AS LUAS DE SAUL SÁ

Pela graça dos Vagabundos de Deus, de Mario Mendoza, esse texto anagramático começa de trás pra frente. E pouco me importa se você chegará ao fim dessa longa história, na condição de um leitor, de um hábito em extinção, tanto quanto a escrita, ou se continuará seguindo a tendência da produtividade de nossa época, utilizando como substitutivo produtos fabricados em formato audiovisual. Alerto apenas para o fato de que com a escrita e a leitura na mão, o ganho é a reflexão de profundidade. Os alicerces são outros. Aviso dado, sigo.

Foi no ano de 1933, no dia 25 de abril. Quero dizer que hoje o gênio incompreendido da família Sá, se vivo, estaria completando 90 anos +1. Levando em conta os arquétipos revolucionários envolvidos pelas datas que antecederam seu nascimento, a morte e o esquartejamento de Tiradentes – o Jesus brasileiro – no dia 21 de abril, seguido do atual protetor da população da Cidade do Rio de Janeiro – 0 originário da Turquia, São Jorge, celebrado no dia 23 – ficou muito mais fácil lembrar de seu aniversário. Circundar datas por outras em modo associativo, ajuda a lembrar do calendário. Desse modo, resolvi comemorar as três datas em uma única noite, dedicando as anteriores a contemplação dos acontecimentos ao meu redor. Devo dizer que fui agraciado pela decisão, na sucessão dos fatos.

De trás pra frente, lá estava o dilema de fazer parte da 2a geração de uma linhagem de Titãs, tal como mencionado por Michael Douglas em sua mais que sincera entrevista com Pedro Bial. Filho de um monstro do cinema americano, o judeu Issur Danielovitch, de nome artístico Kirk Douglas, trouxe a mim a certeza de que filhos de grandes homens sempre estarão em desvantagem. Coube ao garanhão protagonista de Atração Fatal, fazer vários links familiares, entre eles com a sua neta de nome Lua, parte do meu anagrama, embora no plural.

É que nesse dia 23 de São Jorge, a Lua que a ele pertence na música de Caetano Veloso, iniciava seu período completamente cheio, e o que é melhor, estando nesse estado voluptuoso, com céu de nitidez cristalina e a meia-noite, exatamente no pino, como se fora um sol. Foi dela que se irradiou uma energia transformadora, inebriando uma população específica do planeta, que tomou algumas decisões coletivas, fora das garras do Planalto. E bem fora desse lugar de fala dos tais “territórios”, de uma política caduca, suplantada pelas sensações telúricas.

É que pouco a pouco, a população carioca vai se distanciando do santo que dá nome a cidade do Rio, São Sebastião, uma vez cansada da posição de vítima, corporificada na imagem do herói flechado, amarrado num tronco de árvore. A realidade de 2024 é outra, São Jorge dominou o espaço público nos subúrbios do Rio de Janeiro, como um Santo com o qual todos se indentificam pelas batalhas, não apenas aquelas que usam armas em filmes medievais épicos, mas a luta do povo no seu cotidiano mais simples. A batalha de pegar o trem lotado pra trabalhar e ganhar uma merreca, a luta pra pagar as contas no final do mês, o número infinito de batalhas que vocês podem anunciar de viva voz, e que resumo aqui a uma coisa: a luta pela vida.

O ato de estar vivo é uma eterna luta, uma guerra contra a morte, e nesse sentido mais amplo, São Jorge é o Santo que oferece garantias de vitória aos que desejam viver dignamente, ainda que um dia. É esse caráter de crença viva que leva, necessariamente as festividades que irradiaram a noite e o dia de São Jorge. Deu meia-noite e os fogos já entravam em cena, acompanhados de balões que emitiam fogos de artifícios nas cores vermelha e verde, fazendo com que algumas crianças, ainda acordadas, achassem até que eram balões comemorando alguma vitória do Fluminense. Nada disso, era Jorge chegando em seu cavalo branco. Alguém sabe o nome dele? É certo que não se chamaria bucéfalo, pois esse já tem dono famoso.

Mas foi na dose dupla, as cinco e as seis da manhã, que assisti o firmamento de Jorge. Ao redor de meu ponto de observação, aconteceu um fenômeno equivalente ao da queima de fogos do Reveillon. Num crescendo e em duas etapas, uma balbúrdia incontrolável tomou conta dos céus. É certo que algum profeta, se estivesse vivo hoje poderia até confundir o momento com a segunda vinda de Cristo. No âmbito da Cidade do Rio de Janeiro, já está feita a escolha: o carioca vai guerrear até o fim.

E qual seria a logística, quem garantiria os mantimentos para alimentar a tropa? Afinal, a laranja sofreu aumento de 39% nesse último ano, e Zeca Pagodinho, que chegou atrasado na feijoada que lhe deu a música, não teria sequer o bagaço da laranja no fim da feijoada. O feijão foi parar na estratosfera, junto com o arroz, numa combinação pérfida do inimigo, que elevou seus preços em 28 e 22% respectivamente, só de 2023 pra 2024. A turma da picanha com cerveja tá de sacanagem, quando afirma que “a massa salarial” foi elevada. Adoram essa filhadaputagem, diante da luta frente a precariedade habitacional, envolvendo quase de 7 milhões de famílias brasileiras. Ou estão fudidas por terem casas que não poderiam ter esse nome, ou estão fudidas por não ganharem o suficiente para pagar o aluguel e honrar com as contas cotidianas. “O que será que será, que andam suspirando pelas alcovas?”, perguntaria Chico Buarque, se fosse mais jovem e menos alinhado ideologicamente. A domesticação atingiu a todos os que outrora eram anti-sistema, hoje comprometidos com ele.

Pulando de pau e com o cacete na mão, segue a boiada, comendo no cocho ou no balde. A cevada faz esquecer os milhares de problemas em casa. A solução pragmática não é o conforto do colo do menino Jesus, esperando resignadamente que a morte venha para nos salvar, enquanto nos mantemos narcotizados numa paz que nos mata cruelmente. Para a grande maioria da população brasileira, só o Pix salva.

Mas afinal, e essa tal de Lua? Como definir? Começo pelas 297 luas existentes no Sistema Solar? Há lista de preferidas? Devo dizer que vivo no mundo da lua ou pluralizar seus mundos e planetas? E quanto aos imundos, as más línguas, as incompreensões? Até aqui, o cálculo de fabricação do nosso sistema solar nos leva a 4,5 bilhões de anos da Terra. Cada lugar tem seu calendário particular. Qual é o seu? Seguir os passos da lua, pode ser a única forma de sobrevivência de certas espécies, em tempos de aquecimento global.

Se estivéssemos em Saturno, uma olhadinha para sua maior lua, Titã, cor sépia pela presença de metano e nitrogênio reagindo, com fortes tempestades de areia nos fascinaria, suponho. Por ali há forma líquida, mas não de água. Estranho tudo isso não? Um dragão que voa será lançado pela NASA em 2028 pra aumentar nosso conhecimento e incertezas. Um DragonFly só pode ser nome de quem não é devoto de São Jorge, mas certamente viu a simpática franquia “Como Treinar o Seu Dragão”.

Poderia passar duas semanas aqui, apreciando as belezas e partes sombrias, inexploradas de tantas luas por aí espalhadas, Phobos, Epimetheus, Callisto, Hyperion, Atlas, Janus, Pan, Rhea, são muitas e muitas formas e circunstâncias, uma vida não basta. Quem quiser que vá em busca da sua preferida, compre um bom telescópio e mergulhe nesse universo apaixonante que é o céu, com suas luas e variações de um  mesmo tema. Quem sabe inverter a lógica atual, que deu ao sol poder supremo, e reverenciar a sutileza da lua dons a serem redescobertos, possa reduzir a temperatura e as tensões em fluxo contínuo de nossas circunstâncias planetárias.

Olho para os olhos e vejo cada vez mais vidros prismáticos, desprovidos do banho de lua. Seres noturnos e sapiência podem salvar alguma coisa desse mundo destroçado e turbulento, entusiasmado com a ideia dos políticos lobistas de aumentar o uso do PIB para aquisição de mais armas para um Armagedon digno de Juízo Final, decretado por injulgáveis em fim de carreira, carvoeiros da caldeira da pulsão de morte.

Ainda há vida na Terra, Salve Jorge, feliz 90+1, seu Sá. Tudo que me foi ensinado, aprendi, justamente pra fazer ao contrário. E nos espírito dos anagramas, escrevi e desvendo, AS LUAS DE SAUL SÁ, é o próprio anagrama, no título de uma revolução, uma volta em torno de si, como a lua faz, examinando minuciosamente a Terra.

 

 

 

BODAS DE PRATA -1, DO GRANDE IRMÃO DO ROUND 6

Big Brother, O Grande Irmão. Na linguagem de rua, brother é o amigo. Nas Redes Sociais, amigo do Orkut virou seguidor. Essa rede social foi pras cucuias, mas o Google se tornou seu “Grande Irmão”, no sentido do acompanhamento de todos os seus passos, onde quer que você vá, nem precisa estar em confinamento, como na pandemia ou nos 100 dias na Casa Mais Falada do Brasil. Afinal, num país com mais de 230 milhões de celulares, ter o recorde de 230 milhões de votos na 24ª edição é um fato a se pensar. Uma rotina de 24 horas por dia, para quem participa, disponível para quem vê é de fato de enlouquecer. Pode até ser que não aconteça ao longo dos 100 dias, mas certamente deforma um país inteiro, em 24+1 anos de existência, uma verdadeira Bodas de Prata que celebro por antecipação.

Senão vejamos.

No BBB de número 1, fazia parte da época o atrativo de fuder por embaixo do edredom. A expressão se tornou lugar comum, aquilo que você não via, imaginava do Oiapoque ao Chuí. O vencedor, Babam se notabilizou com um bordão, e chegou esse ano desafiando Popó, campeão mundial aposentado desde 2017, para ganhar muito dinheiro e ser vergonhosamente nocauteado. Ano após ano – pelas mãos da dona do formato, a ENDEMOL –  o reality foi ganhando versões que mais se pareciam com um trecho daquela música do Raul Seixas, uma metamorfose ambulante.

Logo após inaugurar bombadões com edredom, embarcou com Caubói num Brasil profundo, essencialmente sertanejo, de chapéu de vaquejada e sotaque ao estilo Barretos. Colhe os frutos das festas de interior, transmitindo os shows em sua grade, a maior identificadora de tendências do país. Demora mas não falta. Na 3ª edição revelou a estrela Sabrina Sato, notabilizada pelo Pânico mas que é a maior performática do mundo da moda, incluindo programa na Globo e presença nas pistas do samba. Um talento unânime agregado de simpatia. Perdeu mas ganhou.

Coube a 5ª edição, comprovar a utilidade política do programa em função de posicionamentos de minorias e uma enorme audiência para majoritárias, que dali em diante se capilarizaram. Foi Jean Wyllys, ao lado de Grazi Massafera que formaram a dupla paz e amor ao final, levando a moça ao estrelato como atriz e Jean ao Congresso Nacional. Quem pretende se candidatar deve urgentemente aprender com os realities dinâmicas ágeis que a casa oferece. De fato, tudo muda o tempo todo agora.

As mudanças não seguiram juízo de valor, apenas uma experiência sobre comportamento humano, projetada para alimentar projetos mais ambiciosos dos donos do mundo. Assistir reações em tempo real e medir as reações de uma parte significativa da opinião pública de um país inteiro tem um valor econômico ainda não avaliado. Já lá pelo ano de 2006 uma das coisas que mais ouvia eram pedidos para preenchimento dos formulários online para inscrição no BBB. O sonho de se tornar da noite para o dia uma celebridade está presente na maior parte dos jovens, uma vez que os mesmos encontram-se encurralados, sem acesso a empregos com salários dignos, que preservem nos de melhor imagem, aquilo que preservaram pelos bons cuidados na adolescência. O maior valor da imagem é retratado pela ausência de uma parcela de desdentados da nossa população, inclusos aí os remanescentes Yanomami. Certo que estão no DNA da representante de Manaus, que conquistou o 3º lugar na competição desse ano. Apenas mais um belo exemplo da falta de representatividade do reality. Ou será que paira alguma dúvida quanto ao vencedor Diego Alemão do BBB 7 e a disparidade entre ele e a realidade social brasileira?

Uma das disputas que acompanhei por dentro foi a do então artista plástico Max e Priscila. O dono dos bonecos de qualidade Hollywood suou para ganhar da queridinha de Bial, que escreveu seu texto consagrador na Revista Playboy. Era impossível trocar a preferência por uma gostosona a favor de um artista apoiado por uma turma de Guerrilha Cultural, com poder de fogo nas redes sociais. A vitória foi nos pentelhésimos. É certo que o trabalho de edição já manipulava bastante o fluxo das narrativas.

