segunda-feira, 15 de abril de 2024

SISI CONFIDENCIAL (COISINHAS)

 


Olá, pessoal,

Apresento-lhes SISI CONFIDENCIAL (COISINHAS). É uma coletânea de quatro prosas. Sai da gráfica no fim deste abril. Mas o e-book já está no Amazon. Quer curtir as primeiras 25 páginas? Então entre no Google, digite Lojas kindle, vá em E-book Amazon e digite Tião Carneiro na lupa de pesquisa. A SISI vai sorrir pra você. Aí é só clicar na capa e abrir “Ler Amostra”.

Por gentileza, não se sinta pressionado para comprar. Fique à vontade. Inclusive para pressionar o botão comprar.

Vou colar o texto da contracapa, OK?

Abraços,

TC

CONTRACAPA

Confidencial é algo sigiloso ou que tenha caráter de confidência. E confidência é uma comunicação particular de segredos ou de intimidades. Daí que você já deve ter sacado que não posso falar muita coisa a respeito da Sisi Confidencial, posto contracapa ser de visitação pública, ambiente impróprio para segredinhos.

Para conhecer as particularidades da Sisi é preciso entrar nos quartos dela.

Chamo de quartos porque os textos estão numerados do primeiro ao quarto: primeiro um episódio policial, segundo um conto da atualidade, terceiro uma historinha com cheiro de novela, quarto uma novela com cheiro de historinha. Mas é bom ficar ciente de que vai se decepcionar caso esteja imaginando encontrar só confidências quentes. Mas também vai se decepcionar caso esteja imaginando encontrar só confidências frias.

E mornas?

Para ser sincero, nunca vi confidências mornas ou frias.

Todas são quentes, então!

E eu lá sei o que você considera quente, criatura?

Não vou lhe prometer nada no escuro.

Vai entrar nos quartos assim mesmo?

Então tá.

E sobre as “Coisinhas”?

Ah, gente, já viram confidências sem certas coisinhas?

 

 


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

VAMOS JOGAR? VAMOS APOSTAR?

 

VAMOS JOGAR? VAMOS APOSTAR?

A vida é um jogo. Ou viver é jogar, caso prefira verbos a substantivos.

“Grande verdade”, dirá você, assumido fã de jogos sociais, pois sabe que só consegue construir consensos se jogar o jogo da vida. O jogador joga.

“Grande sacrilégio”, dirá um segundo você, assumido fã de dogmas grupais, pois considera já construídos os consensos de seu dia a dia. O dogmático atira.

Analise o que certa senhora, uma fã do dogma religioso, falou pra mim:

“Comparar vida, dádiva divina, com jogo, mundanas matreirices, é a mais podre das heresias, Sr. Tião. Já que encarnado, prepare-se para arder nas vermelhinhas”.

Ela não usou exatamente essas palavras, mas disse isso com todas as letras.

Ficcionei essa senhora, gente. Ficcionei-a só para mostrar que o autêntico escrevinhador pé de chinelo adora montar jogo de palavras. E os monta com adjetivos, gerúndios, redundâncias, trocadilhos, prolixidades, literatices. Essas coisas. E outras. Taí uma coisinha que vou morrer com ela: autenticidade.

Agora, que viver é jogar, ah, isso é. Pensem no seguinte enunciado:

“Conjunto de procedimentos ou estratégias para atingir determinado fim”.

Essa é a definição de jogo da qual mais gosto.

Agora quero que pensem nas perguntas a seguir:

O que estão fazendo quando começam um relacionamento amoroso? O que estão fazendo quando entram num curso profissionalizante? O que estão fazendo quando abrem um negócio? E o que fazem para preservar a vida quando vão sair de casa?

Estão ou não estão usando procedimentos ou estratégias para atingir determinados fins? Estão ou não estão jogando o belíssimo e intricado jogo da vida? Pois! E jogar implica apostar. E apostar implica perder ou ganhar. Ganhos ou perdas emocionais, no mais das vezes.

Mas existem jogos em que todos perdem. Exceto a estupidez.

E existem jogos em que todos ganham. Exceto a estupidez.

Não existe empate no jogo da vida.

Ah, desculpem. Acabei esquecendo o jogo. Vamos apostar um livro?

Assim, ó. Vejam, ao lado, a capa dos meus últimos livros.

Por uma taça de vinho é um romance de 500 páginas cujas linhas e entrelinhas mostram a virtude da consciência, exibem o poder do sexo e expõem a potência da educação.

