A formação acontece na Casa dom Luciano em Brasília (DF) com a participação de 230 ecônomos e profissionais das arquidioceses e dioceses do Brasil, que auxiliam os bispos na gestão eclesial de Igrejas particulares a partir das orientações do Código do Direito Canônico e legislações Tributária e Contábil
O Grupo de Assessores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil encontra-se em retiro espiritual de 13 a 17 de maio de 2024, na Casa de Encontro Cor Jesu, em Ceilândia (DF). O bispo auxiliar de Brasília, dom Denílson Geraldo, está conduzindo as meditações e pregação. O secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, acolheu e agradeceu a disponibilidade do grupo
Nesta ocasião, a CND, em comunhão com os diáconos permanentes do Rio Grande do Sul, fizeram um repasse de 20 mil reais para a CRD do Regional Sul 3, para ajudar na assistência dos diáconos permanentes que sofrem com as consequências das enchentes. O bispo auxiliar de Salvador (BA) e referencial para o Diaconado Permanente participou do encontro

ARTIGOS DOS BISPOS

Dom Wilson Angotti
Bispo de Taubaté (SP)

“Deixo-lhes a paz, a minha paz eu lhes dou. Minha paz não é a que o mundo dá” (Jo.14,27).

Introdução – A paz é algo que ansiamos, buscamos e também desejamos aos outros. O próprio Jesus nos ofereceu sua paz. A saudação litúrgica nos faz recordar esse dom precioso. A paz é um dom do Ressuscitado que saúda seus discípulos desejando-lhes paz! O primeiro dia do ano é dedicado à paz; é como um desejo do que esperamos desfrutar ao longo do ano todo. Continuamos nossa proposta em conhecer aspectos sobre a doutrina social da Igreja, ou seja, as consequências sociais dos ensinamentos de Cristo. Nesse sentido, hoje vamos refletir sobre a paz. O que se entende por paz; o que a ameaça; o dever dos cristãos em promover a paz.

O que é a paz – A paz não é ausência de guerra, nem equilíbrio estável entre nações inimigas. Muito mais que isso, a paz é uma situação de saúde, de tranquilidade, de plenitude de dons e de vida, enfim, bem-estar no dia a dia. É isso que se encerra na saudação “Shalom”, que expressa a plenitude dos dons messiânicos. Quando Jesus nasceu o anúncio do anjo foi justamente nesse sentido: “paz na terra aos homens por ele amados” (Lc.2,14). “Ele é nossa paz” (Ef.2,14). Podemos dizer que paz é fruto da realização da vontade de Deus, ou seja, da harmoniosa relação do ser humano com Deus, consigo mesmo, com seus semelhantes e com o mundo onde está situado.

O pecado, que desconsidera a vontade de Deus, altera essas relações. Frente a Deus, em vez de filho, o homem quer fazer a própria vontade e, assim, impor-se como senhor. Diante do próximo, ao invés de irmão, quer dominar. Em relação ao mundo, em vez de guardião, explora e destrói de maneira gananciosa e despótica. Assim, desconsiderando o projeto de Deus, o ser humano altera essas relações e perde a paz. Vemos que a paz está diretamente relacionada à realização do projeto de Deus. Não poderá haver paz desconsiderando-se Deus e seu projeto. A paz buscada pelo mundo se reduz a estratégias de superação de conflitos. A paz que Cristo oferece, e a Igreja busca, tem bases mais profundas. São João XIII, na encíclica Pacem in Terris (1963) diz que: “A paz só pode estabelecer-se de modo duradouro no respeito absoluto da ordem estabelecida por Deus” (n.1). Esta ordem se baseia na verdade, na justiça, no amor, na liberdade, na solidariedade.

Evitar as conflitos e construir a paz – Na exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013), o Papa Francisco escreve sobre situações que podem gerar conflitos: “Enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível desarraigar a violência. Acusam os pobres e as populações mais pobres de violência, mas sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar explosão. […] Isso não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto na sua raiz” (n.59). A paz é uma das questões que mais preocupam o homem contemporâneo. Três pontificados do século XX indicaram caminhos para se evitar conflitos e construir uma paz duradoura. Pio XII, pelas alocuções e mesmo pelo lema de seu pontificado, enfatizava que “a paz é fruto da justiça” (cf. Tg.3,18). Paulo VI indicou o desenvolvimento dos povos como condição para a paz (Populorum Progressio, 83). João Paulo II destacou a solidariedade entre as pessoas e os povos como caminho seguro para a paz (Sollicitudo Rei Socialis, 26).

