Olá leitores!
Esta volta é excepcional. A gana ainda não voltou, nem a disposição para retomar os trabalhos por aqui. Há uns anos, virei a adulta que emite notas fiscais e fui procurar uma outra área de atuação para me manter. Só amor nunca bastou, nem pela profissão e tampouco para as relações da vida. Esta é a minha nova versão, com os efeitos benéficos da terapia semanal e quase nenhuma exposição pessoal.
No último sábado (11), embarquei numa aventura; entrei no DeLorean e me deixei levar pelo tempo, pelos anos. Assisti ao “20+2 Experience”, novo show do KLB após 7 anos de pausa na carreira deles. Foram horas em filas intermináveis no Vibra São Paulo - antigo Credicard Hall. Muitas horas em pé com direito a todos os perrengues que fãs adoram passar: cheguei no local às 14:30h e coloquei os pés em casa às 2:00h.
Este foi o meu primeiro evento em local fechado no mundo em que a COVID-19 ainda existe. A semana que antecedeu me causou uma extrema crise de ansiedade por conta das incertezas de como seria meu sábado, pelo frio intenso de São Paulo, uso de máscara… mas olha, tudo ficou bem. Eu estou bem e acho que passei no teste do retorno à vida - não tão - normal.
Eu tenho 31 anos de idade, agora. Meus dias de insanidade com o KLB me transportam direto para 2003/2004. Eu pagava 5 reais mensais para um fã-clube, ligava todos os dias para um telefone oficial deles e disputava em filas físicas (gigantescas) os ingressos para vê-los no extinto/querido Olympia. Nunca consegui estar pertinho, ficava sempre bem longe. Nem estive em nenhuma plateia do Gugu e da Hebe. É justo que agora possa satisfazer os sonhos de outrora.
E quem eu era naqueles dias? Sonhadora, romântica e muito mais ingênua do que hoje. Agora, sou adulta e tenho umas marcas que o tempo não conseguiu curar. E quem não tem?
Kiko, Leandro e Bruno também não são mais os mesmos. Todos têm suas parceiras, suas famílias. Também sofreram um perda irreparável. O pai deles, Franco Scornavacca, grande mentor do grupo, se foi há poucos anos e ainda é uma ferida aberta.
Mas por algum motivo, tudo pareceu igual.
Revisitei-me e me permiti ser a garota daqueles dias. Esqueci completamente o que deveria ou queria dizer para eles no momento da foto. Esqueci de me apresentar, de falar algo que fazia algum sentido. Eu sou uma adulta independente agora, mas por algum motivo, as mãos gelaram e o abraço em cada um deles falou mais alto do que qualquer script que eu poderia ter preparado.
Todas as letras românticas voltaram rapidamente, na ponta da língua, à medida que eles iam cantando a surra de hits que compôs o repertório e a passagem de som - exclusiva para compradores do Meet&Greet. Eu não ouvia essas canções há anos, mas elas estavam ali em mim, guardadas numa caixinha preciosa, com laços e sonhos adolescentes.
Quase 2h de show, telões enormes e tecnológicos. Não dava nem tempo de respirar, porque foi uma apresentação moldada na nostalgia inebriante dos hits dos irmãos. Um show feito para cantar junto, com toda a força. Não faltou nenhuma das importantes da carreira (“Minha Timidez”, “A Ilha”, “A Dor Desse Amor”, “Um Anjo”, “Ela Não Está Aqui”) e sobraram covers - que na minha visão crítica, apenas metade deles estaria de bom tamanho. Poderiam facilmente ser substituídas por excelentes do próprio repertório, como “Em Mim Só Dá Você” ou “Não Vou Desistir"… Dá para escolher!
KLB são os detentores do pop nacional dos anos 2000. O repertório é chiclete, consistente e de alto nível. A pausa deles diz muito sobre as vidas individuais de cada um, mas não podemos ignorar que o hiato coincide com o tipo de música que domina os charts atualmente. Dificilmente, você ligará o seu streaming favorito e encontrará algo tão bem produzido e com letras sensíveis como eles sabem fazer. Graças à aplicação de Kiko nos arranjos, ao competente Bruno que toca o baixo com perfeição e à voz de Leandro, um exímio vocalista que enfeitiçou todas as garotas da minha geração. Excelentes músicos, antes de qualquer outro adjetivo.
O DeLorean precisa descansar e estamos de volta ao presente, tentando construir o futuro. De volta à uma segunda-feira comum de trabalho.
A máquina do tempo trabalhará novamente, no final de outubro. Até lá, pretendo lembrar de dizer-lhes meu nome e de abraçá-los com o mesmo amor.
E quem pediu o retorno dos últimos românticos? Os 10 mil presentes na abertura da “20+2 Experience” em São Paulo devem ter a resposta.
Foto 1: Opus Entretenimento
Foto 2: Arquivo Pessoal