COISAS é uma coletânea de contos de 220 páginas cujas linhas principais são de expoentes da literatura brasileira, a exemplo de Machado, Veríssimo, Sabino, Drummond. As linhas secundárias, as logo abaixo das deles, são deste maluco aqui, posto ter alterado os contos desses caras por julgar mentirosas as versões escritas por eles.

Proponho-lhe o seguinte jogo.

Você manda um imeio para tcarneirosilva@gmail.com ou passa um zap para (84) 98800-1610 informando que quer um exemplar da Taça, ou do COISAS, ou dos dois, e me dá um endereço. Aí eu mando o seu pedido. Você só vai pagar ao motoboy da entrega ou as despesas postais, se for o caso. Mas assumo a despesa se estiver matando cachorro a grito.

Vejamos a aposta.

Vou apostar que você vai gostar de um dos livros. Ou dos dois. Aí, se gostar, você me paga. A Taça custa 60 reais. O COISAS custa 50 reais. Os dois saem por 100 reais. Você pode até estar me chamando de trouxa, idiota, mané, essas coisas, e outras, já que pode ter gostado e me dizer que não. Mas veja dois detalhes. Você não precisa me dizer que não gostou do livro. Seu silêncio é a resposta. Segundo detalhe. Não estou apostando com você. Estou apostando com a sua consciência. E a sua consciência com a minha benevolência. Espero que as rimas não tenham lhe dado sonolência.

Isso é sério de sério mesmo, Tião, ou é sério de jogo literário?

É sério de sério mesmo, gente. Mas se você é daquelas pessoas envergonhadas, encabuladas e tal, ou que acha que a aposta afronta o seu caráter, posso lhe dar uma dica mais formal, caso tenha ficado propenso a conhecer os livros. Você pode adquirir o e-book deles. Basta entrar no Amazon, e-book por uma taça de vinho – Tião Carneiro. Ou e-book coisas – Tião Carneiro.

É isso. Apertemos as mãos? Direita ou esquerda? Tanto faz. Sou bom de jogo.

sábado, 11 de março de 2023

MULHER, ADJETIVO FEMININO PLURAL (O milenar segredo) – 5 minutos de revelação

 




Quero me congratular com vocês, garotas, pelo festivo oito de março, o Internacional Dia De Vocês. Mas, para a congratulação ser autêntica, preciso lhes revelar um velho segredo dos homens. Trata-se de milenar e mesquinho acordo instituído pelo companheiro Adão.

Serei tachado de traíra pelos homens, mas já passou do tempo de passar essa história a limpo. Tô pouco me lixando se me chamarem de delator.

Bom, sabiam que o Dia Internacional da Mulher se originou de vergonhosa baixaria? A baixaria tem nome: inveja. Inveja, eis a palavrinha símbolo do acordo milenar. Vejam:

O presidente de nossa confraria, o Adão, convocou uma assembleia extraordinária para discutir “absurdo prenúncio de independência organizado pelas mulheres”. Após exaustiva avaliação de conjuntura, Adão anunciou a safadeza:

Sabem, colegas, tenho como modelo a líder delas, a minha senhora, a Eva. A Eva é danada de inteligente. Ontem, enquanto conversávamos, ela fazia a relação das compras, divertia-se com as brincadeiras da sobrinha e encantava-se com o cabelo de uma caminhante. Alguém aqui consegue fazer três coisas ao mesmo tempo? Ninguém, companheiros. Dar cordas a pessoas desse tipo é pedir que das cordas elas se apropriem e aprisionem o nosso braço-de-ferro.

O modo de vida da Eva é distinto do nosso. A Eva sente as coisas, compromete-se, apaixona-se. Alguém aqui age assim, por acaso? Devemos sentir inveja da Eva, pessoal. Precisamos puni-la. Punição que sirva de exemplo às possíveis lideradas.

O plano é este. Na próxima quarta-feira, oito de março, internaremos a Eva no manicômio do Dr. Frankenstein. A missão é sua, Enoque. Tome a ordem de coerção. Primeiro você a convida a ir ao consultório. Caso ela se mostre uma jararaca, você apresenta a carta coercitiva, ok? Já acertei tudo com o Fran. Só lhes peço, companheiros, que a visitem pelo menos uma vez ao ano. Não se esqueçam de levar flores vermelhas. Quarta-feira, cada homem terá de levar um buquê, certo? Podem apanhá-lo na secretaria.

É isso, gente! Está encerrada a assembleia. Amanhã, Matusalém, você prega a ata na portaria.