O mundo digital nos aproxima daqueles que pensam de maneira semelhante à nossa; enquanto os que pensam diferente são excluídos de nossas redes. Assim vai se criando uma bolha de intolerância que, perigosamente, tende a culminar no ódio de quem quer excluir ou mesmo eliminar aqueles que não partilham das mesmas convicções. De maneira semelhante, a paz também nasce pequena, no íntimo de cada um de nós, e vai se espalhando. A paz germina do conhecimento e meditação da Palavra de Deus, da oração, da sincera disposição para o entendimento, o perdão, a reconciliação.

Essas atitudes germinam dentro de nós e tendem a se comunicar para a família, o círculo de amigos e, finalmente, para a sociedade. Assim nasce a paz; assim o cristianismo é um poderoso meio para o favorecimento da paz no mundo. Politicamente (ou seja, pelo modo de organizar a sociedade), a Igreja age em vista a construir a paz. Ela se empenha para que os direitos humanos sejam respeitados, exorta ao desarmamento, se empenha em vista ao desenvolvimento econômico e social, a fim de que se estabeleçam as bases para a convivência pacífica da sociedade.

Em muitas situações, a Igreja atua diretamente nas negociações em vista da paz. Com esse propósito, participa de Conselhos Mundiais como na ONU (participa diretamente na resolução de conflitos), na FAO (que tem em vista a questão alimentar e a superação da fome), na UNESCO (que tem por objetivo a promoção da educação, a ciência e a cultura), na OCDE (para a segurança e a cooperação entre países), etc. A Igreja se coloca contrária a produção e ao comércio de armas, especialmente as de destruição em massa, como as armas químicas, biológicas, nucleares, etc. Reconhece apenas que os países tenham os meios necessários para sua defesa. Fundamentada nos princípios cristãos, a Igreja, institucionalmente e por meio de cada um dos fiéis, empenha-se em promover e manter a paz.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Falar de corpo harmonioso é fazer referência a tudo que ocupa espaço e constitui unidade orgânica ou inorgânica, formado de peças justapostas e em sincronia, para atingir seus objetivos. Assim dizemos do corpo humano, de um animal, de uma entidade, de uma fábrica etc. Falamos também da Igreja, construída sob a ação de Jesus Cristo e sobre a prática consolidada dos apóstolos.

A sincronia de toda harmonia da Igreja está depositada na ação efetiva do Espírito Santo, iluminador das atividades da Sagrada Tradição, no percurso de mais de dois mil anos. É uma história com muitas situações positivas e negativas, porque o agente estruturador é a pessoa humana com todos os seus limites de fraqueza. Mas o Espírito Santo é o condutor, que não deixa a instituição parar.

A realização de uma festa qualquer supõe harmonia, fruto de organização e sintonia entre todos que a compõem. Assim é a Celebração da Páscoa, originariamente era uma festa agrícola, em agradecimento pelos frutos obtidos na colheita. A Páscoa dos judeus e dos cristãos é gratidão pelos frutos da ação de Deus na existência da humanidade, com sentido para a vida, formando um corpo coeso.

Na atualidade, mesmo com toda capacidade tecnológica de comunicação, encontramos realidades graves de preconceitos, de discriminação, de racismo e até de ódio, que dificultam a formação de corpos harmoniosos. Corações endurecidos não ajudam na harmonia de sociedade fraterna e unida, porque criam individualismo e descompromisso para com o bem comunitário, que favorece a todos.

As ideologias dificultam a vida das comunidades, inclusive familiar. O apóstolo Paulo chama a atenção da comunidade grega de Corinto, pois estava com dificuldade para acolher judeus, prosélitos e gentios no seu convívio (cf. I Cor 12,13). A unidade é fruto da ação de Deus através da força do Espírito Santo, fazendo surgir, entre todos, lideranças comprometidas com as necessidades locais.