Me permito aqui um salto quântico, quem quiser mais que compre a consultoria, e chego ao BBB 20, com Thelma enfrentando a Rafa Kalimann, numa daquelas finais de triunvirato feminino. Um ensaio preparatório para criar um sucesso de laboratório com uma mulher quase perfeita, a Juliette. Coube a ela vencer o maior talento do BBB 21, o Gil do Vigor, garoto propaganda de Deus e o mundo. A saúde física e mental são ainda difíceis de se controlar, as empresas fazem de conta que tá tudo bem…

Embora tenhamos a Constituição cuidando da transparência dos dados públicos, graças a lei LAI e a garantia de privacidade prevista desde 2018 pela LGPD, todos os dados coletados ao longo do processo desenvolvido nesses 24 anos não passam nem por perto de um questionamento legal, uma investigação sobre a forma de uso, uma auditoria internacional mais séria. Não dispomos de instrumentos mínimos de soberania, ou de freios ao processo de uso dos dados para interferir nas opiniões via Redes Sociais. É uma zona. O Big Data, o Data Science e a IA passam ao largo dos olhos das autoridades. Não entendem do que não sabem, não cogitam o que desconhecem. Não assistem BBB.

As “quase” Bodas de Prata do BBB trouxeram um choque de realidade. Estamos atravessando um momento dominado pela lógica do tiro, porrada e bomba. Não houve fairplay, as regras garantiram a guarda baixa, me lembrando Jogos Vorazes e Round 6, que se tornou a série mais vista da história da NETFLIX. Creio que transformar o país numa espécie de lugar do vale tudo não é novidade. Já ocupamos esse lugar. Agora é assistir, brother.

 

 

 

MEU CARO AMIGO, SEM PERDÃO E SEM FAVOR

Meu caro amigo, nessa viagem de final de semana, não pretendo parafrasear a genialidade desafinada do Chico Buarque. Apenas começo, como se fosse uma carta, lamentando a ausência. Sei que estarei longe de você, por diversas razões. É que andar de bicicleta, nadar, escrever, ir a cenas de espetáculos, sem interrupção, cobra seu preço. Uma semana que valeu por cinco. Novas rotinas, seres vivos importam, tempo que se dedica, muitas vezes exige cortes de pequenos atos cotidianos. É inevitável.

Você tem razão em não se sentir motivado para assinar certos camarotes, incompatíveis com a sua trajetória. Mas nada contra ir pro meio da massa, ouvir o coro daquelas letras que você não sabe uma frase. Hoje é facinho, só precisa saber o nome da música com o uso do Shazam e procurar a letra no Spotify. Ah, mas você não sabe cantar, eu lembrei. A solução então é falar da “experiência musical”, de uma perspectiva antropológica, mesmo sem se-lo. Sei lá, as roupas dos presentes daquela tribo, ou os hábitos etílicos dos presentes, preço das bebidas, etc. Faça ali um bom trabalho de cobertura e deixe as suas impressões. Sua história permite.

As promessas de Sexta se cumpriram com sobras, num encontro artístico saudável e despropositado, desses sem compromisso com audiência, sucesso ou lucro. Não que isso seja proibido ou não possa acontecer, mas é que o propósito é outro. O movimento de que situa a rua como um lugar legitimado para intercâmbios e trocas de gente interessada em se expressar, realizando Saraus onde a música, a poesia, as artes plásticas e formas mescladas de manifestação humanas possam se expressar é digno de nota. Para o Sarau do Calango, levei uma experiência que foi provocar reflexão a partir da adulteração da letra Caçador de Mim, como ponto de partida para abrir o convite-desafio aos presentes para participação no concurso para o samba cujo tema desse ano na Portela será Milton Nascimento. Sinopse na mão e calendário, o lance é jogar a turma na roda e ver o que vai dar.

O sábado que aparentemente seria ocupado por mais uma edição do Festival Geração 80, foi bem além disso, mostrando que nesse seu 18º aniversário, essa legião de amantes da música daquele momento, atingiram seu maior nível de realização. Com representações, quase simulacros de Renato Russo e Raul Seixas, os intérpretes proporcionaram um revival de enorme potência saudosista e utópica. Mas como disse Guilherme Lemos, do alto de sua lucidez, a presença dos “construtores” no palco, fizeram total diferença, pois Toni Platão, Marcelo Hayena, Avellar Love, Sylvinho Blau Blau, invocaram os deuses da década de 80 e entregaram histórias e recados ainda pertinentes para esse ano de 2024. A produção pode finalmente se lambuzar numa ótima torta de chocolate, fazendo coincidir o aniversário com o aniversário. Lágrimas e sorrisos se espalharam pelo estacionamento do Shopping, que descobre assim, para além dos corredores consumistas e sem relógio uma vocação ancestral, a conexão com as ruas via estacionamento. É muito provável que uma das intenções de transformar a Fábrica Bangu em uma mistura de Museu e Centro Cultural da Zona Oeste do Rio de Janeiro, se materialize décadas após essa luta ter sido travada, pela compreensão de que essa infraestrutura existe para cuidar da sociedade em seu entorno e de seus interesses de lazer. Lugar melhor não há.

Da minha parte, no domingo, fui obrigado a optar pelo conforto do sofá – exausto e virado que estava – de onde fiquei assistindo a 1a rodada do brasileirão. Contando com amigos em São Januário, e vendo a justíssima homenagem ao aniversário de Roberto Dinamite, o maior artilheiro da história do brasileirão. Desde que interrompi minhas visitas aos estádios, por meio da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro – e mesmo antes disso – costumo assistir com alguma simultaneidade, as partidas que somadas, podem resultar em pelo menos uma. O tempo de bola improdutiva no futebol exige de quem assiste alguma criatividade para superar a esterilidade na qual estamos mergulhados. O atraso vai nos engolindo, sem sentirmos.

Já antevejo que nesse 2024, será um verdadeiro pega pra capar, sem escrúpulos, uma questão determinada por distâncias orçamentárias abissais.  É impossível misturar orçamento de pelada com orçamentos e comportamentos de padrão europeu. Times que ascenderam de divisões inferiores tem elenco e riscos menores que agremiações em que os atletas valem milhões. Colocar uma Ferrari pra andar numa rua de barro, usar terno a pé em estradas cheias de lama, absurdos praticados no país que não se vê.  O número de pernas de pau complica mais ainda essa equação. Há uma forte tendência em se querer substituir futebol por UFC, coisa de quem não acompanhou a evolução e não assiste o praticado nas melhores praças. Campos de futebol em condições incompatíveis com o nível de qualidade dos melhores espetáculos, me fazem pensar sobre essa palavra: espetáculo.

Uns caras pensadores atribuíram problemas ao modo como os espetáculos são manipulados em ambientes totalitários ou privados, o que se chamou de Sociedade do Espetáculo: “Na sociedade capitalista, o poder espetacular está disseminado por toda a vida social, na qual há simultaneamente produção e consumo de mercadorias e de imagens, constituindo-se na forma difusa desse poder, conforme definição dada por Debord em 1967, ou ocorre vinculado à ação do Estado, de forma concentrada, com a produção de imagens para justificar o poder exercido por seus dirigentes.”

Pra nivelar, jogo de tabelas sobrepostas, e o Flamengo, como falei, terá 6 jogadores titulares fora nas datas FIFA. Com o dinheiro que tem poderia ter 3 times pra resolver. Poderia. Em lugar disso,  vai chorar.
Quanto ao show perdido – que já assisti na Marina da Glória –  optei por substituir pelo maior Festival de Música da Califórnia, no deserto, que nessa edição, pelas mãos da Beyoncé levou Ludmilla. O bagulho é doido, estamos atrasados milhões de anos, mas temos as melhores platéias do planeta. A cena da produção musical evoluiu. O que vemos aqui é quase um artesanal acústico. Já nas pistas, um espetáculo audiovisual que dispensa psicodélicos.
Aqui, palcos e telões gigantescos, vaZzzzZios de arte. Precisamos de muito mais. Ver as Flores com DJ Snake e uma representação de Bansky ao lado de ET’s foi transcedental, genuinamente belo, sem trocadilhos. Agora, quem lacrou foi Doja Cat, ponto no fim da linha, algo a ser estudado. Ocupou integralmente o palco merecido, uma aula de espetáculo, recheada de arte.

MANDA QUEM PODE, DESOBEDECE QUEM DISPENSA O JUÍZO

O mundo vem sendo comandado por descumpridores da lei. Essa é minha máxima, meu algoritmo, meu diagnóstico. Podemos começar pelo descumprimento das leis internacionais, seja no caso da invasão da Embaixada do México no Equador ou do bombardeio atribuído a Israel a outra Embaixada, classificada como QG de um Comando inimigo.

Anos atrás, assistimos ao ato promovido por um ex-Presidente dos EUA, incitando seus eleitores a invadir o Congresso Nacional, num espetáculo sombrio associado a um mal perdedor. A cena se repetiu, sem qualquer criatividade no Brasil.

A desobediência a recomendação de cessar-fogo em resolução da  ONU de nada adiantou para que a Guerra em Gaza fosse interrompida. Mesmo com a repreensão do seu principal aliado e fornecedor de armas e voto favorável na ONU, ir adiante solitariamente e isolado parece não incomodar desobedientes poderosos.

A justiça e seus mecanismos aparecem cada vez mais frágeis, pouco efetivos aos olhos do cidadão comum. Do contrário, como explicar a certeza de impunidade sob a qual se escondem os detentores de imunidade parlamentar no Brasil, que tiveram inclusive suas prerrogativas ampliadas em recente votação no STF? Atualmente o sonho de consumo dos maiores criminosos nacionais é alcançar uma cadeira no Congresso Nacional e se perpetuar ali, seja pelo preço que for, custe o que custar.

O Brasil é apenas um pedaço desse lugar, que podemos chamar de Terra de Ninguém. A reprodução das mesmas práticas executadas em território estadunidense, durante período eleitoral, que promoveram de forma persistente o desenvolvimento de uma comunidade de haters, inexistentes no período que antecedeu a ascensão das redes sociais. Lembro-me perfeitamente da importância e da responsabilidade da função do moderador de grupos, nas listas de grupos de discussão. Era um outro tipo de ambiente. Na ocasião em que implementei os grupos para uso em Universidades, ficou claro que sem esse filtro básico de civilidade o ambiente poderia se tornar uma espécie de pandemônio.

Esse momento chegou, vivemos num ciberespaço tóxico, deliberadamente “pandemonizado” por interesses extremistas. De um lado o falso moralismo que pretende proibir a exibição da Estátua de Davi, personagem bíblico, por ter sido esculpida em corpo nu. Do outro lado, a indústria pornográfica americana e a cidade de Las Vegas com gordas indenizações para que se mantenha em segredo as travessuras dos poderosos que podem pagar para fazer o que quiserem.

As Redes Sociais são o lugar determinante para a formação da opinião pública e circulação de fatos inaceitáveis. O bloqueio ao uso das mesmas segue a lógica dos territórios ditatoriais. Na lista temos os mais óbvios: China, Rússia, Coréia do Norte, Irã, EUA. Peraí, você leu que os americanos estão nessa lista? Sim. Decidiram recentemente que o Tik Tok, rede social chinesa usada por 180 milhões de americanos, tem três meses para se tornar uma empresa americana, sob pena de ter seu aplicativo retirado das lojas que o distribuem. Essa medida mataria a capacidade competitiva da Rede Social chinesa em solo americano. É assim que funciona.

Então vamos entender o quadro de competitividade do Mercado de Redes Sociais e seus respectivos donos. A Meta, com ações hoje 506; valor de mercado 1,3 US$ trilhões. Compreendida como a soma de 3 Redes Sociais usadas no Brasil: Facebook 83%; Instagram 91% e WhatsApp 93%. É certamente a empresa com maior força de influência em nosso território e já esteve envolvido em escândalo de fornecimento de dados para manipulação de eleições por tudo quanto é lado. Não incluí o Threads, que também pertence a Meta, e que foi criado para ocupar o vácuo deixado por ocasião da compra do Twitter por Elon Musk. Na realidade esse aplicativo está sendo incorporado ao WhatsApp para acelerar de um outro modo o povoamento e crescimento de sua base de usuários, pois esse é o fator determinante ao sucesso de uma rede social na bolsa de valores e para captação de investidores.

Na pegada do Meta, temos o russo Telegram, objeto de uma extensa negociação de posse e segredos, que levou seu criador a sair do lugar onde morava para viver feliz sem se meter nos negócios de natureza política que o aplicativo pode promover. Foi nesse aplicativo que Moro e Dallagnol se enroscaram, crendo em privacidade absoluta. Trata-se de um WhatsApp mais elitizado, utilizado por 57% dos brasileiros, mais corporativos e em atividades “sensíveis”.