Contudo, a Eva passou longe do manicômio. Aconteceu o seguinte, garotas:

Matusalém, com infeliz ressaca, confiou a missão de fazer a ata ao companheiro Noé. Noé pegou o rascunho de Matusalém e leu este garrancho: quarta-feira, oito de março, dia da internação da mulher do Adão. O desastrado Noé, igualmente ressacado, passou o garrancho a limpo, prendeu a ata na portaria da associação e destacou a principal deliberação dos associados: Quarta-feira, oito de março, Dia Internacional da Mulher do Adão.

Eva, grata a Noé pela homenagem, chama as colegas para festejar o dia dela. Os homens também são convidados, é lógico. Vão, putos da vida com Noé, mas vão. Por sugestão da esposa de Noé, D. Noéma, conhecida por Noêmia, vão fazer a festança na casa de praia da família (presente do Enoque, diga-se). Começam a tomar vinho (presente do velho Baco, diga-se também), então, garotas, vocês sabem o que é bebida, não sabem? Lá pras tantas, todo mundo melado, D. Noêmia faz a cabeça do marido, Noé, no sentido de que ele denomine aquela data como o dia de todas as mulheres. Noé, à revelia do Adão, sobe num tamborete e proclama o oito de março como o Dia Internacional da Mulher. Sem saída, Adão manda pegar as flores e dá um buquê a cada mulher.

Vou aproveitar o contexto para relatar profano episódio ocorrido na comemoração. A molecagem ocorre quando chegam o Sem, o Cam (filhos do Noé), o Caim e a irmã gêmea, a Avan (filhos do Adão), que também é mulher do Caim. Embriagados, a Avan cisma de tomar banho de mar e aproveita para conhecer a barca do Noé. A Avan volta e faz um comentário a respeito da embarcação:

“Bacana a nau do Noé”, Caim. Caim, que não era flor que se cheirasse, junta bacana com nau e convida a turma para o bacanau do Noé. A festa termina na bacana nau. Na nau e nus.

Foi assim - da confusão vocabular do Noé - que surgiu o Dia Internacional da Mulher.

Mas inadequações vocabulares acontecem. Algumas resultam benéficas; outras, maléficas. Enquanto da displicência do Noé adveio a alegria, da gramática nasceu a disfunção. É clamoroso erro a gramática ter classificado “mulher” de substantivo. Mulher é adjetivo de primeira linhagem. Adjetivo é algo acrescentador, modificador, qualificador. Carinhosa é acrescentador de carinho, beleza é modificador de bela, elegância é qualificador de atitude. E quem é carinhosa, bela e elegante?

Homem algum elogia as mulheres com apenas um adjetivo. Usa, no mínimo, dois: bela e capaz, elegante e competente, linda e sensual. Portanto, a mulher é uma criatura pluralizada. Corrija-se a gramática. Mulher é adjetivo plural, sim.

Parabéns, adjetivas! Então...

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

O ESPELHO NA ARCA

 



O ESPELHO NA ARCA

Voltando de uma peregrinação, um homem compra na cidade um espelho, objeto que não conhecia. Nele acredita reconhecer o rosto do pai, e leva-o, encantado, para casa. Coloca-o em uma arca no primeiro andar, nada diz à sua mulher e, de vez em quando, nas ocasiões em que se sente triste e solitário, vai “ver o pai”. A mulher percebe que o marido sempre desce do quarto com um aspecto estranho. Espia, vê que ele abre uma arca e fica observando por um bom tempo. Assim que o esposo sai, ela abre a arca e nela vê uma mulher. Fica louca de ciúmes e briga com o marido. Uma bela discussão de casal. O marido continua afirmando que é seu pai quem está escondido na arca. Por sorte, uma freira passa pelo local. Ela quer resolver o conflito e faz com que lhe mostrem a arca, objeto do litígio. Declara, quando torna a descer:

“Não há nem um homem nem uma mulher na arca, apenas uma freira”.

 

Pretendia parar esta prosa na freira, mas o curral da precisão está me pedindo que solte o nome dos bois. Vamos lá.

A freira

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

A MORTE DA CIGANA

 



 

A Morte da Cigana

Colaboração de Mardone França

 

Mardone França  Cigana Cigana agonizara três dias no curral, sem forças para se manter de pé, tampouco, se interessava mais pela água e o capim que lhe ofereciam. Definhara tanto que as carnes já não cobriam os ossos, os quais espetavam a pelagem branca acinzentada, outrora, luzidia. Quedou-se estendida embaixo da latada, feita para protegê-la do sol inclemente da seca de 1958, no Ceará. Os urubus não se achegaram; a latada, os impediam de vê-la. 

