O Medial e o Virtual / O Virtual e a Ausência / Resignação

Os textos abaixo apresentados serão discutidos nas aulas da semana de 25 a 28 de março de 2013.

 

O MEDIAL – O VIRTUAL – O TELEMÁTICO

O espírito de volta a uma corporeidade transcendental

Dietmar Kamper – Tradução: Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho

 

Para provocar Bacon…

Uso dos media e experiência corpórea

A discussão atual sobre os novos meios eletrônicos trouxe uma quantidade de conhecimentos relativos aos usos dos meios, pelo menos no plano programático. Nestes é consensual tanto para críticos como para favoráveis o fato de que os meios e o processar humano com eles são aversos ao corpo, sendo que aversão inclui algumas suposições de escalonado/gradualizado rigor. A hipótese geral é a de que os media são fatores de descorporificação. O corpo humano ou é transformado em prótese ou tendencialmente substituído, sendo que no melhor dos casos sobra um resto incomodante.

Deve-se submeter tais argumentos à prova, onde é possível e avaliar sua generalidade. Num olhar/na perspectiva clara parece que exatamente o uso excessivo dos novos media vai na direção de uma experiência corpórea das pessoas que deles se usam que de forma alguma se submete à mencionada estrutura da hipótese. Ao contrário, o espírito parece abstratamente, absolutamente ter caído num tipo de movimento retroativo que se acaba na experiência pré-moderna do corpo, do tipo do êxtase e da mística e progressivamente se submete a provas de realidade sem sentido. Em verdade, a afirmada aversão corresponde; contudo, a desvalorização genérica do corpo vale claramente somente para um horizonte de experiência da modernidade, que está superado historicamente.

Isso vale tanto para os efeitos mais evidentes como também para as motivações de uso dos meios associadas ao emprego de máquinas e aparelhos. A acepção de Lyotard, de que no atual momento do corpo, retira-se o solo do sujeito moderno, condicionado à dominação, expoente de reivindicações intelectuais, pode ser, sem mais, complementado com a ideia de que num mundo mediatizado, no qual o eu idêntico ao espírito veiculado é utilizado como padrão básico, o corpo aparece como “o outro” e, com isso, não atua somente como fator prejudicial mas também como um novo modelo de alteridade irredutível. A intencionada eliminação deixa descobertas as fronteiras reais da mediatização.

Tais sinais tornam necessária uma nova teoria do corpo, como a que circula na teoria dos novos media. Naturalmente, estes elementos, contrário à sua compreensão intrínseca, não são a superação do modelo cartesiano, mas o ponto mais alto deste. O que interessa aqui é a transcrição das teorias do corpo, que na maioria dos casos referem-se a um espaço mecanicista, ou seja, atemporal, a contextos teóricos, que possibilitam a consideração do corpo-tempo. Sem a história do corpo já não se pode falar hoje satisfatoriamente sobre o futuro do espírito. Sem o grande horizonte da experiência corpórea, o uso dos meios permanece uma questão necessariamente travada.

Disso surge uma diferença básica, que merece explicação. O mundo dos signos (o mundo medial e suas consequências) e o mundo do corpo funcionam com grande probabilidade não de acordo com as mesmas fórmulas, o que significa uma lacuna, ou seja, um abismo básico na experiência humana e ao mesmo tempo representa uma contradição contra as teorias sistêmicas elaboradas e os conceitos do construtivismo. Esta diferença manifesta-se através de uma distância que hoje é ocultada na reflexão dos meios e do corpo: pela distância entre corpo e imagem corpórea do corpo, que hoje se faz das formas mais variadas. Neste plano da imagem da tela, a distância não existe mas sim no uso dos media, na medida em que na era dos media o corpo humano necessário para se sentar em ângulo reto é apenas um entre vários.

Pois parece ser apenas algo mais que uma pura casualidade o fato de que em meio à nossa cultura atual tão altamente eletrônica a crise da experiência corpórea tenha sido reconhecida e verbalizada.[…] Como ela expressa sua “presentificação/presentalidade” numa retórica de conceitos e movimentos, que pode ser, por razões estratégicas, hiperbólica e francamente histérica, ela recuperou/tomou de volta a atenção na experiência corpórea – e coloca impressionantemente sua existência contra a simulação. [Vivian Sobchak, 1988, p.427]

 

Os custos do virtual

Pode-se perguntar hoje de onde vem a fascinação pelo virtual e quanto ele custa àqueles que se expõem a ele, seja como produtores, seja como receptores. A discussão é há anos lardeada com enganosas obviedades, com ruidosa crítica assim como com ruidoso enaltecimento acrítico. Sabe-se contudo cada vez menos, conhece-se a origem dos media apenas vagamente, apesar de alguns conhecimentos, e do seu futuro, quase nada.

