EQUIPE DESENVOLVIMENTO SOCIAL / ACM
Capacitação
Profissional
Legislação:
Dr.
Sergio Ferreira ( DESIPE)
RIO — A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada ontem pelo IBGE, traz dados alarmantes sobre os hábitos dos adolescentes brasileiros. O trabalho, referente ao ano de 2015, foi realizado com estudantes concluintes do 9º ano em escolas públicas e privadas de todo o país, a maioria entre 13 e 15 anos. Os resultados mostram que o percentual de jovens que já experimentaram bebidas alcoólicas subiu de 50,3%, em 2012, para 55,5% em 2015; já a taxa dos que usaram drogas ilícitas aumentou de 7,3% para 9% no mesmo período. Também subiu o número dos que relataram a prática de sexo sem preservativos, de 24,7% para 33,8%.
— É na adolescência que se estabelecem hábitos que serão levados pela vida adulta — disse Marco Andreazzi, gerente da pesquisa, ressaltando a importância de políticas de prevenção de doenças para esta faixa etária. — No Brasil, 72% dos óbitos são provocados por doenças crônicas, e elas estão diretamente relacionadas a hábitos não saudáveis.
Pela legislação brasileira, a venda e o consumo de bebidas alcoólicas são proibidos para menores de 18 anos, mas os números mostram que a prática é bastante difundida. O problema é levemente mais grave entre as meninas, com 56,1% delas já tendo experimentado álcool, contra 54,8% dos garotos. Em termos regionais, a questão é mais preocupante no Sul, onde 65,9% dos entrevistados relatam já terem bebido.
A forma mais comum de se conseguir bebidas são as festas, apontadas por 43,8% dos adolescentes que já consumiram álcool, mas 17,8% deles revelaram ter conseguido bebidas com amigos; 14,4% comparam em mercado, loja ou bar; e 9,4% conseguiram a bebida com alguém da própria família.
Entre as drogas ilícitas, 4,2% dos entrevistados revelaram ter feito uso nos 30 dias que antecederam a pesquisa — um indício que eles fazem uso regular das substâncias, num percentual maior entre os meninos (4,7%) que as garotas (3,7%). O estudo questionou o uso específico da maconha, e 4,1% dos estudantes revelaram terem fumado nos últimos 30 dias antes do preenchimento do questionário.
— Temos um problema grave com a bebida alcoólica, com mais da metade da população pesquisada já tendo experimentado — afirmou Andreazzi.
Para Cheila Marina de Lima, consultora técnica do Ministério da Saúde, uma das saídas poderia ser a maior regulamentação da propaganda de bebidas alcoólicas. Pela legislação atual, apenas bebidas com grau alcoólico acima de 13 graus Gay Lussac, como vodca e uísque, são proibidas de veicular publicidade entre 6h e 21h.
— Um dos grandes desafios do país é como trabalhar para regulamentar a propaganda de bebidas — disse Cheila.
A preocupação é válida. De acordo com Luciana Rodrigues Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, o efeito do álcool e das drogas nos adolescentes é mais danoso que nos adultos, pois o organismo deles ainda está em formação. E quanto mais cedo o jovem começa a consumir, pior será o dano no futuro, com maiores riscos de desenvolvimento de doenças hepáticas e alterações psiquiátricas, entre outros problemas graves.
— Eu acho que hoje existe uma permissividade maior que há alguns anos — avalia Luciana. — O álcool é uma droga considerada permitida pela sociedade, e muitas vezes os adolescentes presenciam o consumo excessivo pelos próprios pais dentro de casa.
Em relação ao sexo, a taxa de jovens que já tiveram relações sexuais caiu ligeiramente nos últimos três anos, de 28,7% em 2012 para 27,5% em 2015. Mas o uso da camisinha despencou quase dez pontos percentuais, de 75,3% para 66,2%, segundo a pesquisa.
— O que eu ouço muito no consultório é que eles usam o preservativo na primeira vez, mas depois deixam de usar, dizem que já conhecem o parceiro ou parceira. E também existe o sentimento de invulnerabilidade, característico dessa fase — avalia o médico Maurício de Souza Lima, especialista em hebiatria (tratamento de adolescentes). — Essa geração não viu a imagem de pessoas morrendo com Aids, como o Cazuza. Eles acham que se forem contaminados, o problema é resolvido tomando remédio, o que não é verdade.
Comportamento de risco dos adolescentes
Estudo realizado com concluintes do 9º ano do Ensino Fundamental
Consumiram bebida alcoólica nos últimos 30 dias
Experimentaram bebidas alcoólicas
Fumaram cigarro nos últimos 30 dias
Fumaram maconha nos últimos 30 dias
Já experimentaram drogas ilícitas
Adolescentes que já tiveram relações sexuais
Usaram camisinha na última transa
Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar/IBGE
Nesta terceira edição da PeNSE, o IBGE apurou pela primeira vez o número de estudantes que já foram forçados a ter relações sexuais, e 4% deles relataram já terem sido vítimas. E, desses, 31,6% indicaram o abuso por algum membro da família (pai, padrasto, mãe, madrasta ou outros parentes), 26,6% o namorado (a) ou ex-namorado (a) e 21,8%, um amigo (a).
Os adolescentes também estão mais ativos: a taxa dos que praticam exercícios regularmente aumentou de 30,1% em 2012 para 34,4% no ano passado. O gerente da pesquisa, Marco Andreazzi, ressalta que a alta pode ter sido afetada por uma alteração metodológica entre os dois estudos, mas um outro indicador, o de número de aulas de Educação Física, também apresentou melhoras. Em 2012, apenas 27,3% dos estudantes relataram ter duas ou mais aulas semanais por semana, percentual que subiu para 48,4%.
— O indicador é composto por uma série de informações coletadas dos estudantes, que nos permitem estimar se eles realizam mais de 300 minutos de atividades físicas por semana — explicou Andreazzi.
O que chama atenção neste indicador é a situação do Rio de Janeiro, município nas últimas posições do ranking nacional, apesar de a cidade ter sediado a Olimpíada este ano — o estado só está à frente de Pará, Acre e Ceará. E apenas 19,2% dos estudantes fluminenses disseram ter aulas de Educação Física por dois ou mais dias por semana.
Outro dado de destaque foi a redução drástica no percentual de adolescentes que relatou assistir a duas ou mais horas de televisão por dia. Em 2012, 78% dos pesquisados disseram ter esse hábito, mas no ano passado a taxa caiu para 59,1%. Uma das possíveis explicações para o fenômeno foi a substituição da TV por outros dispositivos. “Estudos mostram que o tempo gasto com a televisão diminuiu na última década, mas a redução é compensada pelo tempo gasto com outros dispositivos de tela, como smartphones, tablets, PCs e computadores”, aponta a pesquisa.
Como resultado da baixa atividade física, conjugada com maus hábitos alimentares, 23,7% dos adolescentes estão com sobrepeso, sendo 7,8% obesos. O índice é bem menor do que a média da população adulta do país, que tem taxa de 52,5% das pessoas acima do peso ideal. Mas ainda assim preocupa.
— O problema da obesidade infantil e na adolescência é muito sério. Estamos vendo nos consultórios pessoas muito jovens desenvolvendo doenças crônicas, como diabetes e pressão alta — diz Celise Meneses, do Comitê de Adolescência da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro.
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