METODOLOGIA DO DLIS | VERSÃO 2007

junho 28, 2008
    Esta seria a ‘Versão 2007’ da metodologia do DLIS – Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Há mais de quatro anos, porém, a marca ‘DLIS’ não é enfatizada no Brasil. Adota-se apenas o nome genérico ‘DL’ – Desenvolvimento Local, para evitar problemas com aqueles que podem ver na sigla algum tipo de continuidade com programas elaborados e executados durante os mandatos do governo federal anterior. (Fazer o quê? Temos que ter uma paciência infinita com os que ainda estão na adolescência política). Está assim disponibilizada mais uma versão da metodologia de indução do desenvolvimento local por meio do investimento em capital social. Não é um programa proprietário. É um software livre. Pode ser usado, transferido, emprestado, vendido, modificado… Faça bom proveito.

    Mas o DLIS hoje é mais uma espécie de “filosofia” de promoção do desenvolvimento humano e social sustentável por meio do investimento em capital social – priorizando a articulação e animação de redes sociais distribuídas (P2P) e a democratização das relações na base da sociedade e no quotidiano do cidadão – do que simplesmente uma metodologia stricto sensu.

    Capital social é um recurso para o desenvolvimento aventado para explicar por que certos conjuntos humanos conseguem criar ambientes favoráveis à boa governança, à prosperidade econômica e à expansão de uma cultura cívica capaz de melhorar as suas condições de convivência social.

    A metodologia do desenvolvimento local por meio do investimento em capital social se baseia na idéia de que o capital social depende, fundamentalmente, de duas coisas: das redes sociais (que ligam horizontalmente pessoas-com-pessoas, peer-to-peer, ou P2P) e da democracia (na base da sociedade e no quotidiano do cidadão).

    A versão 2007 dessa metodologia compreende um conjunto de oito passos:

    Primeiro Passo – Instalação da Equipe de Articulação da Rede

    Segundo Passo – Articulação da Rede (Local)

    Terceiro Passo – Seminário Visão de Futuro

    Quarto Passo – Pesquisa Diagnóstico dos Ativos e Necessidades

    Quinto Passo – Elaboração do Plano (Horizonte 10 anos)

    Sexto Passo – Agenda Local (1 ano)

    Sétimo Passo – Pacto Local em torno da Agenda

    Oitavo Passo – Realização da Agenda (começando por um Projeto Demonstrativo)

    Essa metodologia está formatada para localidades com até 50 mil habitantes.

    QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

    1 – O que impede o desenvolvimento das localidades?
    a) A falta de recursos.
    b) A falta de vontade política dos governos.
    c) A falta de responsabilidade dos líderes governamentais empresariais e sociais.
    d) A falta de uma elite que tenha condições de desencadear um processo de indução ao desenvolvimento.
    d) O fato das forças criativas e empreendedoras da sociedade local estarem em estado latente (e se essas forças não puderem ser dinamizadas, não será qualquer metodologia ou tecnologia de indução que conseguirá promover o desenvolvimento local).
    e) São as obstruções na rede social que impedem o desenvolvimento, sobretudo aquelas introduzidas pelo sistema político: a centralização e a descentralização (ou multicentralização), a autocracia ou a democracia com alto grau de antagonismo (e o clima adversarial instalado na base da sociedade), o clientelismo e o assistencialismo. Em certo sentido bastaria remover tais obstáculos ao livre fluir na rede social para que começassem a brotar as iniciativas de desenvolvimento, para que o campo social começasse a se tornar empoderante dos indivíduos e para que as pessoas, coletivamente, começassem a exercer o seu protagonismo.
    f) Todas as alternativas anteriores.
    g) Nenhuma das alternativas anteriores.

    2 – Qual o papel das “boas práticas” como incentivo ao desenvolvimento local?
    a) Bons exemplos de desenvolvimento de outras localidades, cumprem, por certo, um papel animador, mostram que é possível superar os obstáculos e são capazes de contagiar as pessoas, favorecendo sua mobilização em prol do desenvolvimento da sua localidade.
    b) Bons exemplos de desenvolvimento de uma localidade, em geral não servem como modelo de desenvolvimento para outras localidades, pois cada desenvolvimento local é único nas suas características e no seu processo de indução.
    c) As chamadas “boas práticas” são, em boa parte, “flores de estufa”: uma maravilha… na estufa! Quando a gente sai do ambiente cuidadosamente preparado para que floresçam, elas costumam fenecer.
    d) Nenhuma das alternativas anteriores.