 

A seguir, o chinês Tik Tok, utilizado por 65% dos brasileiros, com o CEO Chou Zi Chew tocando o barco. Com a peculiaridade de ser a base de maior velocidade de crescimento, em especial entre os jovens, o que não é objetivo dessa conversa detalhar, mas pode ser pesquisado por quem interessar. Seu destino esse ano depende dos acontecimentos nos EUA.

O X, ex-Twitter, de uso para fluxos instantâneos de informação, substituiu Centrais de Editoria Jornalística e a função do Porta Voz de Presidentes ou candidatos a cargos políticos. Instrumento poderoso, elegeu Trump. Em estado quase falimentar e sem uma rota de desenvolvimento clara, foi comprado por Elon Musk, com a promessa de que destruiria toda e qualquer moderação por parte do veículo no qual manda. Uma atitude parecida com a do comprador de um carro, que não tirou carteira de motorista e decide que seu carro pode usar as ruas públicas da forma que bem entender. Acontece que existe as leis de trânsito, as placas são internacionais, inclusive para veículos elétricos de uma outra empresa, a TESLA.

Na outra ponta desse iceberg político, abre-se um outro flanco com a criação da Rede Social Truth (DJT), apropriação sem medidas da palavra VERDADE. Fui colaborador de um jornal em Teresópolis com esse nome, “A Verdade de Teresópolis”, nome forte, que exigiria por parte dos donos uma enorme responsabilidade. O candidato em questão, que já atacou o Tik Tok em sua passagem pela Casa Branca, hoje é inimigo da Meta, a quem considera inimiga pública da sociedade americana. Há muito a se conversar sobre essa mudança de posição e os apoios financeiros de campanha.

Como encontrar a verdade de um lugar? Nunca cheguei a essa fórmula, acredito que os donos também não, mas há certos nomes que provocam certos efeitos na esfera pública. As mentiras ganharam o nome de fake news e os mentirosos mentem sobre suas próprias mentiras ou sobre verdades, tornando o lugar da informação um lugar sem credibilidade. De fato, quando a informação qualificada impõe respeito, alguns ganham poder, outros perdem. E nesse caso, o melhor é eliminar por algum meio qualquer tentativa de produção qualificada de informação ao público, porque ela acaba tendo a capacidade de distribuir o poder.

Portanto, as redes sociais são hoje esse lugar de disputa entre o poder dos donos, que desejam a centralização do poder, baseada em suas opiniões, simplórias ou sofisticadas, e a disseminação do conhecimento baseado no método de validação por pares. Dito de outra forma, a lei exige o bafômetro, o poderoso considera desnecessário para efeito de sua vontade de ser livre para atropelar embriagado e sair impune. Chega a ser ridículo ter que participar de debates públicos desse nível. Mas é isso que assistimos, está acontecendo. Uma pobre coitada copiou e colou uma imagem com dois desenhos, um representando Xerxes e o outro Gladiator ou algo do tipo, “afirmando que a imagem já dizia tudo”, quando na realidade a imagem é do tamanho do vazio semântico da reflexão acrítica sobre o absurdo e bizarro de que trata.

A dispensação do juízo esquece, premeditada e propositalmente que em seu lugar teremos não mais marcos regulatórios, mas a máxima da lei do mais forte, um atraso de aproximadamente 800 anos em relação a criação do conceito de Estado.

Falando em Estado e Constituição, é importante avisar que existem duas leis que regem as atividades no mundo digital no Brasil. A primeira é a LAI, Lei de Acesso a Informação, que em linhas gerais dá o direito ao cidadão de ter acesso a informações sobre questões da Esfera Pública, garantindo a transparência de compras, licitações, editais, entre outros assuntos. Está muito mal operacionalizada, para um cidadão exercer esse direito é um parto, algo difícil de acreditar, pior que fila de atendimento de paciente de câncer no SUS. O camarada morre antes, demonstrando aí a distância entre a lei e sua aplicação. A segunda é a LGPD, de 2018 e portanto mais recente, que trata da privacidade dos dados dos cidadãos, frente as coletas massivas feitas pelas empresas públicas e privadas. Garantir que esses Big Datas não serão utilizados para atos persecutórios, práticas de extermínio e ações discriminatórias são apenas alguns exemplos do mau uso atualmente em curso. Nesse sentido, qualquer empresa em atuação em território brasileiro, não pode ser aproveitar de brechas e vulnerabilidades de nossa infraestrutura para levar vantagem ou impedir a atuação e aplicação das leis vigentes no país.

Não será uma Corte Internacional ou mesmo o julgamento numa cidade qualquer americana, como por exemplo a Califórnia, que irá decidir se a empresa de lá, atuando aqui, fornecerá ou não informações para a justiça, sob pena de conivência com práticas ilícitas de grande magnitude e prejuízo a organização social do Brasil. A quem interessa o bundalelê? Sabemos todos. Aos que almejam extirpar do país a sua Soberania, transformando-o num flagelo sem bandeira, só a dos piratas e saqueadores. Esse modelo de neocolonialismo a gente já conhece, e é verdade, estamos muito vulneráveis a isso.

O ECLIPSE TOTAL DA HUMANIDADE

Quando o fanatismo de seitas religiosas se aproveitam de fenômenos naturais para incutir o terror por meio de crenças infundadas, restam as vítimas, pessoas de boa fé, a seguir mandatários do obscurantismo.
Nesse ano de 2024, milhões de pessoas localizadas em parte do Hemisfério Norte, tiveram o privilégio de acompanhar um Eclipse do tipo Total. É que o sol é 400 vezes maior que a lua, mas está a uma distância 400 vezes maior que ela, o que provoca esse ilusão de ótica, algo divino, a cobertura perfeita do maior pelo menor corpo celestial. Religiões bebem nessa fonte.
A ignorância que se sobrepõe ao conhecimento, disfarçada de revelação divina, obtida pela vontade própria de um qualquer, já levou milhares ao suicídio coletivo. Um filme recente, “Não Olhe para Cima“, dá uma noção do que os céus, no plural, nos reserva. Há uma grande proliferação de anunciações apocalípticas, da pior espécie.
Enquanto isso, pouco se fala da primeira intervenção militar feita pelos EUA, testando atingir um meteoro, para verificar o comportamento desse “ataque”, no caso de uma necessidade para evitar a colisão de um desses meteoros metidos a besta, em rota de colisão com a Terra. Segundo o relato, os fragmentos do meteoro atacado não se comportaram como se imaginava, e acabarão abrindo crateras na superfície de Marte em três mil anos. A astronomia é uma ciência matemática das mais antigas, com precisão fenomenal, mas também sujeita a erros experimentais. Leva tempo para ajustar o cálculo, aprimorar modelos, a partir de validação experimental. Acontece mano que nem sempre temos uma segunda chance na vida.
Um eclipse desses pode muito bem servir de bandeira para o totalitarismo em expansão. Uma hipótese, parte especulativa, parte real, baseada no mapa da decadência democrática em curso. Parte desse movimento pernóstico tem como base o terrorismo de seitas, que semeiam a ideia de que o dia do juízo final está próximo. Próximo de levar a humanidade pro fatalismo. Uma das tentativas de cálculo do Dia Final foi feita por Isaac Newton para os Adventistas. Saíram frustrados, sem credibilidade. Daí em diante, apenas ameaças sem datas especificadas. Aprenderam a aterrorizar o povo sem se expor ao ridículo e pagar mais um mico. Pobre do povo de boa fé, que cai nessa ladainha. Afinal, quem é que não sabe? Todo início tem um fim! Até aí, morreu Neves, diz um ditado antigo. Dizer que o sol nascerá amanhã não é nada demais. Calcular os próximos eclipses? A Ciência dispõe de ferramentas matemáticas para esse fim. O milagre é esse: o conhecimento.
Resta saber aonde vai levar em pleno 2024. Em fração de segundos, o dia pode virar noite. Aos animais e a barbárie ensandecida, a falsa impressão de que é hora de dormir ou chegou o fim do mundo. Mas para a Ciência, é apenas um eclipse de 4 ou seis minutos, a ser contemplado com os devidos cuidados para não lesionar os olhos, com direito a beleza dos efeitos especiais, como o brilho diamante e outros bichos.

Um Turismo Astronômico se faz necessário. Quem sabe abre a cabeça de alguns debilóides, afetados pela falta de tudo. Antes que a humanidade se veja eclipsada de vez, chafurde na lama da barbárie, pelo menos desfrutar de algumas experiências visuais transcendentes. O merchandising do Eclipse Total é uma coisa que só mesmo os americanos poderiam fazer. E fizeram.

O ECLIPSE TOTAL DA HUMANIDADE

Quando o fanatismo de seitas religiosas se aproveitam de fenômenos naturais para incutir o terror por meio de crenças infundadas, restam as vítimas, pessoas de boa fé, a seguir mandatários do obscurantismo.
Nesse ano de 2024, milhões de pessoas localizadas em parte do Hemisfério Norte, tiveram o privilégio de acompanhar um Eclipse do tipo Total. É que o sol é 400 vezes maior que a lua, mas está a uma distância 400 vezes maior que ela, o que provoca esse ilusão de ótica, algo divino, a cobertura perfeita do maior pelo menor corpo celestial. Religiões bebem nessa fonte.
A ignorância que se sobrepõe ao conhecimento, disfarçada de revelação divina, obtida pela vontade própria de um qualquer, já levou milhares ao suicídio coletivo. Um filme recente, “Não Olhe para Cima“, dá uma noção do que os céus, no plural, nos reserva. Há uma grande proliferação de anunciações apocalípticas, da pior espécie.
Enquanto isso, pouco se fala da primeira intervenção militar feita pelos EUA, testando atingir um meteoro, para verificar o comportamento desse “ataque”, no caso de uma necessidade para evitar a colisão de um desses meteoros metidos a besta, em rota de colisão com a Terra. Segundo o relato, os fragmentos do meteoro atacado não se comportaram como se imaginava, e acabarão abrindo crateras na superfície de Marte em três mil anos. A astronomia é uma ciência matemática das mais antigas, com precisão fenomenal, mas também sujeita a erros experimentais. Leva tempo para ajustar o cálculo, aprimorar modelos, a partir de validação experimental. Acontece mano que nem sempre temos uma segunda chance na vida.
Um eclipse desses pode muito bem servir de bandeira para o totalitarismo em expansão. Uma hipótese, parte especulativa, parte real, baseada no mapa da decadência democrática em curso. Parte desse movimento pernóstico tem como base o terrorismo de seitas, que semeiam a ideia de que o dia do juízo final está próximo. Próximo de levar a humanidade pro fatalismo. Uma das tentativas de cálculo do Dia Final foi feita por Isaac Newton para os Adventistas. Saíram frustrados, sem credibilidade. Daí em diante, apenas ameaças sem datas especificadas. Aprenderam a aterrorizar o povo sem se expor ao ridículo e pagar mais um mico. Pobre do povo de boa fé, que cai nessa ladainha. Afinal, quem é que não sabe? Todo início tem um fim! Até aí, morreu Neves, diz um ditado antigo. Dizer que o sol nascerá amanhã não é nada demais. Calcular os próximos eclipses? A Ciência dispõe de ferramentas matemáticas para esse fim. O milagre é esse: o conhecimento.
Resta saber aonde vai levar em pleno 2024. Em fração de segundos, o dia pode virar noite. Aos animais e a barbárie ensandecida, a falsa impressão de que é hora de dormir ou chegou o fim do mundo. Mas para a Ciência, é apenas um eclipse de 4 ou seis minutos, a ser contemplado com os devidos cuidados para não lesionar os olhos, com direito a beleza dos efeitos especiais, como o brilho diamante e outros bichos.

Um Turismo Astronômico se faz necessário. Quem sabe abre a cabeça de alguns debilóides, afetados pela falta de tudo. Antes que a humanidade se veja eclipsada de vez, chafurde na lama da barbárie, pelo menos desfrutar de algumas experiências visuais transcendentes. O merchandising do Eclipse Total é uma coisa que só mesmo os americanos poderiam fazer. E fizeram.

ZIRALDINOS DA BUNDOSFERA

Quando se decreta a morte? Há prenúncio? Alguém escreve o prefácio com a devida antecedência? As vezes sim, as vezes não. Seja como for, ela vem, e dessa vez veio pra levar Ziraldo. Quando vejo a imagem no Sétimo Selo de Ingmar Bergman, e a fuga de um convidado, ou o caso do Motoqueiro Fantasma, entendo a alegria infantil de Ziraldo como se fosse um garoto correndo pelos campos. O Menino Maluquinho está acima de qualquer parâmetro, mesmo num ambiente tóxico, onde chamar uma criança de “maluca”, no diminutivo, possa ser um dia censurada como possibilidade expressiva. É que o mundo ficou chato pra cacete.