O que se promete é uma contínua melhora da técnica mediática, que por fim conduziria a tornar-se tão precisa, tão exata, tão real como a realidade. Mas o que é tão desejável nisso? A realidade que existe já é ruim o suficiente, para que precisamos de uma segunda? Por que precisamos ainda duplicar a miséria de um mundo ajustado, o resultado conjunto dos trabalhos normatizados com os sentidos, a exaustão das circunstâncias, nas quais seres adultos definitivamente se instalaram, que só estão lá para suas vantagens e não conhecem mais nenhum milagre. À virtualização antecede o ter-se-tornado-virtual dos ambientes na percepção. A realidade é, também em realidade, uma coisa extremamente instável e, como tal, há muito perdida. Fala-se mais além do torna-se claro do invisível, do grande esforço da visualização há séculos, da localização e ordenação do campo visível. Mas está se pensando na tela, numa área sem margem, retangular, que agradece o olhar para ela e que ao ser no homem sugere poder sobre os objetos, que permanece uma poderosa ilusão.

O que realmente acontece com essa visualização? Trata-se de uma Longa História, em que algo, que não é visível, se visualiza com a ajuda da câmera obscura, Agora se fala numa “chambre claire”, da qual espera-se iluminação. Mas que assumiu uma estrutura de prisão com os aparelhos da visibilidade produzida, cujo brilho começa a empalidecer. O pequeno retângulo sem brilho excedeu-se e prometeu demais. Será que se deve mais uma vez exigir-se: mover-se nos ambientes, que deixam a pessoa fria, que não lhe pertencem, que tentam o desejo de poder e conduzem os interessados nela à armadilha?

Há ainda a pergunta, se /isso/ termina com a duplicação da realidade, se por meio da visualização não se simula um mundo totalmente artificial, que cobiça ser incontestável. Mas onde estão as medidas para as quais apontam a visualização, a simulação, os produtos dos mundos virtuais? Isso de forma alguma está claro. De qualquer forma, a realidade não é nada simples, não está claro, é resultado civilizatório de propostas penosas de treinamento dos sentidos e da aceitação social infinitamente ousada. Pode-se ler o desenvolvimento da arte na Europa como uma tentativa semelhante, de fabricar continuamente a realidade, como ela hoje é concebida. Mesmo a concepção espacial tem uma história que começou inicialmente com o Renascimento; esses pintores ensinaram como se deve apreender o mundo espacial. O fato de que hoje se confie nos olhos e se veja o mundo, que quase tudo capta, como genericamente compulsório, é um erro corrente, mas mesmo assim um erro.

Pode-se ainda perguntar: quem é o destinatário neste jogo de espelhos entre arte e artifício, quem é hoje o percepiente? Tudo parece acabar no corpo do observador da arte, ou, mais exatamente: num corpo que projeta sombras do observador de arte, ou seja, do usuário dos media, que ainda está totalmente fora de qualquer percepção. Aqui surge um horizonte que estabelece limites imutáveis. Na última ‘Documenta’ Bazon Brock ilustrou com o corpo, ao pé da letra, aonde isso conduz: uma condução, pela qual se trata deste corpo, de certa forma como último lugar no qual o corpo se defende e aceita, mantém distância, fica indiferente, passa ao lado. A tese correspondente é a seguinte: o projeto de grande técnica, no qual os novos meios de comunicação são apenas determinados fatores entre outros, levou sempre a fazer do mundo material um mundo de imagens, um mundo energético, que perde sua grande materialidade e pode deixá-la para trás. Mediatização, virtualização e telematização são”purificações”, uma limpeza da sujeira do material, uma consequência dos trabalhos com paciência de anjo, momentos ainda de um projeto religioso, que apenas esqueceu sua origem a partir da Ascensão de Cristo. Se se fosse recordar então disso, os novos meios poderiam diretamente oferecer a chance de tornar novamente consciente o processo que transcorreu sem consciência ou sempre despercebido. Poder-se-ia seguir as pegadas – até a “Vortodstellung” (B. Brock), ‘situação pré-morte’ – e, tirar consequências dos maus trabalhos da força imaginativa na direção que tomou o “mundo-tornando-se-imagem” até em suas últimas ramificações. Assim poder-se-ia chegar possivelmente perto do caráter imagético das imagens, posto de observação para arquivos, monumentos sepulcrais auráticos de vidas passadas, rituais de morte… Assim seria certamente uma retrospectiva, um tipo de caminhar de caranguejo, não seria nenhum trabalho para frente, como se quer ainda fazer crer aos homens com tanta ideologia de progresso.