    3 – Ainda sobre as boas-práticas (“best practices”):
    a) Muitos agentes indutores do desenvolvimento querem interferir o máximo que podem na vida das localidades, aplicando a sua receita de como as pessoas devem caminhar para se desenvolver. Assim, quando encontram uma coletividade capaz de seguir o seu receituário metodológico, ficam tão felizes que resolvem promover aquela experiência à condição de uma “best practice” (dando a impressão de que, na verdade, eles querem premiar mais a si mesmos, do que à sociedade-cobaia dos seus experimentos).
    b) Trata-se de um mito. Não existem as tais boas-práticas, não, pelo menos, com o sentido que em geral se atribui à expressão: o de resultado da aplicação de uma correta metodologia, pois toda experiência de desenvolvimento local é única, em geral intransferível, quase nunca replicável.
    c) Todas as práticas de desenvolvimento local são boas, desde que contem com o essencial: articulem e animem redes sociais e favoreçam a democracia na base da sociedade, no quotidiano do cidadão. Rede e democracia: para quem quer promover o desenvolvimento por meio do investimento em capital social, aqui se resume tudo!
    d) Todas as alternativas anteriores.
    e) Nenhuma das alternativas anteriores.

    4 – A alternativa (c) da questão anterior (3) afirma que para quem quer promover o desenvolvimento por meio do investimento em capital social, tudo se resume à rede e democracia. O que significa isso?
    a) Essa é uma afirmativa inconsistente que, a princípio, não significa nada em termos de desenvolvimento, pois os fatores principais do desenvolvimento não são ‘rede e democracia’ e sim a disponibilidade de capitais: stricto sensu, como o capital físico e o capital financeiro; e latu sensu, como o capital natural, o capital humano e o capital social.
    b) Significa que os indicadores de desenvolvimento que de fato contam são os seguintes: 1) REDE, significando “netweaving”: mais conexões, menor extensão característica de caminho, menor comprimento de corrente, menor grau de separação, mais topologia distribuída; e 2) DEMOCRACIA, significando: mais participação voluntária dos cidadãos, mais parcerias e negócios, menos oferta pronta de programas que vêm do alto, mais cooperação e menos disputa, quer dizer, menos clima adversarial, menos assembleísmo e reivindicacionismo e mais pro-ativismo.
    c) Significa que todas as experiências de desenvolvimento local que ajudam a tecer redes sociais e envolvem a participação democrática da sociedade (sobretudo aquela participação típica do voluntariado) constituem boas-práticas.
    d) Nenhuma das alternativas anteriores.

    5 – Como deveríamos avaliar o trabalho de indução do desenvolvimento local?
    a) Construindo indicadores capazes de revelar o impacto (ou a efetividade) das ações resultantes desse processo em termos de melhoria das condições de vida da população.
    b) Em relação à alternativa anterior (a), não basta verificar a melhoria das condições de vida da população, sendo necessário verificar também a melhoria das suas condições de convivência social.
    c) Montando complexos sistemas de monitoramento e avaliação de desempenho e impacto dos programas de indução do desenvolvimento local.
    d) Bastaria medir o número de parcerias em ações em prol de objetivos comuns e medir o número de voluntários envolvidos nessas ações.
    e) Nenhuma das anteriores.

    6 – Como saber qual é a melhor metodologia de indução do desenvolvimento local?
    a) Observando o benchmarking (a busca pelas melhores práticas que conduzem à maximização da performance das metodologias disponíveis no mercado).
    b) Toda metodologia é boa, desde que favoreça as redes e a democracia.
    c) As metodologias são boas quando pudermos nos desfazer delas; ou, em outras palavras, são tão boas quanto mais fácil for aposentá-las ou descartá-las.
    d) Não existe metodologia capaz de produzir um “milagre”, independentemente do milagre do desenvolvimento local, que é sempre o milagre da afirmação de uma nova identidade no mundo por meio da emergência, da irrupção espontânea de uma nova ordem de baixo para cima a partir da cooperação (e esse é o coração da idéia de capital social).
    d) Nenhuma das anteriores.