Uma legião de talentos, em idade madura, avançou para obras niveladas para público adulto. Não tem como Xuxa ser o mesmo produto com sessenta anos, porque a vivência e realidade da idade é outra. A minha geração respeita o trabalho dos Legionários do Pasquim, da qual escolhi Jaguar, Millor, Ziraldo, Ruy Castro, Henfil, Fausto Wolff, Ivan Lessa e Paulo Francis, não necessariamente nessa ordem. Um jornal que encarou a ditadura de frente, com picardia. A capa do fanzine, onde Ziraldo ensina como ganhar na loteria esportiva sete vezes e continuar no prejuízo é quase o prenúncio da febre dos jogos online que acabaram de receber o governo como sócio. É nesse ponto da curva que Dostoevsky perdeu para a gang brasileira: nossa complexidade real superou e muito suas tramas com 400 personagens. Falar desse nosso lugar, só com muito humor e imaginação. Do contrário, se morre aos trinta e três.

Num certo momento da linha artística do Ziraldo, o elemento satírico invadiu sua obra de forma explícita, sem direito a caminho de volta. A acidez crítica as publicações do estilo Revista Caras, levou a criação da sua arqui inimiga que se multiplicaram e são representadas em 2024 por produtos como Hugo Gloss, GShow, Surubaum, e etc., repletas de fofocas e assuntos de natureza mais íntima.

A Revista Bundas não repetiu o sucesso do Pasquim, serviu – quando não como estatuto profético – pelo menos como  posicionamento frente a pobreza das pautas dominantes nos meios jornalísticos editoriais. A grande maioria dos tablóides brasileiros se entregaram as fofocas com bastante êxito. Falar sobre jogar bolas de ping-pong com a Deborah Secco dá uma audiência extraordinária.

Foi uma experiência “estranha”, dois dias depois da ida a Exposição do Ziraldo no Centro Cultural Banco do Brasil, saber de sua “partida”. Com seus mais de noventa anos, e segundo seu discípulo Ique, já afastado das atividades que o notabilizaram a partir de um AVC, o tempo regulamentar não lhe deu os acréscimos com os quais nos acostumamos nos jogos do Maracanã, onde os geraldinos foram estirpados, numa que já foi a maior tradição de torcida popular do Brasil. É de se esperar, que não aconteça com esse genial ser humano, que teve o privilégio de desenhar mascotes para os 13 times mais importantes do país em sua época, o esquecimento da torcida dos ziraldinos, e que estes entoem o seu nome pela bundosfera interplanetária que habitará, como mostram as tirinhas apontadas por Bylucas, outro de trajetória muito peculiarmente errante, planeta arte que bandos de analfabetos culturais insistem em promover apagamentos.

Como diria Jaguar, ao criar o ratinho “Sig” do Pasquim, “se Deus havia criado o sexo, Freud criou a sacanagem”. Coube ao Ziraldo estabelecer o direito a boa loucura da criação, sem fronteiras ou idade recomendada.

Retornarei a essa constelação de Criadores de Universos em uma expansão dessa teia, por meio dos links ainda por publicar. O tempo me pegou numa esquina quântica, viajando numa cadeira da dentista de um gênio chamado Millôr.

 

A IMORTALIDADE DE UM ÍNDIO

Um índio chamado Ailton, entrou pelo salão da Academia. Seus textos falados poderiam ser classificados como discursos, se tivesse se candidatado a vaga no Congresso Nacional. E foi. Dono de pensamento límpido, acostumado com as máscaras em lugar de roupas, pois assim é a beleza da moda de sua gente, fez que nem os caras pintadas, usou a colorização natural do jenipapo para cobrir seu rosto de preto, em sinal de protesto. Repleto de simbologias, dono de senioridade, não abriu mão da bandana na cabeça e quem sabe tenha repetido a tintura, dessa vez nos cabelos já grisalhos.

Olhando para ele, recebo imagens de filmes dos mais variados. O último dos moicanos, por exemplo, tratando da extinção de um povo, ao qual ele se refere falando de 300 dialetos e sua representatividade em pleno momento de extermínio Yanomami. É provável que tenha lido a obra de Lima Barreto, onde Policarpo propõe tornar o tupi-guarani a língua oficial do Brasil, sendo vencido pelas formigas saúvas – essas que aparecerão de novo no livro Macunaíma, com a frase “muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”. Me parece que as formigas foram substituídas no campo de batalha pelos mosquitos.

Em Highlander com Christopher Lambert, o inesquecível guerreiro imortal, que participa de uma espécie de “só resta um”, condenando a espécie presenteada com a vida eterna a solidão e inexistência de vida gregária. Ser adotado por outros, que não da sua linhagem, ou ancestralidade, é de fato transformar num espelho bastante distorcido a realidade. Afinal, alguém um dia acreditou que Tarzan seria aceito entre os habitantes de NY? Ou que a humanidade iria conviver pacificamente com heróis salvadores do planeta, como Superman, ou o Titã Godzilla, ou King Kong? Tenho certeza que não.

A posse de Ailton Krenak para se sentar numa cadeira da ABL sucinta muitos pensamentos, entre eles o de que o bom samaritano, na época Presidente do Brasil, José Sarney, também chegou lá, com seu modesto livro “Os Marimbondos de Fogo”. A cadeira ocupada como um ato meramente derivado da política é uma completa subversão de valores. Justo por isso, o lúcido pensador-poeta Carlos Drummond se recusou a ingressar na patotinha que havia dado entrada a Getúlio Vargas, em sua fase como ditador. Não deu pro autor de “Mundo mundo, vasto mundo, tolerar essas excrescências.

Achei muito criativo o título que encontrei na Bienal da censura, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, que para mim já vale como livro. Vejo a provocação lúdica como um livro aberto, uma vez que ideias são frutos do pensamento, que é por definição fluido, e portanto capaz de abraçar as de quem ler ou participar desse debate sobre adiamentos do fim. Tem o mérito de se contrapor aos suicidas fanáticos das seitas que se espalham, usando o discurso do terror, do apocalipse, para converter pessoas de boa fé, incutindo o medo em lugar de promover a coragem e a formação de personalidades em busca da transformação possível.

A presença na mesa da ABL no dia da posse de Krenak mais se parecia com um momento da base governista atual, o que é muito ruim para a imagem da Instituição. Já havia acontecido no Sambódromo durante o carnaval, se repete aqui a presença de Ministros e toda a classe que enxerga nessa ocasião apenas uma oportunidade de ação política. A Literatura não está mais sendo exercida na ABL, ou talvez não precise mais, depois da construção do prédio com a ajuda do Governo Federal. É duro assistir essa domesticação a qual entidades se obrigam a se submeter para receber migalhas em troca. Enquanto isso, em Paraty, uma tribo abandonada, tem em sua área de assentamento uma Escola Municipal que ensinava Tupi, enquanto sua comunidade minguava e morria.

A Exposição Audiovisual sobre os povos Yanomami, Xavante, Krikati, Gavião, Yawanawá, Huni Kuin e Ashaninka, com fotografias do japonês Hiromi Nagakura, traz registros da parceria entre Krenak, datada de cinco viagens nos períodos de 1993 e 1998. Grupos minoritários dizimados em ritmo acelerado, deixam a pergunta no ar: quanto tempo durarão esses paraísos artificiais, frente a avalanche de barbárie que nos espera diante dos 6 bilhões de seres humanos espalhados pelo planeta, aderentes ao novo estilo Mad Max?

Obs: para esse artigo não coloquei os links usuais, optei por visitar três outras exposições, e acrescentar registros fotográficos das mesmas.

 

ENTRE A FOME, O ALIMENTO E O VENENO

Esse negócio de Páscoa me obriga a ressignificar o andar dessa carruagem. No domingo, era um montão de gente lambuzada de chocolate. No frigir dos ovos o que se via já não era exatamente a Páscoa e seu simbolismo essencial, mas apenas as embalagens cobrando pelas imagens de grifes – de valores proibitivos ao bolso do trabalhador que ganha salário mínimo, que só é melhor do que o dos chineses – que encobriam as fartas dosagens de parafina cancerígena em lugar do bom e velho cacau amargo raiz.

Há uma campanha nos veículos de comunicação, em tom brincalhão, falando de “doces venenos“. Achei tão simpática quanto a música da Rita Lee, com aquele trecho “venha me beijar, meu doce vampiro“. Não há qualquer romantismo nas brigas envolvendo comida e sua opções. Nascem fanáticos onde menos se espera? Pelo contrário. Eram fanáticos, mas ainda não haviam aderido a causa da saúde e do politicamente correto. Na juventude, ingeriram de tudo, e atualmente, ainda ingerem, mas defendem com fervor novas práticas, que protejam a saúde e a qualidade de vida.

Uma das rotas de ataque a certos alimentos são os chamados “ultraprocessados”, também conhecidos como “refinados”. A maldita industrialização, que retira o homem de perto da natureza e o expõe a todo tipo de adulteração. Desse modo, cabe aos orgãos reguladores mais sérios, tais como o FDA americano, estabelecer as regras que separam um produto integral de um outro refinado. A tradução literal para esse assunto diz que:
“Um grão integral é uma semente que se converte em um grão de milho, trigo, aveia ou outro qualquer que colocamos na mesa.
Ele tem três partes: A camada externa do farelo; o endosperma médio, que compreende a maior parte do grão; e um pequeno embrião. Se esses três componentes existirem em um alimento nas mesmas proporções que no grão original, esse será considerado “grão integral”, de acordo com a Food and Drug Administration (FDA). (Os fabricantes de alimentos podem adicionar os três componentes separadamente aos produtos por motivos de textura, sabor ou outros).”

A imagem que utilizei acima, mais se parece com um corte de carne vermelha – por favor não se assustem os vegetarianos, veganos e outros “anos” – mas é apenas um grão de trigo, submetido a um corte para análise da sua estrutura interna, onde se vê claramente o embrião, bem vermelho no lado esquerdo, que se alimentará do endosperma para se tornar uma planta. A retirada de uma parte do grão, no processo de industrialização altera o produto. Acontece que esse já foi alterado antes…
Não é o objetivo de nossa breve exposição do assunto falar sobre monoculturas, eliminação da biodiversidade das espécies cultivadas, ou chegar até o pão que era comido na ceia dos tempos de Jesus e seus apóstolos. Apenas trazer outras visões sobre o tema. Enquanto os países ricos discutem obesidade, doenças do coração e câncer, trazendo a moda pra cá, com hábitos importados substituindo arroz com feijão e ovo por Méqui Delivery, é preciso também olhar para a Segurança Alimentar sem excluir os lugares onde a fome e a sede persistem, além do envenenamento das fontes básicas da vida: ar, água e solo. Temo dizer que estudos recentes apontam para a qualidade do ar que respiramos como sendo o principal fator potencializador da demência, por exemplo.

Todo esse papo envolvendo as substâncias antixoxidantes, os componentes químicos constitutivos da nossa estrutura biológica, são afetados por algo que vai além do grão que você come.
Portanto, o YouTube com seus vídeos de grande audiência e sugestões de dietas ABCZ, somados a noções de nutrição fundamentadas e recomendações médicas especializadas não vão resolver certos aspectos do problema, quais sejam: a cultura de consumo local do alimento, as restrições econômicas, a situação geopolítica e as guerras, que, só para citar dois exemplos, bloqueiam trigo da Ucrânia e deixam milhões na Faixa de Gaza sem ter o que comer, de uma hora para outra. Tais desequilíbrios são muito mais ameaçadores aos problemas envolvendo alimentos para a população do que o grão integral ou outra coisa dessas que fazem a gente perder a noção do conjunto e ficar no conhecimento ultra-específico sobre o tema.
Pra complicar ainda mais nossa vida, vivemos o boom dos suplementos e os corretivos recomendados por uma medicina corretiva, dessas que funciona como um elixir milagroso. Produtos como Ozempic e similares, com todos os seus respectivos efeitos colaterais, incluindo aí a dependência.
Assunto extenso, voltando as vacas frias, comemos grãos faz uns 50 mil anos, passamos a refinar os mesmos faz 150 anos. Não sabemos onde isso tudo vai parar. Enquanto isso, é bom saber que seu organismo descarta o embrião e o farelo, absorvendo vitaminas, sais minerais, fitonutrientes e gordura boa. Nos EUA, é vendido o grão enriquecido, que recebe uma turbinada de aminoácido, a Tiamina, além de vitaminas B e Ferro. Mas pouco ou nada se faz quanto ao déficit de Potássio e Magnésio, sendo que esse último é muito importante nas funções neurológicas e dos músculos, além de estar presente nos ossos.
A falta de fibras nos alimentos refinados é de fato um aspecto a ser suprido de alguma outra forma, pois é sabido que entupimento de coronárias, depressão, prisão de ventre, diabete tipo 2, câncer no intestino e outros trambolhos vão complicar a vida de qualquer um, jovens inclusive.
Como se tudo isso não bastasse, há os produtos batizados. Nem em lugares onde o controle é alto, você se livrará deles. Confundir um grão integral com algo que está colorido de vermelho ou marrom? Pode ter levado tinta… O percentual de grãos integrais é 100%? Nunca saberemos, só conhecendo a plantação. É provável que essas recomendações em nada ajudem a quem passa fome nas ruas, pega comida nas lixeiras dos grandes centros urbanos, e que isso seja visto no futuro como um preciosismo burguês.

