A educação no Brasil – ou a falta dela

Essa semana saiu o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) e o Brasil, como geralmente acontece, esta numa péssima 53ª colocação entre 66 países. Ficamos atrás da Colômbia, Uruguai, Letônia, Eslováquia, entre outros.

Toda terça-feira a Rede Globo passa o Profissão Repórter, na minha opinião um dos melhores programas surgidos na terrível programação da TV aberta brasileira dos últimos anos. Dia 07 de dezembro o assunto foi o calvário dos professores brasileiros na tentativa de ensinar os jovens. Desafios à autoridade do professor, desprezo pelo ensino e pelos colegas, absoluta falta de interesse pelo futuro e pais omissos foram a tônica da reportagem. Fico pensando se alunos dedicados e disciplinados, ao verem tais cenas, não se perguntam se não deveriam agir como esses alunos delinquentes, já que nunca são punidos e têm seu  comportamento muitas vezes apoiados por pais omissos e irresponsáveis.

Pois bem, logo após o Profissão Repórter, o jornal repercutiu o resultado do PISA. Ouviu um “especialista” em educação que repetiu a exaustão os clichês utilizados quando o assunto é educação no Brasil. Que tem que se valorizar o professor, que ele tem que ser mais bem preparado, que os investimentos deveriam ser maiores, entre outros argumentos. Isso logo depois dele assistir, na mesma emissora, um professor de Santa Catarina sendo ridicularizado em plena sala de aula por alunos mal-educados, desordeiros e delinquentes. Talvez ele ache que um salário compensa a humilhação diária a qual esse profissional é submetido todo dia.

Eu vou dizer o que os estudantes brasileiros precisam: disciplina. Sim, disciplina que esses marginais não têm em casa. Não é a toa que os países melhores ranqueados são os asiáticos, conhecidos pela disciplina. Na minha opinião, todo o professor deveria ser tratado como autoridade, assim como um policial ou um juiz de direito. Ofender um professor deveria ser como ofender o próprio Presidente da República. Bater em professor deveria ser punível com prisão e assassinar um docente deveria ser crime hediondo, sem direito a fiança.

Pode-se medir a maturidade de uma sociedade pela maneira como seus mestres são tratados e o tratamento dispensado aos nossos mostra como o Brasil é um país ignorante e sem senso de decência. É uma pena tanto dinheiro jogado fora numa educação que não melhora simplesmente porque os estudantes não querem. Afinal, é mais fácil não estudar e, quando adulto jogar a responsabilidade de sua condição social para a sociedade. Estudar da muito trabalho. Legal mesmo é “zoar” com o professor. A educação começa em casa, sempre penso nisso quando estou com meu filho. Infelizmente, grande parte da população não pensa assim. Se não mudarmos esse cenário, nem todo o dinheiro do mundo resolverá o problema da educação no Brasil.

 

 

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Pedido de desculpas

Sim, eu sei que não tem desculpa. Duas semanas sem escrever uma linha é demais. O trabalho e o final de semestre foram os obstáculos, nada que um pouquinho de esforço a mais não tivesse resolvido.

E volto a escrever num momento em que o Banco Central anuncia um aperto monetário. O aumento do compulsório retira R$ 61 bilhões em recursos que os bancos não poderão mais emprestar. Além disso, o BC aumentou as exigências para empréstimos a pessoas físicas. Tudo isso tem por objetivo frear o “ímpeto de consumo” que tomou conta do Brasil.

De certa forma, não houve nenhuma surpresa nas medidas adotadas pelo BC. A inflação já está próximo do limite superior da meta e ameaça sair do controle a partir de 2011. Dessa forma, o BC adota a cautela e diminui o ritmo da economia.

O que deveríamos discutir é porque a economia brasileira não consegue manter uma alta taxa de crescimento, mesmo depois de passar um ano (2009) com taxa de crescimento igual a zero. Esse padrão, conhecido como voo de galinha, persegue nosso país desde o início dos anos 80. A causa principal desse padrão é o baixo nível de investimento da economia brasileira, tanto público quanto privado. Mesmo como toda a pompa em torno do PAC, a relação investimento/PIB manteve-se estável durante o governo Lula. Espero que a Dilma inverta essa lógica. Um pouco mais de ação e menos propaganda não fariam mal a ninguém. Assim como mais posts.

