A beleza e a adversidade em se compreender as homologias

Existe toda uma bagagem histórica de estudos biológicos, ecológicos e evolutivos no que diz respeito à como as estruturas se alteram. Cada passo ao longo dos anos, cada nova descoberta, cada nova contribuição de autores e autoras ao redor do mundo pintava uma nova figura no quadro do entendimento sobre como os organismos evoluem, como membros, estruturas e tecidos se alteram e sobre como nossa visão científica pode estar totalmente em desacordo com uma nova evidência recém apresentada.

Porém, como não podemos voltar no tempo e observar com nossos próprios olhos a mudança nos organismos vivos, temos que procurar métodos atuais para explicar como foi que “uma mesma parte” do corpo de um ancestral em comum originou diferentes usos similares. Peguemos como analogia o exemplo dado pelo autor e pesquisador Aaron Novick em sua publicação de 2018 intitulada como The fine structure of ‘homology’, ou em tradução livre, “A fina estrutura da homologia”. Novick cita em seu trabalho que tanto barbatana peitoral de um dugongo (um mamífero marinho parente do nosso peixe-boi amazônico), quanto o antebraço de uma toupeira (pequenos mamíferos que vivem no solo e cavam túneis para viver) e a asa de um morcego, ainda que aparentemente sejam extrema-mente diferentes e não relacionadas são, na verdade, a mesma estrutura, a mesma parte. Tratam-se de membros posteriores, ou como preferimos dizer, são “braços”. Ainda que eles sejam adaptados para diferentes necessidades, como nadar, cavar e voar, respectivamente, todos com-partilham a mesma origem ancestral.

Mas afinal, o que é homologia … Leia mais

Qual o lugar dos vírus na árvore da vida?

Para responder essa pergunta primeiro devemos entender, o que é a árvore da vida? Essa árvore se refere a uma filogenia que tenta recriar o antepassado de todos os seres vivos que já passaram por nosso planeta, incluindo as vidas passadas e as vidas presentes. Atualmente, essa árvore contém três principais ramos: os domínios Archaea, Bacteria e Eukarya, este último é o domínio onde todos os eucariotos, assim como nos humanos, estão incluídos. Mas onde estariam os vírus?

Atualmente em lugar nenhum. A história evolutiva dos vírus ainda é cercada por mistérios e incertezas, sendo que ainda é debatido se são seres vivos ou não. A NASA endossa essa visão, já que ela leva em conta que “A vida” é um sistema químico “auto sustentável capaz de evolução darwiniana”. Como os vírus não têm capacidade de se auto manterem por serem parasitas obrigatórios (organismos que necessitam de um hospedeiro para completar seu ciclo de vida), eles não são considerados por muitos autores como seres vivos. Mas isso não é um consenso, já que vários outros organismos que são considerados vivos também são parasitas obrigatórios.

Outro argumento sólido para a inclusão dos vírus na árvore da vida reside na sua significativa contribuição para a evolução de uma variedade de organismos ao longo dos séculos. Isso se deve, em grande parte, à ocorrência da transferência horizontal de genes, um processo pelo qual fragmentos de DNA de um organismo são transferidos para outro. Um dos exemplos mais notáveis desse fenômeno é o da … Leia mais

Você sabe o que são doenças autoimunes?

O sistema imunológico é uma rede complexa de defesa do corpo humano. Ele opera em várias camadas de proteção, sendo a primeira delas uma barreira natural. Essa barreira é composta pela pele, mucosas, secreções, flora intestinal e movimentos peristálticos. No entanto, se um antígeno1 conseguir superar essa barreira, entra em jogo a segunda linha de defesa, que inclui células fagocíticas, o sistema do complemento e a elevação da temperatura corporal. Além disso, existem respostas específicas, como anticorpos, linfócitos T diferenciados e células natural killer. 

As células de defesa têm a notável habilidade de distinguir suas próprias proteínas das proteínas estranhas (tolerância imunológica). Um exemplo disso ocorre durante a gravidez, quando o feto expressa proteínas do pai que são reconhecidas como estranhas ao corpo da mãe. Para evitar que o sistema imunológico da mãe ataque o feto em desenvolvimento, a camada uterina (decídua) inativa genes imunológicos, bloqueando a ação das quimiocinas2 que normalmente recrutariam células de defesa.

Porém, uma pessoa que apresenta uma DAI (Doença Autoimune), os anticorpos ou linfócitos T a depender do tipo da DAI, atacam os próprios tecidos sem motivo aparente. Estas doenças são uma falha na autotolerância que acometem cerca de 3% a 8% da população mundial. Estima-se que cerca de 30% das pessoas que possuem uma doença autoimune não tenham ciência disso.

Tais doenças podem ser classificadas como 1) sistêmicas: como a Granulomatose com poliangeíte, uma vasculite necrosante que acomete principalmente os sistemas respiratório, circulatório e urinário. Nessa doença, anticorpos destroem neutrófilos, células fagocíticas3 granulócitas, que liberam radicais livres … Leia mais

Volume 14, número 2.

