À deriva

•31 de Maio de 2016 • Deixe um Comentário

Fomos caminhando em lados opostos. Tu, na tua leveza aparente, empurrando os medos para dentro, fingindo que o aperto constante na garganta não estava lá. Demasiado inconsciente, demasiado arriscado.

Eu, sentindo-me a dançar numa nuvem de pó, submersa e arrastada com força pelo vento, às apalpadelas e aos encontrões fortuitos com a vida, com o bom e com o mau.

Na deriva.

Aqui

•13 de Outubro de 2015 • Deixe um Comentário

O ar aqui é outro, feito de milhares de partículas de água, é o mar a que cheira tudo, desde a arriba que cresce em resposta à praia, ao céu, e que parece desafiar as nuvens, e a chuva, nos dias em que cai, brincando às escondidas com o sol.

Aqui o tempo é também outro, feito de manhãs e de tarde lentas, vagarosas as horas e impacientes os minutos, mergulhados na luz e no cheiro incontornável do mar.

Quando caminho em direcção à praia, uma só missão, a de chegar, e debaixo dos meus pés, a pressa disfarçada do reencontro.

No cimo das escadas e do passadiço, estende-se para além da beleza e das palavras, o verde absoluto da copas das árvores, dos pinheiros mansos que se colam e se aglomeram numa massa una, num testemunho de cor, e a vegetação selvagem que convive com a organização tentada dos caminhos e das casas.

Do outro lado fica a praia. E o silêncio é tão poderoso aqui que nem as conversas dos que caminham, ou os guinchos das gaivotas, conseguem fazer-se ouvir. Se tanto, fundem-se na visão grandiosa da areia e da água, que parece nunca mais acabar.

E eu, sou apenas um grão, uma gota, que palpita e respira, agradecida, por poder fazer parte disto, por pertencer a este momento.

Mesma

•5 de Agosto de 2015 • Deixe um Comentário

Desagrada-me a tua fraude. E como não te quero dizer mais isso, calo-me e não te digo, nada.

Mas amo-te, pelo sangue que é das duas, pelas memórias do começo das nossas vidas.

Entristece-me a tua fraude, a que contas aos outros, mas mais do que mais, a que repetes a ti própria.

Rodopio

•15 de Maio de 2015 • Deixe um Comentário

Chorei de mágoa, de espanto, de tristeza. No meu limite, cruzaste o teu e alcançaste a minha dor. Dás-me o que preciso.

Mesmo quando caímos, girando no abismo, dás-me a tua mão, a que me enche de calor e de amparo, de amor.

Dás-me o que preciso. Sempre. Até ao fim.

Em rodopio.

Aliança

•12 de Maio de 2015 • Deixe um Comentário

Superar o medo. Aquele que se confunde com a preguiça. Concretizar.

Se envelheço ao espelho, a alma não pode mirrar, mas sim crescer, mudar.

A mudança é a aliada mais importante.

Tesouro

•5 de Maio de 2015 • Deixe um Comentário

Ouvir-te devagar. Suster a memória dentro, a que me passa diante dos olhos. Ouvir a tua gargalhada, sentir o teu olhar divertido com a ideia atrevida, pensar na tua vontade de vida, de alegria, de partilha, de amizade.

Conhecer-te foi um dos meus maiores tesouros.

Pela estrada

•29 de Abril de 2015 • Deixe um Comentário

Dizemos que queremos. E queremos. Sabemos de dentro aquilo que sentimos. Fechamos. Abrimos. Os olhos. Temos azul fresco, cheio de manhã, e uma mão de fora da janela do carro. Aumento o som do rádio, cantamos bem alto, muito alto.

O riso transforma-se em suspiro. Sinto a tua mão quente, e a tua energia repara-me as fissuras da tristeza, preenche-me os buracos esquecidos. Com a tua mão na minha, sinto-me mais viva.

A transbordar

•21 de Abril de 2015 • Deixe um Comentário

Com o que me foi dado e permitido. Fazer disto uma alegria e celebrá-lo sempre.

Agarrar a luz, deixá-la passar por mim e guardar dela o suficiente para não entristecer.

O amor, em soluços e escapando-se na generosidade de um coração que transborda.

Encolho-me

•16 de Abril de 2015 • Deixe um Comentário

Se por um lado, quase me encolho de repulsa se me sinto boa em qualquer coisa, se me envaideço, orgulho, também me atinge brutalmente ver para além do que quero.

Aquilo que me entusiasma e comove ainda é a generosidade humana. Aquilo que me faz mal é reconhecer o egoísmo, o egotismo tão umbiguista que cresce, se ensina e se promove.

E a deslealdade de uns para os outros, dos amigos para os amigos, a falta de compromisso, de entrega.

Furto-me aos hipócritas, fujo dos mentirosos, dos que procuram a minha aprovação.

Incomodam-me as farsas. Tenho dificuldade em compactuar, em fingir, em distanciar-me. Mas sei que é isso que devo fazer, distanciar, concentrar-me em mim e nos meus objectivos, no propósito de alcançar quem me move, quem me inspira, quem me pode ensinar, acrescentar.

Calar

•15 de Abril de 2015 • Deixe um Comentário

A detentora da verdade. Aquela que sabe sempre tudo. A que acerta. A que topa ao longe. A que apanha nas curvas.

Tenho dias em que me nauseia a minha conversa, saber que impressiona os termos que ecoo na ausência de conhecimentos alheio. Até onde é que vai a vaidade na vontade de trasnmitir e de ajudar?

Tenho dias em que me apetece tudo calar. Porque o silêncio consegue ser a melhor opção.

Quanta coisa teria sido diferente na minha vida se me tenho calado?

Demasiada.