Porém, a malta de famintos, homens, mulheres e crianças, desde o dia anterior, fazia vigilância em torno do curral munidos de peixeiras, fações e machados, dispostos a entrar em ação ao primeiro sinal de descuido da vigilância do proprietário que, determinara aos seus serviçais, enterrar rapidamente, tão logo a Cigana morresse. Era preciso evitar que a carne fosse consumida por pessoas pois, não se sabia a causa da morte. Alguns, mais entendidos, diziam que fora tuberculose galopante, dada a rapidez da doença, outros atribuíam à picada de cascavel ou jararaca. 

            Cigana era a estrela do pequeno rebanho, estava na terceira cria. Por ser boa produtora de leite e de cria recente, ficou para fornecer leite à família, enquanto o restante do gado foi na retirada para o Piauí, escapar da morte por fome e sede no Ceará. Da fome ela escapou, mas, no sertão da seca, o bicho que não morre de fome e sede, morre por picada de cobra, por morte matada ou por doença desconhecida.

            No terceiro dia, antes mesmo que a morte se abatesse sobre Cigana, a fome e a impaciência do grupo que fazia sentinela, era prenúncio de invasão do curral. Num instante, naquela tarde de sol escaldante,

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O Mar de Camocim

 

    

                                                Imagem Google


Colaboração do contista Mardone França

O Mar de Camocim 

                                                                                       Mardone França

Naquele dia, o menino acordou com uns pensamentos na cabeça sobre o mar de Camocim. Intuiu como chegar lá a partir da conversa que teve com o padrinho. E imaginou seu plano: entrar no riacho do Meio, navegar pelo rio Pequeno e adentrar nas correntezas do rio Grande. Assim, pensou que chegaria ao mar de Camocim. Pelo chão, montado em cavalo estradeiro, gastaria entre quatro e cinco horas; pela água, nunca foi medido. Começou a tomar as providências para executar seu plano de navegação. Juntou madeira de cerca velha, uns tantos paus que desse para fazer uma balsa; mais para jirau do que algo que navegasse. Com corda de tucum fez a amarração e testou a flutuação com seu peso de menino seco de 11 anos. 

Encomendou à avó rapadura, farinha, macaxeira e peixe fritos para o dia seguinte. Dormiu com ideias confusas na cabeça e até sonhou chegando ao mar de Camocim. 

No dia seguinte, logo cedo, embalou os alimentos em papel de embrulho e colocou no farnel de couro. Para quantos

sábado, 12 de novembro de 2022

COISAS

 Olá, pessoal,

Apresento-lhes COISAS, minhas novas loucuras. Abaixo a primiera página delas. Caso queiram manuseá-las, comentem aqui embaixo, digam no Zap 98800-1610 ou usem o tccarneiro@gmail.com. Não se acanhem. Minhas COISAS são deliciosas. 

Um abraço bem coisado


.Fala, irmãos...

Parece que estou vendo os risinhos de cantos de boca para o nome de certos protagonistas desta coletânea: Zião, Kião e Feição soam realmente pitorescos. Mas o trio, ãos raízes, digamos assim, é da mesma família dos modernos Damião, João, Simão, Bastião. Todos são enenetos do patriarca Abraão. Nosso eneavô era obstinado pelas suas ideias. Queria porque queria que os descendentes tivessem “ão” no nome. E ai de quem não o seguisse. Falei nosso porquanto também ser dos ãos, pessoal.

Liguem-se neste contextinho:

Abraão vive em Ur, na Caldeia, nos arredores do hoje Iraque. Isso por volta de dois mil anos antes de Cristo. Bela tarde, Abraão escuta estas palavras de Javé:

“Abrão, saia da sua terra e vá para a terra que lhe mostrarei. Farei surgir de você um grande povo e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome. Abençoarei os que abençoarem você e amaldiçoarei aqueles que o amaldiçoarem”.

Abrão saiu em busca da terra prometida. Até que chegou à Canaã.

Javé cumpriu a promessa. Abraão foi um homem abençoado. Morreu com 175 anos.

Detalhes. Abraão chamava-se Abrão. A alteração para Abraão só se deu em Canaã, na Israel de hoje. Abraão era rico e culto. Um homem fora da curva, na gíria de hoje. Foi Abraão quem plantou as sementes do monoteísmo religioso e criou o termo coessência. Queria dizer com isso que ele e Javé tinham um essência comum. Essa palavra foi se modificando até se transformar em “consciência” cuja definição fala de um princípio de origem divina, acima da qualidade moral e motivos de uma pessoa, a qual funciona como juízo do certo, vinculado ao Bem, e do errado, unido ao Mal.