Errata: No título do primeiro texto da edição, o nome da espécie ficou com sublinhado contínuo, sendo que a regra determina que o sublinhado deve ser separado. Desta forma, considerem a maneira correta Xenohyla truncata. Tal erro pode ser observado na capa e na página 1 da edição.… Leia mais

A origem do voo dos morcegos

Os morcegos são os únicos mamíferos conhecidos que possuem a capacidade de voar, são também os vertebrados mais rápidos a realizarem o voo horizontal, e possuindo em média uma necessidade energética maior, já que possuem maior mobilidade durante seus voos.

Esses organismos têm ampla distribuição, outra característica notável desses organismos é a sua capacidade de ecolocalização. Tal característica consiste na emissão de um barulho e a interpretação do retorno que este faz, conseguindo, assim, identificar e construir um mapa tridimensional do que está ao seu redor. Mas nem todos os morcegos utilizam dos mesmos métodos, sendo divididos em dois grupos, os que se localizam por meio de barulhos gerados a partir da laringe e os que geram barulhos a partir de estalos da língua.

Um dos grandes empecilhos para o voo é o limite de peso que os organismos podem ter, havendo relatos de morcegos com mais de 1 Kg (Acerodon jubatus). As aves contornaram este problema com seus ossos pneumáticos e sacos aéreos, já os morcegos desenvolveram diversas modificações, como o afinamento dos ossos e a substituição de diversos ossos por estruturas cartilaginosas. É provável que esse grupo tenha, então, desenvolvido a capacidade de ecolocalização e de várias formas de voo de formas independentes.

Existe a teoria de que o ancestral desses grupos fosse noturno, como era comum para os mamíferos de 66 milhões de anos atrás, com membranas interdigitais bem desenvolvidas, assim como o sistema auditivo, sendo originalmente planadores e posteriormente adquirindo a capacidade de voo … Leia mais

Você sabe o que é simetria corporal e como ela surgiu?

Se algum dia você já se perguntou o porquê a espécie humana tem dois braços, duas pernas, dois olhos, duas orelhas e assim por diante, você se questionou sobre simetria corporal. Simetria corporal é basicamente a característica de possuir igualdade entre algum plano corporal. Simplificando, se traçarmos 3 linhas em um ser vivo, sendo uma delas da cabeça aos pés, outra bem no meio (digamos altura do umbigo) e a última atravessada (passando pela parte de trás do ombro esquerdo e saindo na direção do peito do lado direito, por exemplo), e esse ser vivo apresentar semelhança entre as duas partes do corpo em pelo menos uma dessas linhas imaginárias, então dizemos que este ser vivo é simétrico. Existem diferentes tipos de simetria: bilateral (ex.: humanos), radial (ex.: estrela do mar) e esférica (ex.:bactérias), e é claro, existem os seres vivos assimétricos (ex.: esponjas do mar), que não apresentam igualdade entre os lados do corpo em plano algum. Não existe uma explicação 100% aceita do porque a simetria existe nos seres vivos, mas ideias como a de aumentar a complexidade corporal, melhorar a organização celular, permitir a junção de neurônios todos no mesmo ponto (cefalização e formação de um cérebro) e adaptações aos ambientes pouco favoráveis à vida podem ser citadas.

O fato é que os planos de simetria corporal surgiram há milhões de anos atrás. Isso é tão antigo quanto à própria existência da vida pluricelular. Pesquisadores acreditam que a simetria pode ter surgido mais de uma vez ao … Leia mais

Xenohyla truncata: A perereca jardineira das florestas

A polinização é um processo que consiste no transporte de grãos de pólen entre as flores, em que o grão produzido e liberado pela antera é recebido pelo estigma, parte da flor adaptada para receber esse pólen. Por meio desse processo, ocorre a reprodução das plantas, já que, por meio do grão de pólen liberado, o gameta feminino (oosfera) é fecundado pelo gameta masculino (anterozóide), gerando uma nova planta.

Ao pensarmos em polinizadores, é comum pensarmos nas abelhas, borboletas, vespas e até mesmo em morcegos, mas nunca em anfíbios. Seria possível existir um anfíbio polinizador? Aparentemente, sim! A Xenohyla truncata, popularmente conhecida como Perereca-Comedora-de-Frutas, vive na Mata Atlântica e seu nome popular já entrega muito sobre sua dieta. A maioria dos anfíbios é carnívora, se alimentando, principalmente, de pequenos insetos. Porém, estudos de análise estomacal de espécimes de coleções herpetológicas já haviam demonstrado que a dieta da X. truncata era onívora, ou seja, essa espécie se alimentava de insetos e também de pequenos frutos, além de outras partes da planta. Porém, até então, ainda não tinham sido feitos registros desse animal se alimentando na natureza.

Animais que se alimentam de frutas são considerados dispersores, já que, ao defecar, as sementes da fruta acabam saindo junto com as fezes, podendo ser levadas para outros lugares, o que auxilia no processo de reflorestamento. Isso faz com que o “se alimentar de frutas” já seja algo inusitado para essa perereca, mas não é só … Leia mais