Ao anunciar a aposentadoria, Ronaldo Fenômeno disse: ‘Perdi para o meu corpo’. Hoje não é só o Ronaldo. Sabemos que o tempo tem ação importante sobre o corpo e é preciso saber como enfrentar essa situação. Os especialistas dizem que tem jeito, mas é preciso muita força de vontade. Todos nós, atletas, ou não, sentimos o efeito do envelhecimento. As articulações sofrem primeiro. Depois são os músculos, os tendões e o metabolismo.
Não precisa muito: 30 anos neste mundo e o corpinho já começa a enviar pedidos de socorro. Isso não vale só para quem é sedentário. Vale também para os atletas - estes que fazem coisas quase sobre-humanas. Veja o exemplo de Ronaldo Fenômeno, que aos 34 anos sente dores no joelho ao subir a escada da casa dele.
Segundo os especialistas, o joelho é a articulação que mais sofre o impacto do corpo. Em cada passada durante uma corrida de uma pessoa de 55 quilos, por exemplo, os joelhos vão receber um impacto igual ao dobro do peso, ou seja, 110 quilos.
“A gente recebe uma carga de impacto muito grande durante a corrida. Os saltos, em todos os esportes. Você precisa ter a musculatura bem preparada para absorver esse impacto. Quando ela não esta bem preparada, a tendência é você desenvolver algum processo de lesão”, explica o especialista em fisiologia do esporte, Diego Leite de Barros.
O fisiologista explica que depois dos 30 anos a perda muscular é de 1% ao ano. A pessoa sedentária aos 60 anos terá perdido 30% da massa muscular. E um atleta? Se ele tem músculos fortes, por que tem dores que o obrigam a se aposentar?
“A partir dos 30 anos, a gente já começa a identificar essa perda de forca muscular, principalmente nas atividades que têm mais característica explosiva. Pegando de exemplo, o futebol: um atleta como Ronaldo, que depende da capacidade explosiva dele para fazer uma jogada e ganhar na velocidade do zagueiro, vai ter muito mais dificuldade do que um atleta que não depende tanto dessa característica. Hoje a gente vê o Rivaldo, que acabou de ser contratado pelo São Paulo, jogando com 38 anos, ainda em um nível alto, podendo jogar por um ou dois anos em alto rendimento. São atletas que não dependem tanto dessa característica explosiva”, desenvolve Diego.
“O atleta é super saudável, tem um coração maravilhoso, tem um pulmão que, nossa, os órgãos internos do atleta são perfeitos, mas os ligamentos e os tendões... são podres”, brinca a ex-jogadora de basquete Hortência Macari.
A campeã mundial de basquete começou a sentir dor nos joelhos aos 24 anos, no auge da sua carreira. “Permaneceu até os 36, que é o mesmo problema que o Ronaldo teve, só com uma diferença: ele operou e eu não operei. Eu decidi seguir com essa dor ate eu parar de jogar”, lembra.
Hoje, 15 anos depois de se aposentar, o joelho não dói mais. As dores agora são outras. “Tendinite no tendão de Aquiles. Eu tenho tendinite no tornozelo, tenho tendinite no ombro. Convivo com ela, mas aí, de repente, vou fazer um exercício e as costas travam”, diz Hortência.
Hortência aprendeu nas quadras a dura lição de encontrar a hora exata da despedida. “Você tem que aprender a respeitar o seu corpo. É muito difícil esse conflito que você tem da cabeça pensar com a genialidade que você sempre teve, mas o seu corpo não vai obedecer. Ele vai chegar com um, dois segundos de atraso, o que já é o suficiente para a defesa estar perto de você, para perder a bola, para tomar um toco. Aí você fica triste. Poxa, desaprendi a jogar? Não! É o seu corpo que não está te obedecendo mais”, conclui a ex-jogadora.
De acordo com os especialistas, a flexibilidade também diminui com o passar dos anos, por causa do encurtamento ou da atrofia muscular. É mais um motivo para fazer exercícios de alongamento, mas sempre com supervisão.