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13º Salário

Final de ano chegando e com ele o tão esperado 13º salário. Muitos aproveitam o extra para comprar os presentes de natal ou colocar as contas em ordem. Este também é um momento propício de quitar aquelas velhas dívidas que tanto incomodam.

Caso esse salário extra não permita que você coloque toda a casa em ordem, sugiro que comece por aquelas que cobram juros mais elevados, casos do cheque especial e do cartão de credito. Ambos cobram taxas proibitivas. Se você não for disciplinado o suficiente para pagar o cartão de crédito sempre em dia, um conselho: não use cartão de crédito. Ele foi feito para ser pago integralmente no vencimento. Pagar o mínimo é suicídio financeiro

O caso do cheque especial no Brasil deveria ser um case para estudos ao redor do mundo. Como pode uma pessoa, que a ciência econômica acredita ser “economicamente racional” toma emprestado recursos, cujas taxas mensais podem chegar a 10% ao mês, 213% ao ano? Acho que o cheque especial deveria ser proibido no Brasil. Qualquer um que recorra a esse instrumento num momento de dificuldade financeira logo perceberá que elas (taxas) aumentarão, e muito, com o tempo. Se você conseguir, acabe com ele e nunca mais utilize novamente. Há outras maneiras de se enfrentar dificuldades financeiras.

Mas caso você seja uma pessoa que preza pela sensatez financeira e chega ao final do ano sem nenhuma dívida a quitar e com dinheiro para comprar presentes, sugiro a velha e boa poupança para o 13º. Em época de inflação baixa, apresenta bom rendimento e uma maior garantia por parte do governo, caso você escolha um banco como o Panamericano para fazer a aplicação. Esta poupança pode ser a garantia de que, no futuro, você não precise apelar para o cheque especial ou para o cartão de crédito.

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Clap, clap, clap

Deu na Folha de São Paulo: o custo do aumento das reservas durante o governo Lula superou o investimento federal em obras. Entre 2003 e 2009, gastamos R$ 136,2 bilhões para manter as reservas, enquanto os gastos com obras foram de R$ 132,7 bilhões.

O mecanismo de geração do custo funciona mais ou menos assim: digamos que tenham entrado US$ 1 bilhão de dólares no Brasil. Esse recurso, que chega via sistema financeiro nacional, é trocado por mais ou menos R$ 1,7 bilhão. Como os bancos comerciais não têm interesse em manter esses dólares em caixa, acabam vendendo para o Banco Central, aumentando as reservas cambiais. Isso aumenta a oferta de moeda, pressionando o consumo e a inflação. Dessa forma, o Banco Central deve retirar esse excesso de moeda para evitar aumentos de preços. Faz isso emitindo letras do BC, que remuneram o investidor pela Selic.

E aí reside o problema. O Banco Central aplica suas reservas no mercado mundial pagando juros internacionais, hoje da ordem de 1% ao ano. E o custo de retirar o excesso de moeda hoje é de 10,75% ao ano, atual patamar da Selic. A diferença entre a taxa de juros interna e a externa representa o custo de aumento das reservas.

Atualmente o governo tem reservas em excesso, não há necessidade de tanto volume. Mais da metade deste montante foi obtido atraindo capital especulativo. Este foi atraído pela alta taxa de juros paga pelo governo brasileiro. E a Selic é alta porque o governo gasta demais. Observação do blogueiro: gasta demais e mal.

Outra pergunta: o que o governo fez com essas reservas? Nada. Absolutamente nada. Guardou o dinheiro.  Emprestou para o FMI, falava a então candidata Dilma. Um erro grosseiro que se pode comparar a pegar dinheiro no cheque especial para fazer uma aplicação na poupança. Uma burrice. Já tínhamos alertado sobre isso em outros posts. Palmas para o governo Lula.

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Para onde vai o dinheiro?