Não está descartada a hipótese de uma era canibal, ou antes dela de carnificinas em torno de fontes de água, ou dos alimentos humanitários que já levaram a morte quem foi atrás dos paraquedas. Não é a primeira vez e não será a última, que assistiremos o Darwinismo literal pela TV. Gosto não se discute.

Dedico esse texto ao Betinho, a quem tentaram apagar a imagem de pioneirismo e se apropriar do legado, só pra ficar bem na foto.

ESCREVER DÓI, ATÉ MESMO PARA OS APÓSTOLOS

Pouco se sabe sobre os secretários escribas que auxiliaram a realização dos manuscritos do Novo Testamento da Bíblia. A turma que atribui a uma ideia “abstrata”, pra dizer o mínimo, em lugar de preparação, afinco e humildade para estudar, antes de se arvorar em se autointitularem senhores da interpretação dos textos bíblicos, poderiam aproveitar a semana santa para ler um pouco sobre a história que envolve a produção de parte desse livro.
Começando pelo mais ilustrado dos apóstolos, Paulo, que recebeu farta ajuda de secretários de alta qualificação em letras, para dar nível aos rascunhos desses originais ditados no cárcere. Quando se fala em dor da escrita, é porque essa atividade exige sacrifícios ao corpo e muita abnegação ao trato social, e a tantas outras atividades humanas mais prazeirosas. Quem já se dedicou ao assunto na prática sabe do que falo. Mas o artigo se refere a vistas, costas, corpo de quem vive para a escrita. Naquele momento, era ruim, hoje, dependendo do lugar onde estiver, sentado num banquinho que João Gilberto e Chico Buarque recusariam usar para tocar alguma música de Bossa Nova, você pode sair bem danificado. Aos iniciantes, de poucas horas e anos nessa condição e pouco instruídos quanto aos cuidados possíveis ao trabalho, frescuras desnecessárias, luxo de gente desprezível, essa corja escritora.
Mas é deles que os atuais analfabetos funcionais de hoje, se nutrem, para extrair frases retóricas de impacto, dessas que levam a impiedosa explosão de bombas atômicas e outras ameaças, sem punição. Não há Espírito Santo que aguente tal hediondo estado de demência da espécie humana. O antropoceno caminha a passos largos, numa direção sem volta ao abismo trágico, salvo retratação coletiva. Nem mesmo a total incapacidade científica de explicar o calor atual do sol, por absoluta inexistência de parâmetros em nossa linha de tempo do Universo, irá dar conta das respostas necessárias a interrupção das noções suicidas impregnadas nas religiões dominantes no planeta. Formando kamikazes, cadetes homens bomba e contando com a forte ajuda da indústria de games para treinamento simulado de armamentos letais, normatizamos práticas abomináveis com sorrisos nos lábios, contando apenas com o consolo do amor dos puteiros com seus consolos.
Uma semana como essa, exige leitura.

UM TÚNEL PRISMÁTICO DE LUZ E SOM

50+1 em Abbey Road, lugar revolucionário, Beatles incluso. Letras nunca foram a parte mais significativa da obra musical dos instrumentais. Ouvi a íntegra do Long Play “The Dark Side of The Moon“. Quantos privilégios numa vida de notas e silêncios. Não era possível saber com clareza as letras de Time, Money, Us and Them, ou Eclipse. O acesso de hoje vale revisitar o universo psicodelista de um lugar conceituado pelo Roger Walters, o cara que quebrou muros, uma das funções secundárias da música. Meio século se passou, parece que estamos estacionados.

“50+1 em Abbey Road, lugar revolucionário, Beatles incluso.”, é uma frase incompreensível, com a qual começo uma viagem pelo túnel do tempo. Para não deixar todo mundo voando, decidi abrir a caixa preta e mostrar o que tem dentro. Por favor, não se assustem. O 50+1 se refere aos cinquenta anos do lançamento do álbum da banda Pink Floyd, ou seja, meio século e um ano do seu LP mais vendido. Ouvido até hoje, já é obra de arte. A rua Abbey Road, em Londres, onde fica o Estúdio utilizado antes do Pink Floyd pelos Beatles, que fizeram a capa do seu álbum com uma foto dos quatro, atravessando numa faixa de pedestres nesta mesma rua. Ali aconteceu a revolução musical, fiz uma foto lá, em 2019…

Não há como esquecer a madrugada atravessando com anotações sobre as novidades e nomes que minha ignorância não conhecia, de um Lolla que antecedeu a uma picada de um mamangava. O inseto dos campos de maracujá, pasmem, estava escondido dentro de uma bolsa, na qual fui colocar a chuteira, pra ir jogar minha última partida de futebol. O amigo e eterno desafiador, encontrou horário compatível, e lá acabei com uma ruptura do tendão de Aquiles que me custou 10 meses de recuperação. A vida mudou depois disso, certas coisas já não se podia mais, como por exemplo, correr nos jardins de São Petersburgo.

Nesse mesmo momento, os californianos do Offspring se apresentam no Lolla Brasil em Interlagos, transmitido ao vivo, que é o que sustenta os eventos em seus lucros e custos. Os ingressos são para garantir o calor das platéias indispensáveis ao espetáculo. A questão é como garanti-las, diante de tantos ataques terroristas, inimigos explícitos da cultura do entretenimento, da paz e do amor, que já deixaram marcas recentes em Israel e hoje em Moscou.
A obra de maior projeção do grupo Pink Floyd. fala a linguagem da música, e as memórias da turma da Brasília de baixos indicadores de violência lá pelas bandas de 1977. Os colecionadores já tinham aquela capa com pirâmide e luz se tornando arco-íris na mão, ao lado de Clube da Esquina, Belchior, e todo o manancial de melodias que jorravam emoções incontidas. Na (mini)playlist no Spotify que produzi hoje, embaralhando tudo que ouvi, guardei lugar especial para , em homenagem aos amigos de Brasília, que enriqueceram meu conhecimento musical em 1977. O disco

Come Out and Play, é um chiclete do Offspring e aí não tem essa de não gostar da Califórnia ou de pop punks. São muito brabos, ainda na estrada da música que arrasta milhões a entoar hinos nada nacionalistas, espelhando a rebeldia que oxigena o mundo dos arranjos assassinos. A garotada exige ter prazer, direito legítimo, constatado em The Kids Aren’t All Right.

Já a banda aclamada e aguardada por trinta anos, não chegou a me provocar os urros que vi em sua platéia ensandecida. Música é química e Blink tem de sobra para a sua legião de fãs. Em All The Small Things, deixaram a alquimia exposta, sem necessidade de motivo aparente para ir as estrelas. Não sei até que idade vou conseguir acompanhar essa garotada, mas garanto aplaudir incondicionalmente as tentativas na direção artísticas e suas variações, sem pretensões comparativas, apenas preferências.

E aí meu amigo, Luisa Sonza é uma delas, e vai incorporando e crescendo. Menos por Anaconda, mas por conseguir transitar com fluência em todos os gêneros dominantes da preferência do jovem brasileiro atual, sertanejo, funk, e as parcerias com a de maior projeção, anexando territórios com uma voz sem igual, interpretando Penhasco com Demi Lovato foi aula.

O livro Cena B tem sido escrito meio que sem qualquer ordem cronológica, fragmentos possíveis a se juntar ao final. A riqueza de aparições dos últimos dois anos exige esforço dedicado para depois de maio, tendo como ponto de partida a lembrança dessa base mainstream. É esperar a chuva passar e botar pra fora os presentes desse trânsito de ondas sonoras.

A VIDA DO TRABALHADOR CONDENADO A MORTE

O ano era 2022. Os votos couberam a Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Marco Aurélio, Kassio Nunes Marques, Luis Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. O placar foi dividido e apertado, um 6 x 5 que só demonstra o grau de (des)comprometimento da Suprema Corte com quem trabalha, com quem já tem idade avançada e com quem não tem como se defender, pagando quantias estratosféricas aos grandes escritórios de advocacia do país.

Enquanto o Ministro do Trabalho vocifera aos quatro cantos que a fila no atendimento do INSS é um fato absolutamente normal, instrumento que reforça a malignidade perversa de nossos governantes, esses da fila vão morrendo, enfraquecidos, pauperizados, desmilinguidos. Toda essa desmoralização do STF é apenas um jogo da contabilidade política em busca de seus resultados, em geral nocivos a população e corroborador dos vícios acumulados pelo Estado. Não se trata de instaurar a ausência da governabilidade, como se estivéssemos vivendo nos primórdios do capitalismo selvagem. O problema atual é a gestão apenas em causa própria, aliada a um desligamento da realidade e de seus desafios, para além das bravatas, bazófias e ridículos.

A tese de Revisão de Vida Toda, votada em 2022 foi considerada acertadamente como Constitucional pelo STF e correria paralela a nova regra, a do Sistema Previdenciário. Sem entrar em detalhes quanto as vantagens e desvantagens de cada uma, faz apenas dois anos da decisão Suprema. A puxada de tapete realizada no dia 21 de março desse ano de 2024 dá uma amostra do grau de insegurança jurídica em que o país se encontra. Um verdadeiro bundalelê, uma instabilidade legal que nos deixa sem lei, mesmo na última instância a quem deveríamos mais confiar.

Mas afinal, o que de fato mudou nesses dois últimos anos? Basicamente a lista de juízes do STF. No caso, saíram três, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Marco Aurélio que votaram favoravelmente ao direito dos que contribuíram antes de 1994 de calcularem seus proventos com base nesses rendimentos anteriores. Entraram os novinhos, entre eles alguns débeis mentais que sobrepuseram o argumento de “Economia do País” em detrimento do benefício de direito da população. Uma tese sem parâmetro algum essa história de “Economia”, justo de quem mal utiliza o dinheiro público.
Se quiserem colaborar com a economia do país, reduzam a ineficiência das atividades públicas, onde só essa semana tivemos notícias escandalosas, tais como uma Cidade da Polícia de onde foi roubada uma máquina capaz de produzir 2.500 cigarros por minuto, com mais de 5 toneladas, só transportável de caminhão, de um galpão dentro dessa cidade em pleno Rio de Janeiro. Máquina essa apreendida pela polícia em Duque de Caxias, pouco tempo antes. Não há registro em câmeras, as câmeras funcionam atualmente em regime descontrolado, embora o poder público venha diariamente anunciar que fez investimentos da ordem de 2 bilhões de reais em segurança no Estado do Rio de Janeiro.

Há muitos buracos por onde os recursos públicos escoam, sem tratamento adequado, e aí, aparece uma nova turma de juízes no STF para desfazer uma regra legítima e retirar direitos adquiridos, de forma retroativa? Um Escárnio, ao qual devemos agradecer a soma do velho com o descarado. Prejudicar aposentados é um ato covarde. Manter na fila equivale a uma sentença de morte, no estilo kafkiano.

O ano? 2024. Os votos couberam a Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Carmen Lúcia, Kassio Nunes Marques, Luis Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

Ricardo Lewandowski, se tornou Ministro da Justiça, no lugar de Flávio Dino, que se tornou juiz do STF, num troca-troca funesto, de um político que se diz comunista e votou contra os aposentados vulneráveis. Fico me perguntando, imagina se não fosse? A juíza Rosa Weber, que se despediu da casa incensada de homenagens, mal sabia que em seu lugar apareceria um jovem ambicioso de nome Cristiano, conhecidíssimo por defender causas e ganhar, não só elas, como muito dinheiro de quem tem pra pagar. Não será o caso dos prejudicados pela sua decisão contra o interesse do povo trabalhador.

Ao se juntar aos recentes colaboradores da precarização e quase extinção do Sistema Previdenciário brasileiro, os juízes que de 2022 para cá substituíram seus pares cometeram dois pecados capitais: traição de uma cláusula já votada por puro casuísmo, coisa de mal perdedor e fabricaram um novo bicho na sala do STF, o ornitorrinco jurídico, um híbrido que nenhum estudo biológico vai conseguir explicar na arqueologia jurisprudente para o futuro. O Brasil é uma piada, e tudo isso se deu a luz do dia, sem maiores debates acalorados ou veiculação substantiva por parte da imprensa especializada. Foi apenas uma notícia, acumulada entre tantas outras, sem o peso da relevância devida, que encontramos em episódios como os que envolveram a rasteira dada por Macron no Legislativo francês, e que levou a população inconformada com os termos da mudança na Previdência de lá a manifestações de rua contra a visão financista de um agente de banqueiros.