 

Dietmar Kamper. “O medial – o virtual – o telemático. O espírito de volta a uma corporeidade transcendental.” In: Fassler, M./Halbach, W.R. (Org.) Cyberspace. Gemeinschaften, virtuelle Kolonien, Öffentlichkeiten. Munique, Wilhelm Fink, 1994, pp. 229-237. Trad. Ciro Marcondes Filho. Texto originalmente publicado pelo Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação – FiloCom, em http://www.eca.usp.br/nucleos/filocom/traducao7.html

 

Corpus Absconditum

O Virtual como Variante da Ausência

Dietmar Kamper

 

1. O virtual é possível, aquilo que a todo momento e em toda parte também é possível de outra maneira. Consiste na despedida do corpóreo uma vez que nega as condições do tempo e do espaço renegando com isso sua própria gênese. Ao mesmo tempo, o virtual marca os limites do arbítrio humano criando uma imanência universal imaginária, uma prisão do espírito absoluto concentrado em si que de nada mais dispõe além de si próprio. Essa monstruosidade, síntese da ilustração, é ela própria inilustrável. Talvez se esconda nela o luciferiano, aquele lado na natureza humana do qual já se fala nos escritos mais antigos.

2. No encadeamento histórico dos modelos de abstração (segundo Jochen Hoerisch: ceia, dinheiro, mídia) chegou-se ao cume do poder: a abstração da imagem na qual, em lugar de coisas e seres humanos, se propagam as imagens de coisas e seres humanos. É a abstração mais eficiente por que desprende em vez de oprimir. Isso significa: telas e monitores abarrotados, ao lado de espaços vazios e mortos. Mas a supervalorização de imagens e signos leva, necessariamente, ao desprezo das coisas. A vitória triunfal sobre aquilo que é revela-se como a pior das derrotas. Fazer imagens acaba sendo uma matança dos corpos – um crime perfeito. A questão mais importante é essa: O que será feito dos cadáveres (Vilém Flusser)? A corporeidade descartada assume a qualidade torturante do refugo e do lixo que acaba sendo um estorvo permanente.

3. A realidade veio a ser substituída pela ficção. “Curso inexorável das coisas” e “curso livre de fantasia” trocaram de lugar: agora os referenciais não param mais de resvalar, de cair, de desabar, e numa pânica contramão todos os fantasmas assumem caráter compulsivo, causando uma estupidez indolor nas pessoas envolvidas. O desprezo do mundo leva forçosamente ao desprezo de si mesmo. Por isso, na força do virtual vem à tona uma poderosa impotência, seguida de perto da auto eliminação. Seria esse o vazio do humano da civilização prognosticado por Günther Anders. O colosso global, uma vez libertado de lugar e tempo, de localização e temporalidade, está podre até a medula.

4. A arte é tributária dos sentidos (Rainer Maria Rilke). Ela lida com aquilo que é real uma única vez, para em seguida se tornar eternamente possível Desde o princípio, a arte é agente daquilo que é terrestre, é testemunha e testemunho daquele deus vivo e, por isso mesmo, mortal que se chama “corpo” e que não deve ser confundido com as muitas imagens mortuárias do corpo ou com a máquina. A arte não é a execução do virtual e sim interrupção das abstrações a caminho de seu cume, especialmente da abstração das imagens. Ela destaca a sua fraqueza e burla, com sua percepção adérmica, a estupidez indolor humana, produzida social e historicamente. Em lugar da produção de imagens em concorrência com a mídia, ela se dedica à cuidadosa instalação provisória de corpos que chega a alcançar as estrelas (Maurice Merleau-Ponty). Essas, por sua vez, são definitivamente inimagináveis, de modo que não se enquadram em imagem alguma.

5. A arte acontece, portanto, no limite do delírio de poder do homem. Pela percepção do monstruoso, vira crítica específica de poder que se tornou invisível, sem exaltar, no entanto, aquilo que critica. Só assim lhe é possível descobri debaixo de cada topo um tropo, em cada fundamento os duros efeitos de uma revirada. Por isso mesmo trata-se de um fracasso, provavelmente um fracasso virtuoso, como só acontece em situações sem saída, ela passa pelo meio riscando-se a si mesma. Desta maneira revela como o poder é podre e como pode ser real a ficção original de uma vida perdulária que não tem medo da morte.