O governo americano anunciou que vai comprar US$ 600 bilhões em títulos do tesouro junto às instituições financeiras. O objetivo é aumentar o volume de recursos para empréstimos à disposição dos consumidores. Tenho dúvidas em relação aos efeitos da medida. Sinceramente, acho que quando a causa da crise está no excesso de endividamento, a única saída é esperar que este endividamento reduza para níveis suportáveis. Talvez a melhor saída para a crise seja o governo americano ampliar seu esforço fiscal, mesmo que o atual déficit seja gigantesco. Porém, de uma coisa podemos ter certeza: o dólar vai desvalorizar-se mais ainda mundo afora. Menos na China.

No Brasil a reação foi a de sempre. Berram e gritam que isso é um absurdo, que vão reclamar no G20, que EUA e China estão fazendo uma guerra cambial, etc… Toda a gritaria para esconder o fato de que este governo não faz nada para conter a enxurrada de dólares na economia.

A Fiesp declarou essa semana que o país está sofrendo um processo de desindustrialização. Perceberam tarde.  Este processo começou em 2007, quando se iniciou o processo de valorização do real. Cada governo defende a economia de seu país e não tem nada de errado nisso. Esta na hora do nosso presidente defender a nossa economia. Está na hora do governo brasileiro deixar de ser ingênuo.

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Uma lição das urnas

Mudei muito minha opinião a respeito dos americanos depois da minha viagem. Vi um povo cordato e trabalhador, que não se furtava em parar no meio da calçada para lhe ajudar quando visse alguém com um mapa na mão ou se oferecer para bater uma foto sua quando visse que era isso que você estava precisando. Sim, são paranóicos quando o assunto é segurança e talvez se achem superiores, mas se nosso país atingisse apenas metade do padrão de vida do americano e uma pequena parte do seu censo de coletividade, também nos acharíamos melhores que os outros. Dentre todos os países que conheci, os Estados Unidos foram os que mais me surpreenderam. Positivamente. Arrependo-me de não ter visitado antes. Não vi nas ruas os sinais de crise que tanto amedrontam os americanos, mas ser turista é uma coisa, ser trabalhador é outra. Os Estados Unidos estão sentindo o peso da crise e o presidente Obama recebeu um recado claro e inequívoco das urnas: o encantamento com o novo e a esperança de dias melhores por detrás do slongan de campanha “Yes, we can” acabaram-se. O presidente Obama fracassou nestes dois primeiros anos de governo. E ele reconheceu isso, num gesto de estadista. Sinto inveja dos americanos também por isso. A humildade do seu presidente garante aos americanos que, se for preciso, ele sentará com a oposição para que juntos, possam encontrar uma saída para a crise. Sonho com um dia em que nossos governantes farão o mesmo.

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A lógica dos bancos

Tem uma propaganda do banco Itaú que é mais ou menos assim: começa com uma frase do tipo: todo mundo sabe que 1 + 1 = 2, mas com tempo descobre que 1 + 1 = 3 ou que 1 + 1 = 22. Engraçado, em nenhum momento 1 + 1 = 0 ou um valor menor que dois, sempre maior. Ainda não entendi a mensagem, mas compreendi porque os débitos na minha conta corrente são geralmente maiores que os esperados, principalmente do cheque especial.

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Mago da matemática

O filme “Mentes Brilhantes” conta a história de crianças superdotadas em várias áreas e as dificuldades que elas têm de conviver com pessoas comuns. Um dos personagens se auto-intitula Mago da matemática, tal é seu prodígio em executar as contas mais complexas utilizando-se da mente como única ferramenta. Resolver essas charadas matemáticas é seu maior dom.

Nesta semana o governo anunciou, com pompa e circunstância, o maior superávit primário (resultado das contas do governo antes do pagamento dos juros) da história, de R$ 26,1 bilhões. O governo conseguiu esse resultado “extraordinário” graças a uma maracutaia digna de nota. Basicamente, o governo vendeu à Petrobrás 5 bilhões de barris de petróleo do Pré-sal (que ainda nem foram retirados) por R$ 74,8 bilhões. Deveria gastar todo esse dinheiro na recente capitalização da empresa, porém investiu apenas R$ 42,9 bilhões. O restante (para atingir o valor necessário para a capitalização da Petrobrás), o governo pediu emprestado para o BNDES (não é incrível?). E do fundo soberano (outra artimanha contábil), restando ao tesouro R$ 31,9 bilhões, com o que se atingiu o “fantástico” superávit.