Impressionante é que, passados milênios, muitos agregados de Abraão não conseguiram decorar esse conceito. Nem precisavam decorá-lo. Suficiente seguirem as entrelinhas do “juízo do certo” e não fazerem com outros agregados o que esperam que outros agregados não façam com eles.

Mas esta coletânea, sosseguem, não visa resgatar a história de Abraão. Só falei dessas coisas a fim de contextualizar a obstinação de nosso patriarca. É que Abraão botou na cabeça que a sua coessência com Javé se dava em virtude do “ão” do nome. Daí que os descendentes gozariam de análoga bem-aventurança se tivessem no nome o abençoado ãozinho.

Esse mandamento sobreviveu por longo período. Proliferavam “ãos” em nomes de meninos e de meninas. Mas a coisa foi esfriando de tal forma que no início da era cristã o “ão” tão desejado pelo nosso eneavô já agonizava no porão da história. E não apenas no Brasil, informe-se. Mas, sejamos justos, existe razoável número de “ãos” pelo mundo afora. João, Damião, Adão, Simão, Girão, Romão não me deixam mentir. Mas razoável só no masculino, continuemos fiéis à história, porque, no feminino, não existem mais do que estas cinco: Conceição, Apresentação, Consolação, Anunciação e Assunção.

Duvida? Pois coce o quengo, leitor, pra ver se acha outros. Encontrou mais algum, leitora? Pois!

Atualmente, ãos raízes, raiz da gema mesmo, só existem no Brasil – e no mundo - os descendentes do Sr. Ksertão, tataraneto de Simão, que era pentatataraneto de Adão. Por que o complemento “raízes”?

Vejamos.

Ocorre que Ksertão vivia lendo as histórias do patriarca Abraão. De tanto ler, acabou pirando. Na verdade, o nome de batismo do Ksertão era apenas Sertão. O que acontece. O pirado criou quatro mentiras de uma vez só.

Mentira 1: que Abraão tomava sete banhos durante o dia;

Mentira 2: que Abraão dormia peladão;

Mentira 3: que Abraão só fazia certa coisa e aquela coisa em pé.

Mentira 4: que Abraão teve dez filhos com uma segunda mulher, a Cetura, já que Sara, a esposa, não podia ter filhos. De mais a mais, todos os filhos tinham o nome começando pela letra “K” ou “V”. E terminando em “ão”, por óbvio.

Sertão não apenas começou a copiar a mentira, como também obrigou os familiares a segui-lo. Acontece que os filhos, na desobediência esperada dos jovens, rebelaram-se contra a certa coisa em pé. A esposa, contudo, fez os gostos do marido. Mas por pequeno período e em relação – apenas - à certa coisa. No tocante àquela coisa, ela balançou o dedinho do “nã, nã, nã”, fez finca pé e o mandou tirar o cavalinho da chuva.:

“Isso nem a pau”, Sertão, dizia.

Então. Concebido o embuste, Sertão passou a exigir que o chamassem de Ksertão. E alardeava que o autêntico partidário de Abraão, o seguidor realmente raiz, teria que ter o nome começando com K ou V. Sertão não mexeu só no nome dele. No dos filhos e no da mulher também. A esposa, por exemplo, que se chamava Maria Viviane, passou a ser chamada Maria Vivião.

Porque históricos, vou descrever alguns episódios decorrentes do Ksertão. Acontecem nas despedidas do século XIX, no Rio Grande do Norte, estado do Nordeste brasileiro, onde o amalucado residia e tinha um mundo de terra.

O primeiro acontece quando Maria da Natividade, casada com João, sobrinho de Ksertão, pare uma menina. Tomam o mijo do nascimento. aí, Ksertão, já insinuando ser o padrinho da garota, logo lhe dá um nome: Vajão.

Natividade fica uma fera. Não botaria tal coisa como nome da menina. Ainda que o esclerosado Ksertão ficasse trombudo com ela. Natividade passa meses concebendo um nome para a filha. E eis que num domingo, ela e o marido tomando cachaça com cabeça de bode, chega-lhe a inusitada ideia de um nome incomum. Fala pro João. João abre um sorriso e faz um tim-tim de copo. Correriam o risco de ver a menina no caritó ou dando pra todo mundo, sim, mas o desassombro valia a pena.