Toda paz verdadeira é fruto de reconciliação, conquistado a partir de uma ação de confiança, vivenciada na harmonia da parte de quem dela participa. Só assim é possível superar todos tipo de medo, insegurança, tribulações, limitações e outras realidades individualistas encontradas na cultura moderna. Sem Deus é difícil formar um corpo harmonioso, formar uma comunidade que se prima pela felicidade.

 

Cardeal Orani João, Cardeal Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

Celebramos no dia 13 de maio a memória litúrgica de Nossa Senhora de Fátima muito celebrada aqui no Brasil devido às tradições portuguesas. A devoção popular a Nossa Senhora de Fátima aqui no Brasil é bem grande, os Santuários e Igrejas dedicados a ela se enchem nesse dia.

Nossa Senhora de Fátima é a mesma Mãe de Jesus, do mesmo modo que tem Aparecida, Lourdes e Guadalupe, que, de acordo com onde aparece e circunstância com que se deu a aparição ela recebe um título. Nossa Senhora normalmente aparece para chamar à conversão, estimular a vida de oração, apresentar seu Filho Jesus, acalmar os corações e para ajudar nos momentos de aflição, sobretudo os mais humildes. É através dos mais humildes que é possível chegar ao coração dos poderosos.

Nossa Senhora deseja que toda a humanidade acolha o seu Filho Jesus que ela traz consigo, Ela deseja que toda a humanidade tenha os mesmos sentimentos de Cristo e que possam se abrir ao amor ao próximo. Ela deseja que toda a humanidade acolha Jesus do mesmo modo que Ela acolheu em seu seio.

Nossa Senhora de Fátima aparece em um momento que a humanidade passava grande dificuldade e de grande aflição que era a Primeira Guerra mundial. Nossa Senhora escolhe aparecer às crianças, que têm um coração puro e são inocentes. É evidente que aqueles adolescentes daquela região de Portugal não tinham consciência da realidade mundial.

Nossa Senhora diz para as crianças pastorinhas “Não tenham medo”, semelhante àquilo que Jesus dizia aos discípulos. Essas crianças eram: Lúcia dos Santos, 10 anos de idade, e seus primos Francisco e Jacinta, de 7 e 9 anos. Numa manhã de Domingo, eles haviam acabado de voltar da Santa Missa, e tinham levado as suas ovelhas para pastar, no declive da Cova da Iria. Ao ouvirem o toque do sino para o Ângelus, puseram-se a rezar o terço, como faziam de costume. Logo em seguida enquanto brincavam, ficaram assombrados pelo aparecimento de um clarão no céu. Pensando que fosse um raio e que viesse chuva foram esconder o rebanho.

Logo depois foram surpreendidos por outro clarão, sobre uma azinheira, no qual viram uma Senhora, vestida de branco e radiante de luz que lhes disse para que voltassem naquele local por seis meses consecutivos no dia 13, na mesma hora, e ela lhes explicaria melhor quem era e o que queria.

Nossa Senhora usava uma veste branca com bordados dourados, um cordão de ouro na cintura; um manto cândido e um terço de grãos brancos nas mãos. Enquanto Lúcia conversava com ela, Jacinta escutava a conversa, mas Francisco não escutava nada. Então Maria pergunta às crianças se elas queriam oferecer-se a Deus inteiramente, suportar todos os sofrimentos que Eles lhes mandar como ato de reparação dos pecados, pelos quais Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores. Lúcia responde que estão dispostos a tudo isso, mas Nossa Senhora diz que ainda deverão sofrer muito, mas a graça de Deus seria seu conforto.

Nossa Senhora trazia uma preocupação consigo, por isso, os pastorinhos a descrevem com o rosto sereno e grave, com uma sombra de tristeza. A humanidade estava com o coração distante do Senhor e só pensavam em guerra. Estavam em meio à Primeira Guerra mundial, Nossa Senhora pede para que os pastorinhos rezassem pela paz mundial e pelo fim da guerra. A oração que eles deveriam fazer é o santo terço, a mensagem que Nossa Senhora de Fátima traz é de conversão e arrependimento. Ela diz que somente por meio da oração é possível alcançar a paz, e para eles não terem medo, pois ela era do céu.