Sem essa “mágica”, a união teria apresentado déficit primário de R$ 5,9 bilhões, uma catástrofe. Como complemento desta notícia, registra-se o fato de que o resultado primário até agosto já é o pior desde 2002. Todos sabem a razão deste descontrole das contas públicas: as eleições para presidente. Uma pena que nosso dinheiro seja tratado com tanto desrespeito. Ou algum dos leitores do blog notou alguma melhoria nos serviços públicos, ou na educação, saúde, estradas? Acredito que não. O governo, tentando passar uma imagem de retidão moral e de preocupação com a coisa pública, fabrica superávits onde não existem partindo da premissa que os brasileiros não entendem e nem querem saber desse tipo de assunto. Tenho certeza que não é o caso dos leitores do blog. Para nos enganarem, precisarão encontrar artimanhas contábeis mais astutas. Ou, quem sabe, chamar o mago da matemática para ajudá-los.

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Ministro Mantega lê o Blog do Economista

Em primeiro lugar, gostaria de pedir desculpas aos leitores do blog pela falta de posts recentes. Acontece que estou em viagem pelos Estados Unidos, visitando e conhecendo Wall Street, Banco Mundial, a Bolsa de Futuros de Chicago e algumas universidades americanas. Quando voltar escrevo sobre minhas impressões.

Pois bem, eu já havia escrito aqui, neste blog, que o aumento do IOF para capitais estrangeiros sobre investimentos de renda fixa de 2% para 4% seria insuficiente para conter a queda do dólar. Com o câmbio derretendo, o ministro Mantega resolveu aumentar mais uma vez o IOF, desta vez de 4% para 6%. Acho ainda pouco, pois o mundo ainda esta com excesso de liquidez e os capitais ainda fluirão para o Brasil, mas de qualquer maneira, já é uma reação. Li em algum lugar que o governo pensa em restringir os investimentos estrangeiros no mercado futuro. Seria uma boa medida, já que dessa maneira exporia os especuladores ao risco cambial, evitando que estes fizessem hedge para o capital aplicado. Talvez isso combinado com uma longa quarentena (tempo mínimo de permanência do capital) tornaria a especulação no Brasil menos atrativa. O câmbio é, com certeza, a maior ameaça que a indústria nacional vislumbra num futuro próximo. Enquanto não corrigimos os defeitos das políticas macroeconômicas devemos criar mecanismos de proteção ao câmbio. O real tem que parar de valorizar-se. Mesmo que na minha volta ao Brasil, a conta do cartão de crédito seja um pouco mais salgada.

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Adianta fechar a porteira depois que o gado inteiro fugiu?

Este post é sobre câmbio. Então o título deveria ser: adianta fechar a porteira depois que a boiada entrou? Sim, porque o governo anunciou, apenas agora, o aumento do IOF sobre capital externo para investimentos em renda fixa.

O aumento foi de 2% para 4%. O capital é tributado na entrada, e o objetivo do governo é reduzir a entrada de capital cujo objetivo é ganhar dinheiro via arbitragem de juros. E como isso funciona? Simples. O especulador toma empréstimos a juros irrisórios no exterior (digamos 1% ao ano, no caso do Japão), aplica no mercado brasileiro, cuja taxa de juros encontra-se entre as mais altas do mundo (atualmente 10,75% ao ano) e ganha com a arbitragem. Simples, não?

Não acredito que essas medidas sejam suficientes. O governo deveria impor restrições severas a entrada de capital especulativo no país, incluindo uma longa quarentena (período em que o capital é obrigado a permanecer no país), imposição de imposto de renda sobre aplicações com títulos públicos (isentos desde 2006), e até mesmo a pura e simples proibição de entrada deste tipo de investimentos. O país não precisa disto. Nossas reservas estão em níveis superiores a 275 bilhões de dólares. Podemos viver sem capital especulativo. Isso evitará, com certeza, a valorização do real. E a indústria nacional, com certeza, agradecerá.

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