Berlim-Kreuzberg, Pentecostes de 1997.


 ReSignação em São Paulo

Dietmar Kamper

 

“O espírito mata, a letra vivifica” (Paulo de Tarso, invertido)

Não assinar outra vez, “pas encore”. Ao contrário, retirada da assinatura, ou melhor, ainda, recuo do posto avançado da assinatura do humano poder dos signos. A guerra contra a vida está perdida porque os signos venceram, porque eles não significam mais nada (escrito em minúsculas).

O ressoar infindável da cidade – um ruído branco, negro? Excessivo? Informação de menos? Em todo caso um novo meio termo, de novo tipo, na relação entre razão e loucura. São Paulo parece ser, neste sentido, a cidade mais cidade-mundo do mundo.

Mais claro ainda que em Nova Iorque tem-se a sensação de uma partida: como se uma parte da terra quisesse levantar e começar uma aventurosa viagem celestial. A chamada realidade, aqui, já é virtual. Aqui já não há mais a velha e bela diferença entre ser e parecer.

Todas as pessoas espertas obedecem o duto de sua razão aplicada instrumentalmente e perseguem por sua própria vontade – como em geral em todo o planeta – um negócio plausível. Mas cada vez mais coproduzem algo que ninguém quis e que ninguém pode dar por razoável: o barulho caótico – para ouvidos sensíveis – e um violento padecimento dos olhos.

A abstração linguística e imagética ultrapassaram o “point of no return”. No ouvir externo e no olhar interno está o ruído branco ou negro, está o turbilhão dos signos abandonados como resto amontoado de uma boa ação, mas como tendência, absolutamente destrutivos.

As manobras para se desviar atingem o ápice na cidade  grande. Ninguém mais consegue seguir sossegado o seu caminho. Toda rua é sempre interrompida. Os efeitos retroativos de causas antes inofensivas obrigam à alternância constante de ataque e defesa, que, não mais resoluta, ao que se observa, se domina com virtuosismo.

Aqui não há estranhos porque não há nada próprio. Nunca houve uma homogeneização do heterogêneo. A ordem entre centro e margem não cabe, tampouco a de sistema e ambiente. E a ordem do privado e do público é um jogo, por vezes mortal, entre bandido e mocinho.

A des-ordem suplantou qualquer medida imaginável. Mas exatamente para este caos as pessoas desenvolveram uma imbatível competência. Aqui vivem já aqueles virtuoses da desordem, tal qual foram extrapolados pela visão da sociologia urbana como apocalípticos da mídia: competência para o caos como desejo catastrófico.

Mesmo assim quase não se encontram pessoas de mal consigo mesmas, quase não há amargura. Não ocorre o usual auto boicote como beco sem saída do curso da vida, como turbulência internalizada e expiação protestante. Ninguém assume a responsabilidade, ninguém a atribui a outros. O protesto ocorre, na verdade, mas é sempre autorreferente e portanto sem efeito.

Quem, de fato, perturba esta desordem de segunda ordem? Pois se deve tratar de um distúrbio da perturbação convencional da vida desamparada. O espírito da diferenciação abstrata, a muito famosa astúcia da razão, responsáveis juntas pela perda do paraíso estão eles próprios visivelmente sob pressão e mostram-se em toda parte inteiramente desorientados.

Nenhuma das arquiteturas estruturadas está tão inválida como a modernidade dos anos 50 e 60 . A modernidade, como expressão de um predomínio do sujeito, é, de todas as épocas a que está mais em ruínas em São Paulo. Pode-se ver literalmente que a vitória da abstração foi uma derrocada.

Na verdade continuam circulando os lemas vazios da dominação. O jogo retórico é inteiramente cultivado, em especial pelos serviçais que querem manter, como na Índia, sua hierarquia. Mas a dialética do reconhecimento está rota, porque o princípio da vitória por meio dos signos definitivamente se esgotou.

A frase de Bataille “Ninguém pode servir a um só senhor” insiste que, mais uma vez, como tantas na história, foram os perdedores que ganharam. Mas tiveram um gesto restante: desativaram por sua vez a lógica de vitória e derrota. Abrigada está, tal “miserável soberania”, na rede das amizades.