Lúcia disse aos seus primos para não contarem nada a ninguém, pois não acreditariam. No entanto, Jacinta temendo ser castigada por trazer as ovelhas de volta ao pasto, antes da hora, contou tudo a sua mãe, que naturalmente não acreditou. E ainda, os três foram advertidos e repreendidos. Normalmente acontece isso nas aparições de Nossa Senhora, até se confirmar o fato, logicamente, quem não viu não dá crédito, porém a notícia acabou se espalhando.

Na aparição do dia 13 de junho, uma pequena multidão já se uniu junto aos pastorinhos. A Virgem Maria pediu para Lúcia rezar muito, mas também a aprender a ler e escrever, a fim de poder transmitir as mensagens. Na terceira aparição, cerca de duas mil pessoas se reuniram e deixaram as suas ofertas em dinheiro na Cova da Iria. Nossa Senhora reforçou o convite para que os pastorzinhos voltassem lá todo dia 13 de cada mês, e exortou-os a rezar pela humanidade.

Infelizmente, Lucia, Francisco e Jacinta receberam zombarias dos incrédulos, até o próprio pároco duvidou da veracidade de suas narrações. O prefeito do munícipio de Vila Nova de Ourém, ao qual pertencia Fátima, tentou dissuadi-los. Conforme dissemos acima isso normalmente acontece quando ocorre alguma aparição da Virgem Maria, num primeiro momento.

No dia 13 de agosto não puderam ir à cova da Iria, pois estavam presos. Mas, a Virgem Maria lhes apareceu de forma improvisada no dia 19 de agosto, enquanto apascentavam o rebanho em Valinhos, pouco distante de Aljustrel. Lúcia aproveitou e perguntou o que deveria fazer com o dinheiro das ofertas que os fiéis deixavam na cova da Iria. Então Maria disse que mandasse construir uma capela dedicada a ela naquele local.

A aparição repetiu-se mais uma vez em setembro, no dia 13. Nesse último encontro Nossa Senhora prometeu realizar um prodígio, para que todos acreditassem que de fato era Ela que estava aparecendo aos pastorzinhos.

Finalmente, em 13 de outubro de 1917, num dia frio e cinzento, a chuva puniu cerca de 70 mil pessoas, entre as quais muito jornalistas, fotógrafos e a imprensa internacional. Nesse dia, enquanto continuava a chover, a Virgem revelou a Lúcia: “Eu sou Nossa Senhora do Rosário”. Por isso, Ela é conhecida como Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pois, Ela se denominou Virgem do Rosário e apareceu em Fátima. Depois dessa aparição, Ela realizou o milagre prometido: a dança do sol. O astro assumiu várias cores, pôde ser visto a olho nu e começou a girar em torno de si mesmo, parecendo aproximar-se da terra. Quando esse acontecimento extraordinário cessou, as roupas das pessoas, que antes estavam ensopadas, se secaram milagrosamente.

Treze anos depois, no dia 13 de outubro de 1930, as autoridades eclesiásticas declaram que as aparições eram “dignas de fé” e autorizaram o culto a Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Francisco faleceu no dia 4 de abril de 1919 e Jacinta em 20 de fevereiro de 1920. Lúcia entrou para a Comunidade das Irmãs de Santa Doroteia, em 17 de junho de 1921. Após mais de dez anos da emissão de seus votos Perpétuos, decidiu ingressar para o Mosteiro Carmelita de Coimbra. Lúcia faleceu no dia 13 de fevereiro de 2005, aos 97 anos. Francisco e Jacinta foram beatificados no dia 13 de maio do ano 2000, por São João Paulo II, e canonizados, em 13 de maio de 2017, pelo Papa Francisco.

Fátima nos ensina o caminho da oração e do amor ao próximo, que ela abençoe o nosso país e o mundo e o livre da guerra e da violência. Fátima é o altar do mundo! Que a Virgem de Fátima interceda pelo Papa Francisco e pela Igreja e que o Espírito Santo renove o coração de cada fiel. Que sejamos abertos à escuta do Espírito Santo e que aprendamos a caminhar juntos em Igreja Sinodal. Que a paz do mundo seja restabelecida e a graça de Deus anunciada pelos que constroem a civilização do amor. Cento e sete anos se passaram, mas a mensagem de Fátima é sempre atual, sobretudo façamos tudo aquilo que o Senhor nos disser. Amém.

 

 

 

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