De certa forma você se espanta ao olhar para o lado sem muita perspectiva e encontrar nada muito além de um grande vácuo onde nem mesmo a neblina te faz companhia.
Você pisca e tenta reconstruir aquilo que parecia tão real, tão crível e imperfeito que poderia ter existido: as risadas,os gritos, a música. E você teimou que existiu mesmo sem nenhum rastro, nem uma agulha fora do lugar em um quarto milimetricamente arrumado.
Nunca existiu; a explicação mais plausível. Porque nada definitivamente vai embora quando é verdadeiro. Porque a verdade impregna por debaixo da pele e se faz algo indisfarçável, como cheiro, como suor. E o que se vai, e que parece escorrer por nossas mãos, na verdade nunca esteve de fato. Como você, nunca esteve de fato.
E deixa fagulhas para o desconsolo da memória. Fica só a confusão, o deja vù maldito de um universo insólito, mas que te fez rir e te fez chorar para depois rir do que chorou e então chorar de rir.
Mas é chegada a hora de abrir os olhos e entender que o estranho vazio a seu redor não é mais que a verdade por trás da matrix que você pensou ser o seu lugar. Acende o ardor nas pupilas para encarar a impermeável condição da solidão humana.
Estamos todos. Estamos plenos.
O Leite derramado sobre a natureza morta me choca, me choca
Leite (Otto e Céu)