo lembrar de 3 casos onde eu não quis enxergar o quanto estava errando, até acontecerem situações super desagradáveis que me fizeram cair na real. se tem um conceito que aprendo diariamente na escola de espiritualidade da qual sou aluno, é de que não devemos querer estar com a razão a todo o custo, mas buscar onde ela está - por mais que esteja com aquela pessoa que a gente mais detesta (pois são elas que geralmente têm coragem de jogar verdades na nossa cara, sem a menor pena).
não há um dia sequer que não agradeça ao destino por ter os peludinhos mais dengosos de recife morando comigo. tenho a opinião de que, se for pra maltratar o animal, é melhor abandonar na rua mesmo. pelo menos ele poderá encontrar amor por aí, assim como vemos na relação linda entre moradores de rua e seus diversos pets. bichos não ligam pra luxo; quem se preocupa com isso somos nós, seres humanos. um colchão de espuma simples, comprado por 49 reais na internet, faz meus filhotes se sentirem num castelo. o erro sempre tá na gente, não neles.