Você não morreu, que pena para o Governo Federal, que terá que arcar com o direito Constitucional da sua aposentadoria, já que meteu a mão no seu salário ao longo de toda sua vida. Te roubou por toda a vida, mas não calculará o que lhe deve com base nisso. O cálculo por toda a vida da sua previdência acaba de ser eliminado por uma votação extremamente polêmica, sem qualquer veiculação pela imprensa ou mobilização de sindicatos, entidades de classe, sociedade em geral. Prova cabal da destruição dos pilares da proteção aos vulneráveis, no caso idosos em idade de aposentadoria, que se tornarão mendigos, para que o governo deixe de tirar do bolso 500 bilhões de reais.
Juízes sem qualquer tipo de preparação específica, baseando a decisão no estado falimentar das contas públicas, inchadas e ineficientes. Em lugar de buscar corrigir erros crassos da administração pública, um bando resolve atingindo inocentes que passam a ter seus direitos capados.
Muita miopia.

UMA LETRA, DOIS NÚMEROS, SORTE DOS BILHÕES

O nome da empresa é A24. Um tanto quanto enigmático, pode estar envolvida em qualquer atividade de negócio, embora siga o estilo de coisas como a B52. O valor de mercado desse grupo empresarial do setor audiovisual é de 2,5 bilhões de dólares. Nada mal para quem ostenta um perfil de marca de bastidores, ligada a projetos cinematográficos inovadores, garantindo uma independência em relação aos grupos maiores.

Sai de suas entranhas, produções como Uncut Gems, e a série Beef, já disponível no Brasil com o nome de Treta. Na sua cesta de filmes só vale cinema arte, fora das fórmulas batidas e rentáveis Blockbuster e franquias. Pois se nosso ousado artista plástico sugeriu um figurino com caralhos voadores para uma performer de termas, foi em Dicks: The Musical que a A24 teve a ousadia de colocar no ar uma polêmica xoxota voadora. Dá pra sentir por aí que a linha de atividade desses empreendedores não tem nada de conservadora.

Mas então, como ser uma gigante, mantendo um coração de criança? Da parte que nos toca, com lançamento previsto, sairá um dos melhores filmes da leva de 2024, com a atuação de um notável brasileiro, Wagner Moura, em Civil War. Mais um drama distópico na carreira. Já a entrada para o mundo da produção para o universo NFL parece não ter dado certo, perdendo o negócio para a Skydance Media, que parece ter ido além, ao oferecer um contrato de joint venture, criando assim uma empresa de mídia com alcance internacional. É outro papo. É fato que as ligas esportivas fortes já entenderam que na 1a camada é esporte, mas o núcleo do negócio é mídia. E é pra esse lugar que elas estão se deslocando, para se tornarem animais midiáticos.

Nesse cenário complexo, onde produtores de conteúdo podem expandir e dar autonomia as suas produções, é estratégico ser independente na distribuição, garantindo acesso a mercados. Sabemos que a NFL estará no Brasil e segue para a Espanha, com partida já agendada fora do território americano. Tudo isso caminha junto e a A24 dançou, mas deixou nesse caso uma pista nas entrelinhas, vem um Tsunami por aí…

A produtora novaiorquina de Lady Bird e Euphoria, parece que mudará de ares. O Oscar fez bem a saúde financeira da ousadia, a legião de seguidores leais a marca garante uma reputação irretocável. Os caras fazem uma coisa diferente e isso se reflete no interesse de investidores milionários.

Do mesmo modo que Hollywood faz com seus produtos, gerando impulsionamento de outros tipos de produtos por anos, décadas, a A24 mantém em seu site uma série deles, prontos para alimentar seu público de uma forma criativa. Você se sente diferente dos outros, é uma tribo com alta chance de prosperidade na diferença, que ao mesmo tempo se identifica. A qualidade excepcional do selo A24 só encontra a Disney com a mesma reputação, em um mercado decadente para TV e encolhido para o cinema, hoje em torno dos 9 bilhões de dólares anuais, ainda abaixo do período da pandemia.

Os Fundos de Investimento possuem um papel crucial para a alavancagem de certos negócios. Aconteceu que o aconselhamento de 27 milhões de clientes sobre empresas promissoras, baseado em análises de cientistas de dados com uso  de um software chamado Sonar, fez da Stripes o caminho para indicações da A24 não ao Oscar, mas ao acesso a grana de investidores que tem na consultora garantia de ganhos não menores que 46% ao ano.

O Rotten Tomatoes que utilizo para acompanhar a situação do mercado de cinema americano e seus lançamentos, publicou um gráfico muito didático sobre a performance da A24 em relação a pontuação dos filmes da A24 nos últimos 10 anos. Além de aumentar significativamente o número dos filmes produzidos, a empresa possui mais da metade de seus filmes cotados acima de 75, o que a coloca num lugar que privilegia o valor do projeto para o público e crítica. Dali só sai coisa boa, o que acaba se traduzindo em resultado financeiro.

A análise dos riscos envolvidos numa aposta dessas aponta para apoios que consolidaram a A24 numa posição bastante favorável aos olhos dos investidores. Sua história não termina aqui, reserva uma extensão de possibilidades a serem compreendidas pelos atores de nossas produções audiovisuais, em seus desafios mais humildes. Utilizaria a modelagem como termo de referência a produção independente da cena Brasil, cuja mentalidade dominante é ainda impregnada apenas de um ideologismo que se basta, em lugar de ambições mais elevadas por parte de seus realizadores. Sem mercado fica na mão do estado palhaço, subserviente e domesticado.

O resultado na conta bancária não é fruto da sorte, o valor em bilhões não vem de uma loteria aleatória. Há propósito, objetivos e princípios, escolhas dirigidas a dar certo e prosperar. É uma dinâmica muito diferente da que assistimos em nossa realidade, e mesmo nos EUA, na produção audiovisual. Voltarei a isso em outra oportunidade.

 

DIREITO A INFORMAÇÃO PÚBLICA E A PRIVACIDADE CIDADÃ

Para os que não sabem, o Big Brother era um personagem do livro lançado em 1954, pela Editora do Pinguim, do autor George Orwell. Uma descrição romântica dos regimes totalitários, onde a vida das pessoas era vigiada até mesmo em seus pensamentos e intenções mais românticas. Chegamos lá, e por isso não acredito que o que está escrito na Constituição vá mudar para o maior número de casos, o que está acontecendo. Digo isso com base em duas observações.
A primeira delas vem do Departamento paralelo criado pela Odebrecht em seu propinoduto institucionalizado e exportado para Colômbia, Peru, entre outros. Somos os maiorais nisso. A segunda pela completa ausência de privacidade dos dados de nossa população, completamente vulnerabilizada por empresas estrangeiras de TI.

É sabido sobre a péssima qualidade da informação pública no Brasil. Motivos não faltam, num lugar onde a maquiagem dos dados públicos e privados circulam como escândalos por todas as formas de comunicação, veículos ou redes sociais, rodas de bar. Há muito que se deve também a tradição da Lei do Silêncio, essa sim, praticada nos meios onde impera a opressão pelo terror. Se contar morre, dirá o lado mais forte que nunca se impôs pelo uso de códigos existentes na Constituição. Há lugares onde somos uma espécie de Haiti, sem qualquer vestígio da presença do Estado e da coisa pública. Isso contraria a música “O Haiti não é Aqui”, sem margem a dúvida.

Se considerarmos essas premissas, antes de olharmos para a legislação vigente, veremos que ela se tornou uma espécie de capa da invisibilidade do Harry Porter, uma vez que é algo só pra inglês ver, sem que haja qualquer possibilidade de existir, a não ser como ficção. Senão vejamos, a começar pela Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527/2011, que deveria dar ao cidadão direito a realizar uma consulta sobre alguma questão de seu interesse junto ao setor público e ser prontamente atendido. Simplesmente não acontece. Esse ano mesmo, decidi fazer uma experiência das mais simples sobre o tema, dirigindo uma pergunta sobre nomeações a ao legislativo de determinado município. Como simples cidadão, esquece, você será tratado como inexistente.

A questão é como promover o monitoramento da sociedade sem que a informação seja aberta a todos. Com nossas estruturas públicas em ruínas, os recursos e até mesmo os canais para processar abusos em andamento, o que acaba acontecendo na prática são as matérias que a imprensa faz de maior repercussão, tal qual o caso desse mês de março, sobre a realidade pavorosa dos Hospitais Federais no Rio de Janeiro, um verdadeiro sumidouro de dinheiro. Isso não é de agora. Lembro-me de um hospital uma rua atrás da casa do meu avô, onde o último andar recebeu centenas de equipamentos comprados numa dessas licitações, e que ficaram por lá, abandonados, sem uso, dava para ver do quintal. Meio século se passou, nada mudou. A não existência de garantias ao uso e a medição de performance das receitas aplicadas é que corrigem esse tipo de ocorrência. Só a Lei de Acesso a Informação não resolve.

Tenho amigos que andam por aí, evangelizadores da moda do “compliance”, ao qual a Petrobras aderiu forçosamente após o escândalo da LAVA JATO. O ajuste realizado serviu apenas para a adoção de medidas extremas absurdas, como a que vimos de remarcação do preço de venda diariamente, como se a empresa fosse a própria Bolsa de Valores, um descolamento da realidade e desconhecimento de nossa história inflacionária. Na outra ponta, a turma dos preços artificializados, que acabam de decidir pela não distribuição de lucros aos acionistas do negócio. Os governos se sucedem, fazendo o que bem entendem, segundo suas vontades, numa terra sem  lei. Repito, o Haiti também é aqui.

No que diz respeito ao direito a privacidade, estamos muito pior. Primeiramente porque do ponto de vista da segurança dos dados nacionais, cansamos de ter provas de que o Brasil está de calça arriado. Não me refiro aos hackers, pois aqui, até o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário tem suas vidas invadidas, para uso político de outras nações, notadamente os países que dominam as tecnologias. A disputa por essa hegemonia passa por países como EUA, China, Israel, Alemanha e Rússia.

As empresas privadas tem dado provas de que invadem e deixam invadir os dados pessoais de acesso não autorizados. Ou seja, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD (Lei no 13.709/2018), também é outra obra do surrealismo colonizado de nossos evangelizadores, feita para inglês ver, sem qualquer chance de ser implementada em benefício da população pelos próximos 300 anos. Fui testemunha de pontos de venda de CD’s com os números e dados de CPF e renda de todos os brasileiros, em calçadas do Centro do Rio de Janeiro. Já tivemos gente ganhando dinheiro com isso, e causando prejuízos a inocentes, cujos golpes se multiplicam de centenas de novas formas. Há notícias de centrais de tele-atendimento instaladas com essa finalidade. A privacidade é uma palavra que não existe em um país treinado para ficar 24 horas por dia assistindo a vida dos outros, inexpressivos ou não, no BBB.

São 24 anos de invasão de privacidade acrítica, com um formato inventado por uma empresa estrangeira, a Endemol, comprado pela 3a maior do mundo que é brasileira, capaz de comandar o comportamento da população, que nunca ouviu falar do livro que deu origem ao Grande Irmão, de uma sociedade de controle de um projeto de penitenciária onde nada passaria desapercebido. Ao reverso disso, nossa sociedade civil encontra-se monitorada pela ABIN, que localiza pessoas de opiniões divergentes da do governo, para eliminar suas presenças na vida pública, ou coisa pior. Enquanto isso, nos presídios de segurança máxima, nenhuma câmera desvenda o mistério da fuga de dois prisioneiros que custavam 35 mil reais por mês ao Estado, dinheiro esse retirado dos impostos pagos por todos nós.

É uma invertida pesada, se liga nessa e sai da hipnose. Você acha que os responsáveis pelas ações invasivas vão ser penalizados ou ganharão o direito de se eleger para postos do alto escalão, por em uma estrutura de podres poderes, recompensa por suas ações?  Aí são mais 300 anos pra sua privacidade ser resgatada.

Dedico esse texto a um amigo que se propôs humildemente a ser o protetor dos dados do Cristo, e se esqueceu da frase de Einstein, que afirmou “Deus não joga dados”, enquanto formulava a Teoria da Relatividade. Pode até ser que não, mas no Brasil, os dados de Deus foram parar no Cassino, que são as casas de apostas online. O resto é folclore.

AS OGIVAS DE PUTINHO E O FUTURISMO DE DUNAS

A imagem acima me fez lembrar da capa do disco do Tom Zé, na capa do seu disco Todos os Olhos, gerando polêmica e dúvida sobre se era um olho do cu ou uma bola de gude. O monstro das entranhas das areias repletas da substância mais poderosa e alucinógena das galáxias, tem uma boca que trouxe essa lembrança. Dunas é uma experiência psicodélica, semiótica de extrema visualidade.

