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terça-feira, 5 de abril de 2011

Um pouco disso, um pouco assim

sou uma mulher mais ou menos
abandonada
um pouco me dou o direito
um pouco aconteceu assim
às vezes cansa ser independente
hoje me sustente não me deixe me alimente
quero alguém para pentear meus cabelos

sou uma mulher mais ou menos maltratada
um pouco por descuido
um pouco por querer
gosto da impressão esfomeada
às vezes cansa ser milionária
quero sair das páginas dos jornais
hoje me adote me faça um carinho deboche
me ponha no colo e abotoe minha blusa
me faça dormir e sonhar com o mocinho

sou uma mulher mais ou menos alucinada
um pouco foi o acaso
um pouco é exagero
hoje me expulse, se irrite me bata
diga abracadabra e me faça sumir
às vezes cansa ser louca demais
mas gosto do medo que sentem
de se envolver com uma mulher assim
hoje quero alguém mais ou menos
apaixonado por mim

Martha Medeiros

terça-feira, 29 de março de 2011

Amor e Sotaque



 
Tem um
modo de você saber
aquelas coisas
que as palavras complicam
ao jeito doce que você me ensinou,
com minhas mãos,
meus quadris
minhas coxas,
minha boca,
meu sexo extático
se diluindo no seu
como é fácil dizer: amor.
E nesse cocktail
de línguas e sotaques
coco e pitangas
caipiras e fado,
negros e brancos
ourixás, samba e axé
Pessoa e Quintana
Verde vermelho
Azul amarelo.
Nós
no final misturando ainda
tu com você.

Angela Santos

segunda-feira, 21 de março de 2011

Amor amor


"Tu, meu sonho vivo
que passa tão despreocupado
sabe me explicar o que é amor?
que não tem data
que chegou quando quis
foi entrando sem pedir
ah... o amor
Já imaginaste alguma vez
meu peito que chora?
não quero ser triste
mas minha alma e todos os meus sentidos
imploram as nossas presenças inteiras
dentro de nós
ah... me descobre no meio da multidão
é tão fácil de ver
meu corpo treme de amor, desespero
esperando um gesto teu
que nunca virá
nunca"

música de Guilhame de Machaut - "A arte do amor cortês"
letra por Milton Nascimento

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sagrado coração

UMA ARTE

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

— Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.


Bishop, Elizabeth.

Tomando um café agorinha mesmo, folheando uma revista. O ar já está com aquele cheiro de outono, um ventinho manso soprando, às vezes mais "nervoso", fazendo voar guardanapos. Sol ameno, morno, caliente.
Chama a minha atenção um texto sobre lugares sagrados. Linda escrita, envolvente, traz para a minha consciência a idéia de que "local sagrado" é dentro da gente mesmo.
Desde de a minha segunda gravidez tenho praticado a meditação. Adoro a forma como a Cidinha coloca esse ritual: "é para exercitar o músculo do deixar ir". Faz todo o sentido para mim.
A imagem que projeto é a de um coração em partes, aconchegado para tomar sua própria forma. Sem pressão, as partes soltas, apenas se aproximando. Meu "eu" se juntando. E nesse momento as demais coisas soltas, livres, com direito a seguir seu caminho, ir para onde quiser. É uma boa imagem. Exercito o tal músculo. E funciona. Tem funcionado.
Então decidi fazer experimentos com esse novo coração "ajuntado"... Paradigmas.
Paradoxos.
A vida coloca experiências no seu caminho, experimentá-las ou não cabe a você decidir.
Minha natureza é irriquieta. Honesta também. A partir do momento em que algo "pula para o consciente" sou incapaz de empurrar para baixo do tapete novamente, disfarçar, mentir, ludibriar.
Será que esse coração ajuntado consegue sentir sem fronteiras? Sem limites? Sem muros? Sem barreiras? Apenas sentir o que é bom sentir?
Descubro que é possível sim.
E então abri meu peito, meu "local sagrado" e permiti que a energia fluisse, expandisse, contaminasse, envolvesse o mundo ao redor. Toda a força que usei para manter as partes coesas emanou para fora desse coração ajuntado. E ele permaneceu íntegro. E foi muito bom. Intenso. Paradigma rompido.
Mas...
Paradoxo: liberdade compartimentada ainda é liberdade? Liberdade espremida. Liberdade "pisando em ovos". Liberdade punida pois foi livre demais. Liberdade vigiada. Liberdade contida. Tudo isso é prisão, é regra, é limite.
E aquele coração exposto, delicado foi machucado. O local sagrado foi profanado.
Porque se não existe nada, não existe definição, é só o sentir, como isso pode ficar contido dentro de algo? Escondido? Pervertido como algo sujo, imoral?
Triste...
Estou entristecida hoje...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Rancho pra quem vem de fora

"Seu moço que vem de fora,
que traz de bom para mim?
O meu amor não tem hora,
o meu cantar não tem fim.
Seu moço que vem de fora,
goste um pouquinho de mim.

Sei fazer colar bonito,
sei fazer versos de amor.
Sei fazer pote de barro,
sei cantar sem ser cantor.
Sei bordar o meu vestido
e esconder a minha dor.

Seu moço que vem de longe,
que tem de bom pra me dar?
Pra você eu tenho a aurora
e tenho a luz do luar.
Seu moço que vem de longe,
que tem de bom pra me dar?

Eu sou a filha mais velha,
meu saber eu vou contar.
Sei de onde vem o rio,
sei das estrelas do mar.
Sei pra onde vai a lua,
sei sempre o sol onde está.

Seu moço que vem de fora,
me responda sem pensar:
em que caminhos da vida
eu posso amor encontrar?
Se escondido nas flores
ou nas estrelas do mar.

Se nas flores, colho todas.
Se no mar, vou me afogar.
O meu amor não tem hora,
é sem fim o meu cantar.
Seu moço que vem de fora,
que tem de bom pra me dar?"

Kátia Drummond

Fluir? Fruir...!

Post Face - 6 março 2011:
Tarot do dia:
3 de Copas
Abra-se ao prazer!
"Que tal se permitir ter mais prazer neste momento, Adri? Há quanto tempo você não faz coisas de que gosta? Que tal relaxar e curtir mais a vida? O 3 de Copas surge aqui como arcano conselheiro, pedindo-lhe que permita abrir-se ao prazer, para que ele flua na direção do mundo e este lhe atenda, possibilitando situações felizes, festas, namoros (ainda que não necessariamente sérios), em suma, coisas que lhe distraiam e lhe permitam ter dias agradáveis, ao redor de quem você ama. Saia com os amigos, conheça novas pessoas, permita-se rir, conversar, conhecer os outros... estar no mundo! Você sentirá sua alma mais leve e perceberá as coisas a partir de uma perspectiva mais ampla."

Conselho: Deixe o prazer fluir!

Lavando as emoções

Post Face - 28 fevereiro 2011:
Muita chuva...
"cada dia um pouco de chuva
molha os muros, lava os becos,
banha nossas calçadas,
encharca nossas sandálias,
e mesmo que em nossa casa
falte a água encanada
para lavar os cabelos e
desanuviar nossas almas,
cada dia um pouco de chuva
vai desmanchando máscaras
desnudando nossos reinos
acendendo nossa calma
cada dia, pouco a pouco,
vamos baixando os escudos
nos rendendo, umedecendo,
convertendo o medo em asas"

Iracema Macedo