Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
Bertolt Brecht.
Uma foto no intervalo do almoço
Dois pés descalços estirados na rede
Dois pés descalços estirados na rede
Três passarinhos conversando ouriçados
Os ponteiros empurrando o passado arrastados
Seria um recorte de tempos amenos
Não fosse um ano de homens pequenos
E estivéssemos tão perto do fundo do poço
Onde embalam ventos de secura e calor
Só sopra cansaço
Falta ar
- e como faz falta um respiro profundo -
Porém, nessa rede em que faz-se um descanso
Na parede que improvisa um balanço
No futuro onde a gente se lança
Que deságua e se faz correnteza em ribança
Essa gente que gesta com coragem e leveza cada passo de luta e de dança
Sinto aquilo que chamam esperança
- ah... Veja como faz bem um respiro profundo -