O conflito nuclear e o fim de nossa civilização como destino da humanidade era uma ameaça até o início da década de 70. O que nos salvou da destruição completa da Guerra Fria e permitiu que os acordos de controle e redução de armas nucleares prosperassem foi o jogo de baralho. Acabo de sair de uma casa onde se joga buraco fechado, modalidade escolhida por quem joga pra valer. Foram os estudiosos de poker que desenvolveram a Teoria dos Jogos, utilizada para as negociações daquela ocasião. Um dos privilégios da minha vida foi assistir uma palestra do Ganhador do Nobel de Economia responsável pela salvação do mundo, justo numa época em que foliões do apocalipse vivem e rezam para que ele chegue ao fim e possam ir morar no Paraíso. São os fanáticos, sempre eles, bombas vivas em busca da morte.

Paraíso. É assim que termina a parte II do filme Dunas adaptado por Denis Villeneuve. Uma Odisséia extraída de uma coletânea de livros, que quase comprei no stand da Editora Aleph, na Bienal do Livro de 2023, belíssima edição limitada. Escrito por Frank Herbert cuja frase “Não acredite em líderes que estão sempre certos”, atira na cabeça dos atuais.

Faltaria-me fôlego para a leitura, preferi esperar pela liberação do filme e deixar as naturais reclamações de quem lê para depois, uma vez que a parte I havia atendido as expectativas bem acima do esperado. A história é um tratado shakespeariano, com todos os requintes desse que foi o maior criativo sobre dramas humanos de natureza familiar. Aplicar sua dinâmica na leitura dos acontecimentos do mundo exige um grau de cultura acima da média. A obra literária tem o poder de emprestar essa força aos cineastas mais competentes. Foi o caso aqui do canadense Villeneuve com sua iMAX em plena pandemia.

Assistir ao filme é como estar assistindo aos noticiários dos jornais do mundo em que vivemos. Conflitos por todos os lados, disputas de poder envolvendo gerações e gerações e seus sucessores, ameaças e violências da pior espécie e aquela certeza de que o amor não combina com a imposição pela força que deve ser exercida por quem almeja ardentemente o poder. É sobre isso que os telejornais e o filme tratam nesse final de semana.

Criar mitologias, inventar personagens com o poder de destruir o inimigo e dominar o mundo pela causa que criam, produz seguidores, seja no futebol ou nas nações e empresas por onde vivemos. Onde foi parar o modelo ganha-ganha dos amigos do baralho? Os grupos sociais atuais, se desenvolvem em sua maioria em torno de seitas e crenças onde as paixões de vida e morte se confundem. O resultado é a morte de inocentes, que estão na roda, acabam pagando o pato. Há também os necessários buchas dos canhões explodindo gente e pólvora.

Escrevi pólvora, mas depois de Oppenheimer, devo passar a escrever em seu lugar Ogiva Atômica, que significa um objeto de forma cilíndrica, com lados iguais e com um vértice na forma superior. Uma bomba, bala de canhão ou revólver tem esse formato, daí o uso equivalente da palavra. Quando criança, ao apontarmos para um amigo sacana – desses que adorava peidar bem fedido – dizíamos que ele soltava bombas, ogivas. É bem isso que estamos assistindo acontecer na atualidade.

Um bando de peidões no poder. Essa é a cena que se multiplica, todos ameaçando não poupar as vítimas de suas podridões mentais, e do cheiro fétido e sulfídrico que emana de suas entranhas, fazendo multidões sofrerem. Tem sido assim. A questão é, portanto, como neutralizar essa epidemia anal das lideranças que se impõe na ordem planetária. Não cansamos de ver, vez por outra um ditador como o da Coréia do Norte, ameaçando usar a bomba atômica como forma de solução para conflitos.

Era de se imaginar que ao enfrentar a sua fraqueza no espelho, em outros quesitos, o super-man Putinho, que acaba de superar Stalin no poder, eliminando a oposição a sua visão retrógrada kgbista, se apoiando inclusive  no obscurantismo de lideranças da Igreja Ortodoxa da Rússia, tenha se tornado o homem mais peidorreiro do mundo. Ao declarar que não abriria mão do uso de suas ogivas, como forma de dissuasão em caso de conflito, o Putinho ganhou essa condição de Prima-dona do Apocalipse. Assim se elege Ad aeternum. O neoczarismo é basicamente isso.

É nesse capítulo que Dunas e a História Humana se encontram, um épico antigo que roda em círculos, pelas mãos do súbito retorno de uma cena da tragédia em que já estivemos, renascida das cinzas, aparentemente superadas, só que não. Ela volta a ser incensada pelos esses seres, donos de ressentimentos não tratados, com feridas abertas, em busca apenas de vingança e músicas no estilo Old Times da Rádio 98 FM. Ver o mundo rodar usando essa ótica tornaria nosso futuro inviável, e o presente prestes a acabar. A doença se espalha, o visível interesse em promover peidões é inexplicável mas existe. Um deles passou ontem bem ao lado da minha casa, se dizendo vítima e perseguido pelos inimigos políticos. Tudo invencionice barata e safada. Não dedico meu tempo a saber como se tornaram isso. Faço aqui como Galileu, não me interesso pela origem das coisas, mas pela medição de seus efeitos, pois só assim poderei atuar sobre eles.

Os 26 anos de poder almejados, são um incentivo a destruição das democracias no mundo e ao retrocesso a formas passadas nada participativas de poder. E as Guerras Santas, o Nacional Socialismo (Nazismo), fazem parte dos capítulos mais hediondos da história. Chegamos nesse lugar, de onde nunca saímos, as ogivas e os peidões estavam apenas guardados em uma caverna. Nem o deserto ou Jesus nos salvarão.

ONDE COLOCAR O BILAU DO DAVI DE MICHELANGELO?

Ao olhar para o bilau da estátua de Davi, é provável que muitos se recordem da frase “tamanho não é documento”. Quero dizer que esses estão completamente enganados. Tamanho sempre foi documento, mas de uma outra perspectiva. Entre os latinos se utiliza muito a expressão “bater o pau na mesa”, como referência de poder.

É no mínimo curioso, pensar que uma estátua com mais de 5 metros e suas 8,5 toneladas, feita a partir de um bloco de mármore, com o propósito de simbolizar a próspera cidade de Florença, tenha sido esculpida por um jovem de 25 anos, Michelangelo, com a benção de Leonardo Da Vinci e outros notórios que escolhiam verdadeiros talentos para difíceis tarefas. Uma obra para defender um lugar, que se tornaria a maior referência para a arte moderna, a primeira do gênero. O gênio-artista, inserido no contexto da Renascença é um dos incomparáveis da história. Fico me perguntando, como a igreja daquele período entre 1400 e 1550 se tornaria a seguir tão careta.

O fato é que coube a 30 cidadãos Florentinos, incluídos aí vários artistas, dentre os quais Leonardo da Vinci e Sandro Botticelli, decidir onde colocar Davi e seu bilau. A dúvida era grande, e no início havia pelo menos 9 opções, nenhuma delas o seu ou o meu recanto sagrado, santuário doméstico. Sobraram duas fortes concorrentes. O teto por onde passeiam os gatos, ou a entrada do Palácio. Quem poderia imaginar nos dias atuais alguém ter a audácia de colocar um bilau na entrada, por exemplo, do Congresso Nacional? Impensável, tamanho o grau de cultura e conservadorismo existente em nossa realidade. O fato é que Botticelli foi mais longe e queria mesmo era que o bilau de Davi fosse parar na frente da Catedral, para chocar todas as carolas de plantão – ou quem sabe lhes oferecer noites com a imaginação ardente. Venceu a turma do Palácio.

A dimensão histórica da obra de arte de sua época nos levou a uma comparação entre os padrões estéticos separados por mais de 500 anos, quase a idade do Brasil. Me refiro as mudanças de preferências e adoções de padrões de tamanho. O grande e o pequeno seguem lado a lado ou em paralelo? Me parece que toda a influência no imaginário humano sobre a beleza erótica do bilau pequeno de Davi já foi ultrapassada. Afirmo isso sem pretensão a verdade ou a qualquer comprovação científica, me baseando apenas nas produções da indústria pornográfica americana.

A partir dela é fácil perceber a preferência pelos tamanhos grandes, no estilo kid bengala. Daquilo que se vê e se ouve, pode-se tirar muito pano pra manga nessa conversa de ordem estética. Para além dos tamanhos P-M-G dos respectivos objetos de desejo fálicos, naturais ou próteses, causa mais impacto na indústria audiovisual da pornografia as grandes proporções. Tanto é assim que entre as mulheres se espalhou o mantra sobre os seios grandes, as bundas enormes e as pernas volumosas.

É um outro tipo de concepção, onde volume é aditivado com no mínimo 500 mililitros de silicone, próteses ajustadas para as roupas, criando a sensação de glúteos enormes, e outros recursos decorrentes de muitas horas dedicadas a academias e ingestão de quantidades de substâncias coadjuvantes que não cabem no meu caderno. Tudo isso é parte do pacote do grande como símbolo de poder, mesmo que seja fruto de enorme esforço para modificar o rumo do rio, o movimento e fluxo das coisas, pois a ideia de se aperfeiçoar, como uma escultura viva de si é um conceito artístico individual. O problema aqui é ser cópia de um outro, sem autenticidade ou assinatura própria, seguidores de padrões impostos por uma ditadura estética do sucesso.

Complicou pra muita gente, o bilau do Davi de Michelangelo perdeu, pode ser que eu e você também.

 

 

 

 

 

A TEIA DA SOBERANIA E O TIK TOK


A dependência tecnológica é um assunto estratégico ao extremo para as nações que atingiram status de potência. Que o diga o filme Oppenheimer e a submissão japonesa após os dois cogumelos atômicos em suas cidades. Mais recentemente, as disputas se instalaram também no território da informação, onde hardware, software-plataformas e dados passaram a representar uma vantagem competitiva para realizar um outro tipo de dominação muito mais sutil, em relação a outros povos e culturas.

Em anos recentes foi a vez da Huawei, empresa pioneira na tecnologia 5G, sofrer ataques e acusações sobre a infiltração de componentes de espionagem em seus produtos de infraestrutura, ter CEO preso e outros ultrajes decorrentes dessa guerra envolvendo a hegemonia nas telecomunicações. Em 2019, quando estive na Flórida para experimentar a transmissão com 5G para eventos esportivos, a Apple nem pensava em lançar seu iPhone com essa tecnologia, atrasada como sempre nesse item, embora dona do status no design e ecosistemas proprietários de seus bem sucedidos produtos. Foi nessa mesma ocasião que me dei conta de um novo player dominante no mercado das redes sociais chamado TikTOK. Isso, se deu, paralelamente ao acompanhamento do impeachment votado pelo Congresso Americano contra o então presidente, que não deu em nada, parte da campanha fora de época, que hoje todos chamam de “perseguição política”. Dá votos e cria o clima da polarização que hipnotiza as massas, que acabam esquecendo de observar o tamanho das incompetências em andamento.

No aeroporto de Miami, a quantidade de anúncios eletrônicos com a marca TikTOK chamava atenção, dominava o ambiente, envolvia muito dinheiro em marketing. De fato a adoção da plataforma criada na China possuía atrativos que recuperavam muitos elementos da dinâmica de interface que passaram a atrair os mais jovens, uma nova geração de usuários, que em breve se tornariam eleitores. E se tornaram.

Em 2024 o número de 180 milhões de usuários de TikTOK nos EUA já coloca a soberania da nação – seja lá o que isso signifique pra você – nas mãos dos mandarins, especificamente alojados no Partido Comunista Chinês. Isso porque, tal qual a PETROBRAS no Brasil da Operação Lava-Jato, e mais recentemente no caso da distribuição de lucros para acionistas, quem manda no Tik TOK é o governo. Lá de Pequim, a empresa responde pelo nome de ByteDance, então o melhor a fazer é não comer mosca pra não dançar.

Essa é a cortina de fumaça que levará o Congresso Nacional a votar por uma lei que impeça a empresa chinesa de ter seu aplicativo disponível para ser baixado em alguma das lojas dos EUA. Isso seria, na prática, o fim da atuação do TikTok em território americano. Esse era o desejo de Trump anos atrás, eu disse era. O candidato a eleição esse ano virou casaca, mudou de time, após uma conversa com bilionários americanos que na verdade são os donos do TikTok na China. Complexo isso não?
Para se entender essa teia, teríamos que ir até Henry Kissinger e ver como os EUA colonizou industrialmente a China, detentora do maior contingente de trabalho escravo do planeta, mas não vou fazer isso com vocês. Fiquemos com a soberania dos EUA.

A votação de quarta-feira conta com detalhes de última hora e muitas cartas marcadas nesses últimos dois anos. Há o jogo de cena. Há a concorrência entre o Facebook e sua Meta, que agora Trump acusa de ser a pior empresa do mundo, que faz mal ao povo americano. Cena contraditória, sabemos que o dono da Meta, é trumpista e apoiou explicitamente o candidato. O problema do ego entra no jogo, Trump teve suas contas de Facebook, Instagram, Twitter, bloqueadas em plena campanha eleitoral. É certo que com esse poder midiático teria ganho as eleições com sua linha extremista hater de atuação. Não vai perdoar, criou a rede social dele, ter o TikTok para fustigar as redes sociais americanas é parte de uma complexidade nos bastidores. Uma vela pra Deus outra pro Diabo.

