Educação, atenção,
disciplina, carinho, alimentação balanceada e cuidados
com a higiene e a saúde, é o que a maioria dos pais
espera que seus filhos recebam quando os deixam em uma escola
infantil. Mas, infelizmente, não é isto que vem
ocorrendo na maioria das escolas infantis de Taubaté. Pelo
contrário, alguns estabelecimentos que se auto-intitulam
escolas, funcionam sem instalações adequadas, colocando
em risco a formação pedagógica e até
a vida das crianças.
Aproximadamente 50 escolas infantis ilegais e com instalações
irregulares, funcionam livremente em Taubaté, sem qualquer
fiscalização por parte das autoridades competentes.
Consultadas, essas autoridades alegam não ter conhecimento
da existência delas. Além disso, qualquer atitude
de fiscalização só é tomada após
receberem alguma denuncia.
De acordo com o DEC (Departamento
de Educação e Cultura), hoje em Taubaté existem
apenas 15 escolas infantis regularizadas junto ao órgão
competente. Estas escolas enfrentam uma competição
desleal promovida por dezenas de escolas irregulares, que oferecem
preços das mensalidades e matriculas menores devido ao
não pagamento de taxas e impostos que as escolas registradas
e regulamentadas pagam.
O desabafo da proprietária
de uma das 15 escolas infantis legalizadas, que preferiu não
se identificar, é muito representativo para quem trabalha
dentro da lei e luta para oferecer um ensino digno, “Eles
[DEC] estão acobertando as [escolas] irregulares [porque
não quis divulgar a lista de escolas legalizadas para uma
mãe.]. O DEC falha de não estar indo visitar. Honestamente,
pago todos os meus encargos e quero jogar abertamente. O maior
risco [de crianças em escolas irregulares] é o despreparo
dos professores. A higiene pessoal também é muito
importante. Os nossos funcionários passam álcool
nas mãos e ainda tem criança que fica doente. Eu
também culpo os pais, que só querem negociar os
preços e não entram para vistoriar a escola."
Riscos
Escolas que se formam em fundo
de quintal, ou em qualquer outro terreno sem uma estrutura preparada
para receber tal estabelecimento, oferecem riscos para a saúde
e a integridade infantil. Salas irregulares, espaço físico
insuficiente, escadas e outros perigos de uma planta não
fiscalizada, somadas a profissionais sem capacitação,
são uma combinação perigosa, que pode causar
danos irreparáveis na vida de uma criança.
Além de um projeto, uma planta aprovada pelo departamento
competente, é necessário que o estabelecimento receba
visitas do corpo de bombeiros e da vigilância sanitária,
regularizando extintores, saídas de emergência, e
fiscalizando as condições de higiene e limpeza do
local.
Formação
Os primeiros passos, os primeiros
desenhos, as primeiras palavras, letras e descobertas de uma criança
muitas vezes acontecem longe dos olhos dos pais, dentro de uma
escola infantil. Pais que trabalham fora para poder sustentar
e dar educação digna aos filhos, por necessidade,
entregam suas crianças aos cuidados de escolas e berçários.
Esses pais, em geral, desconhecem a situação das
escolas que abrigam seus filhos durante boa parte do dia.
Segundo a pedagoga Márcia
de Paula, a falta de acompanhamento pedagógico, planejamento
do currículo escolar e profissionais capacitados nas escolas
de educação infantil, podem desestruturar todo o
aprendizado futuro da criança, “Na infância
é que se recebe e se forma toda a base de sustentação
de ensino, a criança se estrutura para poder desenvolver
de forma adequada o ensino na adolescência” explica
a pedagoga.
A falta de profissionais capacitados,
sem formação acadêmica ou magistério,
limita os passos e o desenvolvimento infantil, “O profissional
capacitado sabe que brincadeiras e brinquedos oferecer a cada
um, conhece os limites de cada idade e sabe até onde pode
e deve ir com cada turma” conta.
DEC Taubaté
O professor José Benedito
Prado, diretor do DEC, reafirmou que não existe nenhum
órgão ou funcionário que faça a fiscalização
nas escolas da cidade. Somente em caso de denúncia os supervisores
vão até o estabelecimento, fazem a vistoria, convidam
o proprietário a comparecer ao DEC onde ele é orientado
sobre os procedimentos e documentação necessária
para regularizar a escola. Após um mês da orientação
dada, se o proprietário ou responsável não
atender as exigências, ele pode ter seu estabelecimento
fechado.
Prado explicou que os maiores defensores do ensino são
os próprios pais e orientou: “É fundamental
que os pais, antes de matricular os filhos, visitem as dependências
do colégio, procurem referências de crianças
que já estudaram no local, questionem sobre o método
de ensino e exijam a portaria de autorização de
funcionamento e o registro junto ao DEC”.
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Fachada da escola Acalanto La Bretèche
Escola Pimpolho com grades enferrujadas
Fachada da escola Anjo Azul sem qualquer indentificacao de nome
ou telefone
Escolas
Escola
Anjo Azul
Rua Alexandrino Correa Leite,288, Jardim Maria Augusta.
A
proprietária Denise não pode falar com a equipe
de reportagem porque, segundo a secretária, estava atendendo
a mãe de uma aluna. Ângela, secretária da
escola, disse que a escola não alfabetiza as crianças.
Apenas oferece recreação, sistema lúdico.
Questionada sobre o quê as crianças de 4 e 5 anos
fazem enquanto permanecem no local, ela informou que eles não
são uma escola por isso não têm registro no
DEC, mas oferecem uma parte pedagógica de “brinde”
para as crianças, e essa parte pedagógica não
é cobrada.
Quanto ao fato de no panfleto
da escola oferecer internato - a criança entra na segunda-feira
às 7h e sai na sexta-feira às 19h por R$ 800 -,
a secretária disse que não tem nenhuma criança
neste sistema, mas que existe sim a possibilidade. Porém,
caso uma criança de 5 anos fosse matriculada hoje na escola,
durante todos os dias da semana em regime de internato, ela receberia
o apoio grátis pedagógico e permaneceria durante
toda a semana recebendo estímulo lúdico!
Sobre a falta de identificação
nos portões e no muro da escola, ela disse que não
podia falar sobre o assunto. (A escola não tem qualquer
tipo de identificação de nome e telefone nas portas
e nos muros)
Escola Pimpolho - Maternal- Infantil 1 e
2- Pré-primário
Centro
A
proprietária e coordenadora da escola infantil, Cristina,
disse à nossa reportagem que a escola tem alvará
da prefeitura, licença da vigilância sanitária
e dos bombeiros, mas desconhece a obrigação de ter
algum tipo de registro no DEC: “Antigamente era menos burocrático
abrir uma escola, não sabia nem que precisava deste tipo
de registro”.
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