Nos Passos de Magalhães, de Gonçalo Cadilhe

8 06 2008

 

  Quando li na revista Única que Gonçalo Cadilhe preparava uma nova viagem, fiz o mesmo que quando anunciou que ia percorrer África, viagem que resultou no livro África Acima, cuja leitura recomendo veemente: deixei de ler a revista e esperei pelo livro.

Recorrendo à linguagem gestaltista, prefiro o todo à soma das partes.
Cadilhe, por sistema, narra as suas viagens quase em tempo real na revista Única e depois lança o livro, onde compila as crónicas e acrescenta tudo o que não coube no curto espaço que lhe é disponibilizado na revista. O resultado é sempre o mesmo: livros que dá uma gozo tremendo ler, quer pela qualidade da escrita, quer pela viagem em si.
“Nos Passos de Magalhães”, é diferente do que Cadilhe nos tem habituado. Apresenta-nos uma biografia enriquecida pela passagem física de Cadilhe nos locais mais importantes da odisseia de Magalhães. Eu prefiro o registo habitual do autor, com as suas absorventes narrativas das viagens mas este livro, inovador tanto para o autor, como para o próprio campo biográfico, não desilude. Pelo contrário, continua absorvente e mantém-se fiel ao que Cadilhe nos habituou: literatura de enorme qualidade, que se lê sem a noção de o tempo passar e com a singularidade de se ter transformado em Documentário na RTP2, aos sábados às 22.40h.
Magalhães, do modo mais sucinto possível, é um erro histórico de Portugal. O navegador era um “trapalhão diplomático” e atreveu-se em demasia, ante um rei D. Manuel, de visão megalómana mas não por isso menos limitada. Foram vários os episódios diplomáticos que afastaram Fernão de Magalhães da corte portuguesa e que o aproximaram de Espanha. Humilhado, agastado e ferido, Magalhães afasta-se de Portugal e apresenta-se à coroa Espanhola, onde reinava um rei igualmente megalómano mas mais visionário que o nosso: Carlos V. A importância histórica que lhe é reconhecida, inscreve o nome de Espanha nos livros de história e a culpa é exclusivamente de Portugal.
Em traços gerais, Magalhães partia, com a Armada das Molucas, na presunção de que a Terra era, de facto redonda e esperança de que as Ilhas das Especiarias, tão almejadas eram, de facto pertença à parte espanhola que resultou do Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha em 7 de Junho 1494:

“…no regresso da Armada das Molucas, o nome Magalhães foi ignorado, a sua importância menosprezada. Um final não feliz. A circum-navegação não trouxe quase nenhum valor comercial, a expedição deu um lucro marginal à coroa espanhola, a rota descoberta pelo Pacífico para chegar às Ilhas das Especiarias não era viável, ou pelo menos não podia competir com a rota portuguesa pelo Cabo da Boa Esperança, e as próprias Molucas revelava-se afinal na parte portuguesa do Tratado de Tordesilhas, inutilizando a pretensão espanhola de as explorar. O custo em vidas humanas da expedição foi desmesurado.” (p. 176) Mas não por isso, a expedição perdeu relevância, quanto mais não fosse para esclarecer Portugal e Espanha, em relação e dimensão do Universo, que o tratado de Tordesilhas concedeu a cada país.

 

Não querendo pecar por presunção, espero que esta biografia itinerante, metade viagem partilhada, metade História transmitida, possa sensibilizar os leitores para alguns aspectos. (Cadilhe p. 11)

Conseguiste, Gonçalo. Uma vez mais, prendeste-me ao livro e permitiste-me uma viagem mental, aos locais que pisavas. Também eu, posso dizê-lo agora, segui os Passos de Magalhães.

 

“Não acredito em lugares mágicos, nem em pontos de energia telúrica, nem em ondas místicas que se libertam da paisagem. Acredito, isso sim, em estados de alma. Que fazem com que os lugares se tornem mágicos. Ou malditos, depende.”

 

Referência bibliográfica:

 

CADILHE, Gonçalo (2008), Nos Passos de Magalhães, Cruz Quebrada: Oficina do Livro

 

 


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8 responses

26 06 2008
Inês

Um livro exceptional, com histórias e caminhos pisados no minimo fascinantes. até eu daria todos esses passos. é só alguém alinhar e let’s go .. 🙂

26 06 2008
Nuno Abreu

inês é só combinar e seguimos! ehe o livro é diferente do que cadilhe nos habituou mas a viagem não deixa de ser fascinante

30 06 2008
nuno

Gosto imenso da historia portuguesa me fascina mt saber k tivemos tao bons portugueses ke mt fizeram a diferenca perante este mundo descobrindo mundos i mares nunca antes navegados smp lutando pela vida nexas aventuras ja tinha orgulho em ser portugues agora mais ainda..ha kem diga ke os portugues e desconfiado mal humorado e etc mas ainda bem ke o smos ou fomos pk foi axim kom exe “defeito” k nus trouxe mt kulidade prstigio ke nus fez descobrir meio mundo…