Não paramos por aí, as redes sociais causam prejuízos a indústria de conteúdo de TV, fortes aliados fazem parte da dinheirama jorrando e dos interesses econômicos em torno da candidatura de um homem do mundo dos negócios. Para Binden, é uma questão de subscrever o que o Congresso votar. Trump é parte interessada nesses negócios midiáticos e representa interesses a favor e contra, sem pestanejar.

A conversa sobre soberania esconde apenas uma Guerra Comercial, que em meus bons tempos de Escola Superior de Guerra chamamos num documento escrito a seis mãos de Da Bipolaridade Militar a Multipolaridade Econômica. Todas as guerras do último século e todas as bombas acionadas nelas tiveram como ponto de partida e ponto de chegada motivações de ordem econômica.

O TikTok, ou ByteDance é de fato um negócio da China, o boi de piranha da vez. A legislação americana afetará de algum modo a forma como as redes sociais serão utilizadas no Brasil. Copiaremos com tudo, enfiando no traseiro a sina de colonizados de plantão em Brasília. Copia e cola mano.

E O OSCAR VAI PARA… CHEGA!

Vivemos uma era de equívocos irreparáveis e indesculpáveis. Um deles, cometido em Portugal, foi o de achar que o fim da Ditadura que os patrícios viveram daria salvo conduto e direitos infindáveis para se fazer o que bem se entendesse com a coisa pública. Nem só dos 50 anos da Revolução dos Cravos vive o homem, e esse acaba sendo o problema do voto ideológico: ele se basta. Foda-se a sociedade e o que ela pensa a respeito do governo que você, no poder, decide por exercer. Mas uma hora a casa cai. E caiu, justo no dia da entrega do Oscar…

Não adiantou essa babaquice de apelar para o voto útil. A galera desiludida e que viu a corrupção e outros bichos se tornarem um cancro para a população, cruzou os braços e deixou os responsáveis amargarem uma derrota, ainda que tardiamente, uma vez que já acontecida em outros países da Europa.

Vamos falar a verdade, a população está muito de saco cheio dessa política da turma do blá, blá, blá, seja aqui ou acolá. A classe política sofre das piores mazelas. Finge que não vê o que não lhe interessa, como se não assistisse documentários como o “Uma Verdade Inconveniente”. Prefere se azeitar de auto-elegias, se locupletar de feitos que envergonhariam aos candidatos ao inferno.
A alternância no poder é o mínimo.
O Partido CHEGA!, aparece tardiamente na realidade de Portugal, reeditando o Movimento 5 Estrelas da Itália, que na ocasião teve o comando de um humorista. Os cidadãos insatisfeitos, uma legião de jovens anti-sistema, cresce por toda parte. Estão entre nós.
Ops, mas peraí, nosso papo de hoje era sobre a premiação dos filmes e produtores da indústria do cinema? Sim, mas o aperitivo na Península Ibérica explica bem o tom político da cerimônia nos EUA. Leiam até o fim e me digam se não tenho razão…
O Oscar de melhor filme estrangeiro é sobre o Holocausto, baseado em livro. O livro como base para qualidade da produção audiovisual é uma consequência natural do fato, a história validada em livros onde a palavra basta. Por isso a Livraria Travessa tem sua vitrine desse mês com livros sobre ou transformados pela 7a arte.
Escrever um livro é um exercício de consolidação. Zona de Interesse está bem dentro do que estamos vendo acontecer hoje, com nova roupagem e muita maquiagem, em mais de 160 zonas de conflito no mundo. Começo com esse petardo político, que abre as feridas em torno das atividades de Estados que não fazem qualquer cerimônia em utilizar métodos hediondos para exercer seu poderio.
Pulo para uma praia mais leve, e como fã de Godzilla, sou suspeito pra elogiar, mas o orçamento apertado e a criatividade no método utilizado por uma equipe muito reduzida, são dignos de menção, já que o bicho está com a mesma potência de uma bomba atômica, em termos de destruição e essa imagem não para de ser usada para ameaçar a humanidade pelos humanos com cérebro godzilescos. Godzilla One vai para a 1a prateleira dos filmes de melhor efeitos especiais, sem grana, japonês tem know-how nisso faz tempo.
É curioso que o documentário sobre PROIBIÇÃO DE LIVROS, o ABC…, esteja contando uma história tão impossível de se acreditar, mas que é parte da nossa triste realidade: livros proibidos. Ao falar de um lugar antigo, onde queimaram livros, juraram de morte escritores e outras atrocidades. Não ganhou Oscar, mas ABCs of Book Banning deve ser objeto de nosso interesse, quando o assunto é censura.
O 1o Oscar da história da Ucrânia infelizmente é um documentário jornalístico sobre uma Guerra impensável, tecida ardilosamente e que aconteceu. O “20 Dias em Mariupol” é sobre a insanidade humana não resolvível. Nos auto-destruiremos. Se os 20 dias deram Oscar imaginem os dois anos de Guerra ou os últimos tempos em Gaza são capazes de revelar, sobre a crueldade entre humanos?
Mas o texto mais inteligente e bem elaborado pelos  apresentadores da noite coube a entrega do Oscar de melhor som. Que viagem no improvável, causada pela impossibilidade de usar palavras para falar, quando o assunto é música. O desafio de ocupar o vazio, que é explicar o que se ouve, na premiação de Ludwig Göransson, um dos protegidos de Cristopher Nolan, o fazedor de estátuas. Nessa edição, o time hegemônico.
O Oscar esse ano fez o trocadilho – usei um recurso parecido pra criar o Oscar de Araque – e botou na roda a marca Mitsubishi com CARS em sua forma plural e explícita.
A música de um filme trágico, sobre bombas atômicas e Barbies é uma combinação no mínimo esdrúxula, demonstrando que nada mais faz sentido, nem precisa fazer. E o Ken, no seu show que mais parecia do Prince, fez a casa cair mesmo. É que a cerimônia vai deixando de ser para a mera entrega e vai ganhando cada vez mais contornos de um show que vale a pena assistir pelos intervalos. Digo isso para quem estará lá e para quem está em casa assistindo.
Já no estúdio do lado de cá, as apresentadoras todas vestidas de Gala, como se fossem nossas representantes no Red Carpet. Por falar nele, todo ano fico de olho nos figurinos. Escolhi propositalmente o figurino da atriz premiada Emma Stone, de preço faraônico, produzido pela grife Louis Vuitton, deu ruim e virou tema da festa. Torci pro vestido da melhor atriz cair, quem sabe um arrependimento pela complexidade de um zíper!
“Para o bem ou para o mal, vivemos no mundo dele. Um projeto inumano. Um abraço aos pacifistas”
Foi a mensagem do ator ganhador do Oscar, dupla com seu coadjuvante.
Cristopher Nolan faz o hat-trick e agradece o amigo que lhe sugeriu o livro como roteiro, o que já eleva o status de leitores.
A gafe da apresentadora da TNT é coisa vergonhosa, de criança, dizendo que o filme a Lista de Schindler celebrava 50 anos com Spielberg. Só uma iniciante, sem matemática na cabeça ou falta de cultura cinéfila poderia dizer isso numa entrega do Oscar. É a prova do critério de seleção adotado em nossa época. O mérito não é a regra.

 

ELEITORES PORTUGUESES NÃO VOTAM

Era uma Revista Playboy, março de 1983, com a Christiane Torloni no auge de sua forma física, em meio aos turbilhões de fofocas sobre sua vida e seu divã, envolvendo o terapeuta que não resistiu aos seus encantos. Hoje em dia seria assédio. Lá pelo meio desse lugar onde jovens se perdiam, uma matéria sobre eleições… Como confiar nelas e neles? A classe política perdeu os escrúpulos que nunca teve, ou de fato o nível caiu muito nesses últimos capítulos? Se tornaram obsoletos, como os operários fabricantes de carros de Chaplin?

O título dessa nossa conversa está longe de ser uma piada de português, daquelas de mal gosto. O fato é que 50% DOS ELEITORES PORTUGUESES NÃO VOTAM, e você brasileiro, já deve ter ouvido falar que em alguns lugares do mundo civilizado, o voto não é obrigatório, nem o serviço militar, nem outras coisas menos nobres. É porque nesses lugares, já se entendeu que direito não pode virar obrigação. O dia em que direitos se tornarem algo que você faz a força, deixam de ser direitos e passam a ser deveres. Há lugares nos EUA onde 90% da população já deixou de votar faz tempo,  por bons motivos.

Mas, voltemos as terra de nossos patrícios. As eleições antecipadas em Portugal acontecem em meio a denúncias de corrupção, bem na véspera da Revolução dos Cravos. Os mais jovens, que nem sabem cantar “o cravo brigou com a rosa”, imagine se buscarão no Google a Ditadura pela qual os portugueses passaram? Com tudo apagado, e muito ceticismo, sobrou a janela de oportunidade para o discurso anti-sistema, padrão dominante na Europa, nos EUA, no mundo. São eles que vão ocupando o vazio político.

Pelas bandas do bacalhau do Porto e doces de Belém, 20% dos eleitores ainda não decidiram em que lado votar. Além desses, 40% dentro de suas opções partidárias ainda não decidiram que candidatos serão escolhidos. Esses números fazem das eleições um lugar de incertezas estatísticas, de imprevisibilidades e não aplicação de curvas de tendências. José Saramago não aprovaria? Como saber?
É importante lembrar que com esse trunfo na mão, vai ficar cada vez mais fácil para a bandidagem política que é capaz de qualquer coisa pelo poder, se auto-vitimizar, dizer que foi roubado e querer ganhar no grito, o que é bem diferente do caso PROCONSULT, dos tempos da Ditadura no Brasil, que tinha como objetivo fraudar o resultado das urnas que elegeram Leonel Brizola como Governador do Rio de Janeiro, que em 1992 simulou uma conversa por internet com o Primeiro Ministro de Portugal, .

A classe militar nunca lidou bem com o seu afastamento do centro do poder, o que é natural. O desmame é uma fase difícil, na vida de uma criança ou de qualquer animal selvagem. Décadas de estado de exceção e ditadura militar produziram certos vícios numa classe que se acostumou a mamar nas tetas do poder público, para muito além dos muros dos quartéis.
Deixar de lado toda forma de facilidade, instituída dentro e fora da caserna como se fora o quintal de casa, era uma hipótese inaceitável, tanto em 1982, quanto hoje. A dor do desmame ainda não passou, e não passará. Restarão apenas os eternos atormentados da caserna e as viúvas do período mais sombrio da história desse país. Nem terapia dará jeito nisso. O Univac 9480 que o diga, do alto das suas válvulas obsoletas.

O desgaste político perante a opinião pública de uma classe cada vez pior avaliada, colocam em xeque os sistemas de Estado vigentes ao redor do mundo, um mafuá da pior espécie, sem solução de médio prazo aparente. E isso interessa a turma do quanto pior, melhor.
Arrisca explodir, só não se sabe quando.

A CONTRARIEDADE DO AMOR


Sua obra Cem Anos de Solidão me deixou no ar, rarefeita que era a substância daquele enredo cheio de nuances abstratas, a que deram o nome de fantástico. Alguns trechos li e reli, puro prazer. Visitei a biblioteca com seu nome por algumas vezes e comprei um livro sobre o carnaval de Barranquilla antes de partir para Cartagena. Emprestado e nunca devolvido a Yuri Graneiro, que tenho certeza não o fez por mal, o livro explicitava a fuga da palavra dura da igreja daqueles que se interiorizaram para evitar o extermínio de suas ludicidades e rebeldias.
Mais tarde apareceu o amor. Gabriel escreveu o livro Amor nos Tempos de Cólera, que para meu gosto não chegou aos pés de sua obra maior. Decidi comprar em espanhol, Cien Años de Soledad, para ler mais uma vez qualquer dia desses. Estão lá, Soledad e Quixote, os dois mais significativos para minha limitada compreensão da qualidade literária espanhola.
O amor era de sua intenção escrever na velhice, segundo seu editor. Uma perspectiva de menor interesse aos mais jovens, mas era do que pretendia se nutrir para escrever. Agora, anos após sua morte, seus filhos decidem publicar o que o pai desautorizou. Um ato típico de herdeiros em busca da perpetuação da obra e do lucro. Já que o eternizado e morto nada mais apita, então só me resta exibir a capa da obra lançada em espanhol e que seguirá para o inglês num formato bem mais sofisticado de embalagem.
Voltarei ao assunto tão logo tenha lido ao menos uma parte do EM AGOSTO NOS VEMOS.