Pode-se compreender em São Paulo que esta lógica superpoderosa da história não pode ser deixada por parte dos supostos vencedores. Eles se atolam no lodo de sua loucura onipotente. Abandonada pode ser, contudo, por parte do “criado”, a dialética do senhor e do criado, quando renuncia ser o “senhor”.

São Paulo é o lugar onde uma outra frase de Bataille vale irrestritamente “O homem escapará de sua cabeça como o preso da prisão”. Ou, como se diz em Berlim, “reality crashes my brain”. Tem-se que viver hoje com a cabeça despedaçada, como se vivia antigamente com o coração despedaçado. Talvez o mundo virtual das máquinas o biombo que se estende para se poder iludir sobre essa derrota: uma cabeça, um espírito, uma despensa. Talvez o biombo seja uma superfície imagética na qual apareça a verdade: que o imaginário representa, em todos os lugares do mundo, uma crucificação do real.

Contra a proliferação da abstração e seus recursos, da palavra, das imagens, dos esquemas, só ajudam as invenções da imaginação. Apenas ficções virtuosísticas resistirão à supremacia do virtual, jamais os esquemas, as imagens, as palavras. Isto cria uma nova situação para a arte.

No reverso do olhar dominador começou um padecimento dos olhos de tipo especial. O olho é palco de paixões inevitáveis que respondem à aliança entre os poderes teológico religiosos e tecnológico seculares. A arte como arte-de-retina, como grandiosa ilusão de ótica, somente ela poderá continuar o que deveria interromper. Nenhum ponto de vista, de pé ou sentado, supervisionando, é mais possível. O olho, como “argon” de controle se desgastou. O espírito, como distúrbio institucionalizado da vida, agoniza. O todo é agora para sempre – não apenas o inverídico (Adorno) – mas um foco do contínuo despedaçamento e da destruição. Para perturbar o velho distúrbio a arte teria que começar nas frestas e lacunas do tempo.

 BerlimKreuzberg, 3 de junho de 1996. Tradução: Norval Baitello Junior

Siegfried Zielinski – A Dramaticidade de um Limite

Homens-mídia e Homens-máquina
A Dramaticidade de um Limite

Siegfried Zielinski

O mundo das aparências, o mundo das ilusões, o mundo da mídia é um palco ideal para metáforas.

Na tela do cinema, no monitor da televisão ou do computador vemos a face do outro, daquilo que é diferente de nós, da maneira como a arte e o design são capazes de mostrá-lo.

“Interface”, a palavra anglo-saxônica que designa a “intersecção”, nos remete, com suas conotações positivas de harmonia e afeto, à tentativa constante do encontro que nunca deixa de ser organizado na arte: entre o rosto de um e o rosto do outro só há encanto (entre os órgãos de audição só há deleite). Mesmo que o outro, nesse meio tempo, tenha se transformado ele mesmo em tecnologia, máquina ou programa.

No campo da mídia tecnologicamente mais avançada, da mídia telemática, com seus computadores, bancos de dados, servidores, usuários, agentes e jogadores interligados, existe, pelo menos desde o início dos anos 90, um metaforismo condutor. Esse metaforismo resulta da comparação do tecnológico com o biológico, com o orgânico.

Ao nível das principais ciências envolvidas e de seus empréstimos feitos por analistas e engenheiros de comunicação junto aos biólogos, estendendo-se tanto o software (algoritmos genéticos como, por exemplo, algoritmos de mutação e redes de neurônicos) quanto no hardware.

As pesquisas da bio-informática avançam, ao lado de testes com modelos biológicos para a construção de artefatos, também na área de portadores e processadores orgânicos e químico-orgânicos, haja vista a integração de chips de silício com células vivas do organismo.

Nos discursos da telemática, as células do corpo já nem parecem necessitar de corporeidade. Ao mesmo tempo, língua/conceitos dos engenheiros e designers são cada vez mais impregnadas de modelos originários da vida orgânica.

Fonte: CISC

Atividade de Transficção para a disciplina de Publicações pela Web

Tendo como base os textos:

desenvolva uma estratégia de divulgação para o seu projeto integrador com as seguintes características:

  • Narrativa transficcional paralela à narrativa original
  • Arranjo midiático envolvendo pelo menos duas mídias tradicionais e duas mídias digitais
  • Estrutura de mídia híbrida entre tecnologias tradicionais e digitais portatéis
  • Divulgação, promoção, compartilhamento e produção de conteúdo através de mídias sociais
  • O prazo final para a entrega é dia 28/03/13

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