30 06 2008
nuno

Tenho seguido a serie k paxa na tv de fernao magalhes ke acabou ontem adorei pois ele percorreu o mundo pelos portugueses i dps se pos ao servico de espanha descobriu terras para eles ke me doeu um pouco por outro lado encheu me de orgulho pois ele era portugues i ixo me fez eskexer tdo o resto…Morreu de forma injusta pois ainda tinha mt para descobrir i dar ao mundo mas morreu kom gloria deixado do a sua marca por onde paxou sendo venerado komo se de 1 “deus” se trataxe i ele era deus ou heroi dos mares nunca antes navegados por onde navegou a sorte smp o acompanhou mas komo tds o destino ta tracado i axim se deixa marca i se fazem os herois miticos de tda a historia da humanidade…

11 07 2008
Nuno Abreu

olá nuno. desculpa demorar tanto a aprovar os comentários, mas tenho estado fora.
concordo com a imagem que passas dos portugueses, mas acrescento um defeito: baixa auto-estima. confiamos pouco nas nossas capacidades e só quando recebemos um evento de dimensão internacional é que nos esmeramos. de resto, somos um verdadeiro povo latino que gosta de receber e damos muito valor ao prazer/lazer. eu gosto da nossa mentalidade, sinceramente. pena a tal falta de auto-estima de que falei e que não temos razões para a ter.
abraços

24 08 2008
fspapaleguas

O livro em questão ainda não li mas sobre o “Africa Acima”, li-o todinho e como ex-africanista tenho que fazer um comentario. O meu amigo Cadilhe devia ter estudado melhor a nossa historia passada em africa, no passado longinquo admito muita coisa, por desconhecer, mas no passado recente, devo dizer que as nossas colónias estavam bem desenvolvidas e bem estruturadas, nada faltava desde redes ferroviarias a estradas asfaltadas, escolas e hospitais e numa contradição do nosso amigo Cadilhe, ele proprio se refere que nos outros países francofonos ou anglosaxonicos, os povos nativos pouco falavam o francês ou o inglês, ao passo que os nossos, todos falam, melhor ou pior, o nosso português. Os transportes partem quando estão lutados, não cumprindo horarios e o meio de transporte mais usado são as carrinhas de caixa aberta carregadas até ao ceu, ao contrario do que se passava nas nossas provincias ultramarinas, onde os transportes eram regulares e em camionetas de passageiros. Uns arquitectos meus amigos quando viram fotos que eu tenho dos anos 60 de Lorenço Marques, ficaram admirados com o tipo da nossa arquitectura e o policronismo lá usados e naquela época.
O meu amigo Nuno Abreu, diz e muito bem que nós os portugueses têm o mau costume de nos inferiorizar.
Quanto ao resto, gostei da leitura e confeço que recordei africa…e que saudades!
Eu também faço caminhadas, mas a pé e até já fiz um outro comentario num outro blog do amigo Nuno, Para Viajantes, neste momento estou a programar uma caminhada desde Albufeira até Santiago de Compostela…quem me quizer acompanhar é só dizer…são só aproximadamente 840quilometros. Já me esquecia de dizer, tenho só 61 anitos…
Se me quizerem contactar…fspapaleguas@gmail.com…estou lá todos os dias
Saudações amigas, e amigo Nuno, continue, força!

26 08 2008
tb

Acabo de ler o livro. Em contraste com as opinões anteriores acho que é fraco. Fraquinho. Tem mérito por enaltecer essa grande figura que foi FM. O mais interessante é o apanhado histórico que o autor fez de certos incidentes que marcaram a vida de Magalhães. Fico com a ideia que o autor teria feito melhor se ao invés de viajar até aos referidos locais se tivesse limitado a escrever a partir duma biblioteca. A componente histórica é como outros já referiram muito interessante. Mas de resto o GC passa pelos locais como quem faz escala num qualquer aeroporto e segue para o destino seguinte. Nunca se detém muito com nada em particular e os poucos episódios que relata são “estúpidos” (como pex o do pobre do américo latrino que confunde o orgulho da “sua” marinha com a “nossa” Sagres). Não vi a série na TV mas estou seguro que deve ser mais interessante (ainda que provavelmente não tenha a riqueza do enquadramento histórico que o livro apresenta).

28 08 2008
Nuno Abreu

fspapaleguas: um belo exemplo de vivacidade, não haja dúvida.
tb: este livro foge muito ao registo do Gonçalo Cadilhe. é interessante, mas percebo a sua desilusão. mais ainda, se for um seguidor do GC, como eu. o programa de televisão é interessante, embora seja notório que o Gonçalo não está na “sua praia”, que é a literatura
um abraço e voltem sempre

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