Apesar de serem a maior comunidade estrangeira em Andorra, os portugueses não se encontram bem integrados, o que pode originar «fortes tensões sociais», adverte um estudo sobre a emigração portuguesa no Principado.
As desigualdades sociais em Andorra, que afectam sobretudo os emigrantes portugueses, deixam «transparecer a existência de uma certa tensão social que em nada contribui para o bem-estar do país e para uma convivência salutar entre a população», refere o estudo a que a agência Lusa teve acesso.
A investigação, elaborada pela socióloga Magda Matias a pedido do governo andorrano, aponta para a «existência de segregação política, laboral e cultural», que cria uma «série de divisões» entre estrangeiros e andorranos.
A comunidade portuguesa naquele país «é o conjunto populacional que mais contribui para o crescimento demográfico do Principado», mas a forte representação portuguesa (14% da população total, em 2005) «não está a ser acompanhada de medidas governamentais», alerta a especialista.
A restrição no acesso dos estrangeiros ao exercício de profissões liberais e da administração pública, «independentemente das qualificações que se tenha», e o «escasso conhecimento» das especificidades linguísticas do catalão, indispensável ao exercício de algumas profissões e associado a um certo «status social de maior prestígio a quem o domina», são apontadas como barreiras sociais.
A exclusividade do voto e da representação política dada aos andorranos explicam também as divisões existentes.
Graças às conclusões da investigação, o governo andorrano já implementou algumas medidas para resolver estes problemas.
Os portugueses «já não têm de esperar 20 anos para ter uma empresa em seu nome», exemplificou Magda Matias. O estudo aponta ainda para um «fraco índice de integração no tecido social andorrano» por parte dos portugueses, assim como de participação cívica.
«À persistência de certos privilégios exclusivos dos andorranos ou naturalizados andorranos, acrescente-se portanto a escassa reivindicação social que a comunidade portuguesa tem vindo a demonstrar até à data», conclui.
O perfil sociográfico do colectivo português, traçado por Magda Matias, revela uma população oriunda sobretudo das regiões do Minho e de Trás-os-Montes, maioritariamente constituída por homens em idade activa, com baixa escolaridade e pouco qualificada.Estes emigrantes saem de Portugal «por motivos de ordem económica» à procura de melhores condições de vida, na maioria das situações «vêm com um emprego apalavrado conseguido por um familiar ou conhecido» e habitualmente residem inicialmente em casa de familiares ou amigos, sendo esta uma condição indispensável para emigrarem.
Trata-se, por isso, de uma «emigração eminentemente laboral e transitória»: a maioria, 37,9%, trabalha na construção civil (em 2002 eram mais de 50% dos trabalhadores do sector) e tenciona regressar passado uns anos a Portugal.
A fraca integração explica que só uma minoria peça a naturalização, enquanto a maioria mantém poucos vínculos com a cultura andorrana, dá preferência ao seu país como destino de férias e é encarada como um grupo de baixa estima social.
Esta investigação foi publicada em livro («A que sabe um Sumol a 2.200 metros de altitude?») em Junho deste ano, numa edição bilingue cuja distribuição em Portugal está prevista para breve.
Diário Digital / Lusa
Como muitos que me conhecem sabem tenho famíia que vive em Andorra (os meus pais e tios e prima…) e eu já lá vivi 2 anos. Entendo perfeitamente o que esta socióloga investigou e aquilo a que se refere. Andorra não é um país da união europeia e por consequência tem as suas próprias leis e valores. Note-se que até à pouco tempo não tinhamos direito a ter 2 reformas (uma de Portugal e outra de Andorra) enquanto os espanhóis e os franceses que la residiam tinham. A maioria dos portugueses trabalha em construção civil e a outra grande maioria em hotelaria e supermecados de grande superficíe. Eu considero-me uma sortuda ao poder ter exercido a função de administrativa (numa empresa) neste país, tendo antes disso passado um ano em atendimento ao público para melhor adquirir os idiomas do país. As desigualdades sociais são muito grandes e a descriminação por parte dos andorranos, em geral, é tremenda. Raramente ve-se uma pessoa de pele negra a trabalhar (por exemplo) mas a maior descriminação vem realmente através da nacionalidade de cada indivíduo na hora de trabalhar e residir no país. Os catalãs quando ouvem falar português na rua olham de lado muitas vezes, sobretudo os de mais idade. Os portugueses são vistos em Andorra como em Portugal se vê os ucraniamos ou os brasileiros… mas de certeza que sentem muito mais que eles. Toda aquela pessoa que não é andorrano e que padeça uma doença grave e/ou rara é-lhe dado, na maioria dos casos, um prazo para sair do país, prazo esse muito curto. Simplesmente quem lá vive tem que optar… eu optei ao fim de 2 anos voltar ao meu país que hoje, apesar de tudo, valoro mais depois desta experiência. Muita coisa tem que ser mudada sim… mas não só em Portugal senão no mundo inteiro, começando por mentalidades…