    7 – Qual o papel principal das metodologias de indução ao desenvolvimento local?
    a) Oferecer um guia ou um roteiro de ações para desencadear o processo endógeno de desenvolvimento local.
    b) Propiciar uma comunicação com a rede social que existe em cada localidade independentemente de nossos esforços organizativos, favorecendo a eclosão de fenômenos sociais que não podemos inventar ou introduzir a partir de uma intervenção de cima para baixo.
    c) Ser um programa aberto que permita modificações, pois que toda metodologia deve ser recriada quando aplicada; ou, em outras palavras, nunca uma metodologia é aplicada do mesmo jeito em duas localidades.
    d) O papel da metodologia não é o de aprisionar a sociedade local num esquema – uma seqüência de passos ou estações no caminho ou um conjunto de novas instituições ou normas – e sim o de libertá-la daqueles esquemas e daquelas rotinas e daquelas normas que estavam impedindo que ela caminhasse para onde quisesse.
    d) Todas as alternativas anteriores.
    e) Nenhuma das alternativas anteriores.

    8 – Quais são os resultados imediatos e concretos do processo de indução ao desenvolvimento?
    a) É possível que mudanças significativas em termos de boa governança e prosperidade econômica – os dois resultados mais visíveis e desejados do desenvolvimento – aconteçam logo, antes mesmo do que esperavam os que aplicaram a metodologia de indução do desenvolvimento local. (Ou, ainda, talvez surjam mudanças menores e setoriais, porém carregadas de forte conteúdo simbólico. Uma pequena cidade, cuja paisagem urbana parece desolada, de repente resolve plantar uma árvore para cada criança que nasce e apenas esse gesto, tão simples num primeiro momento, é capaz de animar e expressar uma mudança na auto-estima e na compreensão da necessidade de construir um novo ambiente favorável às mudanças sociais na direção do desenvolvimento sustentável. Quem sabe?)
    b) Não existe um resultado concreto imediato em termos do tempo da indução metodológica ou do tempo da instituição que promoveu a aplicação de determinada metodologia: todos os resultados ocorrem no tempo da sociedade real, quer dizer, daquela rede social que existe na localidade.
    c) Em geral, o resultado do esforço de indução do desenvolvimento não pode ser diretamente relacionado com o processo de indução (se puder, temos um problema; ‘os verdadeiros barcos balançam’, de forma imprevisível pelos seus construtores).
    d) O objetivo da indução do desenvolvimento local é ensejar a construção de uma comunidade de projeto. Libertada da metodologia, uma comunidade de projeto caminhará para onde bem entender e fará o que bem entender, no seu tempo próprio.
    e) Se houve aumento da conectividade da rede social e se houve incremento na participação democrática dos cidadãos, então algo de muito, muito profundo aconteceu e certamente dará frutos, talvez não aqueles que imaginavam as instituições que aplicaram a metodologia de indução do desenvolvimento local e nem no tempo que queriam (e talvez esses frutos só apareçam na próxima geração; ou quando um grupo de jovens que participou das atividades começar a assumir determinadas funções públicas ou privadas naquela sociedade; quem sabe o que acontecerá?).
    f) Nenhuma das alternativas anteriores.

    9 – Como (e quando) saber o que acontecerá em um processo de indução do desenvolvimento local?
    a) A rigor não sabemos, ninguém sabe o que pode acontecer em uma comunidade onde lideranças resolveram se dedicar a induzir o desenvolvimento.
    b) Não podemos saber porque não existe receita (não existe uma fórmula aplicável a várias situações).
    c) Localidades consideradas desenvolvidas não viraram o que são da noite para o dia: levaram pelo menos uma geração percorrendo o caminho e só o percorreram a contento porquanto existiram pessoas, em tais localidades, que se sentiram empoderadas (pela rede social) o suficiente para ousar, para inventar, para inovar, para sonhar e correr atrás dos próprios sonhos, para arriscar, enfim, para empreender).
    d) Em geral os lugares que se tornaram famosos por terem dado um sobrepasso, um salto notável no seu processo de desenvolvimento, são aqueles que não ficaram dependendo de governos paternalistas, nem de outras instituições que quiseram adotá-las. Foram em frente, acertando e errando – mais errando do que acertando, por incrível que pareça – mas, sobretudo, aprendendo com seus erros. Se não deixássemos as comunidades de projeto que se formaram nessas localidades aprender por si mesmas, se quiséssemos protegê-las de seus erros, certamente elas não teriam se desenvolvido; ou, pelo menos, não teriam conseguido se fazer reconhecidas em virtude da “fórmula”, inédita, que descobriram por si e para si.
    e) Nenhuma das alternativas anteriores.

    Acompanhe o passo-a-passo clicando nas páginas da coluna da direita.

    Boa sorte!

    Augusto de Franco